Dockanema pluritemático
Futebol
Neste tema vamos ter cerca de 10 filmes. Quisemos aproveitar um pouco a onda do Mundial que há pouco terminou aqui no país vizinho. Os filmes, de diferentes origens, propõem uma reflexão sobre o futebol, sobretudo como fenómeno sociocultural e até político. Outros são mais biográficos, focando futebolistas como Maradona, Erik Cantona ou o brasileiro Garrincha. “Mundialito”, do uruguaio Sebastián Bednarik, é uma estreia absoluta em festivais. É um filme lindíssimo sobre como o Uruguai, apesar de não ter dinheiro, conseguiu organizar o Mundialito, um torneio com todos os campeões do mundo para celebrar o cinquentenário do primeiro campeonato do mundo que eles tinham ganho em 1930, a jogar em casa.
Quem acabou por conseguir viabilizar o torneio foi Sílvio Berlusconi, então um ilustre desconhecido, que, ao estabelecer conexão com um traficante de armas que tinha muito dinheiro para lavar, garantiu a realização da prova, paga com os direitos televisivos. O torneiro realizou-se e foi ganho pela selecção da casa. Berlusconi começou aí a construir a sua fortuna.”
Ritmos Urbanos
“Trata-se de um conjunto de filmes que retratam realidades difíceis, nalguns casos mesmo violentas, que acontecem em espaços urbanos africanos ligados à cultura subterrânea ou marginal. Versa sobre uma cultura marginal, que não existe nos circuitos de difusão dessas cidades ou países, mas que não deixa de exprimir retratos bastante acutilantes das situações socioeconómicas e políticas que vivem nessas cidades e países.”
A acção decorre em grandes metrópoles africanas como Luanda, Kinshasa, Maputo ou Durban. Estes “marginais” resistem através da criação artística, sobretudo da música e da pintura. É gente que se exprime, que contesta o status quo das coisas, e que, com estes filmes, tem a possibilidade de fazer ouvir a sua voz. –
Porquê a democracia?
Em inglês “Why Democracy?”. É um conjunto de documentários produzido por várias cadeias de televisão, mas que, por determinadas razões, atingiu um número muito restrito de telespectadores. São documentários produzidos para a BBC, ARTE, canais australianos e de países nórdicos. Alguns destes filmes já passaram em Moçambique, na STV, mas, devido à hora tardia, tiveram muito pouca visibilidade. Os filmes respondem a algumas questões como: “Porque é que utilizamos a democracia? Como é que funciona a democracia? Como ela é utilizada para esconder outras coisas? Embora cada um dos filmes retrate situações particulares, há coisas que são universais como as eleições, a questão do género, o ambiente, os direitos humanos, e todas as suas problemáticas associadas a este contexto.
Retrospectiva 50 anos de independências africanas
Muitos países de África completam este ano (2010) 50 anos como países independentes. É, por isso, uma boa altura para se fazer uma retrospectiva. Maioritariamente, dizem respeito à independência da África francófona. Penso que é um momento importante sobre o qual é necessário reflectir para saber onde estamos 50 anos após o sonho de muitos. São filmes recentes muito baseados na memória daqueles primeiros anos, dando a conhecer figuras que tiveram um papel muito importante nesses anos, como Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, Frantz Fanon, Ben Bella, e Leopold Senghor.
Produção Nacional
A produção nacional irá ter também o seu destaque. É muito interessante porque todos os anos fico surpreendido com o número de filmes produzidos aqui em Moçambique e que ninguém vê, embora tivessem sido realizados para diversos propósitos. Outros foram mesmo efectuados por iniciativa própria, em deficientes condições técnicas, mas mesmo assim merecem ser exibidos.
Como não existe um circuito estruturado para passar estes filmes, o Dockanema acaba por ser o seu momento áureo, podendo até ser, depois daqui, exibidos noutros festivais. Já tem acontecido isso. Ao todo irão ser exibidos 14 filmes nacionais. No final, aos que o criticam dizendo que o festival é elitista e que o povo não tem acesso a ele, Pedro Pimenta defende-se: “O festival, em si, não é elitista, a estrutura de difusão deste país e desta cidade é que é elitista. Não sai do centro, não se criam alternativas, acho que não cabe a mim criar isso.”
João Vaz de Almada, jornal Verdade