1º episódio do EU SOU ÁFRICA, LUZIA SEBASTIÃO - LUANDA
dia 5, Sábado, às 19h na RTP2
Vem de uma família tradicional angolana, de Luanda, filha de Adriano Sebastião, preso pela PIDE quando Luzia tinha 8 anos, o que semeou a sua consciencialização política. Combatente na guerra de libertação, conhecida como Comandante Gi, participou mais tarde nas células do MPLA, partido em que militou. Licenciou-se em Direito na Universidade Agostinho Neto, onde hoje lecciona Direito Penal, e ultima o seu doutoramento entre a Faculdade de Direito de Coimbra e a sua casa no tranquilo bairro Alvalade, em Luanda. Para Luzia Sebastião, a função da universidade “é ter opinião” e esforça-se para que o mundo académico tenha uma palavra a dizer nos destinos do país. Trabalhou nos ministérios da Educação e da Justiça e exerceu advocacia durante longos anos, actividade que suspendeu ao ser mandatada juíza do Tribunal Constitucional. É uma mulher de armas, habituada a vencer pela força da razão.
Uma mulher muito elegante e bonita conduz pelas ruas de Luanda, umas em melhor estado que outras, mostrando a sua cidade que tem vindo a vestir uma nova pele, “perdendo certos traços ao ficar mais moderna.” Ainda assim o bairro da sua infância, o Cruzeiro, continua reconhecível, apesar dos muros cada vez mais altos nas casas. Luzia estava no 6º ano quando deixou o liceu para entrar na guerra de libertação. Depois foi um rodopio de emoções. Os tantos anos de guerra que Angola viveu ensinaram-lhe que era preciso “reconhecer erros de parte a parte”.
Vamos ouvi-la falar de Justiça, do sistema de direito herdado de Portugal, da constituição que vinha de 1992 e que em 2010 foi alterada, dos direitos das mulheres e dos desafios de governação. Vamos com ela ao Tribunal Constitucional, à Faculdade Agostinho Neto e à casa de fim-de-semana, nos arredores de Luanda, com um neto ao colo e uma família que vai chegando para o almoço e ocupa dois sofás inteiros. Luzia acredita nas novas gerações e tem vocação para leccionar. Relembra os tempos em que as crianças se sentavam “em latas de leite Nido e punham os cadernos nos joelhos para escrever”. Sabe que ainda há muito a melhorar. A sua geração, a da Utopia, viveu na expectativa de um desenvolvimento que demora a acontecer - “muitas das coisas pelas quais lutámos ainda não se cumpriram”, diz - mas acredita na capacidade de resistência dos angolanos e num futuro melhor para a sua terra promissora.