Este livro reforça a visibilidade de filmes que combatem estereótipos, tentam descolonizar o olhar e afirmam um cinema ético, comprometido e transformador. São exemplos do Cinema Amazónico que apelam à solidariedade e à ação. A luta indígena e de outros povos da floresta não pode ser levada a cabo somente pelos que vivem nesses territórios; exige a mudança de mentalidades e um esforço global de apoio à sua resistência, assim como ações concretas para conter o avanço da destruição. No nosso contexto de urgência climática, é fundamental conhecer a situação vulnerável do bioma amazónico – e, acima de tudo, compreender a conjuntura na origem dessa situação. Por isso, a Amazónia tem de estar presente nas salas de cinema por todo o mundo. Acredito que o cinema pode desempenhar um papel crucial na mudança de consciências e na definição de novas políticas. É a minha contribuição para ampliar esse conhecimento.
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28.09.2025 | por Anabela Roque
O Castelo tem características diferentes da Graça. É um bairro com uma população envelhecida. A rua da minha escola cada vez tem menos pessoas a morar e mais alojamento local. Estamos a deixar de ter vizinhos. É reconhecido à Escola o papel fundamental de manter vida de bairro no Castelo com a circulação das crianças e dos pais. A Graça é um bairro cheio de vida e de gente, mas com uma profunda desorganização a instalar-se. O comércio local começa a desaparecer. As pessoas vêm perdendo as suas casas e são afastadas do bairro onde nasceram e cresceram. Isso cria revolta. E as revoltas são terrenos férteis para a extrema direita.
Cidade
25.09.2025 | por Marta Lança e Ariana Furtado
Mais e mais pessoas negras estão a projectar a voz no espaço público, em Lisboa e sobre a cidade. Observo-o nas diferentes manifestações que nos têm mobilizado; na diversidade de colectivos e produções negras; na programação de inúmeros espaços culturais; e até em iniciativas institucionais, por mais tímidas e inconsequentes que possam ser. A mudança que tem vindo a acontecer é reflexo de décadas de lutas negras que, nas gerações mais novas, já beneficiárias de mais e melhor acesso à Educação, se traduz muitas vezes numa maior consciência política, e num compromisso para a mudança. Assinalo o importante contributo não apenas do movimento associativo, mas também da academia – sobretudo a partir de pesquisas de investigadoras e investigadores negros –, consistentes na valorização e promoção das agendas negras. Com os nossos pensamentos e práticas, somamos e multiplicamos vozes.
Cidade
25.09.2025 | por Marta Lança e Paula Cardoso
Da mesma forma que no Ayiti, foi a união dos diferentes povos africanos, então desmembrados dos seus territórios, que permitiu a maior revolução de todos os tempos. Ambas as revoluções, ayitiana e guineense, entram, sem dúvida, para a história das grandes revoluções pan-africanas. Mas, parafraseando Cabral e Deolinda Rodrigues, não devemos celebrar vitórias como se fossem eternas. É preciso sempre lembrar que a vida de uma nação é luta, luta todos os dias para manter a sua liberdade e soberania.
A ler
24.09.2025 | por Apolo de Carvalho
para a pugna, contra o requentado duma tal ciência
abstrusa. (Bem mais limpa é a poesia que trago presa
à bossa, e borbulha de vida & verdade nas suas várias
declinações. Bruxuleando, pede-me apenas a paciência
de aguardar que se equilibre sobre a pré destinada mesa,
contra as porcinas patas dessas tão façanhudas alimárias).
A ler
24.09.2025 | por José Luiz Tavares
Quanto à presença negra no espaço público e ao modo como tem vindo a ganhar voz, Barros reconhece avanços, mas sublinha que isso acontece não porque haja políticas inclusivas, mas porque há luta. São os movimentos e as pessoas negras que têm forçado a abertura de espaço, exigindo representatividade e participação ativa. A cidade ainda não incorpora naturalmente essa presença, nem responde às suas demandas com a seriedade de uma cidadania verdadeiramente partilhada.
Cidade
23.09.2025 | por Marta Lança e Víctor de Barros
Em Lisboa podemos identificar cerca de 250 arruamentos que, de uma forma ou doutra, possuem ressonâncias coloniais. Os nomes aí fixados, além de reflectirem as mudanças da cidade, constituem uma herança linguística, cultural e política da expansão europeia e, em particular, do colonialismo português. Esta articulação entre a toponímia lisboeta e a legitimação do Estado, cujo intuito era materializar e enraizar nas populações uma certa memória histórica (celebrando-a), está por muitos modos ligada à evolução dos acontecimentos políticos do país.
Cidade
23.09.2025 | por João Pedro George
Durante um longo período, estas pessoas viviam em bairros de autoconstrução, em tudo semelhante à organização da cidade colonial: por um lado a cidade do asfalto, urbanizada, por outro, a cidade dos musseques (periferia). Havia casos extremos como o da Guiné-Bissau, em que tocava um sino à porta de Bissau, na chapa de Bissau, para que os que eram considerados indígenas abandonassem a cidade construída. E se olharmos para Lisboa vemos o movimento pendular para a cidade, para o centro da cidade no início da manhã, do povo que vem construir e limpar a cidade, o mesmo povo que construiu a riqueza da cidade e que, durante a pandemia, não pode parar. A luta antirracista pretende problematizar esta configuração da cidade que reproduz as práticas coloniais.
Cidade
23.09.2025 | por Marta Lança
A população negra é muitas vezes empurrada para a periferia, onde vivem em bairros afastados do centro, onde estão os principais polos de emprego e serviços. Este afastamento dos negros para a periferia resulta numa separação física entre grupos socioeconómicos, sendo que as classes médias e altas residem mais próximo do centro. Esta divisão física acaba por acentuar as diferenças económicas entre estes dois grupos, tornando ainda mais difícil para quem habita na periferia sair em busca de habitação em zonas melhores, devido às suas limitações financeiras.
Cidade
22.09.2025 | por Marta Lança
“Viemos roubar os vossos maridos” é um espetáculo de abordagem direta, que denuncia, que informa, que diverte e que dá visibilidade as narrativas de imigrantes brasileiras em Portugal. Neste momento, no qual os ataques aos imigrantes ganham força, em Portugal e na Europa, culminando na recente Lei anti-imigração, este espetáculo deveria correr o país, promovendo debates e a desconstrução dos preconceitos longa e massivamente disseminados sobre a mulher brasileira, mas tem sido realizado como uma “guerrilha”, nas palavras de Pinheiro, com recursos e apoios limitados.
Palcos
22.09.2025 | por Miriane Peregrino
Lívia denuncia o contraste brutal entre a celebração dos chamados “nómadas digitais” e a invisibilidade dos imigrantes que sustentam a cidade com seu trabalho precário. Lisboa, segundo ela, vive uma contradição gritante: valoriza o poder de compra enquanto ignora os direitos. É um apartheid velado que separa mundos que coexistem na mesma geografia, mas em realidades paralelas. Considera escandalosa a forma como os bairros de autoconstrução, colados ao conforto lisboeta, são ignorados por grande parte da população, um apagamento que revela o abismo entre classes e raças.
A ler
22.09.2025 | por Marta Lança
Maria Condado desloca para o espaço expositivo o espaço privado, mostrando uma ideia de atelier como espaço de vida e de experimentação, onde o pensamento e a prática se entrelaçam. Assim, o processo do fazer, pressupondo as suas circunstâncias e problemáticas, é entendido como parte integrante da obra, mostrando como, para a artista, público e privado se fundem, tal como o artista não se desliga da vida concreta. Este gesto reafirma o compromisso de Maria Condado com a realidade social e política, e com uma prática situada e que reclama o tempo presente e é capaz de intervir criticamente sobre este. Ao evocar um período histórico de conflitualidade social e engajamento político e ao remeter-se ao universo do atelier, apela à urgência da ação, instigando a responsabilidade da arte como instrumento ativo de interpretação, intervenção e transformação do seu tempo.
A ler
22.09.2025 | por Patrícia Barreira
Falou-se das dificuldades que hoje em dia se sentem em viver plenamente a cidade, por causa da especulação imobiliária, da gentrificação, da turistificação, dos problemas de mobilidade e transportes e das profundas desigualdades. Tudo isto agravado quando se habita na periferia, ou se enfrentam questões que remetem para a xenofobia estrutural ou institucional, como os muitos obstáculos burocráticos exemplificam, algo que é vivido quotidianamente, essencialmente, mas não só, por muitos indo-asiáticos, brasileiros e comunidades racializadas.
Cidade
22.09.2025 | por Marta Lança e Vítor Belanciano
Mais do que uma denúncia, o filme propõe uma reflexão: de que forma a sociedade atual pode se responsabilizar, se conscientizar e criar ferramentas para que os horrores da escravidão não sejam repetidos sob novas formas de violência.
“Sempre fiquei impressionada com o fato de Portugal não assumir a triste responsabilidade que teve durante o que eles chamam de expansões marítimas — e nós, brasileiros, sabemos que se trata de colonização. O comércio de pessoas escravizadas é tratado como tabu, como se fosse apenas um ‘efeito colateral’ dessa expansão. Nem a sociedade nem os manuais escolares reconhecem essa tragédia histórica”, explica Viviane Rodrigues. “Espero que a reflexão passe pelo reconhecimento de que países colonizadores, em especial Portugal, tratem o tema com a devida importância. Que a educação das novas gerações reflita de forma diferente das anteriores e que possíveis reparações históricas sejam feitas.”
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22.09.2025 | por Viviane Rodrigues
Podia-se reabilitar o edifício do Jardim das Conchas e fazer um lugar para debater a mulher negra em Lisboa, um arquivo que reunisse o máximo de documentação da Lisboa de 1500 até hoje. Mas também quem eram as mulheres da Casa dos Estudantes do Império, quem foram as mulheres que estavam nas escadas vendedoras, nas escadas do Hospital do Rossio (em 1707), a quem a guarda estava sempre a bater e a destruir o que elas traziam. Estas mulheres organizaram-se e fizeram uma petição sobre a violência policial, reivindicando o direito ao lugar de trabalho, com os argumentos que têm muitas ligações à atualidade, dizendo: nós sempre estivemos aqui, somos daqui!
Cidade
21.09.2025 | por Marta Lança
A principal política pública no âmbito de Lisboa e nacional é a regularização de imigrantes. Sem a regularização dos imigrantes, sem uma AIMA funcional, sem uma polícia pidesca para imigrantes. Não quero sequer que exista. Então, extinção de uma polícia para imigrantes, regularização de todos os imigrantes que vivem em Portugal, melhores salários para todas as pessoas, uma fiscalização não do imigrante e do trabalhador, mas de quem contrata imigrantes e trabalhadores em geral, ou não contrata, só utiliza de mão de obra quase que escrava para manutenção dos seus próprios ganhos.
Cidade
21.09.2025 | por Marta Lança
No aeroporto, local cada vez mais negro e imigrante e sempre periférico, não há estacionamento para os trabalhadores que têm de estar uma hora antes da hora de entrar no serviço para conseguirem estacionar nos Olivais ou no Prior Velho. Muitas vezes têm os seus veículos rebocados. A verdade é que o espetáculo de Lisboa funciona cada vez mais com base em trabalho precário, mal pago e por turnos, impondo um estilo de vida anti-social e cinzento a um número, cada vez maior, de pessoas e famílias, que são obrigados a começar as suas jornadas por volta das cinco da manhã, a partir da periferia rumo ao El Dorado.
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20.09.2025 | por Marta Lança e António Tonga
Persiste a falta de reconhecimento da relevância das cosmologias dos povos originários como base estrutural da sua existência. Ao expor os absurdos dessa incompreensão, 'Um Rio Sem Fim' abre espaço para refletir sobre a violência e o aniquilamento de comunidades inteiras que este equívoco provocou, e continua a provocar. Sobre o livro, Verenilde Pereira refere com frequência: “Não há mais um leitor inocente diante dessa paisagem amazónica que venha a ler. A responsabilidade é sua: compreender ou não, ou descartar. Não há inocente diante da paisagem que os personagens oferecem. E essa paisagem eu conheço.”
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20.09.2025 | por Anabela Roque
A presença africana parece só isso, presença. A diversidade só será real quando ocupar os espaços de decisão. Lisboa é segregada pelo dinheiro e pela cor da pele, com a polícia a encostar pessoas não brancas à parede. A base da segregação é social, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Mas a mentalidade colonial controla a população negra, mantendo-a sempre longe das oportunidades. Acho que já estou a repetir-me. Enfim, com bairros racializados e com os pobres nas periferias, com os transportes condicionados e a pobreza institucionalizada, com os planos urbanos que separam mais do que unem e comercialização da escassez,
Cidade
19.09.2025 | por Marta Lança e Marinho de Pina
A maioria dos imigrantes sul-asiáticos enfrentam barreiras linguísticas, e ausência de reconhecimento de qualificações. Têm dificuldade de acesso à habitação digna e os seus empregos têm com remuneração média baixa. Muitos estão em setores como restauração, comércio e transporte. O maior obstáculo à integração é, assim, a precariedade habitacional e a discriminação no mercado de aluguer.
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19.09.2025 | por Marta Lança