24 e 25 de novembro de 2017, 9h Faculdade de Economia da UC
Apresentação
O centenário da Revolução Russa serve de ocasião para o CES promover uma reflexão alargada sobre os caminhos emancipatórios que atravessaram o mundo no século XX e sobre as suas heranças, legados e limites. Enquanto lugar-símbolo das esperanças e dos impasses de um novo modelo socialista, 1917 constitui uma oportunidade analítica para pensar experiências e projetos que, na sua esteira e fora dela, foram construindo trajetórias alternativas ao capitalismo, ao colonialismo e ao patriarcado. Num tempo em que as hipóteses emancipatórias parecem pulverizadas, este encontro internacional procurará refletir criticamente sobre as mudanças ocorridas ao longo do século XX e sobre o lugar e a natureza dos imaginários de transformação social e libertação nos dias de hoje.
Mesas
É tão difícil imaginar o fim do capitalismo como imaginar que o capitalismo não tenha fim?
Esta sessão transforma em pergunta uma constatação feita por Boaventura de Sousa Santos. A experiência soviética inscreveu as alternativas sistémicas ao capitalismo no campo das possibilidades. O colapso da União Soviética pareceu validar a ideia de que o capitalismo seria afinal o último estádio da evolução histórica. Praticamente sem freios e contrapesos, o desenvolvimento do capitalismo alimentou desde aí crises sem fim. A catástrofe ambiental eminente é naturalmente uma das mais importantes, mas não é a única. Torna-se de novo urgente pensar criticamente sobre o capitalismo e sobre outros ismos, esconjurando o espectro da barbárie.
Litografia 'Beat the Whites with the red wedge!' de El Lissitzky (1920)
Adeus Lenine?
A história dos ideais socialistas é uma história feita de vitórias e derrotas, de esperanças e tragédias, de conquistas e de bloqueios. A evocação do nome do líder soviético - e do conhecido filme de Wolfgang Becker - permite-nos aqui equacionar as heranças políticas e ideológicas que a revolução russa pode suscitar, bem como reimaginar a possibilidade das hipóteses socialistas nos tempos de hoje.
Colonialismo, não passará?
As lutas anticoloniais têm outro nome que não pode ser esquecido: as lutas de libertação nacional. Este jogo de espelhos reflete os lugares de enunciação a partir dos quais se olham e se pensam essas dinâmicas de emancipação que foram decisivas para a história do século XX e para a reimaginação do mundo no nosso século. Nessas lutas de libertação nacional e nas independências que se lhe seguiram estão inscritas muitas das energias criadas e alimentadas pelos ideais do socialismo e da revolução russa. Contudo, hoje em dia, a pergunta sobre se o ciclo colonial já passou adquire novos sentidos face aos desenlaces pós-democráticos e neoliberais que invadem e povoam os horizontes políticos de uma boa parte da humanidade.
Pode a subalterna falar?
Ainda que os ideais emancipatórios propagados pela revolução russa e pelos seus legados tivessem dado atenção à subalternidade das mulheres nas várias esferas da vida, não conseguiram tornar irreversível um imaginário feminista capaz de romper com os múltiplos sexismos que continuam a permear as sociabilidades. Partindo da assunção de que as mulheres não são uma minoria entre outras que têm sido oprimidas e discriminadas, colocar a questão no feminino, tal como é feito, obriga-nos a uma atenção epistemológica sobre todos os sistemas de opressão. Neste sentido, esta é a abordagem feminista que propomos e que, qualquer revolução, de ontem ou de hoje, deveria assumir como sua.
Comissão organizadora
João Rodrigues, Miguel Cardina, Teresa Almeida Cravo e Teresa Cunha
Comissão científica
António Sousa Ribeiro, Boaventura de Sousa Santos, Carlos Fortuna, Catarina Martins, Diana Andringa, Elísio Estanque, Isabel Caldeira, José António Bandeirinha, José Manuel Mendes, José Reis, Licínia Simão, Manuel Carvalho da Silva, Maria Paula Meneses, Nuno Teles, Pedro Hespanha, Rui Bebiano, Sara Araújo, Silvia Rodríguez Maeso e Teresa Maneca Lima
Programa