Lançamento "Logo Depois Da Vírgula" de Mattia Denisse, no Tomie Othake, SÃO PAULO
Mattia Denisse é francês e mora em Portugal. Passou quase dois anos visitando a floresta da Amazônia, a Ilha do Fogo em Cabo Verde e o deserto do Namibe. O livro “Logo depois da Vírgula” começa com duas viagens – uma viagem transatlântica fantasiosa que Mattia registrou em seu caderno quando criança, e um viagem literária iniciática ao Monte Análogo. Em seguida, perpassam a preparação e reflexão acerca das viagens recentes do artista, reunindo desenhos e textos afins aos registros de viajantes históricos e/ou ficcionais, como Albert Eckhout e Renatus Cartesius (o René Descartes de Paulo Leminski no livro Catatau). Seus desenhos quase sempre são habitados por Honi, o fazedor de círculos – espécie de dublê do próprio artista -, que se infiltra nos ambientes visitados, reunindo tantos detalhes morfológicos quanto permite o fino traço do grafite duro sobre papel. Das paisagens quase fantásticas e tão próximas da memória do artista, afluem narrativas de experiências fictícias que testam a identidade do artista como figura que procura se mimetizar com o ambiente mas acaba sempre por demonstrar uma diferença inalienável. Já nos textos publicados, Mattia trabalha língua e linguagem de forma rigorosa, embora inusual. Sua prosa articula um texto central com inúmeras notas e metanotas, sempre a partir da atenção ao que se ganha e se perde entre as distintas línguas por onde transita seu pensamento (o francês e o português, em especial), à etimologia das palavras que emprega e ao potencial digressivo aberto por cada palavra escolhida.