O TRANSarau será o anfitrião do espetáculo, com apresentações especiais de André Tecedeiro e Fado Bicha.
Uma das atrações mais aguardadas da sexta edição do Festival de Poesia de Lisboa, que arranca no dia 12, é oTRANSarau, espetáculo que coloca em cena os discursos gênero-dissidentes, que também estão em disputa por voz e espaço nos territórios. A presença de poetas trans no FPL é uma aposta para que eles e elas possam contar as próprias narrativas e, assim, ganhar o espaço que merecem. Nesta edição, que discutirá o tema “Terra: uma poética de nós”, serão ao todo 13 artistas LGBTs, sendo 8 deles pessoas trans/travestis/não-binárias.
É a primeira vez que o TRASarau participa de um evento internacional. Nascido no Brasil, em 2015, como espaço de exibição da produção dos estudantes do Cursinho Popular Transformação, o TRANSarau já realizou mais de 40 edições, sendo um importante evento da cena brasileira. Organizado por artistas e ativistas TRANSvestigeneres, em colaboração com LGBTQIA+, voltado para visibilidade T, o TRANSarau é formado por Andrey Lucas, Lucyfer Eclipsa, Patricia Borges da Silva, Polaris Coutinho e Kairos Castro. Importante espaço de representatividade e visibilidade da população LGBQIA+ Trans, e de resistência negra, recebeu em 2018 o Prêmio Papo Mix, categoria “Eventos e manifestações artísticas”.
Assinado em parceria com o Museu da Língua Portuguesa, o TRANSarau será o anfitrião do espetáculo que irá mesclar apresentações dos próprios poetas com duas presenças especiais: André Tecedeiro e Fado Bicha. Serão 60 minutos de atividade, com transmissão tanto pelos canais de Facebook e Youtube do Festival de Poesia de Lisboa quanto pelos canais de Facebook e Youtube do Museu da Língua Portuguesa.
“Atuar na empregabilidade de poetas e artistas trans, lésbicas, gays e bissexuais tem sido importante para o FPL, pois entendemos que a visibilidade apenas não fortalece as condições dignas para que esses artistas possam viver e continuar a produzir. Ademais, o potencial artístico-pedagógico de ações como TRANSarau se dá principalmente por conta da sensibilização de pessoas cis-heterossexuais e da representatividade para o público LGBT, o que contribui diretamente para o combate a LGBTfobia e a promoção do respeito e da igualdade”, explica João Innecco, curador do Festival.
Desde 2019 o Festival de Poesia de Lisboa conta com LGBTs na programação, sendo que nesta edição, além do TRANSarau e o André Tecedeiro, outros artistas trans estarão presentes. “Teremos a artista Hilda de Paulo, que estará ao lado do poeta Ramon Nunes Mello e do pesquisador Nuno Pinto, na mesa ‘Balada de Gisberta’, em homenagem à Gisberta Salce, travesti assassinada no Porto há 15 anos, fato trágico que impulsionou o nascimento da primeira marcha do orgulho do Porto”, conta João Innecco. “Este ano teve um abaixo-assinado para que uma rua do Porto levasse seu nome, dado a sua importância para a mobilização LGBT em Portugal e na Europa”, completa.
A moderadora desta mesa será Daniela Filipe Bento, membro da direção da Associação ILGA Portugal, instituição que atua fortemente no combate à discriminação LGBT em Portugal. O assunto é tão importante nos dias atuais que a próxima edição do FPL será toda voltada à diversidade de corpo, gênero e sexualidade.
O Festival de Poesia de Lisboa deste ano acontece de maneira virtual, de 12 a 18 de setembro, e terá a presença de poetas de seis países diferentes. Serão 9 mesas, 6 tertúlias, 3 oficinas e 3 espetáculos poéticos. A programação é aberta ao público geral através das redes sociais do Festival.
A sexta edição do FPL tem apoio do Instituto Camões, do Camões – Centro Cultural Português em Brasília, da Livraria da Travessa, do Espaço Espelho D’Água, do Museu da Língua Portuguesa e da Associação ILGA de Portugal.
Sobre o Festival
O Festival de Poesia de Lisboa é uma iniciativa sem fins lucrativos criada em 2016, que tem como principal objetivo a valorização da Língua Portuguesa e o incentivo à leitura. Ao longo dos últimos anos, ele tem fomentado a democratização da palavra através da participação de poetas lusófonos de diversas idades, classes, géneros e raças.
É um Festival aberto ao público e a todas as nacionalidades, mas apenas pessoas que tenham a língua portuguesa como língua materna podem participar da antologia comemorativa e concorrer aos prémios nos termos e condições estabelecidos no regulamento.
Idealizado por Jannini Rosa e Carla De Sà Morais, o FPL tem apoio institucional do Instituto Camões desde 2018.
Sobre o curador
João Innecco (1993) é poeta, curador e educador em prisões. É editor da Antologia Trans (Invisíveis Produções, 2017), organizador do livro Sarau Asas Abertas: Penitenciária Feminina da Capital (Tietê, 2019) e autor das publicações artesanais Fumaça (2017), Tinto (2018), Solo (2019) e Baby (2019). Integra o TRANSarau, que recebeu o Prêmio Papo Mix 2018, e foi um dos poetas do Sarau Asas Abertas, sarau indicado ao Prêmio Jabuti 2020. Assina a curadoria do VI Festival de Poesia de Lisboa.