Obrigaram Zehra a casar com um primo que mora na Alemanha. Ela viu o homem com quem se casaria somente uma vez, na noite do casamento... O seu marido partiu para a Alemanha na noite seguinte e nunca mais regressou. Zehra serviu a sua família, que visitava Antakya todos os anos, e tinha esperanças de que a levassem para a Alemanha.
10.04.2019 | por Sinem Taş
Decidi fazer fotografia quando percebi que a opinião da minha família já não fazia sentido. A minha mãe não permitiria, dizia-me “as meninas não tiram fotos”. Então, eu fazia-o sem o seu conhecimento dela. Encontrei uma câmara disponível e a outra deixava em casa, assim a minha mãe pensava que eu a tinha deixado em casa.
29.03.2019 | por Sinem Taş
Jorge Dias e Sónia Sultuane ‘encontraram’ Pancho e o seu mundo e trouxeram-no até nós. Trabalhando juntos em diversos projectos nos últimos anos, a partir das intervenções do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (Muvart), decidiram voltar a fazê-lo. O contacto, um pouco por acaso, dos dois, com o mundo deste criador em Eugaria deu-lhes o mote.
06.03.2019 | por Alda Costa
Bertina usou a arte como meio para expressar a sua subjectividade. Uma artista individual, uma artista moderna, nascida em Moçambique, portadora de uma experiência de vida particular, consciente da sua condição de meio-europeia, meio-africana (a dupla consciência), condição que assumiu em diferentes momentos e de diversas maneiras e que traduziu na sua criação mas, ao mesmo tempo, uma artista que assumiu a mudança permanente, uma artista igual aos artistas modernos de todo o mundo.
04.03.2019 | por Alda Costa
A grande maioria das vezes não é um discurso de ódio aberto; é um discurso em que se naturaliza a diferença racial e em que se entende o outro, muitas vezes português mas negro, como inferior ou como alguém que é suspeito de alguma coisa – veja-se a relação que as polícias têm com as periferias racializadas.
01.02.2019 | por Miguel Cardina
As máscaras Cihongo, representam um espírito ancestral masculino, que providencia riqueza, prosperidade e saúde às comunidades, quando devidamente evocado e cultuado nos rituais iniciáticos dos filhos de chefes Tshokwe, para legitimar e confirmar a natureza e origem divina do seu poder.
21.01.2019 | por Ana Isabel Palma Santos
Relatórios da administração colonial que denunciam "o bafio da escravatura" e uma diplomacia que tenta negar as acusações internacionais e adiar ao máximo a mudança: Portugal e a Questão do Trabalho Forçado, de José Pedro Monteiro, é um testemunho poderoso sobre o ocaso do Império português.
08.01.2019 | por Fernanda Câncio
Atravessar fronteiras físicas e disciplinares é uma vocação de Achille Mbembe. A temática da passagem e do movimento é, aliás, uma chave para a sua compreensão da história e da cultura africanas. A sua perspectiva sobre o passado, o presente e o futuro de África implica ao mesmo tempo traçar uma genealogia da modernidade europeia, das categorias do pensamento que ela construiu, da racionalidade e da historicidade da figura do negro.
19.12.2018 | por António Guerreiro
É perigoso porque toda a diferença é estigmatizada. Se eu me considero superior moralmente e penso que uma família é um homem e uma mulher, tenho toda a justificação para liquidar os homossexuais. É uma lógica repressiva. O Brasil, ao contrário de outros países da América Latina, tem uma sociedade civil bastante organizada, com muitos movimentos sociais. É evidente que vai haver resistência. Há uma sociedade civil que não está desarmada social e politicamente. Nas últimas semanas houve uma mobilização extraordinária, que não foi suficiente, mas mostra um apego à democracia que o Latinobarómetro não previa.
06.11.2018 | por Boaventura de Sousa Santos
Ao questionar a história, Durham questiona a própria ideia de passado, e traz a tarefa de tratarmos de nossos traumas no presente. Ele não faz comentários sobre a arte brasileira especificamente, muito menos sobre nossa antropofagia cultural. O artista está interessado nas características e consequências da mentalidade colonial da sociedade brasileira.
18.10.2018 | por Maíra das Neves
Umbuntu, umbundo tem a mesma origem. No Zimbabué, dizem ”uno”, umbuntu quer dizer “uno” em umbundo. “Eu não significo nada sem ti.” Se fico em casa sozinho começo a pensar nisso: em que consiste a minha hombridade? Sozinho não troco ideias, sou pessoa porque existem outras pessoas. A princípio era uma filosofia de carácter étnico, o grande segredo de Mandela e Tuto foi conseguir elevá-la para outra coisa, não é só “eu não sou nada sem o outro umbundo” para torná-la trans-étnica.
09.07.2018 | por Marta Lança
Ao ocupar qualquer espaço como modo de liberação de um território, é imediatamente tão fundamental quanto, ocupar os arquivos e memórias nele presentes para liberá-las também do discurso único – será esse o papel do artista arquivista? Nesse sentido, assim como, ao ocupar um espaço, o “espaço que é o mesmo já é outro”, ao ocupar um arquivo, o “arquivo que é o mesmo torna-se outro”. Ocupar é também inventar, produzir uma camada que se soma ao dispositivo, seja ele arquivístico ou espacial, criando uma heterotopia a partir dele e então nenhum espaço ou arquivo jamais serão os mesmos.
22.06.2018 | por Ana Pato e Joana Zatz Mussi
Na Europa e nos Estados Unidos, existe também o regresso específico da forma e da nostalgia coloniais. Em Portugal, fiquei impressionado com a presença visível daquilo que ainda é referido como “exploradores” ou as “descobertas”, em vez de “colonizadores” e “encontro.” A representação de corpos africanos na arte e nos monumentos oficiais é muitas vezes estereotipada, quase degradante. Infelizmente, não vejo este caso como uma exceção, mas como um exemplo das novas divisões.
11.06.2018 | por Inês Beleza Barreiros
“Afrotopia é uma utopia activa que procura no real africano os diversos espaços do possível e os fecunda”. Não defende nem o afro-pessimismo (que olha para o continente como estando à deriva), nem o afro-euforismo (que olha para África como o futuro económico). Qual será o lugar de um afrotópico? “O realismo”, responde.
08.05.2018 | por Joana Gorjão Henriques
Em entrevista, o filósofo camaronês fala sobre xenofobia, nacionalismo, o lugar do estrangeiro, os perigos de “culturas únicas” e espaços de articulação para a diferença. A diferença se tornou um problema político e cultural no momento em que o contato violento entre povos, por meio da conquista, do colonialismo e do racismo, levou alguns a acreditarem que eram melhores que outros. No momento em que começamos a fazer classificações, institucionalizar hierarquias em nome da diferença, como se as diferenças fossem naturais e não construídas, acreditando que são imutáveis e portanto legítimas, aí sim estamos em apuros.
30.04.2018 | por Katharina von Ruckteschell-Katte
Em meio a recortes de jornais, imagens, pedras, documentos, reproduções de obras de arte e lascas de árvores, a obra do artista visual Ícaro Lira vira do avesso os materiais para mostrar o que escondem as sombras dos acontecimentos históricos. Como opera Walter Benjamin em sua montagem literária no livro Passagens (1940), Ícaro cita sem usar aspas: enfrenta o arquivo na sua materialidade para submetê-lo à reflexão.
13.03.2018 | por Eduarda Kuhnert
No 'Reino das Casuarinas', de José Luís Mendonça (2014), tenta esclarecer estórias atravessadas na História de Angola, com sabor a desilusão. O estilo literário e o rigor jornalístico tornam a leitura aprazível. Um reino na floresta da Ilha de Luanda, um grupo de aparentes indigentes afinal tão visionários. O autor, director da revista Cultura, tem esperança de se fazer ouvir num país onde diz faltar o diálogo, e onde não se deve deixar de sonhar com uma nova sociedade na qual o cidadão tenha valor. Apresenta propostas concretas para tal.
19.02.2018 | por Marta Lança
O poder do inconsciente colonial-capitalístico abarca a subjetividade da própria esquerda, já que ela nasce no interior da mesma cultura e dela forma parte ainda hoje. Sendo assim, esta tende a funcionar segundo uma micropolítica reativa e a estar desconectada da experiência do fora-do-sujeito, reduzindo-se assim à do sujeito. Com esta limitação, seu único recurso disponível para interpretar e avaliar o que acontece é o consumo e a mimetização de visões pré-estabelecidas (neste caso, visões de esquerda).
07.01.2018 | por Antonio Pradel e Aurora Fernández Polancos
ichte desenvolveu as premissas que são hoje discutidas nos Estudos Queer ou Pós-coloniais, mas isso 30 ou 40 anos antes. Ao lado da história da sexualidade e das Diásporas Africanas, interessava-lhe a economia política da pobreza e da exploração. No Brasil, ele pesquisou, por exemplo, a respeito da participação de grandes grupos empresariais alemães na ditadura militar.
28.11.2017 | por Eleonore von Bothmer
A questão racial tem sido uma disputa permanente no debate público brasileiro, conquistando mais espaço e posicionamentos articulados. São várias as exposições de artistas negros pelo país que inscrevem na sua obra, entre outras coisas, uma antiga história de opressão e de resistência com continuidades no presente. A reflexão e produção negra há muito tempo que vem questionando as estruturas de poder, no entanto, considera-se haver agora uma espécie de boom no circuito da arte contemporânea.
13.11.2017 | por Marta Lança