Kwashala Blues, visto através de um monóculo

Kwashala Blues, visto através de um monóculo O avião a descolar e o mundo de Fred a implodir, com as suas referências congeladas na impotência escultórica: Charifo Victor Salimo, Rei Costa e Zena Bacar. Miragem. Estamos perante a atmosfera musical da cidade de Nampula, um regresso ao Kwashala enquanto género musical, que ecoou um pouco por toda a região norte de Moçambique e parte de província da Zambézia, sobretudo nos distritos de Gilé, Alto-Molocue, Gurué, Ile e Namarroi, através do cordão Emakhuwa, língua falada nestas regiões e partilhado por quase trinta por cento da população nacional.

A ler

08.01.2025 | por S. Preto

Não nos encostem à parede

Não nos encostem à parede O que aconteceu a 19 de Dezembro, na rua do Benformoso não é um caso isolado, mas não é por isso que não deixa de ser inadmissível. As centenas de pessoas que se mobilizaram para protestar contra o sucedido, sabem que a repressão aos imigrantes e aos trabalhadores mais desfavorecidos implica a criação de uma sociedade menos livre e mais injusta. Por isso centenas de pessoas e dezenas de organizações apelam para que no próximo sábado, dia 11 de janeiro, milhares de pessoas se manifestem em Lisboa. As suas palavras são claras.

Mukanda

08.01.2025 | por várias

"Instalou-se aqui uma ditadura que ainda continua", entrevista a Justino Pinto de Andrade (parte 1)

"Instalou-se aqui uma ditadura que ainda continua", entrevista a Justino Pinto de Andrade (parte 1) Mesmo hoje, faço parte da história. Continuo a agir em sociedade, politicamente, tanto como professor universitário, como cidadão, mas eu ajo, ajo. Estou preocupado com o futuro da humanidade, com o ambiente, com as novas questões, com os novos desafios da sociedade. Daí surgirem partidos políticos que já não são aqueles partidos clássicos, tipo o Partido Comunista português. Isso já está ultrapassado. Hoje temos outras forças políticas mais modernas, adequadas ao momento que se vive, à dinâmica da sociedade.

Cara a cara

07.01.2025 | por Elisa Scaraggi

Filme 'Empate', de Sérgio de Carvalho: o legado de Chico Mendes mantém-se vivo na defesa da Amazónia.

Filme 'Empate', de Sérgio de Carvalho: o legado de Chico Mendes mantém-se vivo na defesa da Amazónia. No Estado do Acre, região da Amazónia Ocidental brasileira, a mobilização político-social de centenas de seringueiros - trabalhadores que vivem da recolha artesanal da borracha – iniciou-se na década de 1970, como resposta ao modelo de desenvolvimento imposto pelo regime da Ditadura Militar, que incentivou a ocupação da floresta por colonos conhecidos por ‘paulistas’, denominação atribuída aos imigrantes provenientes da região Centro-Sul do país. Fazendeiros e pecuaristas invadiram terras habitadas, desde há décadas, por seringueiros ou coletores da castanha-do-brasil, com o objetivo de desmatar para abrir pastos destinados à criação de gado.

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06.01.2025 | por Anabela Roque

Ao que nos levou o fracasso do Estado Social

Ao que nos levou o fracasso do Estado Social Há muito que sentimos que o Estado se distanciou das suas responsabilidades com a população, sobretudo a mais pobre e vulnerável. E engane-se quem pensa que os governantes não se aperceberam disso. Basta contarmos o número de vezes que o Presidente da República inaugurou torneiras com direito a fitas decorativas, champanhe e cobertura mediática em cadeia nacional. Um país no qual abrir fontes de água para uma comunidade faz manchete na imprensa nacional diz muito da sua realidade social e política. Há problemas sérios no acesso a serviços básicos, as pessoas metem os pés nos rios, ceifam excrementos de animais e tiram água para beber; percorrem quilómetros para ter acesso a serviços que funcionam no horário normal de expediente nas repartições e quase sempre faltam medicamentos; a electricidade para todos é uma miragem; a educação resume-se ao debate sobre salas de aulas (que são árvores), o livro escolar que nunca chega - e, se chega, tem erros graves - e a falta de pagamento aos professores. Podemos parar por aqui porque a lista é extensa.

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05.01.2025 | por Eduardo Quive

A Morte do Meu Pai

A Morte do Meu Pai Lembrei-me dos momentos que passei com o meu pai, de cada segundo que fui seu filho. Considerei-os insuficientes. Culpei-me por não ter feito tudo que estava ao meu alcance, culpei-o por não ter feito o seu papel de pai, um turbilhão de pensamentos atormentadores. Algumas das minhas habilidades estavam adormecidas como um cadáver na gaveta de uma morgue. Não conseguia ouvir quase nada, além de mim mesmo. E quando senti que finalmente apanhei sono, escutei o azan da mesquita da Malhangalene. Allahu Akbar (Deus é grande), gritava, através de um funil para despertar os crentes para a primeira oração do dia.

Mukanda

05.01.2025 | por Jessemusse Cacinda

Lá sou amigo do Rei

Lá sou amigo do Rei Eu a seguir, a tentar com força manter-me de pé, a arrastar os pés, pesados, e a pensar, se me virem assim, humilhado como me sinto, no meio desta chuva, não se esqueçam, lá na minha terra, sou amigo do rei, tenho cavalos para passear perto de casa, comida fresca dos campos e uma mulher que põe as mãos no meio das rastas. Juro-te o caminho ficou mais fácil!

Cidade

31.12.2024 | por Zezé Nguellekka,

zona de desinteresse

zona de desinteresse Poderíamos dizer que a zona de interesse hoje em dia tem de abranger uns bons milhares de quilómetros, para nos isolar das atrocidades que se cometem por esse mundo fora. E nem assim. Porque ao mesmo tempo vai-se restringindo a distância a que as coisas acontecem. Tudo nos chega aos olhos e aos ouvidos. E quase no instante em que acontecem, o que mais aumenta o nosso sentimento de desamparo e de impotência diante das monstruosidades que de certo modo presenciamos e que nos questionam instantemente.

Mukanda

29.12.2024 | por José Lima

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 12)

Diário de um etnólogo guineense na Europa (dia 12) Reparação é uma cena muita fish! Até a União Europeia fez uma lei de direito à reparação… não, não para os países independentizados, credo!, isso é esperar demais!, mas para os consumidores europeus. Falar de reparação e restituições, fazer filmes sobre algo parecido, aliás qualquer filme feito por brancos sobre pretos, ou feito por pretos sobre pretos ou com palavra colonial pelo meio, é um afrodisíaco de culpa branca, que deixa os descolonizadores bem excitados, naquele masoquismo intelectual e vaivéns masturbatórios de mal-me-quero, bem-me-quero, não-me-quero, já-me-quero, vim-me em premiações, vim-me em museus, vi-me em festivais, vi-me em bienais e vêm-me-comer-à-mão. (FMI, Zé Mário).

Mukanda

28.12.2024 | por Marinho de Pina

Da restituição, notas sobre o filme 'Dahomey', de Mati Diop

Da restituição, notas sobre o filme 'Dahomey', de Mati Diop O processo tornou-se uma extensão da colonização, reforçando o poder de um Estado-nação sobre comunidades locais, em vez de devolverem efetivamente os objetos às pessoas que os produziram ou veneraram, e ignorando assim a complexidade das histórias locais. Basicamente, a França tinha saqueado as obras no passado e depois dizia: “não devolvo porque vocês não têm como cuidar delas”, Benin resgata as obras no presente e diz “não devolvo porque vocês vão torná-las objeto de cerimónias religiosas”. As estátuas saem de uma caixa para outra, mas em nome de libertação ou de restituição.

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28.12.2024 | por Marinho de Pina

O que dignifica?

O que dignifica? Porque são eles invisíveis?, perguntaria a criança a seguir. Porque sempre existiram mas ninguém deu conta deles, não vestem adequado, não cheiram aos aromas de Paris, nem à moda milanesa, antes à contrafação chinesa ou nigeriana; sempre andaram aos gritos que só os arrepiava a si mesmos, porque quem os devia escutar cercou-se de vozes semelhantes, de igual poder e cheiros, cantando todos em uníssono as canções de embalar os saciados. O que ficou para estes, resquícios de uma solidão e angústia só sufocada nas promessas e nos sonhos vistos em ecrãs de smartphones de segunda mão, tal como as roupas, vindas de contentores para o descarte. Os pensamentos da mãe podiam continuar a escalar, não fosse a criança ir-se tornando incómoda, impaciente, um tormento para quem também tem os seus porquês da vida. Está na hora de responder à criança que não se cala, em coro com os inaudíveis.

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27.12.2024 | por Eduardo Quive

Tomar balanço. 2024 e os livros que exigem ser lidos

Tomar balanço. 2024 e os livros que exigem ser lidos O que neles podemos encontrar de comum diz sobretudo do tempo em que se mostram, do seu vazio. Como se o que os justifica fosse a circunstância de se encontrarem num enorme campo aberto, e não a sua fixação definitiva enquanto objectos orientados para a sua própria posteridade. São livros não academizados, para retomar ainda Maiakowski, não dependem da ilusão do futuro, e é isso que lhes permite coincidirem numa experiência concreta de leitura capaz de, eventualmente, gerar e propagar um eco.

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26.12.2024 | por Fernando Ramalho

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional

O período da transição política de Cabo Verde para a sua independência política e soberania nacional e internacional sses acontecimentos demonstraram-se como sumamente necessários para uma catarse psicológico-cultural de amplas repercussões identitárias e político-ideológicas e, assim, para a total ruptura com o assimilacionismo colonial e a tutela assistencial portuguesa, considerada até aí, tanto em franjas extensas das camadas mais humildes e vulneráveis das populações, como também por importantes sectores das elites letradas, burocrático-administrativas, comerciais e fundiárias do povo das ilhas, como indispensável, senão insubstituível, para a viabilização da emigração caboverdiana para Portugal,

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22.12.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Comunicado de Imprensa Rua do Benformoso

Comunicado de Imprensa Rua do Benformoso Na Rua do Benformoso há muitas carências que devem ser tratadas com urgência, incluindo a melhoria na recolha de lixo, programas de cuidado para toxicodependentes, articulação das instituições com a sociedade civil, policiamento de proximidade. As comunidades residentes nesta área, portuguesas e de outras origens, estão desagradadas com estas operações policiais absolutamente desproporcionais à criminalidade que ali existe e revoltadas pois o investimento necessário para melhorar a situação não está a ser feito.

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22.12.2024 | por vários

A violência doméstica e a gestação

A violência doméstica e a gestação De tanto ser máquina de produzir filhos e sujeita a trabalhos duros, perdi e nunca vi a beleza da vida e as alegrias que as vizinhas falavam dos seus casamentos. O meu brilho foi-se ofuscado e a velhice não tardou a visitar-me. Um minuto de alegria para disfarçar a minha tristeza diante das crianças, era resultado de uma noite cheia de choros.

Corpo

21.12.2024 | por Edna Matavel

Das heranças e dos herdeiros

Das heranças e dos herdeiros É necessário fazer mais que monumentos, filmes ou pedidos de desculpa. É preciso, entre muitas outras coisas, trabalhar os discursos, trabalhar as formas de educação, investir na educação das populações mais vulneráveis, trabalhar e melhorar as relações entre os povos e os países, melhorar as condições de trabalho e de acesso aos espaços e meios de circulação à população preta portuguesa ou em Portugal, dignificar as histórias dos países africanos que foram colonizados, sem criar ou repetir narrativas que promovam complexos de inferioridade.

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19.12.2024 | por Marinho de Pina

A legítima desconfiança em relação aos intelectuais

A legítima desconfiança em relação aos intelectuais Estas tensões entre formas de vida e saberes diferentes foram também teorizadas pelo historiador francês Michel de Certeau, que considerou que os diversos campos de construção do conhecimento tendem a entrar em conflito não pela validade das suas ideias, mas pela necessidade de as verem priorizadas nos processos de transformação do quotidiano.

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18.12.2024 | por Jessemusse Cacinda

Clara Brito: corpo, memória e herança

Clara Brito: corpo, memória e herança Em Macau, uma exposição de Clara Brito juntou autobiografia e memórias comuns, integrando um projecto que quer preservar técnicas, materiais e vivências do Sul da China. (...) Do outro lado deste mundo onde a avó costureira permanece mestre de linhas e tecidos, Clara Brito vai recolhendo as memórias de outros mestres, de outros materiais, e confirmando que tudo o que vamos guardando é sempre caminho para o futuro que chegará.

Corpo

18.12.2024 | por Sara Figueiredo Costa

Em África é difícil viver sem Deus

Em África é difícil viver sem Deus Ao criar esta frase, Pepetela certamente se inspirou nas manifestações espontâneas das pessoas africanas a que a todo momento se voltam para Deus, mesmo quando estão em protesto e se afirmam ateus. Essa frase lembra-me o meu velho e as pessoas do meu bairro que acompanham com sofrimento, o movimento dos seus filhos para fora da igreja. Tenho a certeza que por estes dias de natal o centro das suas vidas gira em torno do que vai acontecer na missa ou nos cultos de natal das suas paróquias e assembleias. Em África é difícil viver sem Deus.

Mukanda

17.12.2024 | por Zezé Nguellekka,

80 anos de Chico Mendes

80 anos de Chico Mendes Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, é um ícone na luta pela preservação da Amazônia e pelos direitos das populações extrativistas. Se estivesse vivo, celebraria 80 anos hoje. Nascido em 1944 no seringal Porto Rico, em Xapuri, no Acre, Chico Mendes passou sua infância cortando seringa ao lado do pai, enquanto testemunhava a exploração e injustiças impostas aos trabalhadores da floresta.

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16.12.2024 | por Gabriella Florenzano