Equipa Doclisboa em solidariedade com o Cinema Brasileiro
A equipa do Doclisboa assiste, chocada e com um sentimento de revolta, aos ataques feitos pelo governo do Brasil aos realizadores nesse país, aos nossos colegas e a todo o cinema independente brasileiro. Na sequência de casos de censura, do anúncio de um ciclo de cinema militar na Cinemateca, e de cortes inexplicáveis à Ancine, o progressivo desmantelamento desta agência continua, agora suspendendo os apoios atribuídos aos realizadores com filmes programados em festivais internacionais. Esta medida visa evidentemente silenciar os realizadores, criando dificuldades à sua presença em contextos internacionais.
É evidente um programa de eliminação da diversidade e da liberdade, visando uma arte que é, pela sua natureza, popular e democrática: o cinema. No Brasil, uma ditadura está em vias de se instalar - vários princípios do estado de direito têm sido descaradamente violados. Não é possível ser-se neutro perante isto. Deste modo, o Doclisboa declara o seu repúdio a estas acções do governo, declara o seu apoio a todos os colegas brasileiros, e anuncia uma programação urgente que permitirá debater, pensar e contar armas para uma resistência activa contra o desmantelamento da democracia no Brasil. Apresentaremos, no contexto de um programa em torno de Eduardo Coutinho e em parceria com a Nitrato Filmes, o incontornável Cabra Marcado Para Morrer, que transporta a memória das lutas campesinas, mas também a memória do golpe de 64 e da subsequente ditadura; Últimas Conversas, o filme póstumo terminado pela sua montadora Jordana Berg, em que Coutinho conversa com alunos da rede pública de escolas do Rio de Janeiro, mas acaba por se confessar, também ele para a câmara; e Banquete Coutinho, de Josafá Veloso, que parte de uma entrevista ao realizador realizada em 2012, e numa série de arquivos da sua obra, para pensar a importância de Coutinho hoje, a sua memória como resistência necessária. Apresentaremos também o filme Chico: Artista Brasileiro, de Miguel Faria Jr.: um filme que retrata a vida e obra do grande músico e escritor, e que foi retirado de uma mostra no Uruguai por indicação de representantes do Governo Brasileiro no país. Relembramos ainda que, como havíamos já anunciado, apresentaremos Chão, de Camila Freitas, um pungente retrato da luta do Movimento Sem Terra, que estreou na Berlinale, tal como apresentaremos a Estreia Internacional de O Último Sonho, de Alberto Álvares: uma invocação da memória do líder Guarani Wera Mirim. Com estes filmes queremos relembrar a força do cinema brasileiro, não só na história como hoje, queremos partilhar este momento de dificuldade com todos os que querem resistir, e queremos dizer ao Governo do Brasil que amanhã vai ser outro dia - um dia construído pelos que respeitam os valores democráticos e a liberdade.
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