“Gli Occhi della Foresta”, por ocasião do Festival de Veneza

“Gli Occhi della Foresta”, por ocasião do Festival de Veneza O filme oferece uma observação feminina sobre papéis e rituais muitas vezes limitados aos homens, como maravilhosamente descrito por David Kopenawa no livro "A queda do Céu". Os mesmos diretores produziram o curta-metragem Yuri u xëatima thë (A pesca com Timbó) sobre a prática da pesca com timbó, substância usada para paralisar peixes. Todos a/os diretora/os fazem parte de um coletivo de cinema que atua na formação audiovisual em comunidades indígenas.

Afroscreen

29.08.2023 | por Laura Burocco

Para ler Giz

Para ler Giz Você já viu uma onça? Já insistiu no cruzamento entre o seu e o olhar de um jaguar? Já acariciou o fim e o começo quando um felino, unhas grandes, dorso em contorção, pêlo arrepiado, pára perto de si e decide que é aqui o acontecimento que fará tudo começar: tornar-se ao mesmo tempo aquele que mata, aquele que manda matar e aquele que morre. Caso a sua resposta seja “não”, recomendo que evite este livro. Recomendo que dê meia volta, que não se arrisque. Se você tem medo de tudo aquilo que não está no seu controle, talvez seja melhor evitar Gisela Casimiro.

Mukanda

21.08.2023 | por Maria Giulia Pinheiro

Tradidanças, na serra, entre bailes e cantos, poços e florestas

Tradidanças, na serra, entre bailes e cantos, poços e florestas Além do que está organizado durante os dias de Festival, abundam espontâneos encontros musicais e de dança, alguns acontecem madrugada fora na zona do recinto, com dezenas de pessoas que vão fazendo a música e a dança sem alinhamento, outros nos espaços envolventes. O espírito de encontro e de convívio marca toda a gente que participa no Tradidanças, assim como a possibilidade de fazer junto. Este relacionamento social mais impactante resulta, por certo, dos diferentes tipos de baile que proporcionam uma socialização diferente daquela que é vivida na maior parte dos Festivais de Verão. Aqui há convívio garantido mão na mão, olhos nos olhos, entre saltos ritmados, galopes e trocas de par. O Festival tem ainda outra particularidade: é claramente intergeracional, com muitas atividades para crianças e gente de todas as idades.

Palcos

21.08.2023 | por Maria Prata

Duas biografias de Fernando Pessoa criam confronto de autores e ‘guerra civil literária’ em Portugal

Duas biografias de Fernando Pessoa criam confronto de autores e ‘guerra civil literária’ em Portugal O que tampouco o impedia de ser Fernando em pessoa, e de urdir esquemas quiméricos para ganhar dinheiro, eterno endividado que era. Além de depenar parentes e amigos, concebeu jogos de tabuleiro (incluindo um futebol de mesa), elaborou manuais sobre “como montar uma vitrine” ou formatar cartas comerciais, escreveu um Guia Turístico de Lisboa (publicado só em 1990), fundou editoras efêmeras e considerou criar uma empresa cinematográfica. Com o maior topete e candura, chegou a escrever a Andrew Carnegie, sugerindo que o magnata americano do aço fosse seu mecenas. Os luxos do poeta eram os ternos (cada vez mais puídos, mas sempre elegantes – um dândi chaplinesco), os quatro maços de cigarro por dia e doses gorgolejantes de álcool (embora nunca ninguém o tenha visto de porre). Um dia, consultou o psiquiatra Egas Moniz, Nobel de Medicina em 1949 – que se tornará um constrangimento para os portugueses, devido ao motivo do prêmio: a invenção da lobotomia. O médico prescreveu-lhe exercícios físicos, e FP frequentou uma academia durante três meses – ah, imaginar Pessoa malhando...

Mukanda

20.08.2023 | por Paulo Nogueira

Notas sobre descolonização das coleções de História Natural da Universidade de Coimbra

Notas sobre descolonização das coleções de História Natural da Universidade de Coimbra Estas breves notas centram-se principalmente em possíveis passos para iniciar a discussão sobre a descolonização, ou descolonizações, das coleções e práticas botânicas na Universidade de Coimbra. Não pretendem delimitar um percurso unidirecional e hierarquizado de atividades a desenvolver e não são um roteiro fechado para uma releitura decolonial das coleções, que nos interpelam de forma constante, sempre com questões em aberto e respostas incompletas.

A ler

28.07.2023 | por António Carmo Gouveia

Um tour pelo inferno migrante da selva do Darien: aventura garantida, para contar aos seus netos

Um tour pelo inferno migrante da selva do Darien: aventura garantida, para contar aos seus netos A “aventura da sua vida”, descreve, num dos lugares mais macabros, perigosos e mortais para milhares de migrantes que tentam cruzar da Colômbia para o Panamá, no caminho para o norte rumo aos Estados Unidos. À margem da realidade alucinada do “Panama Jungle Tour” (assim se chama o “caminho pela selva mais infame da América do Sul em caminhos de contrabandistas”) vive-se uma das maiores crises humanitárias do mundo.

Jogos Sem Fronteiras

24.07.2023 | por Pedro Cardoso

Por ocasião do 48º aniversário da proclamação da República de Cabo Verde livre, independente e soberana

Por ocasião do 48º aniversário da proclamação da República de Cabo Verde livre, independente e soberana      sem a diária interiorização do mal-estar devido à localização geográfica da ilha onde se nasceu, se cresceu e se almeja permaneça envolta exclusivamente em salitre e espuma marítima dos mares incógnitos ondulando navegados pelas naus portuguesas das descobertas, assaz distante da Europa, por demais próxima das terras dos pretos da Guiné e dos demais gentios da restante Costa de África, sem as crenças, a farda, o bivaque, o s de Salazar incrustado aos cinturões dos exercícios para-militares da Mocidade Portuguesa, sem os inspectores, os agentes e os torcionários da PIDE-DGS

Mukanda

23.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Declaração do Porto: reparar o irreparável

Declaração do Porto: reparar o irreparável Inscrevendo-se numa constelação histórica por reparações, tão antiga quanto o colonialismo e a escravatura, e tendo nascido de um contexto específico para acomodar distintas vontades e realidades sócio-políticas, a Declaração do Porto: Reparar o Irreparável será sempre um documento inacabado e, por isso mesmo, nele não se encerra.

Mukanda

21.07.2023 | por várias

Comemoração verde e prática não-invasiva - o caso de “O Salgueiro da Ester”

Comemoração verde e prática não-invasiva - o caso de “O Salgueiro da Ester” Jason Francisco falou da sua experiência de percorrer os sítios com memórias judaicas em toda a Europa onde faz recolha de plantas. Por sua vez, Daniela Naomi Molnar reiterou o que Francisco dissera e evocou também a recolha de plantas dos sítios com passado pesado como materiais para usar com as cores nas suas pinturas. A apresentação da Marta Sala parece-me o mais pertinente da conversa, pois o seu caso pode provocar a contradição de “práticas não-invasivas”. Trata-se da plantação de uma árvore, ou seja intervenção física, que é, ao mesmo tempo, verde.

Vou lá visitar

18.07.2023 | por Cheong Kin Man

‘A prática, porém, encarregar-se-ia de desbloquear a situação’: Cinema e antropologia a partir da obra visual de Ruy Duarte de Carvalho

‘A prática, porém, encarregar-se-ia de desbloquear a situação’: Cinema e antropologia a partir da obra visual de Ruy Duarte de Carvalho A partir da revisitação da sua filmografia, em particular da série documental Presente Angolano, Tempo Mumuíla (1979) e da ficção Nelisita (1982), bem como através da análise das reflexões encetadas pelo autor no ensaio O Camarada e a Câmara (1984), o presente artigo procura contribuir para a discussão teórica em torno das possibilidades de um encontro entre cinema e antropologia para além do filme etnográfico.

Ruy Duarte de Carvalho

18.07.2023 | por Sofia Afonso Lopes

Banlieu

Banlieu Disseste-me que sou um idiota por ter queimado a Biblioteca. Um verme por ter grafitado aqueles prédios com as placas de Alojamento Local na zona cinzenta da cidade. Depois, chamaste-me capitalista, porco, burro e incoerente porque parti as vitrinas da NIKE, do LIDL, por ter trazido uns Airmax e sacos de comida para o bairro.

Cidade

16.07.2023 | por Francisco Mouta Rúbio

Queer, impreciso e aqui.

Queer, impreciso e aqui. Precisamos de uma crítica queer, ainda, por nos encontrarmos numa relação de curto-circuito causal com as instituições que governam o conjunto das relações sociais. O ciclo de acomodação e assimilação, pela sua lógica aditiva e integrativa, colocará sempre a racionalidade da instituição primeiro. Eventualmente, esta poderá atualizará a sua retórica, o seu reportório: as fórmulas da sua representação. No limite, talvez seja impactada, a um nível menos percetível, pelos princípios e pautas políticas às quais dedica apenas a mais performativa das atenções.

Corpo

16.07.2023 | por Salomé Honório

'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto

'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto Eu defendo que é na e pela música popular urbana, produzida esmagadoramente nos musseques de Luanda, que os homens e mulheres angolanos forjaram a Nação e articularam expectativas sobre o nacionalismo e sobre a soberania política, económica e cultural. Fizeram-no pelas relações sociais que se desenvolveram em torno da produção e do consumo de música. O conteúdo lírico e o som musical importavam, mas o público e os músicos davam-lhes um significado dentro do contexto. Por outras palavras, a música, no fim da Angola colonial, moveu as pessoas para uma Nação e de encontro ao nacionalismo, porque as aproximou de novos espaços urbanos, de novas maneiras, através de linhas de classe e etnia, através da política íntima e pública do género.

Palcos

13.07.2023 | por Marissa Moorman

Avanço evangélico ameaça religiões afro em quilombos de Pernambuco

Avanço evangélico ameaça religiões afro em quilombos de Pernambuco Umbandistas resistem à pressão pela conversão em quatro comunidades tradicionais de Betânia (PE), onde há nove igrejas. Entre as imagens de Santa Luzia, Cosme e Damião, São Jorge, Nossa Senhora da Conceição, Preto Velho, Iemanjá e da Cabocla Jurema, Abel José, 43 anos, sacerdote da Umbanda, acende algumas velas, apanha suas guias de proteção e acomoda o seu chapéu de palha na cabeça. Ele se prepara para atender quatro pessoas de povoados vizinhos, que vieram à sua casa em busca de ajuda espiritual e para tratar de problemas de saúde. 

A ler

11.07.2023 | por Géssica Amorim

À editora Routledge: Indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in Academia”

À editora Routledge: Indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in Academia” A publicação do livro foi determinante para que nos organizássemos em coletivo e para a decisão de juntarmos provas testemunhais e documentais que corroboram os diversos tipos de abusos descritos naquele capítulo. Nesse sentido, verificamos com muita preocupação a indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in academia: informing an ethics of care in academia” e a informação de que está em processo de revisão.

A ler

10.07.2023 | por várias

Quarta Parte : Lealdade bipartida, cissiparidade pátrida, dupla pertença identitária e política e diáspora caboverdiana

Quarta Parte : Lealdade bipartida, cissiparidade pátrida, dupla pertença identitária e política e diáspora caboverdiana Amiúde acossados pela intolerância do assimilacionismo, do racismo, da heterofobia e da xenofobia, mas também fertilizados pela autenticidade das seivas ancestrais e das expressões actuais de uma cultura que os pais, longamente expatriados do solo mátrio e telúrico, procura (va)m adaptar às exigências, sempre novas, e às condições, por vezes severas e, até, hostis, da Terra-longe, esses descendentes de i(e)migrantes - também nossos contemporâneos - vêm vivendo e engendrando inéditos dilemas e opções identitários e fecundando novas experiências cosmopolitas de hibridização cultural nos países de acolhimento dos seus pais (e)imigrantes.

A ler

09.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Diasporic Bodies. Irineu Destourelles Videoart

Diasporic Bodies. Irineu Destourelles Videoart Através do olhar oscilante que a diáspora lhe proporciona, a obra de Irineu Destourelles oferece um ponto de reflexão sobre as ambiguidades da dialética entre o eu e o outro, o dentro e o fora, o colonizador e o colonizado e sobre a sua atividade artística. Tendo como ponto de partida a sua vídeo-instalação Subtitulizar/Subtitling, 2012, focarei aqui o modo como o vídeo do artista procede a uma meta-reflexão sobre a diáspora, através de uma ironia poética, explorando o abismo entre as diferentes traduções do mundo, entre o eu e o outro, entre a vertigem da loucura; a persistência da remodelação da multiplicidade; o questionamento da condição humana.

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06.07.2023 | por Ana Nolasco

Terceira Parte: Pan-africanismo, nacionalismo caboverdiano e pátria africana no projecto paigcista de unidade Guiné-Cabo Verde de Amílcar Cabral

Terceira Parte: Pan-africanismo, nacionalismo caboverdiano e pátria africana no projecto paigcista de unidade Guiné-Cabo Verde de Amílcar Cabral Conceito operatório chave no seu pensamento, por suicídio de classe entendia Amílcar Cabral a plena identificação do sector revolucionário da pequena burguesia intelectual e burocrático-administrativa com os interesses das classes trabalhadoras e das categorias sociais laboriosas mais humildes do povo e o seu consequente empenhamento nacionalista e revolucionário na defesa dos respectivos interesses. Fim essencial do suicídio de classe seria coarctar as naturais tendências da classe intelectual e burocrático-administrativa de serviços para o aburguesamento e para a concomitante construção de laços económico-sociais, políticos e culturais de dependência neo-colonial em relação às classes dominantes do centro desenvolvido e imperialista e/ou à potência economicamente atrasada, subdesenvolvida e sub-imperialista que era então Portugal.

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02.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Segunda Parte: A moderna transfiguração nacionalista e pan-africanista do slogan nativista a África aos africanos

Segunda Parte: A moderna transfiguração nacionalista e pan-africanista do slogan nativista a África aos africanos A reivindicação da liberdade de se apossar soberanamente do processo histórico, como realça o discurso cabraliano, será doravante entendida como sinónima tanto do resgate da dignidade africana do colonizado, por demais vilipendiada no seu direito básico de existir segundo a sua própria historicidade identitária e os seus próprios modelos culturais, como também de todos os pressupostos políticos e culturais da produção desalienada das condições de emergência de um ser humano reconciliado com as suas próprias história e cultura e liberto do estado de subjugação política, do atraso endémico, da miséria, do medo, do sofrimento e da ignorância resultantes da dominação colonial e do correlativo subdesenvolvimento crónico das ilhas.

A ler

30.06.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Maximiliano de Habsburgo, o último imperador do México (ou como a História é uma eterna mesmice)

Maximiliano de Habsburgo, o último imperador do México (ou como a História é uma eterna mesmice) Na segunda metade do século XIX, o francês Napoleão III impunha um império no México e oferecia-o a um arquiduque austríaco. Em 1864, chegava ao Porto de Veracruz Maximiliano de Habsburgo, imperador de fantasia de um México invadido por França, com um governo republicano em fuga e sabotado pela Igreja e conservadores. Três anos, durou o absurdo.

Jogos Sem Fronteiras

30.06.2023 | por Pedro Cardoso