Kupilikula - o Poder e o Invisível em Mueda, Moçambique de Harry West
O livro Kupilikula - o poder e o invisível em Mueda, Moçambique teve uma Distinção Especial do júri do Prémio Sedas Nunes para as Ciências Sociais
No planalto de Mueda, no norte de Moçambique, diz-se que os feiticeiros se alimentam das suas vítimas, por vezes “criando” leões ou transformando-se em leões para devorar, literalmente, a sua carne. Quando o partido FRELIMO, no poder, aderiu ao socialismo, condenou as crenças na feitiçaria e as práticas de contra-feitiçaria dizendo que eram ideias falsas, mas desde que empreendeu a reforma neoliberal, o partido – ainda no poder após três ciclos eleitorais – “tolerou a tradição”, permitindo que a população rural interprete e interaja com os acontecimentos na linguagem da feitiçaria. Agora, quando os leões deambulam pelas aldeias do planalto em busca de presa, os suspeitos de feitiçaria são frequentemente linchados.
Nesta etnografia histórica da feitiçaria, Harry G. West baseia-se numa década de trabalho de campo e conjuga as perspectivas da antropologia e da ciência política para revelar como os habitantes do planalto de Mueda esperam que as autoridades responsáveis vigiem o reino invisível da feitiçaria e deitem por terra ou, como esses habitantes dizem, “kupilikula” os ataques destrutivos dos feiticeiros praticando, elas próprias, uma forma construtiva de contra-feitiçaria. Kupilikula argumenta que, onde as políticas neoliberais fomentaram a divisão social, em vez da segurança e da prosperidade, as populações do planalto usaram, de facto, o discurso da feitiçaria para avaliar e, por vezes, deitar as reformas por terra, apresentando visões alternativas de um mundo transformado. Harry G. West é professor de Antropologia Social na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. Escreveu numerosos artigos e participou em várias obras colectivas, sendo editor ou co-editor de dois livros anteriores, dos quais se destaca Transparency and Conspiracy: Etnographies of Suspicion in the New World Order.