“Mundividências” judiciais - caso Cláudia Simões

“Mundividências” judiciais - caso Cláudia Simões A sentença do Tribunal apresenta-nos outra explicação – a meu ver – desconcertante. A resistência de Cláudia Simões e a reação das pessoas que viram a ocorrência na paragem de autocarro teriam sido de tal forma desestabilizadoras que, em jeito de “descompressão”, Carlos Canha agride violentamente aqueles dois homens. Se a tese da “descompressão” não permite ilibar, ela aligeira a dimensão moral dos atos do agente. Descontrolou-se, agiu sem verdadeira intenção, sem premeditação, “descomprimiu”.

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03.07.2024 | por Cristina Roldão

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço, generosidade sempre pronta ao tratar o alheio macio por natureza, tranquilo com um sorriso que resolvia parte das macas, era uma figura que se destacava por incrível que pareça pela sua discrição com a música a tiracolo sempre!

Palcos

03.07.2024 | por Isabel Baptista

Em busca do pai Natal, acompanhada da leitura de "Afropeu" de Johny Pitts

Em busca do pai Natal, acompanhada da leitura de "Afropeu" de Johny Pitts Desde o início do século XX foram articuladas formulações sobre a identidade negra na Europa, Estados Unidos e África. Do Pan-africanismo ao New Negro Movement, da Negritude ao Renascimento de Harlem, do projeto Back-to-Africa de Marcus Garvey, ao Rastafari e Black Power, para lá de outros. Pitts faz breves incursões a estes movimentos no seu itinerário de Paris, Amsterdão, Moscovo, Berlim e Estocolmo. O desdobramento e esmiuçar do termo Afropeu é para além dos encontros fortuitos com migrantes negros e de outras etnias, uma viagem de aprendizagem sobre os possíveis significados de uma identidade negra neste começo de século e as suas múltiplas heranças provenientes da literatura e do meio artístico.

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01.07.2024 | por Aida Gomes

Bolívia, um Estado em golpe

Bolívia, um Estado em golpe   Na semana passada, o presidente da Bolívia parou em seco uma tentativa de golpe de Estado. À porta do Palácio Queimado, dedo em riste, Luís Arce disparou um “não vou permitir esta insubordinação!” ao recém-destituído (e agora golpista) comandante das Forças Armadas Bolivianas. Com a economia em picada, uma reserva de lítio apetecível e um braço-de-ferro entre o atual presidente e o eterno Evo Morales, o golpe falhado em La Paz levanta mais dúvidas que respostas. A começar por: foi real?

Jogos Sem Fronteiras

01.07.2024 | por Pedro Cardoso

Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe

Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe Este ano é na roça e não na cidade que se dá o primeiro passo da Bienal, a roça onde tudo começou, Água Izé. A história da roça de Água Izé é a história de tantas outras roças, a história que começa com a ocupação colonial das terras, a plantação, a explosão das roças por toda a paisagem das ilhas, a exploração de pessoas e do solo, a história que culmina na independência, no fim do chicote, na nacionalização das roças, e por fim na sua distribuição a privados nos anos 90.

Vou lá visitar

30.06.2024 | por João Moreira da Silva

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções Durante o tempo que corria lento, shelter-in-place, fui mergulhando nos universos que estas duas mulheres traziam para mim. Nunca mais parei. Quando comecei a escrever este texto, tinha a forte sensação de que haveria algo mais a ligar estas duas mulheres do que a sua força e uma necessidade de construir narrativas quase tão intensa quanto a sua necessidade de destruir outras (narrativas). Entre o luto da minha cadela e uma busca voraz de futuro que me levou a mergulhar de cabeça na tradução do texto Positive Obsession/Obsessão Positiva, de Butler, descobri esta ligação. O que se segue é a história desta descoberta.

Corpo

27.06.2024 | por Patrícia Azevedo da Silva

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida]

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida] Quem escreve em língua cabo-verdiana, por ponderada e consciente decisão cultural e identitária, por ser esse o meio através do qual melhor se sente, cria ou se exprime, ou ainda por qualquer secreta ou inconfessável tara, mesmo que só por simples briu di korpu o kabesa ka bale, e não por refúgio ou como muleta, por não dominar convenientemente outra língua, já chegou exatamente onde queria chegar.

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27.06.2024 | por José Luiz Tavares

Ver como um lobo

Ver como um lobo As últimas décadas assistiram a um regresso dos lobos às serras portuguesas, onde o trabalho da conservação vai tomando o lugar de uma oposição ancestral, ao mesmo tempo material e simbólica. Com conceção e direção artística de Bruno Caracol, Ver como um lobo parte da relação entre corpos de lobos e corpos humanos, dos usos dados pela medicina popular a órgãos de lobos (goelas, olhos, ossos) conservados, das imagens das caçadas, aos modelos de previsão de comportamento e de gestão de população usados pela Biologia.

Palcos

24.06.2024 | por vários

Apresentação de “O cemitério  do elefante branco: Retornados e Ficções do Império português”

Apresentação de “O cemitério  do elefante branco: Retornados e Ficções do Império português” Essas pessoas agora sentiam muito ódio, muito medo, muita insegurança e vulnerabilidade. Mas quantos milhares e milhares de negros tinham experimentado isso ao longo dos tempos? Quantos milhares de negros não sentiram a profunda sensação do absurdo daquilo que lhes estava a acontecer? Quantos milhares de negros não sentiram que a sua vida iria de certeza ter um final trágico? Quantos milhares de negros não viveram e morreram fervendo de ódio nas plantações de café, a trabalhar nas minas, ou apanhados pelas armadilhas da tributação que fazia com que de um dia para o outro dessem consigo em São Tomé nas roças de cacau, onde esgotados pelo trabalho do contrato, chegavam por si próprios à conclusão que nunca mais regressariam para a sua família e para a sua terra. Ninguém lhes escutava os gritos e ninguém lhes limpava as lágrimas, durante anos, décadas e séculos, não houve nem consolo, nem misericórdia.

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21.06.2024 | por Cármen Loureiro Rosa

Religião, legislação e o estupro aos direitos femininos no Brasil

Religião, legislação e o estupro aos direitos femininos no Brasil Após o fracasso das tentativas, o nome completo da criança e o hospital onde o aborto seria realizado foi vazado para uma ativista de extrema direita que convocou uma verdadeira caça às bruxas, endossada por uma horda de seguidores. A menina precisou de entrar escondida, no porta-malas de um carro, no hospital no Recife, no Estado de Pernambuco, onde finalmente conseguiu ter seu direito cumprido, porém precisou aderir ao Programa de Apoio e Proteção às Testemunhas, Vítimas e Familiares de Vítimas da Violência (Provita) e mudar de identidade e endereço para ter a oportunidade de viver sem a perseguição de fanáticos religiosos.

Corpo

19.06.2024 | por Gabriella Florenzano

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas  Esta história ficcional da autoria de Lídia Jorge, passada no Algarve durante o boom imobiliário dos anos 90, agora tornada filme, aborda várias dimensões da realidade portuguesa contemporânea: o desengano pós-revolucionário, a imigração cabo-verdiana, a herança colonialista e o racismo. 50 anos decorridos da Revolução dos Cravos, e num momento político em que os valores democráticos estão constantemente a ser postos à prova, este filme convida a uma reflexão sobre o discurso de Portugal como uma sociedade não racista e sobre o imperativo de respeitar todos os seres humanos independentemente das suas diferenças, quaisquer que elas sejam.

Afroscreen

12.06.2024 | por Patrícia Martinho Ferreira e Laura Caballero Rabanal

O mundo que de outro modo não é

O mundo que de outro modo não é Há um traço ancestral latente na articulação do gesto utópico, e no movimento vital desse gesto. Uma estória sobre começos, e sobre fins sempre presentes. Uma conversa, implícita e antiga, com todos os passados que nem como história, subsistem, não tendo sobrevivido aos protocolos de transliteração. Uma faísca anímica, sumiça – a da cedência de controlo sobre o cálculo de probabilidades que constitui o real enquanto tal. Algo movido pelo convívio com a perda, que a traz e carrega consigo – com raiva, orgulho, curiosidade, e carinho.

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12.06.2024 | por Salomé Honório

A vida na clandestinidade

A vida na clandestinidade Documentário forte que não só documenta as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em Barcelona, mas também desafia os espectadores a reconsiderar suas percepções e atitudes em relação à imigração e às políticas sociais, falta muita empatia no mundo e nos dias que vivemos.

Afroscreen

10.06.2024 | por Mariana Ribeiro Mota

Olhar “ao contrário”, entrevista com o arquiteto Paulo Moreira

Olhar “ao contrário”, entrevista com o arquiteto Paulo Moreira Grande parte deste livro foi editado precisamente de “cabeça para baixo”, em Joanesburgo, onde tenho passado algumas temporadas, num novo desafio académico. Isto fez-me pensar na convenção de que no hemisfério norte as pessoas estão “em cima”, enquanto no sul tudo parece acontecer “ao revés”. A verdade é que, como sabemos, segundo as leis da gravidade deste planeta esférico, ninguém está “de pernas para o ar”. Esta constatação é óbvia e factual do ponto de vista da física, mas está longe de ser evidente para todos. O livro apresenta algumas destas evidências.

Cidade

08.06.2024 | por Marta Lança e Paulo Moreira

Luanda, Lisboa, Paraíso: a cartografia da violência dos sujeitos da diáspora

Luanda, Lisboa, Paraíso: a cartografia da violência dos sujeitos da diáspora Sob a pele dos protagonistas Cartola e Aquiles vemo-nos de forma frontal com a experiência de sujeitos que continuam a habitar o território do não pertencer, a despeito de suas presenças já contarem com cinco séculos de existência em Portugal. O texto literário da escritora Djaimilia Almeida ilustra esses limites relacionados à pertença e a complexidade de construir uma subjetividade a partir dos trânsitos, deslocamentos e do não pertencimento.

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06.06.2024 | por Liz Almeida

Angola/ Alguém viu por aí o jornalismo investigativo?

Angola/ Alguém viu por aí o jornalismo investigativo? O país viveu numa situação de ditadura monopartidária assumida nos seus primeiros 17 anos, que também ficou conhecida no discurso oficial com o pomposo nome de “ditadura democrática revolucionária”. Lamentavelmente, a situação prolonga-se até aos dias de hoje embora já com algumas diferenças na sua fachada constitucional e institucional com a existência formal de um regime multipartidário que não alterou, contudo, a natureza do poder absoluto que governa o país com os mesmos vícios de sempre não obstante todo o rejuvenescimento que, a olhos vistos, a elite no poder tem conhecido.

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06.06.2024 | por Reginaldo Silva

Manifesto Pan-Africanista, cumprir África! A missão da nossa geração

Manifesto Pan-Africanista, cumprir África! A missão da nossa geração A situação atual de África é ainda marcada pelo neocolonialismo. Na maior parte dos países, as nossas elites governantes, monopolizando todos os privilégios, voltaram as costas às realidades nacionais e fixaram os olhos nas antigas metrópoles em busca dos seus serviços, traindo os princípios de liberdade e da soberania do povo, que oprimem quotidianamente, censurando-o, empobrecendo-o, tribalizando-o.

Mukanda

25.05.2024 | por vários

Memorial do Convento: un memorial sobre los olvidados

 Memorial do Convento: un memorial sobre los olvidados Estos hombres son los que han sido arrancados a la fuerza, llevados contra su voluntad a una cruzada forzada, atados como prisioneros y esclavos. Como observó Cornado (2018), Saramago crea una perspectiva más humana de la Historia, mostrando que esta masa de anónimos también hace parte de los relatos históricos. Y que, por lo tanto, también contribuyeron y hacen parte de la memoria de Portugal, por eso sus historias son narradas desde la seriedad, desde la humanidad y del compromiso, demostrándonos la sensibilidad y la empatía de quien escribe.

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24.05.2024 | por Lorena Leites Rodriguez

José Gil nos 50 anos do 25 de Abril

José Gil nos 50 anos do 25 de Abril Diria que isto, pelo menos, é certo: tudo passa, em Portugal, pelo 25 de Abril. Se o querem desinscrever, cabe a nós o reinscrevermos. Mas, desta vez, finalmente, inscrevendo no 25 de Abril “o país da não-inscrição”, onde também habitam, com a sua Praça do Império, os espectros do extenso e complexo trilho da “presença histórica de Portugal no mundo” (e não serão eles que têm estômago para "antropofagizar" Salazar?). O que se confirma, por outras palavras, é a conclusão geral do Morte e Democracia de José Gil (2023): entramos na era da “espectrologia política”.

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22.05.2024 | por Filipe Ferreira

No Padrão dos Descobrimentos, a história da diáspora africana conta-se através de Álbuns de Família

No Padrão dos Descobrimentos, a história da diáspora africana conta-se através de Álbuns de Família Toda a exposição resulta de um processo colaborativo. “Grande parte do que está exposto foi feito com a participação das pessoas que generosamente retiraram as fotografias das suas casas para as partilharem connosco”, prossegue. “São pessoas não usam a criatividade no sentido de não terem resultados materiais no seu trabalho, como têm os escritores e os artistas no espaço público, mas que também aqui fizeram, de alguma forma, um trabalho criativo falando sobre as fotografias”.

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20.05.2024 | por Mariana Moniz