O “ELA - Espaço Luanda Arte” tem o prazer de o(a) convidar para a exposição individual e inaugural em Angola da jovem Artista Angolana Yola Balanga de nome “QUADROS DE GUERRA, CORPOS DE LUTO” esta sexta-feira dia 8 de Julho a partir das 18h. A entrada é livre.
BALANGA
De acordo com Yola Balanga e Zaci Dombaxi Xinavane: ”Existem corpos que mereçam luto público e há corpos se apresentam desde sempre como precárias?, apropriando-se do discurso da filósofa Judith Butler que tem como marca de sua obra um pensamento transgressor e peculiar sobre questões de gênero, Yola Balanga traz a tona questões camufladas e romantizadas pelos centros de poder e olhares canonizados. Imbuída na redenção e desconstrução de (pre)conceitos que fazem parte da sua vivência como mulher, tais como corpo, gênero, cultura, religião e espiritualidade, a artista levanta o véu contra as ideias políticas de uma sociedade que rege e manipula esses conceitos como ferramenta de imposição, subjugação e limitação de corpos femininos.”
A exposição reúne 9 (nove) pinturas, 6 (seis) fotografias, 1 (uma) performance e 1 (uma) instalação, totalizando 17 (dezassete) obras, como referem: “resultado de reflexões a partir da romantização da zungueira, da mão leve para se resolver os problemas como a fuga a paternidade, estupro, pedofilia, violência doméstica, maternidade, aborto bem como outras reflexões ou quadros de guerra e corpos de luto que afectam o universo da mulher.”
Mais, Yola Balanga e Zaci Dombaxi Xinavane adiantam: “Dessas reflexões sobre o enquadramento do valor desses corpos surge uma ligação original entre a Guerra e as guerras contra todas as normatividades que nos constrangem e limitam, tal como enfatiza Butler “guerras servem como cenário para o desenvolvimento de uma filosofia política”. É neste cenário que a artista usa e coloca o seu corpo como objecto de combate, arma da revolução, Balanga faz emergir questões pertinentes aos espectadores e a sociedade, os quais todos os dias o noticiário também interpela: Quais corpos merecem luto público e quais corpos se apresentam desde sempre como precárias?”
BALANGA
Yola Balanga é o nome artístico que usa Margarida Celestino Balanga. Descreve-se como uma “artista transdisciplinar”. Começou o seu contacto com as ´artes´ dentro do teatro e da moda, e mais tarde com a licenciatura em Artes Visuais e Plásticas pelo Instituto Superior de Artes / ISARTES, agora Faculdade de Artes. Utiliza principalmente a linguagem ´peformance´ para traduzir as suas propostas artísticas, assim como fotografia, video, instalação e pintura. Explora conceitos sobre espiritualidade e transcendência, corpo feminino, violência de género, questões sócio-políticas religiosas e culturais. É representada em Angola pela galeria ´ELA-Espaço Luanda Arte´.
O “ELA” é um espaço de arte contemporânea com mais de 7 anos de existência e após 2 anos de fecho devido à pandemia por COVID-19, re-abriu as suas portas ao grande público em 2022 no armazém Cunha & Irmão SARL / ex-Escola Portuguesa, situado na Rua Alfredo Troni 51/57, na baixa de Luanda ao lado do Ministério das Relações Exteriores.
Depois da inauguração, esta mostra poderá ser visitada entre terça e domingo, das 12h às 20h, até 1 de Setembro.
“Guizef “, artista plástico angolano, volta a Lisboa para apresentar o seu mais recente conjunto de trabalhos na exposição individual “Figuras e Cores”, que estará patente na Galeria Artistas de Angola, de 23 de junho a 24 de julho.
Giuzef 2022
Serão 20 obras, todas em acrílico sobre tela, onde os rostos, olhares e expressões angolanas estarão em destaque, com todos os seus detalhes, emoções e manifestações. A curadoria é do próprio Guizef, com apoio do Fotógrafo António Silva e do Arquitecto João Paixão Salvado.
A Galeria Artistas de Angola é em Lisboa, na Rua Sousa Lopes, N.º 12A.
Nas palavras de Guizef, “Figuras e Cores é o meu texto artístico, onde falo do meu povo, dos seus valores, das cores culturais e das suas evoluções e onde procuro apresentar o notável do “Made in África” dentro da máquina da globalização”.
Em todas as peças expostas é evidente a riqueza e variedade do povo angolano, as suas cores, vestes, adereços, manifestações e envolvência cultural. A expressão artística de Guizef traduz de forma perfeita a ancestralidade e a riqueza etnográfica das suas gentes. Não é fotografia, mas é como se fosse. O Realismo é puro, percetível e intrigante.
Augusto Zeferino Guilherme (Guizef), nasceu em Ambriz na província de Bengo (Angola), a 12 de janeiro de 1969, é autodidata e é talvez o pintor contemporâneo angolano mais entusiasmante e com maior expressão e crescimento. É membro da UNAP (União Nacional dos Artistas Plásticos), na sua visão artística a cultura africana incorpora uma fonte inesgotável de inspiração para cada uma das suas criações, tanto na pintura como na escultura. Guizef já realizou diversas exposições individuais e coletivas.
Giuzef 2022Giuzef 2022
Em dezembro de 2018 doou uma obra à princesa Charlene do Mónaco que posteriormente foi leiloada em Monte Carlo, na presença de sua alteza o Príncipe Albert II, para beneficência de crianças desfavorecidas no Líbano. Em 2020 foi o autor da peça q o Sr. Presidente da República Angolana ofereceu ao Papa Francisco no Vaticano. As suas obras já foram expostas em vários países, nomeadamente: Angola, Portugal, Itália, Noruega, Suécia e Emirados Árabes Unidos.
Ato 1, a começar pelo começo. Haiti, ou melhor, Ayiti, que quer dizer “terra elevada“, foi por milhares de anos uma Meca, território sagrado, lugar de carregos e descarregos cósmicos para os povos Taino, Arawak, Marien, Magua, Maguana, Higuey, Xaragua, Ciboney, Lokono, Inwiti, Lucumi, entre tantes outres.
Foi lá também que tribos européias invadiram, em 1492, dando inicio a hecatombe da colonização e Maafa. Entre as multitudinárias e continuas revoltas que marcaram esses últimos 530 anos, destaca-se Bwa Kayiman, um congresso, conselho de guerra, encontro de dança e cerimônia Vodou, múltiplo no espaço e no tempo, convocado por uma sacerdotisa africana, que deu início à vitoriosa Revolução do Haiti, em 1791.
Com a Revolução Haitiana, projetos e fantasias de emancipação, mistè, e resistência anticolonial convergiram em uma ilha. Mas a abrangência desse imaginário ressoa para muito além desde então. As lutas por liberdade do Rio de la Plata a Nova Orleans também tiveram sua gênese no Haiti. Esse programa ambiental presta homenagem à história de resistência e à riqueza cósmica da ilha do AYITI. AYIBOBO!
Mundos paralelos destaca uma dimensão de bolso que se originou não de uma singularidade, mas sim de um choque entre dois mundos não muito distantes um do outro — como forma de nos trazer de volta à consciência, à nossa terra e aos nossos ancestrais, para estarmos cientes da vida , da natureza e do universo nesta pequena parte do mundo, que é a cidade de Luanda.
Uma cidade dominada pela imagem ilusória do Eu como uma entidade separada do Ser.
É isso que nos mantém nesse estado perpétuo de ansiedade, escassez, medo e insatisfação.
Corpo e mente, a nossa pele, status social, nacionalidade não podem mais ser usados para definir os limites do Eu e do Ser.
Precisamos de uma nova história para redefinir o nosso papel neste universo para além de luandenses, para além de angolanos, para além de homens e mulheres, para além de humanos.
Se dois corpos não podiam partilhar o mesmo espaço, hoje podem. Assim como essas duas pirâmides incorporaram massa física no centro desta galeria, o Eu e o Ser encontrar-se-ão. Quando se repelem, contornam, encontrando uma superfície não repelente. Deixando-se ser. Mesclando.
“Em profundidade (campos minados): Angola e Bósnia” é o nome da mais recente exposição da artista brasileira Alice Miceli, com curadoria de Luiz Camillo Osorio, que estará patente na Sala de Exposições da Escola das Artes da Universidade Católica no Porto. A inauguração, agendada para 5 de maio às 18h15, contará com um momento de conversa entre a artista e o curador, seguido de uma visita guiada à exposição e de um EA Dashed Concert do artista de som de Beirute Mhamad Safa.
A exposição da artista tem por base a captação de imagens em territórios que passaram por conflito e com a existência de minas subterrâneas que continuam ativas até os dias de hoje mesmo depois de declarada a paz. “Em profundidade (campos minados): Angola e Bósnia” é composta por quatro conjuntos de imagens que se complementam, um em cada Continente, nomeadamente nos países: Camboja, Bósnia, Colômbia e Angola. Duas destas séries, referentes à Bósnia e Angola serão expostas na Escola das Artes. A mostra deste trabalho surge precisamente num momento como o atual, em que está a decorrer uma guerra em território europeu com potencial nuclear.
“Não há drama nas imagens, parecem paisagens prosaicas e ao mesmo tempo estranhas, intrigantes. Se o espectador passar rápido por elas, não vai ver nada. É aí que sempre mora o perigo. A ameaça iminente está nos detalhes”, refere Luiz Camillo Osorio descrevendo a exposição.
Esta obra desdobra uma interrogação que já era muito clara no projeto anterior da artista, sobre Chernobyl – o de encontrar alguma visibilidade para o que nos ameaça concretamente e que não é percetível a olho nú, nem tampouco através da câmara. É precisamente transformar em imagens esta invisibilidade que a artista concebe para esta exposição.
A viver entre Beirute e Londres, Mhamad Safa é um produtor/arquiteto de som e investigador que se já apresentou o seu trabalho performativo no Goethe Institute em Beirut, no Arab Center for Architecture, no Institute for Contemporary Art in London, no Centre for Research Architecture in London, e no Sharjah Architecture Triennial, entre outros. O EA Dashed Concert do artista realizar-se-á pelas 21h30.
A exposição “Em profundidade (campos minados): Angola e Bósnia” que será inaugurada a 5 de maio, está inserida no Spring Seminar “Traumatic Landscape”, que decorre de 4 a 6 de maio, na Escola das Artes onde Alice Miceli será uma das artistas convidadas
Sobre a artista:
A obra de Alice Miceli (Rio de Janeiro, 1980) caracteriza-se por alternar entre vídeo e fotografia, muitas vezes partindo da investigação de eventos históricos e viagens exploratórias, por meio das quais a artista reconstitui traços culturais e físicos de traumas passados infligidos em paisagens sociais e naturais. O seu trabalho faz parte de coleções importantes a nível internacional como as do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Brasil), Cisneros Fontanals Art Foundation (EUA) e Moscow Biennale Art Foundation (Rússia). Recentemente, realizou exposições a solo na Americas Society, em Nova York, e no Instituto PIPA, no Rio de Janeiro, assim como diversas mostras coletivas e feiras de arte nos Estados Unidos, Brasil e Europa. Em 2022, “Em profundidade (campos minados” será também apresentado na 17ª Bienal de Istambul.
EXPOSIÇÃO “EM PROFUNDIDADE” (CAMPOS MINADOS)
Alice Miceli · 5 de MAIO · 23 de junho
Curadoria de Luiz Camillo Osorio
Entrada Livre · de terça a sexta · 14H00 – 19H00
Sala de Exposições da Escola das Artes da Católica
Rua de Diogo Botelho, 1327, 4169-005 Porto
Agenda para 5 de maio:
18:15 conversa com a artista e o curador 19:30 inauguração da exposição 21h30 EA Dashed Concerts com Mhamad Safa
Padrão dos Descobrimentos 2 maio de 2022 - 30 de janeiro de 2023
Sombras do Império - Belém, Projetos, Hesitações e Inércia 1941-1972 pretende dar a conhecer a sucessão de planos urbanísticos e projetos de arquitetura cujo centro foi a Praça do Império. Menorizados ou até esquecidos pela historiografia, estes projetos revelam-se hoje particularmente significativos, pela escala e natureza das transformações que anteviam, pela orientação programática que preconizavam, pelo investimento de meios que implicariam, pela extensão do seu período de elaboração, em contraponto com o pouco que foi concretizado. A partir de documentação de natureza diversa (desenhos e memórias descritivas, pareceres, ofícios, legislação, fotografias, bibliografia da época) e de investigação académica recente, a exposição mostra um percurso cronológico centrado nos projetos para a Praça do Império e área envolvente e para os designados “Palácio do Ultramar” e “Museu do Ultramar”, considerando ainda outras propostas para grandes edifícios públicos a localizar na orla ribeirinha de Lisboa. Estes projetos são a base para abordagens distintas e complementares, apresentadas por investigadores de diferentes formações disciplinares, que irão aprofundar a contextualização e ensaiar propostas de leitura crítica: Urbanismo, Arquitetura, Paisagismo, Arte Pública, Património, Propaganda e Ideologia coloniais.
Sombras do Império | Belém - Projetos, Hesitações e Inércia 1941-1972 é organizada em sete núcleos e apresentada em dois tempos: De 2 de maio a 16 de outubro 2022 1.Cronologia 1941 -1972 2.Da Praia do Restelo à Praça do Império 3.A Exposição do Mundo Português e mais além 4.Uma praça para o Império todo 5.1 Palácio do Ultramar 6.1 Museu do Ultramar e Instituto Superior de Estudos Ultramarinos 7.1 O Museu de Etnologia do Ultramar
De 29 de outubro de 2022 a 30 de janeiro de 2023 1.Cronologia 1941 -1972 2.Da Praia do Restelo à Praça do Império 3.A Exposição do Mundo Português e mais além 4.Uma praça para o Império todo 5.2 Torre de Belém 6.2 Monumento de Sagres e Padrão dos Descobrimentos 7.2 O Museu de Marinha
Coordenação Científica – João Paulo Martins Mestre em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1995). Doutor em Arquitetura pela Universidade Técnica de Lisboa (2006). Membro do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design
Equipa de Investigadores Joana Brites - Mestre em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Doutora em História, variante História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Investigadora integrada do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra.
Natasha Revez - Mestre em História de Arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Diploma de Estudos Avançados (DEA de doutoramento) em História da Arte Contemporânea. Investigadora do Instituto de História da Arte/Estudos de Arte Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais de Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Pedro Rito Nobre - Mestre em Património, variante Património Urbano, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa.
Sebastião Carmo-Pereira – Licenciatura em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora. Colaboração com diversos arquitetos paisagistas nomeadamente Ribeiro Telles, João Gomes da Silva, Falcão de Campos.
Sofia Diniz - Mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa. Doutoranda em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa Investigadora integrada do Pólo ”História Territórios e Comunidades” na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa.
Narrativas sobre a pós-independência e processos de descolonização
Curadoria: Kiluanji Kia Henda & Ana Sophie Salazar
Inauguração: 7 de Abril de 2022, das 18h às 21h
Datas: Exposição patente até 12 de Maio 2022, Quarta a Sábado, das 15h às 19h
Local: R. Damasceno Monteiro, 12 R/C | 1170-112 – Lisboa
Artistas: Hélio Buite Clara Ianni Rui Magalhães Mussunda N’Zombo Daniela Ortiz Mwana Pwo Yoel Díaz Vázquez Castiel Vitorino Brasileiro
Esta exposição é o início de um estudo mais amplo que foca nas narrativas dos povos que conquistaram a independência após longos séculos de colonialismo. Ocupando o lugar da conquista, os oprimidos falam desde esse lugar de poder para repensar a própria ideia de poder e as suas possíveis formas de reorganização. A luta pela independência deu azo a várias outras lutas através da sua re-significação pós-independência, um período chamado de liberdade, marcado pela necessidade de desmantelar as heranças coloniais. Os preconceitos deixados pelo patriarcado e o cristianismo impregnam ainda hoje a textura social das ex-colónias europeias, impulsando as gerações mais jovens a fortalecer os movimentos sociais, feministas e transfeministas para combater esse legado. Esses são os movimentos e lutas que perguntam, com pertinência e ímpeto, o que foi feito com a conquista da liberdade. Para este questionamento é vital não só a consciência das conquistas que formam hoje África e as Américas descolonizadas, mas também o sentimento de responsabilidade pelas suas lutas anteriores. Os artistas reunidos questionam colectivamente a gestão da liberdade pós-independência e quais são as lutas de hoje.
Os olhos e ouvidos estão postos em futuros inclusivos, onde categorias de representação fluem de forma descentralizada. Enquanto a figura de poder autoritário é desconstruída, celebram-se multiplicidades culturais e sociais e exploram-se noções de liberdade e civismo. A indagação dos processos políticos e históricos da pós-independência permite repensar as relações de colonialidade com o ocidente. Na exposição ressaltam-se pontos de referência desde Angola, aos quais se juntam vozes do continente latino-americano com demandas similares. Através dos trabalhos expostos, um outro legado, paralelo e inverso ao colonial, é trazido para primeiro plano para ser homenageado, assim como continuado. Trata-se da herança de todas as diversas forças de resistência, a vida que sempre encontrou formas de luta.
Concebida pelo artista Kiluanji Kia Henda e HANGAR – Centro de investigação artística, com co-curadoria de Ana Sophie Salazar, a exposição é uma extensão do convite a Kiluanji que lhe concede carta branca para esta tomada do espaço. Participam os artistas emergentes angolanos Hélio Buite, Rui Magalhães e Mwana Pwo, os quais foram nomeados por Kiluanji para uma residência no HANGAR durante o mês de Março, assim como os artistas Clara Ianni, Mussunda N’zombo, Daniela Ortiz, Yoel Díaz Vázquez e Castiel Vitorino Brasileiro.
Seis dezenas de obras de pintura, desenho, escultura, filme, fotografia e instalação de 21 artistas afro-europeus (filhos ou netos de quem nasceu ou viveu em Angola, Madagáscar, Congo, Benim, Guiné e Argélia) vêm alimentar a reflexão sobre o racismo, a descolonização das artes, o estatuto da mulher na sociedade contemporânea ou ainda a desconstrução do pensamento colonial. Não perca a visita-conversa com o curador António Pinto Ribeiro e os artistas e curadores Katia Kameli e Aimé Mpane, marcada para sexta-feira, dia 4, às 17:00.
Amanhã dia 3, pelas 18 h, inauguramos a exposição Europa Oxalá, na Fundação Gulbenkian. No final do projeto Memoirs começamos a ter o real impacto e a levar o tema para outros lados através da curadoria de António Pinto Ribeiro, Katia Kameli e Aimé Mapne e o empenho de 4 instituições: o MUCEM, em França, onde a exposição já esteve, a Fundação Gulbenkian em Lisboa onde vai inaugurar, o Africa Museum em Tervuren na Bélgica a partir de 6 de Outubro e o Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra onde esteve o projeto Memoirs Filhos de Império e Pós-memórias Europeias (European Research Council).
De Março a Agosto a FCG preparou um programa que acompanha a exposição com conferências, cinema, teatro, música. Em breve a programação será divulgada pela Gulbenkian. Amanhã pelas 18 h na Fundação Gulbenkian é um momento grande. Contamos convosco.
EUROPA OXALÁ é uma exposição sobre a Europa jovem que está a acontecer agora e que se quer construir como lugar de um futuro inclusivo, diverso, democrático e livre. Filhos de impérios europeus, os artistas e intelectuais que fazem EUROPA OXALÁ trazem para a cena cultural e artística a herança colonial que os modela e que foi o ponto de partida para o trabalho de investigação e de produção que agora se expõe.
Taíla Carrilho e Nália Agostinho exibem “Sinergia de Emoções” no Espaço Espelho D’Água
Dia 26 de fevereiro o Espaço Espelho D’Água inaugura a exposição “Sinergia de Emoções”, de Nália Agostinho e Taíla Carrilho, artistas plásticas e ativistas moçambicanas baseadas em Maputo.
É a primeira vez que as duas expõem juntas e também é a primeira vez em Portugal. Estão presentes nas obras as questões de género, discriminação, inclusão e exclusão social das mulheres em Moçambique e no continente africano como um todo, em um ambiente com transformação sociocultural acelerada, onde existe um processo de desvalorização e desqualificação da mulher em todos sectores. Faz ainda parte do interesse criativo das artistas temas relacionados com o isolamento e a emoção afetada pelas questões da crise atual.
São 20 obras – uma série de pinturas, desenhos e ilustrações com o uso de acrílico, pastel de óleo, carvão e tinta de óleo, tinta da China e aquarelas sobre a tela e papel. Para além dos pormenores indicados, elas usam a literatura em momentos de pausa para complementar o seu processo criativo, recorrendo, neste caso, à poesia e à prosa.
A exposição é resultado de um grande mergulho interno para a autoanálise fundamental, que comprova a necessidade de aprender a lidar com as mudanças, as perdas e os ciclos. Pela herança africana, Taíla e Nália percebem a morte como uma das poucas certezas da vida. De acordo com suas crenças, a morte não significa um ponto final e sim uma mudança de estado, deixando de lado o corpo físico para dar lugar a outra forma de estar no espaço. E isto se aplica no sentido literal e figurado. Não existe um fim, existe uma transformação.
É o que se vê em uma das obras de Nália, “Nobreza da Alma” – uma mulher em movimento, braços esticados ao ar em busca de um futuro, cheia de energia positiva, mas presa nos traços do passado. A obra reflete melhor a realidade corrente de Moçambique sobre a agonia e a passagem do tempo. Enquanto isso, um quadro de Taíla mostra uma mulher mergulhada no meio de um abismo colorido, cheia de angústia, mas também de esperança. Tudo à sua volta parece não fazer sentido, mas por baixo da tela nota-se uma diversidade de escolhas.
A exposição pode ser visitada até o dia 20 de março.
Sobre Taíla Carrilho
Nasceu em Maputo, em 1984, e é licenciada em Design Gráfico pela Cape Peninsula University of Technology, Cape Town. Vinda de uma família de artistas, cedo desenvolveu, naturalmente, o gosto por desenhar, pintar e cantar. Mais tarde veio a paixão por escrever poesia e, recentemente, por declamar. É co-fundadora da RUUM, desde novembro de 2013, uma galeria criativa de objectos de design, feitos à mão, com recurso a materiais locais. A concepção destes objectos surge da necessidade de criar peças artísticas à sua imagem e com o seu DNA.As peças, os objectos e as intervenções em que se envolve combinam características lúdicas, utilitárias e inovadoras.
Valores com os quais tenta buscar a exclusividade no trabalho que faz, um trabalho impregnado do lugar e do tempo em que está. Um trabalho feito em Moçambique com os materiais e as sugestões encontradas à sua volta.
Em 2018 fundou a CONFORME com a ajuda de amigos e familiares. Uma plataforma que tem o objectivo a consciencialização e educação sobre Anemia Falciforme em Moçambique.
Sobre Nália Agostinho
Nasceu em Maputo, em 1990. As raízes da sua infância estão na Polana e no Chamanculo, bairros da Capital de Moçambique, repleto de texturas cruas, padrões, cheiros e o jeito caótico de ser. Seu amor pela arte começou durante sua infância, incentivada por seu falecido pai, que era um amante das artes e da música.
Se formou em Ciências Políticas em Trento, Itália, onde viveu, estudou e trabalhou por quase uma década. Frequentou a Escola Nacional de Música, onde completou a sua formação com uma certificação em Dezembro de 2006. Em 2018 decidiu começar a pintar profissionalmente, como uma necessidade de expressão do seu verdadeiro eu.
Suas visões sobre a Pintura baseiam-se em uma percepção de osmose da vida, onde tudo o que ser humano tende a ser e expressar é fortemente movido entre as expectativas internas e externas, os cenários micro e macro, os pólos positivos e negativos.
Sobre o Espaço Espelho d’Água
O Espaço Espelho D’Água resulta de um concurso público organizado em 2012 pela Associação de Turismo de Lisboa – ATL para a exploração de parte de um edifício localizado na emblemática zona de Belém, em frente ao rio Tejo. O espaço compõe uma área de 1.200 m2 e foi inicialmente construído em 1940 durante a Exposição do Mundo Português.
O mote do projeto é o de que neste local, onde há cinco séculos os portugueses partiram para o mundo, seja agora uma plataforma de conexões culturais onde se traga as culturas contemporâneas das diferentes regiões por onde os portugueses andaram nessa aventura durante as grandes navegações.
Desta forma criou-se um espaço onde há atividades de gastronomia, exposição de arte e design, música, cinema e vídeo, entre outras formas de divulgação cultural. Tendo presente todo enquadramento histórico do local, e o que ele representa na atual conjuntura mundial, visa criar um ambiente artístico e cultural que reflita sobre a relação dos portugueses com o mundo e do mundo com os portugueses.
Apresentar neste local as mais variadas formas de expressão cultural contemporânea dos países que se relacionam historicamente com Portugal é a principal premissa do projeto que esteve na base da criação do Espaço Espelho D’Água.
SERVIÇO: Sinergia de Emoções
Local: Espaço Espelho D’Água
Endereço: Av Brasília, Edifício Espelho D’Água (ao lado do Padrão dos Descobrimentos) Inauguração: 26 de fevereiro, às 17h
As roças de São Tomé e Príncipe são assentamentos agrícola-industriais, em número aproximado de 200, que se estendem pelo território destas duas ilhas do Atlântico no Golfo da Guiné. Para além de uma arquitetura de matriz portuguesa as roças albergavam as populações que desde o séc. XV foram sendo trazidas para estes territórios e sujeitas ao trabalho árduo e iníquo. São também locais onde eficientes máquinas de produção foram construídas e colocaram São Tomé e Príncipe como um dos maiores produtores de cacau do mundo no início do séc. XX.
No âmbito do mestrado integrado em arquitetura do ISCTE, um conjunto de alunos do Laboratório Cidade Justa e Inclusiva do 5ºano debruçou-se sobre este património partilhado, visitá-lo, analisá-lo e dialogar com os vários intervenientes. Em novembro de 2021 rumámos em viagem a São Tomé e Príncipe. De lá trouxemos imagens evocativas de uma natureza exuberante, de gentes afáveis, e de edifícios imponentes, construídos ao estilo português, consumidos pela floresta tropical e pelo tempo.
Partilhamos fragmentos desta experiência através de fotografias e de escritos, alguns dos quais encontrados na biblioteca do ISCTE trazendo à luz complexas dinâmicas sociais, culturais e económicas.
A exposição irá ocorrer de 2 a 31 de março de 2022 na Biblioteca do ISCTE. No dia 2 faremos a inauguração com uma tertúlia que terá a participação do fotógrafo Dário Paraíso e do antropólogo Emiliano Dantas que participaram na curadoria da exposição fotográfica.
THIS IS NOT A WHITE CUBE | Rua da Emenda, nº 72, Chiado, Lisbon
A galeria de arte THIS IS NOT A WHITE CUBE inaugura a 5 de Fevereiro “LOOT”, a primeira exposição individual da artista sul-africana Barbara Wildenboer em Portugal.
A mostra integra cerca de 30 trabalhos inéditos, repartidos em três núcleos distintos, de entre os quais se destaca aquele que agrega o mais recente corpo de trabalho da artista e que dá nome à exposição.
“LOOT - SPOILS OF WAR”, decorre do interesse crescente da artista pela forma como um novo modelo de significações foi gerado e moldado a partir do encontro histórico e civilizacional entre África e a Europa.
A materialização da ideia dá-se através da exploração do conceito de ‘apropriação’ que, se por um lado constitui, nesta exposição, uma referência directa aos artefatos saqueados e expropriados das suas origens no contexto da colonização, por outro lado, traduz a consistência plástica da obra da artista que, na apropriação “per se” encontra um instrumento de trabalho verdadeiramente essencial para a construção de um medium artístico que desde há muito envolve a reconfiguração e integração de textos, livros, mapas e imagens pré-existentes em colagens e instalações tridimensionais.
Transversalmente, Barbara Wildeboer utiliza no seu processo criativo uma combinação de processos analógicos e digitais que concorrem para a construção de uma obra diversificada e rica, composta maioritariamente por colagens, construções fotográficas, instalações em papel, esculturas fotográficas animadas digitalmente e book arts.
Tendo por base este modelo e o conceito de apropriação, ao longo dos últimos dois anos, a artista recolheu imagens de inúmeros artefactos antigos de proveniências distintas - de África, Oceânia, Grécia Antiga, Mesopotâmia e Américas - que atualmente integram as coleções de museus no mundo ocidental, na Grã-Bretanha, Alemanha, França e EUA.
Arredadas do contexto original e assembladas em sistemas visuais complexos, de carácter surrealizante, estas imagens passam por um processo autoral de re-significação, assumindo nesta exposição uma natureza renovada. Na sua génese está uma (re) leitura iconográfica que enquadra o peso histórico dos contatos de carácter intercultural.
Ao longo da exposição, assistimos a um ritual de re-significação iconográfica, de descodificação e recodificação da imagem, que concorre para a construção de uma visão crítica da historiografia e dos processos de apropriação e “fetichização” das culturas.
No epicentro da mostra e do debate que através desta a artista procura alavancar, encontramos um conjunto de instalações escultóricas monocromáticas que na sua configuração se assemelham a “escadas, postes, árvores, torres”, totens ou pequenos obeliscos, que “consistem numa assimilação de diferentes relíquias, figuras de fertilidade, máscaras, vasos e elementos arquitectónicos” diversos.
Estes artefactos de papel, agrupam-se arguta e sagazmente, numa acomodação reflectida que evoca, de um modo idiossincrático e absurdo, a sistematização do Museu Ocidental para evidenciar as múltiplas formas como estes objetos podem ser percepcionados.
“As esculturas de papel aludem à curadoria das exposições de artefactos arqueológicos que, sendo colocados em pedestais ou em vitrinas, são depois iluminados por forma a produzir a ideia da aura de uma obra de arte sobre objeto que está já muito afastada das suas funções originais.
O resultado é uma espécie de documentário de ficção ou de documento ficcional que faz referência a coisas reais, mas que as transforma em algo mais.”
Os conceitos de originalidade e de autoria são elementos centrais nesta exposição de Barbara Wildenboer, que através da sua ação, num desafio declarado às convenções do mundo artístico, vem produzido contributos significativos para a inversão do pensamento numa era marcada pela necessidade de imposição de uma ideologia decolonial.
A exposição “LOOT” ficará patente até 19 de Março, de 3ª feira a sábado, entre as 14h30 e as 19h30. A entrada é livre, obedecendo às necessárias normas de segurança e prevenção em tempos de pandemia.
(Graça Rodrigues - Curadora, Janeiro de 2022)
Sobre Barbara Wildenboer
Barbara Wildenboer
Barbara Wildenboer (b. 1973, África do Sul) investiga o conceito filosófico de estética através de uma série de diferentes meios e processos. Ao explorar este conceito, juntamente com fenómenos como a temporalidade, a geometria fractal e a interligação de todos os seres vivos, ela expõe as ligações entre uma miríade de formas de vida - desde a microscópica à imensa.
O foco principal de Wildenboer é a estética ambiental, a qual ela vê englobando tanto territórios naturais, como a interação humana com o reino natural. No seu trabalho, explora ainda a ideia do sublime matemático (noção estética desenvolvida inicialmente por Immanuel Kant) e o modo como o infinito / ausência de limites do universo transcendem os limites da razão.
Wildenboer utiliza uma combinação de processos analógicos e digitais para produzir um corpo de trabalho diversificado e rico, composto maioritariamente por colagens, construções fotográficas e em papel, instalações, esculturas fotográficas animadas digitalmente e book arts.
Equipa
Diretora Geral e Co-Diretora Artística | Sónia Ribeiro
Curadora e Co-Diretora Artística | Graça Rodrigues
Assistente de Galeria | Francisca Vaz
Design Gráfico e Audiovisual | Francisco Blanco e Nelson Chantre
Pintura angolana de Grácia Ferreira e Silvestre Quizembe em exposição na galeria Artistas de Angola
A Galeria Artistas de Angola abre portas à exposição coletiva Gina Diama (Meu Nome Minha História) dos artistas plásticos angolanos Grácia Silva e Silvestre Quizembe, com curadoria do Fotógrafo António Silva. A inauguração será no dia 18 de fevereiro, sexta-feira, a partir das 17h, na Rua Sousa Lopes N.º 12A em Lisboa. A exposição ficará patente até 18 de março do mesmo ano.
Gina Diama (Meu Nome Minha História) é uma palavra de origem Kimbundo, língua nativa do norte de angola. É uma forma de apresentação, reveladora da identidade e da origem de alguém. As peças em exposição revelam episódios da história pessoal dos autores — receios, traumas, pensamentos, sonhos, viagens e desejos, de forma eloquente e expressiva.
Na exposição poderão ser vistas e apreciadas várias obras de ambos os artistas nos formatos de pintura, baixo relevo e escultura, realizadas entre 2020 e 2022, em plena época de pandemia e dúvidas preocupantes para os artistas.
Sobre o artista Silvestre Quizembe
Quizembe 2022Nasceu em Angola (Uíge), em 1991 e atualmente é finalista do Curso de Artes Plásticas, na Escola Superior de Arte e Design em Caldas da Rainha. O seu trabalho é representativo das suas matrizes estéticas, ancoradas na arte Angolana.
Percurso, Materiais e Expressão
Durante o seu percurso tem vindo a desenvolver objetos tridimensionais em cartão, metal, barro e tela, explorando amplamente a sua plasticidade e flexibilidade. Na sua prática artística, utiliza também objetos encontrados que adapta a novas funções estéticas e formais. Quizembe explora os materiais para projetar e materializar formas tridimensionais fragmentadas e expressivas do seu auto-retrato e que se podem identificar como máscaras. Algumas delas são por vezes ativadas através da prática da performance, próximas da ideia de ritual enquanto ação que catalisa a memória. A sua pintura, composta pela convivência de múltiplas linguagens pictóricas, é cromaticamente vibrante e figurativa, e explora fundamentalmente o auto-retrato num universo onírico e psicológico.
Sobre a artista Grácia Ferreira
Grácia Ferreira 2021Engrácia Ferreira dos Santos, nome artístico Grácia Ferreira, 48 anos de idade é natural de Luanda - Angola. Concluiu o Ensino Secundário no Instituto de Formação Artístico e Cultural em Luanda (INFAC), defendendo o trabalho final de escultura com o tema “Diferença conceptual entre estatueta e estátua”. Como artista plástica as suas telas e peças já passaram por vários países e continentes, com exposições em Cabo Verde, Angola, Cuba e Portugal.
Percurso, Materiais e Expressão
Cedo descobriu que a sua disciplina favorita era a Educação Visual e Plástica. Desde sempre se recorda de fazer rabiscos nas paredes de casa. Formou-se em Escultura, mas a paixão pela pintura esteve sempre presente e o destino encarregou-se de a encaminhar para as telas, pincéis e tintas. A sua fonte de inspiração é a arte no geral, seja de anónimos ou famosos. Baseia-se muito em coisas do dia-a-dia, na realidade africana e a tudo isto soma a criatividade e imaginação que mora no seu subconsciente.
Privilegia os acrílicos, o óleo, e a aguarela, sobre os mais diversos suportes, nomeadamente a tela, o papel e muitos materiais reciclados. Também a cor e a multiplicidade pictórica são proeminentes na sua pintura, vivendo apaixonada pelo surrealismo e o pelo abstratismo, o que lhe possibilita viajar no tempo. As suas imagens e envolvente pictórica são muito belas.
A galeria de arte .insofar apresenta “O Sistema”, uma exposição individual do artista angolano Cristiano Mangovo. Inaugura dia 4 de fevereiro entre as 16h-21h, coincidindo com a comemoração do Dia do Início da Luta Armada de Libertação Nacional.
Sob a curadoria da canadiana Katherine Sirois, a exposição é composta por uma seleção de pinturas que abordam questões sóciopolíticas complexas, tais como as hierarquias, as mentalidades de divisão e oposição profundamente enraizadas e difundidas, os conflitos de interesses ou o exercício do poder, a sua conquista e preservação a todo o custo.
Ecoando uma expressão comum em Angola, o título da exposição – O Sistema – impregna o conjunto das obras de Mangovo com um ligeiro toque de filosofia política. Esta referência à expressão popular e largamente utilizada para qualificar algo que seja disfuncional, ineficiente, fraudulento, inadequado ou injusto destaca o questionamento sobre a natureza ardilosa e intangível do “sistema” que assombra as obras de grandes dimensões.
Sem pretender mostrar a natureza profunda de um tal sistema de poder, cujo magnetismo e dinâmica são capazes de corroer qualquer espírito elevado, a exposição propõe-se questionar e estimular a reflexão sobre o imperialismo, as rivalidades e os jogos de poder entre indivíduos, tribos, regiões, países, géneros ou mesmo entre Estados e as suas populações.
Cristiano Mangovo
Nascido em Angola no ano de 1982, vive e trabalha presentemente em Lisboa. Sendo natural de Cabinda, a sua visão, imaginação e referências estão enraizadas na rica e complexa paisagem sócio-cultural multicamada dessa região. As suas aptidões artísticas e o seu interesse precoce pelo desenho levaram-no a estudar pintura na Academia de Belas Artes de Kinshasa. Considerado como um dos mais prolíficos entre os pintores da geração angolana do pós-guerra, Mangovo desenvolveu um estilo único, profundo, exuberante e maduro, que poderia ser definido como Expressionismo Figurativo. Motivado por um apurado sentido de observação e um espírito crítico perspicaz, a marca artística de Mangovo caracteriza-se por um impulso criativo energético, ritmos visuais fortes, cores e contrastes ousados, formas em movimento orgânicas desinibidas e representações corporais distorcidas.
Colocando o seu foco em tópicos complexos através de uma peculiar ótica satírica, a sua abordagem inovadora, com o uso de tipologias e símbolos arquetípicos e a sua atenção a questões como a injustiça, a desigualdade, a pobreza e o ecocídio, vai além das especificidades locais visando almejar uma dimensão universal. A sua obra faz parte de várias colecções de arte, tal como: AFRICANA Art Foundation (Suíça), Centro Cultural Brasil (Angola), Dâr-alMakhzen (Marrocos), Fondation Gandur pour l’Art (Suíça), Fundo das Nações Unidas para a População (RDC), Lycée Français A.E.F.L. (Angola) e Museu da Presidência da República Portuguesa (Portugal). Destaques recentes incluem a Residência Artistica Black Rock no Senegal, Prémios Lusofonia (2021) na categoria de artes visuais e a próxima Bienal de Kinshasa. Actualmente, Cristiano Mangovo é representado pela galeria de arte .insofar.
Katherine Sirois
curadora
Historiadora de arte canadiana sediada em Lisboa, autora independente e co-curadora da revista de arte contemporânea Wrong Wrong.
Como bolseira do Social Sciences and Humanities Research Council of Canada, concluiu os seus diplomas em Estudos de História da Arte na Université du Québec em Montreal. Assistente de ensino e de investigação na UQÀM, nomeadamente no projecto federal “The Self and the Other” no âmbito de “Issues of Identity Definitions in Contemporary Aboriginal Arts”, migrou para a Europa para realizar estudos de doutoramento em Estética (EHESS, Paris e Paris I-Panthéon Sorbonne). É actualmente associada ao Instituto de História das Artes da Universidade Nova de Lisboa.
Autora de ensaios e textos para catálogos de exposições de arte contemporânea e, por último, curadora da exposição “Fukuko Ando: Weaving (the) Cosmos” no Museu da Fundação do Oriente em Lisboa e membro da equipa de curadoria de “Histórias de Rostos: Variações Belting” no Museu Berardo.
Ngonani mu ta wona (“venham ver”, em língua chope) é um convite para revisitar a I Exposição Colonial Portuguesa, realizada na cidade do Porto, em 1934. Trata-se de um evento de exaltação da pretendida grandiosidade do antigo império, ante os olhos curiosos dos cidadãos da então metrópole. Entre outras atracções, a Exposição destacou-se pela exibição pública de pessoas oriundas das antigas colónias, apresentadas em simulacros dos seus meios sociais e culturais “originais”.
A presente exposição apresenta quinze fotografias produzidas e divulgadas no contexto da realização do evento, particularmente, da presença de pessoas trasladadas de diversos pontos do então território colonial de Moçambique. Deste grupo de indivíduos, destacam-se os chopes da zona sul de Moçambique que, com a exibição da sua Timbila, atraíram significativamente a atenção do público.
A estas gentes, somaram-se outras gentes levadas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Macau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e, eventualmente outras, numa longa jornada de três meses em que “viram e foram vistos” nas alamedas do Palácio das Colónias, construído exclusivamente para o efeito.
O material aqui apresentado é, em si, um testemunho literalmente ocular do papel desempenhado pela fotografia na construção simbólica que se pretendia em eventos desta natureza: a materialização de um determinado imaginário contido na propaganda do regime político então vigente.
Agradecemos, assim, aos arquivos portugueses – nomeadamente, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o Arquivo Histórico Municipal do Porto e o Centro Português de Fotografia – pela gentil cedência de parte de um vasto acervo fotográfico que constitui um importante património documental da experiência histórica de Moçambique, dos moçambicanos e da sua cultura. —–— Organização: Marílio Wane
Patente até 10 de Dezembro 2021, nas grades exteriores do CCFM e CCMA Créditos da fotografia: Câmara Municipal do Porto/Arquivo Histórico. Identificador 692698
No âmbito do Ciclo de Debates sobre “Restituição e reparação na identidade pós-conflito” Mais informações aqui.
Duração: 25 de Novembro de 2021 a 29 de Janeiro de 2022 | Quarta a Sábado - Das 15h às 19h
Artistas:Zanele Muholi & Ayogu Kingsley
No rescaldo das lutas pelas Liberdades Civis dos anos sessenta, nos Estados Unidos, e do movimento independente que varreu o continente africano, os anos setenta proporcionaram uma nova era aos artistas Negros, na qual sentiram a liberdade para escrever, produzir canções, arte, acolher eventos mundiais (FESTAC 77), combates de boxe (Rumble in the jungle 74), música e literatura que não estavam enraizados nas lutas, mas sim na alegria, no amor, na diversão, e na família Negra, sem deixar de abordar, de modo subtil, as injustiças sociais a partir de dentro – uma experiência intra-negra e não em reação ao “outro”, por assim dizer. Esta ideia de Negritude pós-moderna é hoje recuperada na cultura visual contemporânea, através do Retrato Negro. A Negritude passou da angústia existencialista a realidade natural, imaginação, aspiração, fantasia e agora nostalgia. Encontramo-nos num momento de nostalgia por fragmentos do passado, que guia e alimenta o presente, e desperta a imaginação. Just My Imagination (Running Away with Me) é uma canção do grupo americano de Soul, The Temptations. Nesta canção, a icónica banda fantasia acerca da felicidade doméstica, o tipo de futuro utópico que é nitidamente negado e dissociado da experiência Negra contemporânea. Just My Imagination foi uma ode à esperança de viver uma vida familiar simples e tranquila. Esta exposição apresenta um realismo natural que se torna visível através da pintura e da fotografia, uma vez que ambos os meios interagem e dominam a arte contemporânea de hoje em dia.
Zanele Muholi e Ayogu Kingsley são artistas contemporâneos com esperanças e aspirações moldadas por fragmentos da sua perceção da experiência Negra africana na infância. Esta exposição pretende recriar os atos de resignação perante fantasias emancipatórias moldadas por memórias pesadas de infância, histórias e cultura visual. Tal como as melodias psicadélicas Soul da obra epónima dos Temptations, lançada em 1971, o artista funde-se e atravessa o imaginário e a realidade para enfrentar o eu. Entre a auto-exploração vulnerável e declarações arrojadas, cada obra de arte desafia os arquétipos normativos e os padrões de comportamento ditados pela cultura contemporânea.
Cada narrativa visual apresenta a imagem do próprio. Seja através do autorretrato performativo ou da pintura hiper-realista, os meios arrojados escolhidos pelos artistas abrem espaço à coragem de romper com a servidão.
Notas Biográficas:
_Azu Nwagbogu é o Fundador e Diretor da African Artists’ Foundation (AAF), uma organização sem fins lucrativos sediada em Lagos, na Nigéria. Nwagbogu foi nomeado Diretor/Responsável de Curadoria Interino do Museu Zeitz de Arte Contemporânea na África do Sul, de junho de 2018 a agosto de 2019. Nwagbogu é também Fundador e Diretor do LagosPhoto, um festival anual internacional de fotografia artística realizado em Lagos. É editor do Art Base Africa, um espaço virtual para descobrir e conhecer arte contemporânea de África e das suas diásporas. Nwagbogu é um curador com um especial interesse na museologia futura.
_Zanele Muholi, ativista visual que trabalha com fotografia, nascida em Umlazi, Durban. Atualmente vive e trabalha em Umbumbulu. A missão autoproclamada de Muholi é “reescrever uma história visual negra, queer e trans da África do Sul para que o mundo tome conhecimento da nossa resistência e existência no auge dos crimes de ódio na África do Sul e além-fronteiras”. Está atualmente a construir a primeira escola de artes em KwaZulu Natal. Muholi co-fundou o Forum for Empowerment of Women (FEW) em 2002. Em 2009, fundou também o Inkanyiso, um fórum para meios visuais (de ativismo) queer. Continua a oferecer formação e a co-proporcionar workshops de fotografia para jovens mulheres nos bairros da cidade. Muholi estudou Fotografia Avançada no Workshop de Fotografia de Mercado em Newtown, Joanesburgo, e em 2009 concluiu um mestrado em Documentary Media na Universidade de Ryerson, Toronto. Em 2013, tornou-se Professora Honorária na Universidade de Artes/Hochschule für Künste Bremen.
_Ayogu Kingsley Ifeanyichukwu é um artista nigeriano conhecido pelo seu estilo hiper-realista. Nascido em Enugu, na região oriental da Nigéria, Ayogu interessou-se pela pintura e pela arte desde muito jovem. Isto levou-o a estudar pintura e gráfica no Enugu State College of Education (Technical). A obra de Ayogu pode ser descrita como deslumbrante e detalhada, retratando situações com um amplo espetro de emoções expostas através de lágrimas, desespero e afinidade. Quem observa as suas peças sente invariavelmente uma ligação aos quadros.
*Todos os direitos de imagem reservados aos artistas.
“Kubanga Kukatula” significa “montar e desmontar” em kimbundu, referindo-se à condição de transitoriedade do percurso de vida dos artistas Lino Damião e Nelo Teixeira, ambos ex-moradores do bairro da Chicala, em Luanda.
Seguindo um processo de exploração do arquivo “Observatório da Chicala” e períodos de residência entre Lisboa e Porto, a exposição apresenta um corpo de trabalho sobre a identidade e memória dos artistas.
A exposição é a segunda apresentação pública de um projeto de criação artística e pesquisa, centrado em residências, produção de obras e exposições.
Fracture Empireé a primeira exposição do artista visual Samson Kambalu em Portugal e, ao mesmo tempo, a apresentação mais completa da sua obra até à data. O recém-vencedor do Quarto Plinto (Trafalgar Square, Londres), um dos prémios de arte pública mais famosos do mundo, estará na Culturgest, já a partir de 2 de outubro.
A inauguração terá lugar no dia 1 de outubro, das 22:00 à meia-noite, com entrada gratuita. No âmbito da exposição, o artista fará uma visita guiada, juntamente com o curador da exposição, Bruno Marchand (2 OUT 16:00), dará uma conferência sobre Cinema Nyau e a sua produção fílmica (17 NOV 18:30) e realiza-se ainda uma conferência centrada nas questões que a obra de Kambalu nos levantam (24 NOV 18:30).
INAUGURAÇÃO 1 OUT 2021SEX 22:00 - 24:00
EXPOSIÇÃO 2 OUT 2021 - 6 FEV 2022TER A SEX 12:00 – 19:00 FIM DE SEMANA 11:00 – 18:00
Apelidado de provocador, o artista visual do Malawi, Samson Kambalu, é um nome reconhecido internacionalmente e “um dos mais singulares tradutores da cultura sincrética africana para os olhos e para a razão ocidentais. É também um intérprete e um crítico da história conturbada destes dois blocos”, como refere Bruno Marchand, curador desta exposição, que marca a estreia de Kambalu em Portugal, ao mesmo tempo que é a apresentação mais completa da sua obra até à data, a nível internacional.
A escultura Antelope, de Samson Kambalu, projeto vencedor para estar em exibição no famoso pedestal da Trafalgar Square, em 2022, é uma reconstituição de uma imagem da era colonial. Retrata uma fotografia de 1914 do padre da Igreja Baptista, John Chilembwe, e do missionário europeu John Chorley.
Samson Kambalu refere que a fotografia original, na qual se baseou para fazer a escultura, o inspirou pela “aparência comum” que tem à primeira vista, “mas quando pesquisamos a fotografia, descobrimos que, na verdade, há ali subversão, porque naquela época, em 1914, era proibido que os africanos usassem chapéus perante os brancos”.
Em Antelope, Chilembwe tem uma escala enorme, enquanto Chorley permanece em tamanho natural. Ao aumentar a escala de Chilembwe, Samson eleva a sua história, revelando as narrativas ocultas dos sub-representados na história do Império Britânico em África e não só. Sobre o Quarto Plinto, Samson refere que a sua proposta seria “sempre um teste do quanto pertenço à sociedade britânica como africano e cosmopolita, e isso enche-me de alegria e entusiasmo, e quis propor algo significativo para mim, como um africano”.
O trabalho de Kambalu abrange várias vertentes, do desenho à pintura passando pela instalação e pelo vídeo. O humor, o excesso e a transgressão são constantes na obra deste artista que mistura bandeiras de vários países e obriga-nos a testar os limites pré-concebidos sobre história, arte, identidade, religião e liberdade individual.
No dia seguinte à inauguração da sua exposição na Culturgest, o artista e o curador Bruno Marchand, receberão o público para uma visita e uma conversa sobre as obras selecionadas e sobre as suas articulações no espaço. Questões como a noção de máscara e o papel que a indumentária representou em momentos-chave das lutas coloniais do último século, a ideia de oferenda e a sua importância na economia simbólica de várias sociedades africanas, ou a questão da autoria e da distribuição da arte no quadro de fenómenos como o situacionismo terão certamente lugar ao longo da conversa. Uma oportunidade para ouvir, na primeira pessoa, o desvelar de um particular universo intelectual e criativo.
Reconhecido internacionalmente, o seu trabalho foi já exibido em todo o mundo, incluindo o Festival Internacional de Arte de Tóquio em 2009, a Bienal de Liverpool em 2004 e 2016, a Bienal de Dakar em 2014 e 2016 e a Bienal de Veneza em 2015, Art Basel e Frieze. Nascido no Malawi, em 1975, uma década após a sua independência do Império Britânico, Kambalu estudou na Universidade de Malawi (BA Fine Art and Ethnomusicology, 1995-99); Nottingham Trent University (MA Fine Art, 2002-03) e Chelsea College of Art and Design (PhD, 2011-15) e ganhou bolsas de pesquisa na Yale University e Smithsonian Institution. É professor associado de Belas Artes no Ruskin College e membro do Magdalen College, Oxford University.
Em 2015, a par da sua participação na Bienal de Veneza, foi processado pelo trabalho que mostrou sobre o situacionista italiano, Gianfranco Sanguinetti, que um ano antes tinha vendido o seu arquivo à Biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale. Os críticos consideraram esta uma atitude contrária ao espírito situacionista de propriedade pública e doação de presentes. Assim, Kambalu fotografou todo o arquivo e expôs na Bienal de Veneza, com o objetivo de o devolver ao domínio público. A Sanguinetti processou Kambalu e a Bienal exigindo o encerramento da instalação, a destruição do catálogo da Bienal e uma taxa de 20.000 euros por cada dia de atraso. Sanguinetti não ganhou o caso.
CONFERÊNCIA SOCIEDADE SECRETA: CINEMA NYAU E A PROBLEMÁTICA DA OFERENDA COM SAMSON KAMBALU 17 NOV 2021 - QUA 18:30 PEQUENO AUDITÓRIO DA CULTURGEST Na sequência da abertura da sua exposição nas galerias da Culturgest, Samson Kambalu dará uma conferência no Pequeno Auditório, no dia 17 de novembro, às 18:30 (entrada gratuita sob levantamento prévio de bilhete) acerca da sua produção fílmica em relação ao uso de máscaras nos rituais da irmandade Nyau, uma sociedade secreta do Malawi onde a prática do dom é uma questão central. Olhando para o sincretismo da cultura deste país africano, que Kambalu estende para movimentos filosóficos e artísticos de origem europeia, como o Dadaísmo, o Surrealismo e o Situacionismo, serão cruzados os trajetos de projecionistas de cinema ambulante na época colonial com as histórias de políticas emancipatórias, referindo algumas figuras radicais do pan-africanismo como John Chilembwe (Malawi) e Clement Kadalie (África do Sul).
CONFERÊNCIA SITUACIONISMOS, CINEMAS E OUTRAS HISTÓRIAS COM CATARINA LARANJEIRO, RAQUEL SCHEFER E RICARDO NORONHA 24 NOV 2021 - QUA 18:30 PEQUENO AUDITÓRIO DA CULTURGEST Os filmes e instalações de Samson Kambalu impelem-nos a olhar de forma cruzada para o pensamento, a produção de imagens e a história concebidas nos territórios africanos e europeus. Tendo como ponto de partida a exposição deste artista, três investigadores do Instituto de História Contemporânea (NOVA FCSH), juntam-se em conferência para refletirem e debaterem as questões que a sua obra nos coloca. Estarão presentes Ricardo Noronha, investigador na área da história social e económica, com uma pesquisa que passa também pelo Situacionismo, um movimento de referência para Kambalu; Raquel Shefer, realizadora e programadora, professora na Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3, com investigação na área do cinema africano e da afrodiáspora e Catarina Laranjeiro, que terá também a cargo a moderação deste encontro.
FRACTURE TOWN, DE SAMSON KAMBALU, POR BRUNO MARCHAND
Samson Kambalu nasceu no Maláui, em 1975, numa família de oito irmãos. Uma das mais importantes posses da família durante a sua infância era um armário de livros ao qual chamavam “o díptico.” O díptico albergava uma seleção heterogénea de livros que, no seu conjunto, mapeavam uma parte nada desprezível do conhecimento e do pensamento universal – uma espécie de enciclopédia portátil de fontes primárias. Kambalu mergulhou naquela biblioteca não só como quem tem uma curiosidade inesgotável e uma apetência clara pelo pensamento abstrato, mas também como quem sabia que o mundo era muito maior do que o Maláui, mas que não tinha outros meios para o explorar.
No díptico, o jovem Kambalu encontrou mitos e religiões, ciência e filosofia, antropologia e ocultismo. Assombrou-se por Nietzsche e procurou respostas para as grandes questões da vida. Fundou uma religião – o Holyballism –, encontrou para ela o mantra perfeito – exercise and exorcise – e decidiu ser artista visual, mas apenas após perceber que ser artista marcial ou estrela Pop não estava ao seu alcance. Não que não tenha tentado: emulou, com sucesso, os movimentos de Bruce Lee e de Michael Jackson que via, escondido, em sessões de cinema ao ar livre. Foi aí que se deixou contaminar, também, por uma dada estética cinematográfica, feita de filmes projetados em condições rudimentares e fortemente editados para deixar apenas os momentos de ação. Foi aluno na Kamuzu Academy, a escola secundária de elite com que o “Life President”, Hastings K. Banda, quis imitar Eton em Chimphepo, e, aquando do regresso apoteótico do aluno brilhante à terra onde crescera, submeteu-se ao Gule Wamkulu, um ritual de passagem das tribos Chewa, governado pelas ideias de excesso, oferenda, máscara e jogo.
Fez um curso superior de artes visuais e etnomusicologia e abriu um ateliê onde recebia clientes e outros interessados na sua obra. Susan foi uma dessas visitas e, apesar de esta lhe ter matado o cão inadvertidamente numa marcha atrás, apaixonaram-se e decidiram viver juntos no Reino Unido em 2001. Escreveu um livro de memórias endossado por Gary Indiana e foi selecionado por Okwi Enwezor para a Bienal de Veneza de 2015. Foi processado por um famoso situacionista e ganhou, já em 2021, a última edição do Fourth Plynth. Samson Kambalu é um dos mais singulares tradutores da cultura sincrética africana para os olhos e para a razão ocidentais. É também um intérprete e um crítico da história conturbada destes dois blocos. Fracture Empire é a apresentação mais completa da sua obra até à data.