Do cinema de estado ao cinema fora do Estado: Moçambique

Do cinema de estado ao cinema fora do Estado: Moçambique A cinematografia moçambicana é hoje também marcada por preocupações ecológicas, que passam pela revalorização dos saberes ancestrais, pelo tratamento de questões identitárias (incluindo de género e raciais), e, muito fortemente, relativas às articulações entre as memórias pessoais e coletivas, tanto numa perspetiva de questionamento do que falhou na construção do país, como das possibilidades de esperança e de superação dos traumas provocados pelo colonialismo e pela guerra civil.

Afroscreen

18.04.2024 | por Maria do Carmo Piçarra

Maryse Condé “Amar os outros parece-me ser a forma, talvez a única, de causar impacto”

Maryse Condé “Amar os outros parece-me ser a forma, talvez a única, de causar impacto” “A morte na nossa casa é um espetáculo. Não se permite que a dor seja silenciosa. Deve ser acompanhada por um alvoroço de lágrimas, gritos, queixas, repreensões, imprecações contra Deus. Pessoas desesperadas rolam no chão. Outras ameaçam cometer um ato irreparável. Todas as pálpebras estão inchadas e vermelhas.” Tradução livre de Maryse Condé em “Victorie, Les Saveurs et les Mots”, 2006.

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13.04.2024 | por Pedro Cardoso

Steve Biko (1948-1977) (1977-BC) - Prefácio de "Consciência Negra"

Steve Biko (1948-1977) (1977-BC) - Prefácio de "Consciência Negra" Assim, por todo o Soweto, rugiu uma rebelião, durante a qual a juventude paralisou o regime, pagando um preço altíssimo por isso. Sabemos que após a repressão local, esta rebelião se espalhou para os principais centros urbanos do país, sendo que a polícia assassinou perto de 700 pessoas, maioritariamente estudantes, não poupando os seus familiares nem os seus vizinhos. Esta página de luta, é para muitos uma completa inversão no processo de luta contra o apartheid.

Mukanda

13.04.2024 | por António Tonga

Batuku cabo-verdiano, musica di terra

Batuku cabo-verdiano, musica di terra Foi com a Revolução de 1975 que o Batuku, até então adormecido, renasceu no seio de ocasiões comemorativas como o casamento. E foi numa celebração matrimonial que, ainda criança, tive o meu primeiro contacto com a energia contagiante do Batuku, que é tradicionalmente cantado e dançado, durante toda a noite, pelas mulheres mais velhas, que celebram a união que se avizinha.

Palcos

11.04.2024 | por Nélida Brito

A resistência da Livraria Ulmeiro

A resistência da Livraria Ulmeiro Antes do 25 de Abril fui processado como fundador, também, da Assírio e Alvim, pela edição do livro “Portugal sem Salazar” e, depois do 25 de abril, pela edição do livro “Massacres na Guerra Colonial Tete” num processo movido pelo Estado Maior General das Forças Armadas que chegou, depois, ao 5º Tribunal Militar Territorial de Lisboa e o acusador público, o militar que fazia esse papel, pediu que o processo fosse integrado na chamada Lei da Amnistia, a Amnistia dos crimes de abuso de liberdade de imprensa.

Cara a cara

09.04.2024 | por Mariana Ribeiro Mota

O meu irmão Nhonhô, por Tuna Furtado Lopes*

O meu irmão Nhonhô, por Tuna Furtado Lopes* E de repente eclodiu o 25 de Abril de 1974, considerado pelo Nhonhô numa entrevista à RTC sobre o seu percurso de vida como “uma autêntica revolucão”. E de facto foi a festa infinita que começou com a caça aos informadores da PIDE/DGS na cidade da Praia e na qual o Nhonhô e os seus amigos estudantes da Assomada residentes na cidade-capital da colónia/província ultramarina portuguesa e, logo depois, com a libertação dos presos políticos do Tarrafal, prosseguindo com os frequentes comícios e sessões de esclarecimento, os saraus culturais e as muitas e acaloradas discussões políticas nas quais nós, adolescentes, também nos envolvíamos entusiástica e freneticamente.

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08.04.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Danças afrobrasileiras, dança dos Orixás, Entrevista a Rita Carneiro

Danças afrobrasileiras, dança dos Orixás, Entrevista a Rita Carneiro As danças afro-brasileiras estão muito conectadas à religião. São danças de inspiração afro-religiosa, como a Dança dos Orixás, que são as divindades do Candomblé. Cada orixá está ligado a um elemento da natureza, como por exemplo a Iansã, que é a deusa das tempestades, dos raios e trovões. Ela é uma deusa muito forte, que lida com o fogo e é a única que lida com a morte, não tem medo da morte. No caso do Afoxé, ele é considerado candomblé de rua porque era o momento em que as pessoas do candomblé levavam o que acontecia no terreiro (lugar onde aconteciam as cerimônias) para a rua.

Palcos

08.04.2024 | por Nélida Brito

Segunda edição do Festival do Pensamento acontece em Lisboa

Segunda edição do Festival do Pensamento acontece em Lisboa Em um cenário de crises e transição para uma nova era da razão, como devemos entender o papel da tecnologia? Nesta mesa redonda, convidamos o público a explorar diferentes perspectivas sobre A Ecologia do Caos, repensando e reimaginando a nossa relação com a aceleração tecnológica e formas experimentais de literatura. Vamos procurar entender como dois romances radicalmente orais e visuais, "Finnegans Wake", de James Joyce, e "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, encontram ressonância na Ecologia do Caos. O rio, presente nessas obras, surge como metáfora para a tensão entre o finito e o infinito. A partir de uma reorientação que se guia pela filosofia e pela arte, talvez possamos compreender a experiência de sentir, pensar e ser ecológico.

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08.04.2024 | por vários

O FANTASMA DA LIBERDADE Anozero’24 – Bienal de Coimbra

O FANTASMA DA LIBERDADE Anozero’24 – Bienal de Coimbra procura-se também evocar uma outra revolução operada na linguagem: o centenário do “Manifesto Surrealista” (1924). À semelhança de Fantômas, o herói ficcional do romance de Pierre Souvestre et Marcel Allain, que sobrevoava os telhados da cidade de Paris, os fantasmas que se evocam nesta Bienal têm um valor poético, isto é, procuram sequestrar os acontecimentos históricos das suas convenções e leituras cristalizadas, e provocar uma suspensão e movimento, aliás, qualidades próprias dos fantasmas.

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05.04.2024 | por vários

O momento África - notas de uma formação com Nadia Beugré

O momento África - notas de uma formação com Nadia Beugré Nadia Beugré, nascida na cidade de Abidjan na Costa do Marfim, tem origem de uma família de artistas muçulmanos. É uma das primeiras mulheres a integrar uma companhia contemporânea de dança exclusivamente de mulheres no continente Africano, a Cia Tchetché, liderada por Béatrice Kombé. Suas obras estão sempre conectadas com a vida e a experiência potente do sentido e conexão da alma, e extrapolam o campo da dança, conectando artes visuais, música, filosofia, espiritualidade entre tantos outros campos.

Palcos

03.04.2024 | por Dally Schwarz

Lerbd – El cielo en la cabeza. Antonio Altarriba, Sergio García, Lola Moral (Norma Editorial)

Lerbd – El cielo en la cabeza. Antonio Altarriba, Sergio García, Lola Moral (Norma Editorial)   O problema, revelado por esta ficção brutal, é que no momento em que essa consciência se forma, o pecado é assinalado ao mesmo tempo. E os autores não estão preocupados com redenções, boas fortunas, finais felizes. Bem pelo contrário, o livro é atravessado uma e outra vez por crimes abjectos e hediondos, que não desejo sequer relatar ou sumariar. Apesar das roupagens estilísticas de grande espectacularidade – García cria muitas composições radiais, serpeantes, ou fragmentadas que obrigam o nosso olhar a procurar sempre cartografias complexas de leitura das pranchas –, Cielo não quer criar uma armadilha de facilitismos ou de naturalidade, não há quaisquer moralismos (ainda que, por vezes, num diálogo ou numa cena, haja algo de esquemático na apresentação do “problema”) mas sim mantém uma certa distância pelo horror que Nivek tem não apenas de atravessar, como de perpetrar, como um constante mecanismo de auto-salvação.

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03.04.2024 | por Pedro Moura

Sindicato dos Jornalistas Angolanos: uma história singular com mais de 30 anos a partir a pedra dura da democratização

 Sindicato dos Jornalistas Angolanos: uma história singular com mais de 30 anos a partir a pedra dura da democratização Um sindicalismo que começou por ter como grande reivindicação a defesa intransigente do primeiro de todos os direitos fundamentais que é a liberdade de expressão sem a qual a liberdade de imprensa tão cara aos jornalistas mas não só, poderia ser o bem público que a todos serve, sem excepção. É claro que, na prática, as coisas nem sempre são conforme estão escritas, sendo Angola um caso emblemático deste choque, que é permanente, do discurso com a realidade, do texto com o contexto.

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02.04.2024 | por Reginaldo Silva

Dos urros e dos círculos

Dos urros e dos círculos É um gesto expressivo, aquele. O de tentar arrancar qualquer coisa cá de dentro, fazê-la brotar (acho que ele preferiria que dissesse rebentar). Enfim, trazê-la e dá-la ao mundo. O Miguel dava e dava-se. Ora, o dar tem uma forma de existir muito própria. De pouco adianta apontar para dentro, reclamar boas intenções escondidas, almas profundas, abismos insondáveis ou ensinamentos escusos que guardamos para nós, cá dentro. Mais do que exprimir algo, trazê-lo das profundezas de nós, o gesto é, diria eu, plenamente exterior. Sem nada dentro, por assim dizer. Só existe entre. Apontar, empurrar, cortar, partir. Assim se move o mundo. Uma corrente de ar não tem mensagem. Sopra.

Mukanda

27.03.2024 | por Miguel Cardoso

O canto de Raoni

O canto de Raoni Os holofotes brasileiros e franceses se voltaram para a Ilha do Combu, em Belém, na tarde do dia 26 de março de 2024, para a expedição dos presidentes da França e do Brasil – Emmanuel Macron e Lula – com o objetivo de condecorar o bēnjadjwáriy kayapó Raoni Metuktire com a ordem do cavaleiro da Legião de Honra da França, a maior honraria concedida pelo país aos seus cidadãos e a estrangeiros que se destacam no cenário mundial.

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27.03.2024 | por Gabriella Florenzano

E sei, meu amigo, que nos instigas a adivinhar a graça do amor

E sei, meu amigo, que nos instigas a adivinhar a graça do amor Aprendia ensinando-nos, este pássaro, tremendo em plena tormenta. E que nos perguntamos nós, que aqui ficámos? Que vivos somos nós, que andamos construindo cemitérios para as almas livres, sensíveis, pensantes, que rejeitam esta desumanidade e o neo-liberalismo, pornográficos, por onde nos arrastamos, simiescos e sonâmbulos? É legitimo partir para um universo que esteja para além da imaginação humana, insistindo em sustentar, imperioso e nu, o infinito da distância que se introduz na mais extrema proximidade, esse paradoxo de que se faz precisamente o Amor. (Maria João Teles Grilo)

Mukanda

27.03.2024 | por vários

Possa eu aliar-me à beleza dos teus versos sendo melodia

Possa eu aliar-me à beleza dos teus versos sendo melodia "Minha identidade, qual identidade pergunta o Feiticeiro Uma esteira Uma sucessão temporal de sensações Navegar esta tormenta Equânime, estoico, desapegado Atento e amoroso Para se viver isto em mim Eu não posso estar presente Serei mais verdadeiro fora de mim, sem mim, Sem identidade Só amor."

Mukanda

25.03.2024 | por Ana Maria Pinto

O cabelo como liberdade

O cabelo como liberdade   Quatrocentos anos depois da instituição da escravatura ter desencadeado mecanismos de desvalorização da estética africana, muitos indivíduos do continente ainda têm uma relação difícil com o cabelo da mulher africana. É verdade que, nos últimos cinco anos, seguindo tendências nascidas nos Estado Unidos e na Europa, o movimento do cabelo natural tem ganhado força nos países africanos. Atualmente, cada vez mais mulheres e raparigas assumem a naturalidade do seu cabelo e optam por estilos naturais, tal como a Miss Universo de 2019. No entanto, a resistência ao cabelo natural, particularmente ao afro e às rastas, é ainda uma realidade e muitos optam por estilos de cabelo, como é o caso das extensões, que se assemelham à estética ocidental.

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25.03.2024 | por Yarri Kamara

Carta a um jovem poeta

Carta a um jovem poeta Regresso aos nossos jardins. Agora feitos menores pelas geografias que nos cresceram, minhas e tuas, doando-nos os lugares que conhecemos juntos, lugares que tantas vezes experimentámos pelos olhos, e pelas mãos, um do outro. Nenhum de nós sabia o que era ter completado uma década de vida, mas entoavámos as palavras de ordem do que já sabias ser o nosso desígnio maior. Fizemos pactos de sangue, e talhámos a canivete troncos e sulcos no chão. Não à liberdade condicional.

Mukanda

25.03.2024 | por Verónica Metello

Um poeta, um filósofo, um Buda e um Viking

Um poeta, um filósofo, um Buda e um Viking Sempre me impressionou o modo como conviviam dentro de ti um poeta, um filósofo, um Buda e um verdadeiro Viking, tornando-te num ser singular, com posturas únicas diante da vida. Posturas que revelavam a tua integridade, a tua iluminação espiritual, a tua capacidade de transcender a rótulos e preconceitos que muitas vezes nos separam dos outros seres humanos, a tua capacidade de congregar e unir as pessoas por todos os lugares onde passavas.

Cara a cara

24.03.2024 | por Leopoldina Fekayamãle

Contai aos vossos filhos

Contai aos vossos filhos A fotografia e a guerra formam, na nossa época, uma parelha que tem muito que se lhe diga, mas não uma leitura única. Susan Sontag, uma escritora americana que descreveu, historiou, e tentou explicar a estranha coligação deste estranho casal (a fotografia e os sofrimentos da guerra) no seu livro “Ohando o sofrimento dos outros” (que diga-se de passagem, foi traduzido por mim) diz a certa altura: “As guerras são agora também imagens e sons de sala de estar. A informação sobre o que está a acontecer noutro sítio, a que se dá o nome de «notícias», sublinha o conflito e a violência – If it bleeds, it leads [«Se há baixas, há cachas»], reza a provecta divisa dos tabloides e dos programas noticiosos de 24 horas – que recebem em resposta compaixão, ou indignação, ou excitação, ou aprovação, à medida que cada notícia vai surgindo.”

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15.03.2024 | por José Lima