LANÇAMENTO | 26 abr. ‘23 | 18h00 | Auditório | Entrada livre
Alfredo Margarido nasceu em Moimenta, Vinhais, em 1928. Personalidade complexa, polémica e generosa, de uma curiosidade infinita sobre as coisas da vida, da história, do conhecimento, pensou Portugal, a África e o Mundo e dispersou o seu talento criativo através de uma multiplicidade de produções intelectuais e culturais. Professor, escritor, ensaísta, crítico literário, poeta, jornalista, tradutor, artista plástico, historiador, sociólogo, antropólogo, politólogo, deixou uma vasta obra multifacetada e foi um dos grandes pensadores portugueses do século XX. Viveu no norte do país, onde frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto até se fixar em Lisboa, tendo sido preso pela PIDE entre finais de 1940 e inícios da década de 1950. Trabalhou em São Tomé e Príncipe e Angola, de onde foi expulso em 1958. Regressado a Lisboa, anticolonialista, foi um destacado intelectual da Casa dos Estudantes do Império (CEI). Exilado em Paris desde 1964, obteve o diploma de sociologia (EHESS), onde permaneceu como investigador e professor.
Após o 25 de Abril de 1974, ensinou em universidades portuguesas e brasileiras, passando a viver primeiro, entre Lisboa e Paris nos anos 1990, e depois sobretudo em Lisboa. Escreveu em inúmeros periódicos portugueses, publicou obras diversas, dedicou-se à poesia, à pintura, à cerâmica. Morreu em Lisboa, em 2010.
Um percurso de vida que contribui para explicar a sua obra, onde se integra o seu vasto conhecimento das coisas africanas, da história à antropologia, à literatura e às realidades e quotidianos dos tempos contemporâneos.
Este livro de Ensaios Escolhidos de Alfredo Margarido (volume I) - Colonialismo, Resistência, Independência, organizado por Isabel Castro Henriques, cuja edição e apresentação constituem também uma homenagem ao seu autor, reúne textos africanos escritos ao longo de décadas, entre 1964 e 2005, dispersos em muitas publicações de difícil acesso. Estes estudos põem em evidência a singularidade e atualidade das suas leituras relativas à África e às relações entre africanos e portugueses, relações que se foram desenvolvendo sobretudo no século XX, no quadro de um colonialismo português longo e doloroso, que se manteve até 1974.
O eixo central deste livro pode definir-se como uma história do colonialismo português em África, com base numa teoria inédita da prática pós-colonial. Numa primeira parte, apresentam-se textos do autor relativos ao processo de luta e de denúncia das mais diversas formas de dominação colonial, bem como os que dizem respeito às lutas pela independência, autonomia e estratégias de resistência. Numa segunda parte, analisam-se as ideologias de justificação do colonialismo. Assim, são escrutinadas as construções fabricadas com recurso à ciência e aos saberes disciplinares ou as que se definiram a partir de locais, práticas ou conceitos agregadores, como sucedeu quer na Casa dos Estudantes do Império, onde Alfredo Margarido foi um militante dinâmico e produtivo, marcado por uma dimensão cultural anticolonialista, quer no espaço imaginário da Lusofonia, esse conceito português, que, como ele próprio escreveu, emerge de uma «redescoberta da língua como Força Imperial».