Véus intemporais
O meu trabalho visa estabelecer laços entre uma educação ocidental e esta origem africana e muçulmana que às vezes me escapa, proveniente de uma mestiçagem cultural que transita entre religião e modernidade, num país de valores diferentes onde todos coabitam paradoxalmente sem, no entanto, se ligarem.
Através do tecido drapeado, esse véu intemporal (base do meu trabalho), tento compreender como deixaram de o questionar e como ele tem estado presente desde sempre, figura de reminiscência. Velamento e desvelamento do desejo de ver, de compreender numa sucessão de falsa articulação construída pelo meu olhar de artista e pelo do espectador (voyeur), sábia montagem de vinculação e desvinculação.
Por outras palavras, encontra-se nesta “empatia” Warburguiana que se obstina a retomar formas, motivos, posturas, signos passados, absorvendo e criando uma ligação entre a história antiga, cristã e muçulmanas para as confrontar com a realidade de hoje (relação com o véu islâmico?).
O seu objectivo é, pois, criar alguma coisa de íntimo ou (e) de intimidante, que diz respeito simultaneamente a uma história pessoal e geral, criando esta ligação e esta relação forte, apelando para um património ao mesmo tempo visual, artístico, social e religioso.
O preto e branco traduz-se assim nas minhas fotografias e no meu trabalho em geral como uma distância a qualquer coisa de passado, mas que fica ancorado no presente, porque é sempre actual.