Problematizar a realidade: encontros entre arte e filosofia

ESPAÇO, LUGAR E MEMÓRIA

Fundação Calouste Gulbenkian, Auditório 3 I 13.10.2023 | 18h30
Excertos de: Memórias do Cárcere (1984) de Nelson Pereira dos Santos
Discussão: Billy Woodberry, Ruth Wilson Gilmore
Memórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984), fotograma de filmeMemórias do Cárcere (Nelson Pereira dos Santos, 1984), fotograma de filme
As obras de arte, nomeadamente aquelas que trabalham a partir de material documental, podem oferecer um apelo particularmente desafiante para refletir sobre a realidade. Enquanto a ligação indexante à realidade que abordam garante ao som e à imagem uma credibilidade específica, a postura do artista, a sua escolha estética, temática e política, bem como a posição autorreflexiva, podem gerar uma avaliação crítica sobre a constituição dessa realidade. É neste ponto que a arte encontra a filosofia. A reflexão sobre a relação entre o mundo factual e a sua apropriação subjetiva, questionando as reivindicações hegemónicas de objetividade e autoridade e problematizando as contradições inerentes à sociedade, são, por imanência, questões filosóficas.
A segunda edição de Problematizar a realidade – encontros entre arte e filosofia resulta de uma parceria entre o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, o CineLab do Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa e a Maumaus / Lumiar Cité. Trata-se de um conjunto de seis sessões de discussão e quatro seminários que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian e se foca no momento em que a arte e a filosofia estabelecem diálogos produtivos, propondo abordagens diversificadas sobre o pensamento contemporâneo.
Cada sessão de discussão parte da exibição parcial ou integral de obras de arte, acompanhada por uma reflexão conduzida por teóricos, investigadores ou artistas. A primeira sessão de discussão acontece em outubro com o cineasta Billy Woodberry e a investigadora Ruth Wilson Gilmore, numa reflexão suscitada pela exibição da obra Memórias do Cárcere (1984), de Nelson Pereira dos Santos. As restantes discussões e seminários acontecem nos meses seguintes e serão comunicadas oportunamente, estando previstas as presenças de Ghalya Saadawi (Líbano), Jihan El-Tahri (Egito), Kerstin Stakemeier (Alemanha) e Sarah Lewis-Cappellari (República Dominicana, EUA), entre muitos outros.
Protagonizado por Carlos Vereza, Glória Pires e Nildo Parente, Memórias do Cárcere adapta as memórias da prisão de Graciliano Ramos, um dos grandes autores da literatura brasileira, publicadas postumamente. A prisão de Ramos ocorreu durante o regime de Getúlio Vargas devido à suspeita de ser comunista. Nelson Pereira dos Santos inspira-se no percurso de Graciliano Ramos pelo sistema penal para conduzir uma investigação sobre o modo como operam as relações de poder que este produz.
Billy Woodberry (EUA) vive e trabalha em Lisboa. A sua obra foi premiada no Festival Internacional de Cinema de Berlim e faz parte da Library of Congress. Participou como ator em When It Rains (Charles Burnett, 1995) e como narrador em Four Corners (James Benning, 1998) e Red Hollywood (Thom Andersen, 1996). O seu trabalho foi exibido em inúmeros espaços e eventos, incluindo: Centre Pompidou; Festivais de Cinema de Berlim, Cannes, Roterdão e Viena; Camera Austria Symposium; Harvard Film Archive; Human Rights Watch Film Festival; Museum of Modern Art (MoMA); e Tate Modern. Entre os seus filmes, incluem-se: A Story from Africa (2019), And When I Die, I Won’t Stay Dead (2015) e Bless Their Little Hearts (1984).
Ruth Wilson Gilmore (EUA) vive e trabalha em Lisboa e Nova Iorque. Gilmore é Professora de Earth & Environmental Sciences e Diretora do Center for Place, Culture, and Politics (Graduate Center, City University of New York). Entre as suas publicações, destacam-se: Change Everything: Racial Capitalism and the Case for Abolition (Haymarket, no prelo), Abolition Geography: Essays Towards Liberation (Verso Books, 2022) e Golden Gulag: Prisons, Surplus, Crisis, and Opposition in Globalizing California (University of California Press, 2007). Entre as suas distinções recentes, incluem-se: Marguerite Casey Freedom Scholar Prize (2022) e Lannan Foundation Lifetime Cultural Freedom Prize (2021, com Angela Y. Davis e Mike Davis). Gilmore é membro da American Academy of Arts and Sciences.
Duração da sessão: 150 Min. | M/14
Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Requer levantamento de bilhete no próprio dia.
Filme falado em português e legendado em inglês; a discussão será em língua inglesa com tradução simultânea.

04.10.2023 | by martalanca | Memórias do Cárcere, Nelson Pereira dos Santos Discussão: Billy Woodberry, Ruth Wilson Gilmore

Ruth Wilson Gilmore: Abolition Geography – Essays Towards Liberation

Book launch with Ruth Wilson Gilmore, Brenna Bhandar and Alberto Toscano.

‘Abolition is figuring out how to work with people to make something rather than figuring out how to erase something. Abolition is a theory of change, it’s a theory of social life.’
Gathering together Ruth Wilson Gilmore’s work from over three decades, Abolition Geography presents her singular contribution to the politics of abolition as theorist, researcher, and organiser, offering scholars and activists ways of seeing and doing to help navigate our turbulent present.

Abolition Geography moves us away from explanations of mass incarceration and racist violence focused on uninterrupted histories of prejudice or the dull compulsion of neoliberal economics. Instead, Gilmore offers a geographical grasp of how contemporary racial capitalism operates through an ‘anti-state state’ that answers crises with the organised abandonment of people and environments deemed surplus to requirements. Her approach escapes one-dimensional conceptions of what liberation demands, who demands liberation, or what indeed is to be abolished. Drawing on the lessons of grassroots organising and internationalist imaginaries, Abolition Geography undoes the identification of abolition with mere decarceration, and reminds us that freedom is not a mere principle but a place.

Ruth Wilson Gilmore is Professor of Earth and Environmental Sciences, and American Studies, at the Graduate Center of the City University of New York and teaches on the Maumaus Independent Study Programme in Lisbon. She is author of Golden Gulag: Prisons, Surplus, Crisis, and Opposition in Globalizing California (University of California Press, 2007) and Change Everything: Racial Capitalism and the Case for Abolition (Haymarket, 2021).

Copies of the book will be available for sale at the event.

Lumiar Cité
Rua Tomás del Negro, 8A
1750-105 Lisboa, Portugal

05.07.2022 | by Alícia Gaspar | abolition geography, Alberto Toscano, book launch, Brenna Bhandar, Ruth Wilson Gilmore

Ciclo Visualidades Negras - Ruth Wilson Gilmore

Fotografia © Amaal SaidFotografia © Amaal Said

Ver: O Problema

E se imagens fotográficas estáticas e em movimento mostrarem coisas que nunca deveriam ter acontecido? Esta palestra explorará a representação no contexto conjuntural, traçando tecnologias e ideologias como co-constitutivas, embora não sejam transparentes nem fechadas.

Ruth Wilson Gilmore é professora de Ciências da Terra e Ambientais e diretora do Center for Place, Culture, and Politics da City University of New York Graduate Center. A geógrafa escreve sobre abolição, geografias prisionais, capitalismo racial, violência organizada, movimentos laborais e sociais e políticas e estética da visão. “Académica militante”, como se define, é ainda co-fundadora de várias organizações relacionadas com justiça racial e abolicionismo prisional. O seu primeiro livro foi Golden Gulag: Prisons, Surplus, Crisis, and Opposition in Globalizing California (2007). Abolition Geography: Essays Towards Liberation é o seu livro mais recente e acaba de ser publicado em Londres pela Verso (maio 1922).

Esta é a última conferência do ciclo Visualidades Negras, com curadoria e moderação de Filipa Lowndes Vicente (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa), que ao longo de cinco semanas propôs várias reflexões sobre a relação entre visualidade e negritude.

Com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

17.05.2022 | by Alícia Gaspar | CCB, ciclo visualidades negras, geografia, justiça racial, Ruth Wilson Gilmore