Um Arrepio, uma fricção, a polinização da forma da poesia falada e cantada

Um Arrepio, uma fricção, a polinização da forma da poesia falada e cantada   As canções originais que compõem o espetáculo são outro ponto forte do projeto. Cada uma delas nasce de um contexto específico, de observações do quotidiano e de reflexões sobre a vida. São músicas que dialogam diretamente com as questões de identidade e polinização cultural, criando uma ponte entre o passado e o presente. “Acreditamos que, por isso, conseguimos tocar o público e ligar-nos às nossas experiências comuns”, referem.

Palcos

17.09.2024 | por André Soares

A liberdade como exclusão (ou o nojo a tudo isto)*

A liberdade como exclusão (ou o nojo a tudo isto)* Então se nos perguntam porque escrevemos, respondemos, desde a nossa povoada e frutífera solidão: escrevemos para darmos um sentido ao fracasso, pois, conhecer o inferno, exige-nos que também o apontemos com sujo dedo indicador (de remexer nas escórias da vida), num idioma tão precário e duradouro como a poesia, que tresanda a sangue e horrores, e existe não para convencer, mas porque é da sua livre natureza existir.

A ler

16.09.2024 | por José Luiz Tavares

“Depois de Marte”

“Depois de Marte” a maior virtude deste livro: a capacidade de nos dizer, sem nos dizer, o quanto da guerra está em não sabermos como viver. Deixo-vos com uma hipótese dada, talvez, pela própria autora e que poderia dispensar todo o tempo que vos tomei. Que resume, na confissão de uma alma errante, que a força da escrita, da palavra, da imagem, reside na abolição das fronteiras ou, melhor, no arco em esforço da imaginação: Hoje sou daqui / ontem fui de longe... / Quero-me assim / segundo a segundo / ponte / sempre ponte.

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12.08.2024 | por Frederico Martinho

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah

Imaginar a libertação: três textos de Walid Daqqah Apresento a tradução de três cartas/ensaios de Walid Daqqah – que, como todos os seus textos, tiveram de ser libertados da prisão antes de chegarem ao público. Quero, com isso, partilhar um pequeno fragmento da obra do revolucionário palestiniano em português, estando ciente de que o ato de tradução implica transformação. Contudo, como o entendo, essa não é apenas uma transformação do texto, mas também de quem o lê e tem de se libertar das amarras coloniais para o compreender. Se Daqqah imagina e põe em prática a libertação da Palestina nós não podemos apenas ler o texto, mas somos obrigados a imaginar com ele e convidados a agir com ele.

Mukanda

03.08.2024 | por Bruno Costa

A ocupação do tempo no espaço de Maria Mello Giraldes

A ocupação do tempo no espaço de Maria Mello Giraldes 5 Espaços é um desses raríssimos livros de estreia sem um verso bambo, frouxo, ou uma palavra a menos, revelador de uma poderosíssima voz pessoal, visceralmente radical, sem dívidas nem epígonos, geradora de vocabulários inaugurais, de uma atentíssima e exaustivamente trabalhada oficina poética na consumação de uma linguagem que se não conturba, criadora da sua própria tradição, cuja fulguração só encontro paralelo entre as suas coetâneas Luiza Neto Jorge (1939-1989) e Maria Velho da Costa (1938-2020) de Da Rosa Fixa e Corpo Verde, o que há-de querer dizer alguma coisa num mundo de desatenções fulminantes e videirinhas celebrações impantes da mediocridade vigente e ululante.

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26.07.2024 | por Zetho Cunha Gonçalves

A grande conspiração de Lautréamont. Exercício para um mapa

A grande conspiração de Lautréamont. Exercício para um mapa Mais do que uma crítica à desumanização da sociedade capitalista, o texto de Lautréamont mostra como o capitalismo tornou impossível imaginar outro homem que não o homem – para mantermos os mesmos termos – desumanizado. Do que se trataria, então, seria de abandonar a quimera da humanização e de lançar a guerra ao homem, tal como ao seu Criador, à sua cultura, à sua sociedade, à sua poesia. E onde ele, justamente, encontra um potencial mais elevado de exponenciar essa guerra é nos elementos desumanizados, monstruosos, degenerados.

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21.07.2024 | por Fernando Ramalho

TXONBON (Chão Bom)

TXONBON (Chão Bom) como outros nacionalistas africanos / tais os muito seviciados os muito aliciados / cem presidiários políticos guineenses / como outros emboscados como outros /rebuscados como outros mortificados / patriotas negros mulatos e brancos / dilacerados em diferendos vários / tais os cento e seis prisioneiros / e condenados políticos angolanos

Mukanda

08.05.2024 | por José Luís Hopffer Almada

Ironia como poema como recusa: Mohammed El-Kurd

Ironia como poema como recusa: Mohammed El-Kurd Decidi traduzir o discurso do Mohammed (Maomé, não David) numa sessão do Palestine Festival of Literature –que decorreu no dia 13 de dezembro de 2023, em Londres– porque este é atravessado pelo pessoal e pelo político que marcam a experiência do poeta palestiniano neste presente de genocídio, um presente que se repete e que se acumula desde antes de 1948 e que é partilhado, de alguma forma, com todos/as os/as palestinianos/as nos seus diferentes exílios.

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05.03.2024 | por Bruno Costa

Um incomplacente desmantelamento dos mitos

Um incomplacente desmantelamento dos mitos Daí que, em todas as suas modulações, seja incandescente o percurso de José Luiz Tavares, sem receio da polémica e do sarcasmo quando é preciso, mas também generoso e de uma grande justeza ética. E lembremos aqui a advertência de Wallace Stevens: «a nobreza da poesia “é uma violência interior que nos protege da violência exterior”». E mais não se peça a José Luiz Tavares, porque é daqueles que transporta o fogo e isso, a prazo, é o que dá conforto e fertilidade à morada dos homens. O resto é o gosto fátuo das farófias.

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26.01.2024 | por António Cabrita

Apresentação do Livro “Avessamento” de Maria Giulia Pinheiro

Apresentação do Livro “Avessamento” de Maria Giulia Pinheiro As letras encapsulam as viagens da palavra: experimental, preliminar, que rompem o expectável, que cobrem o fumo, onde as palavras em jeito de humor, sem pudor, abrem novos caminhos do amar e do ser amado

Mukanda

19.01.2024 | por Alice Neto de Sousa

O Textamento do Magnânimo e Magnífico José Luiz Tavares [sobre como um segredo na boca do universo]

O Textamento do Magnânimo e Magnífico José Luiz Tavares [sobre como um segredo na boca do universo] A poesia de José Luiz Tavares exige um modo esquivo de dizer ou de se dizer; diz-se sempre num como se fosse – desembaraçado da realidade suposta e das funções pragmáticas da linguagem que pretende servi-la. Se de um segredo se trata, a poesia há de ser íntima e inocente, avessa ao vozear deôntico da praça pública; e se o universo é coisa ubíqua, haverá outra cidade ou outra praça onde ressoa, ecoando, o seu segredo comum.

A ler

06.12.2023 | por Rui Guilherme Silva

Rosto soberano - primeira estação (segunda variação)

Rosto soberano - primeira estação (segunda variação) Um país em busca Do seu verde nome Ou, melhor, do verde Lacrado no seu nome Ou, muito melhor ainda, Do lugar verde imaginado Lavrado e ajuramentado Com o seu inoxidável nome No sonho do poema de amanhã

Mukanda

10.11.2023 | por José Luís Hopffer Almada

A Poesia não é um luxo - Pré-Publicação de "Irmã Marginal"

A Poesia não é um luxo - Pré-Publicação de "Irmã Marginal" Para as mulheres, a poesia não é, pois, um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência. Forma a qualidade da luz pela qual manifestamos as nossas esperanças e sonhos no sentido da sobrevivência e da mudança, tornando‐os primeiro linguagem, depois ideia, e depois acção mais tangível. A poesia é o modo como nomeamos o inominado para que possa ser pensado. Os horizontes mais longínquos das nossas esperanças e medos são calcetados pelos nossos poemas, esculpidos na experiência rochosa do nosso quotidiano.

Mukanda

08.11.2023 | por Audre Lorde

A magnificente metaforização do poema: poesia marroquina contemporânea escrita por mulheres.

A magnificente metaforização do poema: poesia marroquina contemporânea escrita por mulheres. Cumprida a função da poesia que em seu empenhamento político foi um modo de consciencialização, de resistência contra o colonialismo, e de luta pela independência de Marrocos, uma nova expressão poética, com o advento da independência, começa a tomar forma, criando o seu próprio espaço no panorama da poesia árabe. É neste contexto que se inserem as poetas que aqui se dão a ler, em pé de igualdade com a poesia escrita por homens, a qual, desde há séculos, detém uma preponderância incomensuravelmente maior.

Mukanda

08.11.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves

No Centenário de Natália Correia, 9 poemas inéditos

No Centenário de Natália Correia, 9 poemas inéditos Valem estas longas elucubrações, não para questionar se acaso não seria hoje Natália Correia gloriosa e universalmente «cancelada», ou mesmo excomungada, como o foi durante a ditadura salazarista, mas para sublinhar a sua extrema e desassombrada capacidade especulativa e o seu implacável visionarismo libertário, ainda e quando visceralmente utópico, a que os poemas aqui dados a ler são perfeito testemunho, «[n]uma atitude cultural que pugna pela reabilitação do imaginário do regime feminino violentado pela colonização do abstraccionismo masculino surdo e cego para realidades que transcendam as categorias do seu voluntarismo intelectual.»

Mukanda

12.09.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves

Para ler Giz

Para ler Giz Você já viu uma onça? Já insistiu no cruzamento entre o seu e o olhar de um jaguar? Já acariciou o fim e o começo quando um felino, unhas grandes, dorso em contorção, pêlo arrepiado, pára perto de si e decide que é aqui o acontecimento que fará tudo começar: tornar-se ao mesmo tempo aquele que mata, aquele que manda matar e aquele que morre. Caso a sua resposta seja “não”, recomendo que evite este livro. Recomendo que dê meia volta, que não se arrisque. Se você tem medo de tudo aquilo que não está no seu controle, talvez seja melhor evitar Gisela Casimiro.

Mukanda

21.08.2023 | por Maria Giulia Pinheiro

Eh, pá, no que eu me fui meter, apresentação de "Mulher ao Mar, Corsárias", de Margarida Vale de Gato

Eh, pá, no que eu me fui meter, apresentação de "Mulher ao Mar, Corsárias", de Margarida Vale de Gato Quero dizer, pelo seu contrário, isto é, pela arte de não se guardar de inconveniências, que atravessa todo o livro melhor dizendo, o livro é atravessado tacitamente pelas perguntas: O que fazer de tais tentações e estorvos? Chamar por eles, dar-lhes a volta? Como tecê-los agora, de novo? Tecer-lhes um estojo onde os guardar? Guardar ou não deles a distância?

Mukanda

24.06.2023 | por Miguel Cardoso

GIZ, livro de poesia de Gisela Casimiro

GIZ, livro de poesia de Gisela Casimiro O livro mais duro. É o meu único nome, são uns quantos diminutivos, é o que ficou depois de passar pela Erosão. O giz vem do calcário. É o resto de uma pedra enorme que carreguei e ainda carrego, apenas de outra forma. Paisagem e pó.

Mukanda

27.04.2023 | por Gisela Casimiro

Peru: revolta e poesia

Peru: revolta e poesia A 7 de dezembro do ano passado, o chamado autogolpe falhado do presidente peruano Pedro Castillo e a sua detenção desataram o caos no Peru. Dois meses depois, as manifestações dos apoiantes do antigo mandatário – indígenas, universitários e sindicatos – continuam a ser reprimidas com especial violência. Até hoje, as forças policiais peruanas mataram 54 manifestantes. Sem saída à vista, a poesia insurge-se.

Jogos Sem Fronteiras

28.01.2023 | por Pedro Cardoso

Vozes femininas e o livre imaginar

Vozes femininas e o livre imaginar Estarão as obras literárias de autoria afrodescendente criadas em Portugal a contribuir também para desafiar a identidade europeia, na sua complexidade e diversidade? Tendo presente a «ferida aberta» que o colonialismo continua a ser, mas não se limitando ao seu tratamento, que novas relegações sociais e invisibilidades político-culturais poderão estas vozes [contribuir para mostrar] apontar na paisagem europeia?

A ler

25.10.2022 | por Liz Almeida