Treze escritoras entre prosa e poesia, literatura angolana

Treze escritoras entre prosa e poesia, literatura angolana Trata-se de um lugar de origem, duma “pertença com mais ou menos pertença”, parafraseando uma delas: para uma é tão-somente onde os pais, ou até um só deles, nasceram; para outra um longínquo espaço duma memória prenhe e sofrida; para outra ainda um lugar familiar de vivências, trânsitos e laços que continuam presentes, quando não são umbilicais no sentido concreto e ritual da palavra. É Angola a unir, mesmo que, por vezes, flebilmente, a variada experiência dum conjunto de mulheres que representam, nas intenções do entrevistador e organizador deste livro, uma diáspora angolana da escrita.

22.09.2023 | por Alice Girotto e Kesha Fikes

Caderno das duas irmãs e do que elas sabiam, de Regina Guimarães

 Caderno das duas irmãs e do que elas sabiam, de Regina Guimarães Contra estes e outros clusters insurge-se a voz inconformada de uma poeta possuída pelo excesso de lucidez ou de presciência (dom ou maldição?), que não contemporiza com a violência que se instala na própria língua. Se a língua obriga a dizer, a poeta obriga a desdizer, num trabalho corpo a corpo com o material linguístico (do fónico ao gráfico, do semântico ao simbólico), explorando as possibilidades infinitas da linguagem, num processo que é também de revelação (no sentido fotográfico do termo) e de libertação de palavras prontas a nascer – e com elas novas formas de olhar e de estar no mundo.

20.09.2023 | por Maria de Lurdes Sampaio

Racismo estrutural: a invisibilidade mediática e nas artes das minorias étnicas

Racismo estrutural: a invisibilidade mediática e nas artes das minorias étnicas Negros que vivem na diáspora, como os que moram em Portugal, crescem num ambiente traumático sem muitas vezes o realizarem. Crescem numa sociedade pensada, criada e mantida para ser branca, em total alienação com o que o sujeito negro é de facto. Alheios a outras referências, crescem muitas vezes a acreditar nessa imagem que a sociedade projeta deles: em eterna posição de inferioridade, de feiura, de proscrição e relegados ao papel de vilão social

11.09.2023 | por Aoaní d'Alva

Notas sobre descolonização das coleções de História Natural da Universidade de Coimbra

Notas sobre descolonização das coleções de História Natural da Universidade de Coimbra Estas breves notas centram-se principalmente em possíveis passos para iniciar a discussão sobre a descolonização, ou descolonizações, das coleções e práticas botânicas na Universidade de Coimbra. Não pretendem delimitar um percurso unidirecional e hierarquizado de atividades a desenvolver e não são um roteiro fechado para uma releitura decolonial das coleções, que nos interpelam de forma constante, sempre com questões em aberto e respostas incompletas.

28.07.2023 | por António Carmo Gouveia

Avanço evangélico ameaça religiões afro em quilombos de Pernambuco

Avanço evangélico ameaça religiões afro em quilombos de Pernambuco Umbandistas resistem à pressão pela conversão em quatro comunidades tradicionais de Betânia (PE), onde há nove igrejas. Entre as imagens de Santa Luzia, Cosme e Damião, São Jorge, Nossa Senhora da Conceição, Preto Velho, Iemanjá e da Cabocla Jurema, Abel José, 43 anos, sacerdote da Umbanda, acende algumas velas, apanha suas guias de proteção e acomoda o seu chapéu de palha na cabeça. Ele se prepara para atender quatro pessoas de povoados vizinhos, que vieram à sua casa em busca de ajuda espiritual e para tratar de problemas de saúde. 

11.07.2023 | por Géssica Amorim

À editora Routledge: Indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in Academia”

À editora Routledge: Indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in Academia” A publicação do livro foi determinante para que nos organizássemos em coletivo e para a decisão de juntarmos provas testemunhais e documentais que corroboram os diversos tipos de abusos descritos naquele capítulo. Nesse sentido, verificamos com muita preocupação a indisponibilidade para venda do livro “Sexual Misconduct in academia: informing an ethics of care in academia” e a informação de que está em processo de revisão.

10.07.2023 | por várias

Quarta Parte : Lealdade bipartida, cissiparidade pátrida, dupla pertença identitária e política e diáspora caboverdiana

Quarta Parte : Lealdade bipartida, cissiparidade pátrida, dupla pertença identitária e política e diáspora caboverdiana Amiúde acossados pela intolerância do assimilacionismo, do racismo, da heterofobia e da xenofobia, mas também fertilizados pela autenticidade das seivas ancestrais e das expressões actuais de uma cultura que os pais, longamente expatriados do solo mátrio e telúrico, procura (va)m adaptar às exigências, sempre novas, e às condições, por vezes severas e, até, hostis, da Terra-longe, esses descendentes de i(e)migrantes - também nossos contemporâneos - vêm vivendo e engendrando inéditos dilemas e opções identitários e fecundando novas experiências cosmopolitas de hibridização cultural nos países de acolhimento dos seus pais (e)imigrantes.

09.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Diasporic Bodies. Irineu Destourelles Videoart

Diasporic Bodies. Irineu Destourelles Videoart Através do olhar oscilante que a diáspora lhe proporciona, a obra de Irineu Destourelles oferece um ponto de reflexão sobre as ambiguidades da dialética entre o eu e o outro, o dentro e o fora, o colonizador e o colonizado e sobre a sua atividade artística. Tendo como ponto de partida a sua vídeo-instalação Subtitulizar/Subtitling, 2012, focarei aqui o modo como o vídeo do artista procede a uma meta-reflexão sobre a diáspora, através de uma ironia poética, explorando o abismo entre as diferentes traduções do mundo, entre o eu e o outro, entre a vertigem da loucura; a persistência da remodelação da multiplicidade; o questionamento da condição humana.

06.07.2023 | por Ana Nolasco

Terceira Parte: Pan-africanismo, nacionalismo caboverdiano e pátria africana no projecto paigcista de unidade Guiné-Cabo Verde de Amílcar Cabral

Terceira Parte: Pan-africanismo, nacionalismo caboverdiano e pátria africana no projecto paigcista de unidade Guiné-Cabo Verde de Amílcar Cabral Conceito operatório chave no seu pensamento, por suicídio de classe entendia Amílcar Cabral a plena identificação do sector revolucionário da pequena burguesia intelectual e burocrático-administrativa com os interesses das classes trabalhadoras e das categorias sociais laboriosas mais humildes do povo e o seu consequente empenhamento nacionalista e revolucionário na defesa dos respectivos interesses. Fim essencial do suicídio de classe seria coarctar as naturais tendências da classe intelectual e burocrático-administrativa de serviços para o aburguesamento e para a concomitante construção de laços económico-sociais, políticos e culturais de dependência neo-colonial em relação às classes dominantes do centro desenvolvido e imperialista e/ou à potência economicamente atrasada, subdesenvolvida e sub-imperialista que era então Portugal.

02.07.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Segunda Parte: A moderna transfiguração nacionalista e pan-africanista do slogan nativista a África aos africanos

Segunda Parte: A moderna transfiguração nacionalista e pan-africanista do slogan nativista a África aos africanos A reivindicação da liberdade de se apossar soberanamente do processo histórico, como realça o discurso cabraliano, será doravante entendida como sinónima tanto do resgate da dignidade africana do colonizado, por demais vilipendiada no seu direito básico de existir segundo a sua própria historicidade identitária e os seus próprios modelos culturais, como também de todos os pressupostos políticos e culturais da produção desalienada das condições de emergência de um ser humano reconciliado com as suas próprias história e cultura e liberto do estado de subjugação política, do atraso endémico, da miséria, do medo, do sofrimento e da ignorância resultantes da dominação colonial e do correlativo subdesenvolvimento crónico das ilhas.

30.06.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Nativismo, pan-africanismo e nacionalismo caboverdiano - alguns subsídios teóricos para a compreensão da recepção do pan-africanismo e da lealdade bipartida - ou cissiparidade pátrida - entre os letrados nativistas, regionalistas e autonomistas caboverdia

Nativismo, pan-africanismo e nacionalismo caboverdiano - alguns subsídios teóricos para a compreensão da recepção do pan-africanismo e da lealdade bipartida - ou cissiparidade pátrida - entre os letrados nativistas, regionalistas e autonomistas caboverdia É esse slogan, criado por Monroe, Secretário de Estado estado-unidense, que inspiraria Eugénio Tavares no seu slogan A África aos Africanos na expressão, a partir do seu exílio norte-americano, da sua inusitada veia luso-ultramarina e regionalista caboverdiana consubstanciada na sua reivindicação de autonomia político-administrativa para Cabo Verde. O desvanecimento e a dissipação do fervor nacionalista caboverdiano encontra outrossim sustentáculo na subjugação das reivindicações do povo africander (afrikaaner no respectivo idioma afrikaans) da África do Sul pelo Império Britânico, numa época em que, salvos o caso exemplar, mas trágico, do Haiti e o caso falhado das Filipinas de Aguinaldo, o papel determinante, dirigente ou preponderante na desagregação dos impérios coloniais cabe às elites brancas crioulas nativizadas nas terras colonizadas das Américas, da África e da Oceânia.

24.06.2023 | por José Luís Hopffer Almada

Direitos Humanos - Pré-publicação

Direitos Humanos - Pré-publicação A prática da desobediência não violenta no Sul da Ásia não trouxe resultados imediatos, mas a participação de tropas coloniais na Segunda Guerra Mundial e a onda de emancipação dos povos coloniais que se seguiu tornaram a posição britânica insustentável. A utilização da mesma estratégia da desobediência civil não violenta advogada por Martin Luther King nos Estados Unidos na luta pelos direitos civis da população afro-americana acabou igualmente por dar os seus frutos na década de 1960, face ao agravamento da Guerra Fria e ao incontornável argumento de os líderes do chamado mundo livre oprimirem a sua própria população. Esta estratégia tinha dois pressupostos: a firmeza da ação coletiva de desobediência e a sensibilidade de parte da maioria opressora ou do poder colonial. Tratava-se de envergonhar a parte dominante com um comportamento que não podia ser acusado de violento e que expunha as contradições do sistema de valores dos próprios opressores. Nos dois casos aqui mencionados, tanto a população norte-americana como o poder britânico tinham saído de uma guerra contra o imperialismo nazifascista, virando-se em seguida contra a emergência de regimes comunistas. Os valores de democracia e tolerância da suposta sociedade livre eram incompatíveis com a perpetuação de racismo e colonialismo, ou seja, com a opressão e a gestão de sociedades contra a vontade indígena. O próprio conceito de sociedade colonial governada por colonizadores alheios às populações locais tornara-se obsoleto.

17.06.2023 | por Francisco Bethencourt

Mediar os imaginários, promover trocas de saberes e práticas, a Mediateca Abotcha inaugura em Malafo

Mediar os imaginários, promover trocas de saberes e práticas, a Mediateca Abotcha inaugura em Malafo Contrariando a ideia do que vem de fora, dos negócios offshore, defendem uma Mediateca Onshore, na terra, e Abotcha, no sentido de “ir para o chão”, valorizar a humildade e a perseverança. Trata-se de uma rede de conhecimento a nível local, entre Sul-Sul e o mundo através das artes performativas, dos meios digitais, da arte, da agro-ecologia, dos saberes tradicionais. Uma Mediateca que se inscreve numa ideia de justiça social, económica e ambiental. Tudo isto envolto na paz e hospitalidade da tabanca de Malafo, maioritariamente balanta, uma das cerca de vinte etnias do país, conhecida precisamente por sua hospitalidade e mestria no domínio do arroz e das construções.

22.05.2023 | por Marta Lança

Chiziane, Lisboa e Conversas!

Chiziane, Lisboa e Conversas! Terminada a pausa, regresso aos meus pais e à sua relação com a língua. Foi-lhes ensinado que não era civilizado falar em umbundo: “uma pessoa que estudou ou que é civilizada não pode mais falar essas nossas línguas, é preciso falar o português”, era essa a frase que o meu pai repetia quando me contava sobre as proibições do seu tempo. Tal como o meu pai e a minha mãe, os meus tios e tias, os seus amigos, e toda a sua geração nascida e criada antes das Independências, foram nalgum momento excluídos, humilhados e segregados quando não falavam o português do modo como lhes diziam que deveriam. Meu pai conta vários episódios de humilhação por causa disso. O que sucedeu na vida dessas pessoas após a Independência é que as feridas não foram saradas, os estragos causados pelo colonialismo não foram solucionados no 11 de novembro, e nós ainda temos conversas por ter e feridas por sarar.

14.05.2023 | por Leopoldina Fekayamãle

Amo o português quando o Ronaldo tem a bola

Amo o português quando o Ronaldo tem a bola O Ronaldo joga como os poetas falam e escrevem, sem gravatas, sem dizeres, nem lances oficiais, os outros jogam com mecânica como se escrevessem documentos oficiais.

05.05.2023 | por Fernando Carlos

Uma comunidade de solidões

Uma comunidade de solidões A solidão, parece desnecessário dizer, é tóxica e terrível para a saúde. Mas é importante manter as coisas em perspetiva. É inadequado comparar a vulgarização da vida sozinho com a “epidemia de solidão”, que é o que os artigos dos jornais escrevem frequentemente em manchetes alarmantes. Os ingleses têm duas palavras para se referirem a dois tipos diferentes de solidão: loneliness — o estado negativo de estar sozinho, caracterizado pela sensação de falta — e solitude — a solidão que se escolhe, se deseja e traz felicidade, que amplia a consciência de si, a disponibilidade para a escuta, a criatividade, o sentido crítico e que reduz o stress.

26.04.2023 | por Marta Rema

O neo-lusotropicalismo linguístico: críticas à lei que classifica a língua portuguesa como património cultural imaterial de Cabo Verde

O neo-lusotropicalismo linguístico: críticas à lei que classifica a língua portuguesa como património cultural imaterial de Cabo Verde orque num país de parcos recursos como Cabo Verde qualquer lei que sobrestime a língua portuguesa traduzir-se-á, com base num jogo de soma zero, na amplificação de obstáculos a real promoção e oficialização da língua cabo-verdiana. Dito de uma forma mais direta: qualquer recurso, simbólico ou material, canalizado à língua portuguesa traduz-se no correspondente que não é transferido a língua cabo-verdiana.

26.04.2023 | por Abel Djassi Amado

Vidas em Português, Memória, Identidade e Cidadania na era digital

Vidas em Português, Memória, Identidade e Cidadania na era digital As novas tecnologias da comunicação e da informação fizeram surgir uma esfera de convivialidade baseada no mundo digital. A vida cotidiana foi replicada na rede mundial de computadores, desafiando pesquisadores de distintas áreas do conhecimento a desenvolverem metodologias e conceitos, com vista a compreenderem os impactos políticos, económicos e culturais destas inovações.

19.04.2023 | por vários

New Words for Mindelo's Urban Creole

New Words for Mindelo's Urban Creole epiphron- ser uma namorada ou namorado de curto prazo de um turista ou emigrante em troca de presentes e favores. eris - contratar um perito ocidental para legitimar projetos políticos e económicos contenciosos. eucleia - uma pessoa com uma mentalidade colonial; uma pessoa que acredita que as pessoas pobres e incultas devem ser governadas pela força. eufeme - uma pessoa que acredita que a vida não traz esperança; uma pessoa que é viciada em álcool adulterado.

04.04.2023 | por Irineu Rocha

Quero um dia em que não se espere nada de mim

Quero um dia em que não se espere nada de mim Cada um de nós pensa na solidão de uma forma única. Formamos as nossas opiniões sobre o assunto através de experiências diferentes. Quão diferentes são as nossas experiências de solidão? Em que espaços e em que tempos, cada um de nós se sente sozinho? Como é que os nossos papéis sociais, laborais e familiares influenciam a nossa experiência da solidão? O que significa um momento de solidão para aquele que raramente a encontra? E o que fazemos com esses momentos quando eles se proporcionam? Será a solidão um luxo? Como é que imaginamos a solidão dos outros? Embora internamente a experiência possa ser muito diferente, há também a ideia muito contemporânea de uma solidão partilhada. Existe algum tipo de ligação entre pessoas que se sentem sozinhas? São diferenças que parecem ter sido ampliadas ao longo da pandemia, mas o que é a solidão historicamente? Quero um dia em que não se espere nada de mim pretende pensar o duplo potencial da solidão como força perturbadora e lugar de privilégio histórico.

24.03.2023 | por Marta Rema