Migro, logo existo

Migro, logo existo Mas a cor é um território. A sexualidade, território. A crença, território. O corpo, território. O género, território. A memória, território. A dança, território. O cabelo, o sonho, o luto, a trauma (seja lá o que isso for), a língua e a linguagem, são todos territórios. Territórios, não propriedades privadas. Mas queremos colocar fronteiras, colocar linhas e marcas em tudo, apesar de todos vivermos em migrações constantes.

Mukanda

14.04.2025 | por Marinho de Pina

Angola entra com lei pesada no combate às “fakenews”

Angola entra com lei pesada no combate às “fakenews” O governo angolano entende que apesar deste tipo de disseminação não ser um acontecimento recente, com a existência da Internet tudo se tornou mais rápido e eficaz, sendo insuficientes as “ferramentas tradicionais do direito” tendo em vista o seu combate. Neste contexto considera-se urgente “a necessidade de se adaptar uma abordagem legal suficientemente abrangente e integrada das informações falsas ocorridas na internet”.

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13.04.2025 | por Reginaldo Silva

A menina burra e a caixa invisível

A menina burra e a caixa invisível Essa sabedoria só resultava dentro dela, mas como nenhum deles sabia sequer que estava em uma caixa, nem que havia algo fora da caixa, e menos ainda nomear todas as coisas e cores estranhas que existiam e que, agora, a menina, que fora burra quase toda a vida, conhecera justamente por causa da sua desobediência. Na triste história da menina burra, a história não acaba assim tão triste, e a menina não acaba assim tão burra. Ela aprendeu a aprender, aprendeu que era a escuridão da caixa a impedia de enxergar conhecimentos e sabedorias, e finalmente foi aos registos e mudou seu nome para "a menina cujo cérebro só aprendia na luz".

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11.04.2025 | por Manuella Bezerra de Melo

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento  Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.

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10.04.2025 | por vários

Nota Autobiográfica ao livro "O Cemitério do Elefante Branco"

Nota Autobiográfica ao livro "O Cemitério do Elefante Branco" Nos meus 12 anos, limitava-me a vê-los e a ouvi-los falar, sem dizer nada. Escutava e assimilava, como se estivesse sentado em frente de uma televisão, olhando as notícias através da neblina do fumo do tabaco. Observado em silêncio, aquele ambiente de decadência, ruína e letargo convertia-se num espectáculo irresistível e aguçava o meu apetite intelectual. Havia algo, ali, que me repelia profundamente, mas que, ao mesmo tempo, me atraía poderosamente. Aquelas personalidades, regadas com álcool, sarcasmo e uma enorme capacidade de mentirem a si próprias, eram atormentadas e autodestrutivas, arrogantes e sedutoras, viscerais e sofisticadas, vulcânicas e complexas. Estavam na Europa, mas com a cabeça totalmente no outro hemisfério do planeta, incapazes de cortar o cordão umbilical com as ex-colónias.

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08.04.2025 | por João Pedro George

Dr.ChatGpt ou de Como eu aprendi a não me preocupar com a IA e passei a amá-la.

Dr.ChatGpt ou de Como eu aprendi a não me preocupar com a IA e passei a amá-la. A IA pode escrever toscamente piadas, mas isso não acontece com a maioria dos seus concorrentes humanos? E ao combinar estilos de humoristas passados ou contemporâneos, ou fazendo pastiches de ídolos, será a IA assim tão diferente dos humoristas que procuram ainda a sua “voz”? No fundo, como os escritores que, influenciados pelas suas “leituras”, escrevem à “maneira” de um Lobo Antunes, de um Saramago ou um Hemingway, ou seguindo as regras de determinados géneros e de correntes literárias, ou os cineastas que fazem filmes à Tarantino, westerns fordianos, melodramas Almodovaríanos? Fábio Porchat, por exemplo, começou a sua carreira interrompendo o programa de um ídolo nosso (Jô Soares) para representar um guião de Porchat, de um hipotético episódio da série os Normais, criada e escrita por Fernanda Young, em que Porchat faz os papeis de Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães).

Cara a cara

07.04.2025 | por Pedro Goulão

“Explosão musical contra a motosserra de Milei”

“Explosão musical contra a motosserra de Milei” A canção de protesto é marca profunda na América Latina. Lá no Sul, na Argentina, a música voltou às ruas para denunciar a destruição do Estado de bem-estar e a repressão de grupos vulneráveis ou de qualquer um que grita alto nas ruas contra o governo de Milei. A memória do cancioneiro latino-americano das ditaduras-Condor atualiza-se – não é mais só trova, virou rap, hip-hop reggaeton, pop, trap. Som vivo contra esta regressão que tenta, como antes, impor silêncios profundos.

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02.04.2025 | por Pedro Cardoso

Ela desnomeia

Ela desnomeia A definição não é alheia à vontade de substituir o sistema dominante, socialmente estabelecido. A indefinição, contudo, corresponde a outra estratégia, uma que exige que nos mantenhamos abertos ao mundo e aos outros. Nada, nem mesmo a linguagem, está garantido. Afinal, “desnomear” nem sequer é uma palavra. Eva tem estado sempre a imaginar um mundo diferente daquele que conhecemos.

Corpo

01.04.2025 | por Marta Rema

Kaydara - introdução

Kaydara - introdução Kaydara é o título de uma história didáctica que faz parte do ensino tradicional do povo fula da região da curva do rio Níger. É habitual o mestre contar a história em serões, perante um público de jovens e idosos. Na maior parte das vezes, conta apenas fragmentos; chega ao círculo dos aldeões, senta-se, conta a história, pára e só retoma o seu relato três meses mais tarde. Porém, por vezes, conta-a de uma só vez durante “as longas noites da estação fria”, enquanto um guitarrista o acompanha. Ou pode começar subitamente a desenvolver um dos símbolos, por ocasião de um acontecimento que tenha analogias com esse mesmo símbolo.

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30.03.2025 | por Amadou Hampâté Bâ

O Espelho

O Espelho Ainda hoje, neste século 21, os Negros debatem-se contra o Espelho, contra si, contra o Deus branco. De cada vez que um africano negro besuntar o rosto e o corpo com creme ‘branqueador’, de cada vez que uma africana negra envergar uma cabeleira ‘lisa’ – e o número desses casos é exorbitante -, continuamos a assistir à luta dos Negros contra o Espelho, contra o seu limite, imposto pelo Homem Branco. Esse limite é a ‘Vergonha’ de ‘Ser’.

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28.03.2025 | por Brassalano Graça

O ‘Jardim Imperial’ de Délio Jasse, ou Jardim das Delícias Brancas

O ‘Jardim Imperial’ de Délio Jasse, ou Jardim das Delícias Brancas     Jasse considera como os vários projetos coloniais europeus partilharam o mesmo objetivo, pelo qual competiam, de aceder a todo o tipo de recursos para benefício económico das suas elites – uma realidade que, sendo agora impulsionada sob novas roupagens globalizadas por novos (a par dos mesmos velhos) agentes dos chamados progresso e desenvolvimento, está longe de ter terminado.

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25.03.2025 | por Ana Balona de Oliveira

Futuro a três metáforas: um passo atrás do outro

Futuro a três metáforas: um passo atrás do outro O corpo abre durante as caminhadas, principalmente nas mais arriscadas onde nenhum pensamento se pode atravessar entre mim e o terreno. Nada mais para além do pousar o pé ali, por inteiro, atenta às condições de cada passo. Escritores, filósofos, tantos já escreveram sobre esta tarefa simples de colocar um pé a seguir a outro, por caminhos novos ou pertencentes a uma rotina que vai desvelando o lugar de cada vez que é cumprida.

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18.03.2025 | por Liliana Coutinho

«Quem nunca foi à bruxa, que dance na torre do sino!»

«Quem nunca foi à bruxa, que dance na torre do sino!»   Um livro raro no panorama histórico da literatura portuguesa, uma obra prodigiosamente construída, numa escrita requintadamente equilibrada entre a fascinante sugestividade imagética e a inquiridora descritividade contida, onde a ironia e o humor são preciosos condimentos narrativos que nos permitem um deliciado prazer de leitura. Atrevo mesmo dizer: um belíssimo romance, em que não falta a densidade psicológica das personagens, numa polifonia de vozes e saberes, e um virtuoso emaranhado mágico de ambiências. Retrato fiel, acrescente-se, de um Portugal pouco menos que medievo.

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18.03.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

O si-mesmo como sujeito imperial

O si-mesmo como sujeito imperial Propõe-se um percurso que se quer exaustivo da literatura colonial portuguesa dos anos 1920 relativa a Moçambique. Numa primeira parte, são facultados dados contextuais e definidos conceitos operatórios de análise indispensáveis para se empreender o estudo das narrativas coloniais e do seu tempo histórico. São depois apresentados dados biográficos dos principais autores desse período, bem como as suas obras. A análise centra-se em seguida nos dois grandes vetores, geográfico e morfológico, de constituição e divisão dos sujeitos coloniais.

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17.03.2025 | por João Manuel Neves

Entre cartas e fotografias: uma pequena história do colonialismo – Parte II

Entre cartas e fotografias: uma pequena história do colonialismo – Parte II Pesquisadores (e historiadores em particular) costumam atribuir suas descobertas ao sucesso de uma busca obsessiva pelo fato, atribuem achados ao ato de procurar incessantemente a determinação mais precisa do passado. Esquecem-se assim do caráter fragmentário de todo arquivo e de como cada um dos documentos que o compõe podem nos trazer “vestígios do passado [que] visam o presente e nos dizem alguma coisa. É graças às suas lacunas que os arquivos ainda nos olham” (Ibidem). As “descobertas” historiográficas são, portanto, a correspondência entre o olhar do historiador e o passado que ressurge como um relâmpago tensionado para o futuro.

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16.03.2025 | por Luciana Martinez

Crónica da morte anunciada da sátira

Crónica da morte anunciada da sátira Se calhar é esse o segredo da sátira: portar-se como o gato de Schrodinger: por cada lado que a quer ver morta há um oposto que a mantém viva. Mas isto é só um se calhar, eu mal percebo de humor quanto mais de física para saber se a metáfora é realmente aplicável. Como dizia uma ilustre pensadora portuguesa, Lili Caneças, estar vivo usualmente é o contrário de estar morto e, desse ponto de vista, será que a sátira é mais lazarenta que o próprio Lázaro.

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15.03.2025 | por Pedro Goulão

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como vera língua do povo das ilhas]

A Tanga Rota da Pandialetalidade [ou os propósitos supremacistas/bairristas de dona Dominika e suas nacionais e desalmadas ajudantas, ora erigidos como   vera língua do povo das ilhas]   O processo de normalização linguística, como as senhoras dotóras sabem bem melhor do que eu, simples poeta que sou, deve ter um carácter prospetivo de resposta ao conflito linguístico, e na sua dinâmica não deve contribuir para o acirramento do conflito, como ora fazem as mentes proponentes, as autoras materiais, as consultoras cientificadas e revisoras do manual, benza-as deus, com a sua tentativa pouco encapotada de golpe.

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11.03.2025 | por José Luiz Tavares

Ainda estamos aqui, com a nossa metodologinga

Ainda estamos aqui, com a nossa metodologinga Com quantas palavras se compra a representatividade étnico-racial na produção de conhecimento, de arte, e de cultura? Quantas são necessárias para barrar o tokenismo e o epistemicídio em curso? Para quando uma justiça distributiva onde o financiamento científico e de formação avançada beneficiem realmente aquelas pessoas, grupos e culturas historicamente escamoteados?

Mukanda

04.03.2025 | por Gessica Correia Borges

O futuro foi ontem: os chineses continuam a treinar pombos-correios

O futuro foi ontem: os chineses continuam a treinar pombos-correios A memória, pessoal, colectiva ou cultural, nestes tempos hediondos que vivemos e aos quais ninguém é imune ̶ década segunda do século XXI, que deveria ser o século da mais consumada e prazerosa felicidade humana ̶ porém, tempos de inequívoca e perfeitíssima Idade da Pedra lascada “futurista” ̶ , onde a sua rasura (da memória, bem entendido), adulteração, apagamento e extermínio são milimetricamente calculados e mui democraticamente impostos e acriticamente aceites como «o novo normal» ̶ , é outra das questões fulcrais que se nos colocam.

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04.03.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas

Considerações gerais sobre o bilinguismo literário e o bilinguismo oficial caboverdianos, com especial enfoque na  aberração linguística constante do manual de língua e cultura caboverdianas é uma infeliz tentativa de imposição de um crioulo sumamente artificioso com recurso a regras gramaticais originárias predominantemente das variantes de barlavento da língua caboverdiana, precisamente naqueles pontos que foram considerados pelo grande filólogo caboverdiano Baltasar Lopes da Silva como as suas insuficiências intrínsecas, isto é, a sua incompletude vocálica...

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02.03.2025 | por José Luís Hopffer Almada