Em Memória da Memória. Interrogações e testemunhos pós-imperiais

Episódio #8 Em Memória da Memória, hoje sentamo-nos com Amalia Escriva.

Amalia Escriva pertence a uma família que viveu na Argélia durante várias gerações. As vidas de vários dos seus parentes – avós, pais, tios e tias – foram profundamente impactadas pela experiência da guerra e pelo processo de descolonização que se lhe seguiu. Muitos deles acabariam por abandonar o território um ano depois da independência nacional.

Conversámos com Amalia sobre a sua infância e sobre como cresceu a ouvir a palavra Argélia remetendo para um espaço nostálgico, de afetos, mágico, mas perdido. “França,” por sua vez, seria o lugar do frio, do abandono. Esses imaginários foram-se alterando com o tempo – muito fruto do seu trabalho posterior de cineasta e documentarista. Amalia falar-nos-á disso e de muito mais. Sobre como o seu avô paterno, por exemplo, a fez prometer que jamais regressaria à Argélia. Mas Amalia voltou, 50 anos mais tarde, mas voltou. E, desde aí, não mais deixou de lá voltar. Na ocasião em que primeiro regressou ao país fê-lo em trabalho. Queria contar a história da sua bisavó paterna, a quem deve o nome: Amalia Escriva.A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. A voz de Amalia Escriva é dobrada por Cátia Soares. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.

Márcio de Carvalho (cortesia do artista)Márcio de Carvalho (cortesia do artista)

 

02.01.2024 | por mariana | Africa, africanstudies, Amália Escriva, Argélia, cineasta, independência

2024 na Cinemateca: destaques da programação - Memória do País, memória do Cinema

Em anteriores aniversários redondos do “25 de Abril” (nos 10, 25 e 40 anos) a Cinemateca levou a cabo importantes ciclos e outras iniciativas de celebração. Aos 50 anos, a imensidade de memórias, reflexões e interrogações que a data nos sugere no próprio território do cinema exigiu outra escala de tempo, invadindo um ano inteiro de programação. Em 2024, todo o ano será assim contaminado por esta evocação, seja de forma direta seja de forma indireta, estabelecendo-se uma grelha de programação em que outros ciclos estruturantes virão confrontar-se, e de algum modo sempre dialogar, com iniciativas várias que reuniremos sob o chapéu “Abril 50”. O que propomos não é só lembrar Abril, ou pensar Abril, ou pensar a nossa história; é também lembrar e pensar tudo isso tomando por base a história do cinema, mais uma vez pensando-e pensando com ela

ABRIL 50

QUE FAREI EU COM ESTA ESPADA? Dentro deste chapéu, a primeira e maior iniciativa a assinalar é aquela que correrá a totalidade do ano, de janeiro a dezembro, e que terá início logo na primeira sessão de 2024: tomando de empréstimo (e naturalmente em explícita homenagem) o título de João César Monteiro QUE FAREI EU COM ESTA ESPADA? aí reuniremos quatro grandes eixos de programação temáticos, livremente trabalhados na história do cinema, todos sugeridos pelo memória de Abril, pela suas ressonâncias históricas e pela projeção destas no nosso presente. São eles REVOLUÇÃO, LIBERDADE, COMUNIDADE e FUTURO. Com eles abriremos e fecharemos o ano, e a eles voltaremos, portanto, regularmente, no decurso dele.

 

O CINEMA EM 1974 E 1975 Uma segunda vertente sugerida pelo cinquentenário será a revisitação do “estado das coisas” no cinema mundial, no momento da mudança histórica ocorrida em Portugal e durante o tempo da maior convulsão política e social que dela derivou – os anos de 1974 e 1975. O que era o cinema nesse exato período do século XX? Com que obras do cinema internacional veio o cinema português da época confrontar-se? O que eram os marcos da ficção cinematográfica e também do documentário? Serão dois anos de cinema a evocar através de uma seleção de filmes que exibiremos ao longo de dois meses, neste caso (e por entre as iniciativas mais diretamente ligadas à própria realidade histórica de Abril de 1974) em abril e maio de 2024.

 

IMAGENS DE ABRIL / UMA HOMENAGEM AO CINEMA PORTUGUÊS / CORTES DE CENSURA / INSTALAÇÃO DE LUCIANA FINA Também no próprio mês de abril de 2024, e em datas mais próximas da efeméride propriamente dita, a Cinemateca voltará a exibir as “imagens de abril”, seja nas obras de referência da época, em filmes posteriores que a evocam, ou até em alguns documentos inéditos entretanto recuperados. No feriado de 25 de abril, voltaremos a abrir as portas da sede, onde decorrerá uma maratona de imagens dessas várias tipologias. Próximo dessa data, apresentaremos de novo (repetindo e renovando a experiência feita nos 70 anos da Cinemateca) uma longa sessão de homenagem ao Cinema Português, numa “montagem crua de bobines” de filmes de múltiplos géneros, em diálogo com a nossa História contemporânea. Voltaremos ainda ao tema CENSURA, retomando a exibição de montagens de “cortes” feitos pela censura portuguesa do Estado Novo. Finalmente, no próprio dia 25 de abril será também inaugurada na sede uma instalação da realizadora Lucina Fina, convidada pela Cinemateca para uma evocação livre do tema.

 

TEMPO COLONIAL – TEMPO PÓS-COLONIAL / CINEMAS DA LIBERTAÇÃO Ainda outra vertente, que consideramos indissociável de toda esta memória e interrogação, será a da realidade colonial e pós-colonial, que aqui abordaremos numa dupla dimensão. Por um lado, voltaremos aos primórdios do cinema colonial, com imagens do nosso e de outros arquivos europeus. Por outro – na ponta oposta do espectro – incluir-se-ão mostras de cinema de países lusófonos libertados do jugo colonial, nisso incluindo obras importantes fundadoras das suas próprias cinematografias e exemplos de criações recentes por parte de novas gerações.  

 

02.01.2024 | por martalanca | Cinemateca de Lisboa