Corsino Fortes e sua poética semeadora da “cabeça calva de Deus”

Corsino Fortes e sua poética semeadora da “cabeça calva de Deus” Trata-se de um discurso em ascensão, em que o poeta gradativamente incorpora e ressignifica elementos simbólicos do universo insular, encenando experiências da realidade cabo-verdiana, histórias do próprio sujeito e da linguagem, com o objetivo de constituir uma memória coletiva do grupo. Fortes, em um ato de consciência histórica, reflete, enfim, sobre a independência do povo de Cabo Verde no sentido de construção e valorização de uma identidade “em curso”, em constante processo de transformação.

Cara a cara

28.06.2010 | por Cláudia Fabiana

Escrever uma contra-geografia

Escrever uma contra-geografia Decidi agir na esfera simbólica, o objectivo não é mudar o mundo mas mudar o discurso em relação ao mundo. Contribuir para a tomada de consciência da nossa própria responsabilidade nos fenómenos globais. No meu trabalho artístico e textual, esforço-me para clarificar a correlação entre as sociedades de alta tecnologia e o surgimento de condições de vida precárias. Um dos meus principais objectivos é dar a conhecer que as causas e as soluções não estão sempre “noutros lados”.

Jogos Sem Fronteiras

27.06.2010 | por Ursula Biemann

Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta?

Ser curandeiro em Moçambique: uma vocação imposta? Em Moçambique, como em vários outros países de diferentes continentes, os “médicos tradicionais” ou “curandeiros” assumem um papel central quer na prestação de cuidados de saúde, quer na regulação da incerteza e dos problemas sociais dos seus utentes. Esses terapeutas são normalmente chamados tinyanga (sing. nyanga) no sul do país e, de acordo com as teorias locais, devem os seus poderes curativos, divinatórios e de eficácia ritual ao facto de serem possuídos por espíritos de defuntos, que com eles formam uma simbiose profissional e ontológica (Honwana 2002).

A ler

25.06.2010 | por Paulo Granjo

O sentido comunitário na narrativa africana: o caso de Moçambique

O sentido comunitário na narrativa africana: o caso de Moçambique O sentido comunitário sofreu abalos provocados pela ordem avassaladora da modernidade tecnológica e cultural assimilada, quando não imposta, a partir dos centros difusores do Ocidente, mas é reconhecível - nas práticas do quotidiano, no imaginário e nas criações artísticas - uma ideia de comunhão de origens atracada a formas tradicionais de existência. Na narrativa africana, onde ainda se observa a ressonância de elementos estruturantes de convivência social, de marcas profundas de oralidade, de práticas de partilha de espaços e de bens, e de consciência de pertença a um destino comum, o sentido comunitário da existência impõe-se.

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24.06.2010 | por Francisco Noa

Pode um homem angolano, militar das forças armadas, herói da batalha do Cuito Cuanavale, ser feminista?

 Pode um homem angolano, militar das forças armadas, herói da batalha do Cuito Cuanavale, ser feminista? “Em Angola a mulher participou lado a lado com o homem na tarefa de luta pela independência nacional com a mesma coragem e passando pelos mesmos sacrifícios que os seus companheiros homens. (...) fardada com rigor militar, a cumprir as mais diversas missões, mesmo a mais arriscadas."

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22.06.2010 | por Margarida Paredes

A Canção de Zefanias Sforza - pré-publicação PATRAQUIM

A Canção de Zefanias Sforza - pré-publicação PATRAQUIM A cidade, essa missanga grande, esse vidrilho, esse espelhinho delicado, forrado de seda, com que se tentava entreter e seduzir as mulheres grandes para que estas amaciassem as decisões dos dignitários da terra, tudo isso se diluiu neste traçado, lugar de desembarque e depois de muitos desenhos por onde correm as gentes e as coisas. Penetremos, pois, nesse colar multicolorido, afagando-lhe algumas das contas, as de um certo e improvável Zefanias Plubios Sforza, um moçambicano com qualidades.

Mukanda

22.06.2010 | por Luís Carlos Patraquim

Homens inseguros que fazem de 'seguranças'

Homens inseguros que fazem de 'seguranças' Em Luanda, onde a febre da segurança lateja à luz de um sol dengoso e desmotivante, há avenidas que são autênticas caixas-fortes – de um lado e doutro, dezenas de guardas ganham (mal) a vida sentados em cadeiras improvisadas, bancos e bancadas, onde fazem de tudo um pouco: dormem, trocam ideias e comem, trabalham. A sua utilidade é duvidosa (têm falta de formação adequada, muitas vezes não estão armados nem alimentados convenientemente) mas a verdade é que estes homens fazem parte da paisagem e dinâmica da capital angolana.

Cidade

21.06.2010 | por Miguel Gomes

Peças para uma sombra iniciada e outros rituais mais ou menos

Peças para uma sombra iniciada e outros rituais mais ou menos Sobre a insegurança da infância e a rebeldia da adolescência existe a mão do saber que nos afaga e alenta, muitas vezes sem sucesso, perante a imagem da máscara que, ao ultrapassar o domínio da matéria, pretende transcender o humano. Revelando uma outra identidade, esta “sombra” viva exige e testemunha o respeito pelos seus poderes e pelos rituais em que desafiamos os nossos temores, correndo os riscos que nos são impostos.

Palcos

20.06.2010 | por Ana Clara Guerra Marques

Uma segunda parte para Nelson Mandela

Uma segunda parte para Nelson Mandela A África do Sul está com os nervos à flor da pele. Não é fácil jogar a sua reputação e a de um continente inteiro num simples torneio desportivo, por mais prestigiante que seja. Sente-se obscenamente observada e sabe que não lhe será perdoado nenhum erro. Nunca foram tão obstinadamente postas em dúvida, muitas vezes a partir de simples preconceitos, as capacidades do país anfitrião. Relato de uns dias antes de começar o Mundial.

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17.06.2010 | por Boubacar Boris Diop

Mindelo: entre a Ficção e a Realidade

Mindelo: entre a Ficção e a Realidade Descoberta em 1462 por Diogo Gomes, S.Vicente manteve-se praticamente deserta até princípios do séc. XIX, apesar de várias tentativas de colonização, realizadas durante o séc. XVIII. Tentativas frustradas pelas secas que, numa ilha tão escassa em água potável, tornavam a sobrevivência praticamente impossível. Assim é que, em 1813, a população de S. Vicente, estava reduzida a um punhado de “aventureiros, pastores de rebanhos alheios, prostitutas e degregados”.

Cidade

17.06.2010 | por Ana Cordeiro

Todos iguais em África? Não, todos diferentes

Todos iguais em África? Não, todos diferentes No triângulo Europa-América-África da lusofonia, há um elo mais fraco. Os africanos vivem um período de afirmação da língua portuguesa como língua identitária e serão tanto mais iguais quanto forem diferentes.

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17.06.2010 | por Susana Moreira Marques

Mundial «Africano»: o grande mal-entendido

Mundial «Africano»: o grande mal-entendido Podemos ter a certeza que sempre que a Argélia, os Camarões, o Gana, a Costa de Marfim e a Nigéria, descerem ao relvado do Soccer City ou ao Estádio Peter Mokaba, o público vai apoiá-los com um fraterno e atroador concerto de vuvuzelas. Jogo duplo? Não: parece antes a esquizofrenia de uma sociedade profundamente fracturada durante tanto tempo…

Vou lá visitar

17.06.2010 | por Boubacar Boris Diop

Música, Cidade, Etnicidade: explorações a partir de cenas musicais em Lisboa

Música, Cidade, Etnicidade: explorações a partir de cenas musicais em Lisboa No horizonte das cidades imaginadas como “megacidades transculturais”, a música tende a ganhar espaço na promoção dos sentimentos de lugar e pertença na, e à cidade. Os processos e valores relativos à internacionalização da cultura que, de forma geral, se enquadram no contexto da “nova economia política e sua cultura” podem ser explorados a partir de algumas manifestações musicais na cidade de Lisboa.

Palcos

15.06.2010 | por Jorge de La Barre

Da resistência e da fantasia, entrevista a Luísa Queirós e Naufrágios e barcos abandonados

Da resistência e da fantasia, entrevista a Luísa Queirós e Naufrágios e barcos abandonados Gosto de me ligar à palavra e à música como fontes de inspiração. Histórias contadas por mulheres de Santo Antão sobre mulheres-gatos-feiticeiras e parteiras de sereias que vão ao fundo do mar, ao palácio dos “encantados” prestar os seus serviços recebendo três pedrinhas que se transformarão em ouro. Gosto imenso deste universo e aproveito para criar personagens para a minha arte.

Cara a cara

15.06.2010 | por Marta Lança

Germano de Almeida, o contador de Estórias

Germano de Almeida, o contador de Estórias Aquilo que verdadeiramente lhe interessa é ter uma estória e alguém a quem a contar. A forma só lhe importa na medida em que serve o conteúdo e os recursos estilísticos ou linguísticos que utiliza estão submetidos às necessidades do enredo que é, de facto, a sua prioridade. Ele pertence à geração que teve o privilégio de entrar no mundo da ficção pelas palavras ouvidas e não pelas palavras escritas, e por isso não é de estranhar que essa marca da oralidade esteja tão claramente presente nas suas obras.

Cara a cara

15.06.2010 | por Ana Cordeiro

O divertimento do ‘Unce’

O divertimento do ‘Unce’ O "Unce" é um ritmo musical urbano de influência árabe e contemporâneo da Marrabenta. Produto da mestiçagem cultural africana e muçulmana, a sua origem está associada a indivíduos muçulmanos provenientes das Ilhas Comores. Cantado e tocado em ocasiões festivas como aniversários e casamentos de pessoas que professam o Islamismo.

Palcos

15.06.2010 | por Rui Guerra Laranjeira

Guiné-Bissau: se um barco atracasse

Guiné-Bissau: se um barco atracasse Foi o ano passado durante a campanha para a segunda volta das presidenciais na Guiné Bissau. O povo rejeita a violência e teme os militares e o poder do narcotráfico. Impressiona quem chega ao país cheio de preconceitos construídos com base nos ecos do que o mundo diz sobre a Guiné-Bissau, um povo “injustamente rotulado de violento devido à imagem que um grupo restrito de políticos e militares passa lá para fora”, remarca a activista Macária Barai. O jornalista angolano Pedro Cardoso foi lá registar o ambiente que se vivia.

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12.06.2010 | por Pedro Cardoso

Recordar Liceu Vieira Dias

Recordar Liceu Vieira Dias Acaba de sair a terceira e última parte da trilogia sobre música popular angolana realizada por Jorge António. Baseado na obra "Estórias para a História da música angolana" de Mário Rui Silva, intitula-se "O Lendário 'tio Liceu' e os Ngola Ritmos", e aborda a figura mítica de Liceu Vieira Dias e o seu grupo Ngola Ritmos, criado no final dos anos 50, representando uma força cultural pioneira na luta contra o colonialismo português. O documentário é uma viagem ao universo criativo de um dos mais notórios compositores de música popular angolana, confirmando a sua originalidade e contributo permanentes na história cultural e sócio-política de Angola. Falámos com o realizador.

Afroscreen

12.06.2010 | por Marta Lança

Um fim do mundo africano – entrevista com Pepetela

Um fim do mundo africano – entrevista com Pepetela No fundo é uma pergunta: que raio de pessoas são essas para começar uma humanidade? Ora, a nossa humanidade atual, como é que começa? Com um irmão a matar o outro, Caim a matar Abel. E essa nova humanidade começaria da mesma maneira como a outra acabou. Não há aí muita inovação, não é? Enfim, a idéia era jogar com isso tudo, mas de fato o que ficam são as relações entre as pessoas.

Cara a cara

11.06.2010 | por Cláudia Fabiana

“Ouçam: a questão já não é a cor da pele!”

“Ouçam: a questão já não é a cor da pele!” O homem que compra bananas no mercado do Soweto está cansado de ouvir falar em tensões raciais na África do Sul. Na África do Sul, em 2010, há brancos com medo e negros com discursos de ódio? Há. Há também negros com medo e brancos com discursos de ódio. Nem uns nem outros são a maioria.

A ler

10.06.2010 | por Miriam Alves