IRMÃ MARGINAL — SISTER OUTSIDER, de Audre Lorde

O Hangar — Centro de Investigação Artística e as edições Orfeu Negro convidam para o lançamento do livro IRMÃ MARGINAL — SISTER OUTSIDER, de Audre LordeNa próxima quinta-feira, 9 de Novembro, às 19h, o encontro é no espaço do Hangar. A Orfeu Negro dá início à publicação da obra de Audre Lorde em Portugal, com uma das mais significativas colectâneas de ensaios da autora. A apresentação conta com Gisela Casimiro, tradutora e prefaciadora da obra, Alexandra Santos, activista queer e anti-racista, e Rita Cássia, antropóloga, artista e activista.
Venham transformar o silêncio em linguagem e acção.
Contamos convosco!

03.11.2023 | par martalanca | Audre Lorde

“Kabeça” no Alkantara Festival 2023

Kabeça ©Bee BarrosKabeça ©Bee BarrosAs atrizes Aoaní Salvaterra e Joyce Souza estreiam no dia 19 de novembro às 17h30, a vídeo- performance “Kabeça”. Resultado da residência artística realizada no programa Kilombo, com a curadoria das Aurora Negra para o Alkantara Festival 2023, o trabalho que será apresentado na sala Mário Viegas, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

Em yoruba Orí significa cabeça. Mais do que uma parte fisiologicamente estruturada, o Orí é um orixá, um deus, uma divindade pessoal e intransferível. É Orí que irá acompanhar o indivíduo antes de seu nascimento até depois de sua morte. Orí foi uma escolha feita por cada um antes de nascer, e uma escolha que continuamente se faz, ou não.

No ocidente ensinam-nos que a cabeça é uma parte do corpo. Uma parte que abriga o cérebro, que tem uma estrutura composta de ossos, músculos e terminações nervosas. Uma parte que abriga o sistema nervoso. A noção de parte, de desmembramento proposta por lógicas coloniais espelham-se no corpo - cidade. O lapso enquanto instituição, a memória estrategicamente fragmentada, o violento soterramento é o palco desse cistema brancae - Lisboa.

É de terra que Orí é feito. Bater a cabeça na terra, no chão, é (em tradições de matriz africana, ressignificadas na diáspora) o gesto, a ação, de máximo respeito e reverência. O ato primeiro antes da gira, da festa, do movimento, do revide.
Nesta vídeo-performance batemos cabeça para quem veio antes, pedimos licença. Colocamos o nosso Orí e coração sobre as histórias soterradas, como uma cerimónia aos que perderam a cabeça. Interrompemos a lógica do que eles chamam “tempo”, conectamos. Procuramos perturbar o esquecimento como aqueles que não baixaram a cabeça. Reverenciamos quem aqui resistiu e resiste, no desejo de uma libertação súbita de energia que provoque movimentos nessa superfície.

Kabeça ©Indira MatetaKabeça ©Indira Mateta

A vídeo-performance consiste na ação de “bater a cabeça” em dez lugares de resistência negra na cidade de Lisboa, como forma de evocar a memória apagada pela cidade, suprimida pelo sistema, sufocada pelo colonialismo. Com criação e performance de Aoaní Salvaterra e Joyce Souza, o projecto tem direção de Fotografia de Huba Artes, Indira Mateta e Pedro Henrique Sousa, apoio à dramaturgia de Monalisa Silva, música de Xullaji, som de Sara Marita, iluminação de Ariene Godoy, Edição de Victor dos Santos e produção da Ngleva Produções.

As criadoras entendem a vídeo-performance “Kabeça” como um prólogo do projeto “Kabeça Orí”, que foi recentemente aprovado na 4.a edição das Bolsas de Criação na área das Artes Performativas Contemporâneas promovido pelo O Espaço do Tempo, com o apoio do Banco BPI e da Fundação “la Caixa”. O espetáculo terá estreia absoluta n’O Espaço do Tempo, em novembro de 2024, no âmbito do Festival ETFEST.

Aoaní Salvaterra

Nascida em Lobata, São Tomé e Príncipe, é licenciada em Comunicação Social (FANOR) e mestre em Artes Performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema). Em 2012 lançou em Luanda, pela editora Chá de Caxinde, a coletânea de crónicas intitulada “Miopia Crónica”. Foi oradora no primeiro evento TEDx de São Tomé e Príncipe. Desde 2017 tem trabalhado como atriz e performer em teatro, cinema e audiovisuais, com trabalho exibidos nos Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Itália e China.

Joyce Souza

Natural do Guarujá - SP, Brasil, é mestre em artes performativas (Escola Superior de Teatro e Cinema). Licenciada em educação artística (FPA) e teatro (EAD-Universidade de São Paulo). Artista e pesquisadora transdisciplinar atua entre Brasil e Portugal como atriz, performer, dramaturga e docente. Atualmente integra o elenco do espetáculo “descobri-quê?” da Estrutura e Dori Nigro em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II em digressão na Odisséia Nacional e ministra formações acerca de uma educação anti-racista e decolonial.

03.11.2023 | par martalanca | alkantara festival, Aoaní Salvaterra, Joyce Souza

Diálogos de Pertença, Identidade e Futuro

 A proposta de Tom Farias é olhar para a forma como queremos que o mundo seja hoje, amanhã ou daqui a cem anos, e como desejamos que a sociedade se comporte entre um tempo e outro?O termo “diálogo” está ligado a palavra, assim como a palavra, o logos, se identifica com o étimo de conversa. Se a conversa e o diálogo estão juntos, na cosmologia do universo da língua escrita, então faz todo o sentido o que estamos fazendo aqui hoje, como princípio da comunicação social e da liberdade de expressão e dizer algo além do aparentemente plausível.

Detalhes do evento:
Talk - Diálogos de Pertença, Identidade e FuturoData: Sexta-feira, 3 de novembro de 2023Horário: 11h - 13hLocal: Museu do Fado, em Lisboa
RSVPPress@lisboacriola.pt+351 930 524 843

31.10.2023 | par martalanca | festa criola

1001 noites | IRMÃ PERSA - Teatro O Bando

Aconteça o que acontecer, se soubermos contar histórias
teremos mais hipóteses de acordar no dia seguinte.


IRMÃ PERSA é o primeiro de quatro espetáculos do Teatro O Bando em torno das 1001 NOITES, antologia de fascinantes histórias preservadas na tradição oral e que se tornou numa das mais importantes obras da literatura universal.
As 1001 NOITES são o fio condutor da tetralogia que ganhará vida pela mão de diferentes encenadoras e encenadores do Teatro O Bando.
À semelhança da teia tecida por Xerazade, noite após noite, todos os anos um novo espectáculo nascerá a partir do final do espectáculo anterior.
Em cena, um trio de personagens atravessará as quatro encenações: Xariar, interpretado por Fabian Bravo; Xerazade, interpretada por Rita Brito; e Dinarzade (a irmã de Xerazade) que será representada por uma actriz de uma cultura diferente, dando assim nome a cada uma das criações teatrais.

Em 2023, Tara Fatehi, actriz e bailarina iraniana, será a IRMÃ PERSA.
Começamos a IRMÃ PERSA pelo início da obra, descobrindo na sombra o enredo das personagens de Xariar, Xerazade e da sua irmã Dinarzade. Depois de entrever a traição da mulher, o Rei Xariar inicia o seu ciclo de matança e, durante anos, o Vizir, pai de Xerazade, cumpre zelosamente o seu terrível ofício de carrasco, até ao dia em que é a vez da sua filha. As irmãs Xerazade e Dinarzade elaboram um plano para salvar as mulheres e o seu povo. 

texto de autores anónimos traduzido do árabe por Hugo Maia
dramaturgia e encenação Suzana Branco
com Fabian Bravo, Rita Brito, Tara Fatehi três músicos ao vivo
cenografia João Brites apoio à cenografia Rui Francisco
música Jorge Salgueiro figurinos e adereços Clara Bento
corporalidade Vânia Rovisco desenho e retroprojeção Maria Taborda
desenho de luz Maria Taborda e Rita Louzeiro investigação Sabri Zekri Arabzadeh
produção Inês Gregório
2 NOV a 10 DEZqui a sáb às 21h / dom às 17hbilheteira@obando.pt | 910 306 101
É possível jantar antes do espectáculo mediante reserva.
Aos sábados há conversa com a equipa artística.

 

31.10.2023 | par martalanca | 1001 noites, Teatro O Bando

O LUSO‑ORIENTALISMO NA FILMOGRAFIA PRODUZIDA DURANTE O ESTADO NOVO SOBRE A «ÁSIA PORTUGUESA», de Maria do Carmo Piçarra

A filmografia sobre a «Ásia portuguesa» realizada em Portugal durante o Estado Novo é limitada. Produzida tardiamente, projectou uma retórica luso‑tropicalista que propagandeava a importância — mítica, porque já passada — de um império outrora vasto. Durante a ditadura, as colónias orientais mantinham sobretudo um valor simbólico.

Analisando a filmografia existente, Vento Leste propõe que a escassez de filmes sobre o «Oriente português» decorre sobretudo do valor simbólico destas comunidades imaginadas, evocadas com certa indefinição porque a sua relação com a metrópole estava há muito em desagregação, assentando em projecções e ruínas. Com o surgimento de tensões entre Portugal e a Índia quanto à autonomização da «Índia portuguesa», a filmagem das colónias orientais surgiu da necessidade de a ditadura sedimentar um discurso luso‑orientalista, que, não obstante, ignorou as especificidades locais e a miríade de diferenças entre a África e a Ásia e entre os territórios colonizados nessas regiões.

Maria do Carmo Piçarra: “É o culminar de um processo de investigação que me ocorreu fazer no pós-doutoramento quando, durante os visionamentos no CNC, em França, percebi que aqui estávamos a começar a estudar as representações filmadas das ex-colónias africanas - que perduram ainda hoje -, mas não aquelas relativas a Macau, Timor e à chamada (durante a ditadura) Índia Portuguesa. É sempre um gosto ser acolhida pela Livraria Linha de Sombra, onde amanhã, às 18h, o investigador Ricardo Roque e o director do Museu do Oriente, João Amorim, me dão o gosto de apresentar o livro. Também é o primeiro livro que publico com as Edições tinta-da-china e tem sido muito bom trabalhar com a sua equipa. Os cinco capítulos são ilustrados com fotografias que “garimpei” em várias colecções (Cinemateca, MUHNAC, Arquivo do Ultramar, Fundação Oriente). Tudo magnificamente paginado pelo Pedro Serpa (T-d-C), que também assina a capa, muito bonita. A seguir ao lançamento, haverá uma sessão com a Linha de Sombra que inclui a projecção de filmes programados por mim, com o apoio do FILMar - obrigada ao seu coordenador, Tiago Bartolomeu Costa -, em que haverá a possibilidade de ver pela primeira vez a versão digitalizada de Os pescadores de Amangau, filme de Miguel Spiguel exibido na VIII edição do Festival de Cinema de Berlim, e uma montagem de materiais filmados por Ruy Cinatti (entre filmes de propaganda explícita). Fecha um ciclo da minha vida, e não só de modo simbólico. Agradeço a presença das amigas e amigos que possam partilhar este momento comigo. Com o FILMar, estarei também no Porto/Post/Doc (e com a sua magnífica equipa), a lançar o livro, a dar formação a professores, a debater filmes e muito mais. Será uma alegria.”

31.10.2023 | par martalanca | Luso-orientalismo, maria do carmo piçarra

O Filmar celebra o cinema de Manuel Faria de Almeida

Manuel Faria de Almeida (Moçambique, 1934), autor de uma das mais importantes obras do cinema português, CATEMBE (1965), vai estar em destaque no mês de novembro, com a apresentação de novas cópias digitais de cinco dos seus filmes.
Coincidindo com a atribuição da Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura, ao realizador, CATEMBE, severamente censurado pelo regime ditatorial do Estado Novo, vai ser apresentado em sala, numa ação do projeto FILMar, no âmbito do qual a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema o digitalizou com o apoio do programa EEA Grants 2020-2024.
Depois da apresentação no DocLisboa 2021, o filme apresenta-se em sala de cinema, com sessões entre 2 e 4 de novembro, no Cinema Ideal, em Lisboa, e no dia 23 de novembro no Batalha Centro de Cinema, integrando a programação do festival Porto Post Doc.

As sessões serão entre 2 e 4 de Novembro, no Cinema Ideal, às 21h15, sempre acompanhadas por uma curta-metragem diferente, recentemente digitalizada, no âmbito do FILMar (PORTUGAL DESCONHECIDO), ou no âmbito do PRR (PARA UM ÁLBUM DE LISBOA; A EMBALAGEM DE VIDRO).
Depois, no Porto, no Porto Post Doc, no Cinema Batalha, será mostrado o filme em diálogo com o ACTO DOS FEITOS DA GUINÉ (Fernando Matos Silva, 1980).

A recente digitalização do filme permitiu revelar o trailer inédito que contem algumas imagens das sequências amputadas durante o processo de censura. Retirado de circulação pelo próprio realizador, o filme foi sujeito a 103 cortes, muitos deles perdidos, e que revelavam o quotidiano da cidade de Maputo, então Lourenço Marques, no início da década de 1960.
Com direção de fotografia de Augusto Cabrita, acompanhado por Alfredo Tropa, e produzido por António da Cunha Telles, CATEMBE tinha estreia marcada para o Cinema Império, em Lisboa, no mês de novembro de 1965, mas a violência das exigências do regime, levaram à anulação das suas exibições.
A cópia que agora se apresenta, junta os 45 minutos autorizados, aos quais se acrescenta 11 minutos de cortes, e o trailer que exemplifica a singularidade do olhar de Manuel Faria de Almeida, então um jovem realizador que veria o seu percurso amplamente afetado pela repressão artística e política a que o seu trabalho foi sujeito. O filme, cujo título completo seria CATEMBE – SETE DIAS EM LOURENÇO MARQUES, acompanhava o quotidiano do bairro de pescadores, bem como de uma jovem rapariga, contrariando as imagens impostas pelo regime colonial.
As sessões no Cinema Ideal serão acompanhadas, diariamente, com a apresentação de três filmes assinados por Manuel Faria de Almeida: PARA UM ÁLBUM DE LISBOA (1966), A EMBALAGEM DE VIDRO (1966) e PORTUGAL DESCONHECIDO, recentemente digitalizados com o apoio dos programas PRR e FILMar. Os filmes ficarão disponíveis na Cinemateca Digital, acessível através do site da Cinemateca Portuguesa, juntando-se assim a A FEIRA (1970).
Em colaboração com o programa Cinemax, da RTP, serão exibidos na televisão pública, durante o mês de novembro, o trailer inédito de CATEMBE e PORTUGAL DESCONHECIDO.

Filmes que estão na Cinemateca Digital


PARA UM ALBUM DE LISBOA (1966) - digitalização PRR - é o que passa no dia 3

A EMBALAGEM DE VIDRO (1966) - digitalização PRR - vai passar no dia 4
PORTUGAL DESCONHECIDO (1969) - digitalização FILMar - passa no dia 2
A FEIRA (1970)

 

30.10.2023 | par martalanca | Catembe, Manuel Faria de Almeida

Centro de História | Seminário de História de África

Apresentação do livro: Ramon Sarró, Inventing an African Alphabet: Writing, Art, and Kongo Culture in the DRC (Cambridge University Press, 2023)

FLUL | Anfiteatro III & Online  |  31 de Outubro de 2023 | 18h00

Assistência por videoconferência através do Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/91764148345…

Coord.: Carlos Almeida, Eugénia Rodrigues, José da Silva Horta e Philipp Hofmann

Org.: Centro de História da Universidade de Lisboa, ICS - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e University of Oxford

Apoio Institucional: CRIA-Centro em Rede de Investigação em AntropologiaIscte - Instituto Universitário de Lisboa e Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - ISCSP/ULisboa

Mais informações: https://chul.letras.ulisboa.pt/eventos-detalhe.php?p=1044

20.10.2023 | par martalanca | Africa, escrita, estudos, Ramon Sarró

MANIFEST - Novas Perspetivas Artísticas sobre as Memórias do Comércio Transatlântico de Pessoas Escravizadas

Showcase do projeto MANIFEST - Novas Perspetivas Artísticas sobre as Memórias do Comércio Transatlântico de Pessoas Escravizadas, que irá decorrer no dia 23 de outubro de 2023, na Rua de São Marçal, 7, junto ao Pólo da Junta de Freguesia da Misericórdia. 
O projeto MANIFEST é um projeto co-financiado pela Europa Criativa, focado na importância da arte para a memória coletiva, que pretende divulgar novas perspetivas artísticas que reflitam sobre o tema do comércio transatlântico de pessoas escravizadas. O projeto, que envolve criação audiovisual, realidade virtual e realidade aumentada, conta com uma Artistic Journey com várias etapas, entre as quais uma residência artística em Lisboa que irá trazer a Portugal 22 artistas provenientes de mais de 10 países diferentes, depois de um processo de seleção que envolveu um call internacional onde participaram 227 artistas.
Este Showcase será a primeira oportunidade para o público entrar em contacto com os trabalhos artísticos que estão a ser desenvolvidos no âmbito do projeto, bem como conhecer e conversar com os artistas.
As portas do evento abrirão às 17h, e, a partir das 18h, haverá apresentações individuais de cada um dos 12 projetos. Pode saber mais sobre todos os trabalhos neste link.

19.10.2023 | par martalanca | escravatura, manifest

Cine Verde - edição Inaugural

No âmbito da abertura oficial do “Cine Verde” (ramificação do Cinéfilos & Literatus), no dia 20 de Outubro, sexta-feira, às 19h00, no Hotel Globo, exibir-se-á o documentário Unite for Bissau: Agroecologia e Feminismo na Guiné Bissau, da realizadora brasileira Iara Lee, com a produção Cultures of Resistance films/Caipinha Produtions. O evento conta com a parceria da associação KinoYetu, Goethe Institut Angola, EcoAngola e com o apoio da Embaixada da Alemanha em Angola e da Rosalina Express.  “Unite for Bissau: Agroecologia e Feminismo na Guiné Bissau” é o mais novo documentário da realizadora Iara Lee a ser exibido pela primeira vez em Angola, e que abre a sessão inaugural do “Cine Verde”.

Na ocasião teremos também uma conversa em torno do documentário e da temática “Agroecologia e Feminismo: Novas Formas de Resistências”, a ser discutida por Érica Tavares (ecologista), Telma Caleia (feminista e activista pelos Direitos da Mulher e da Criança), Luyana Canza (activista social e membro do Parlamento Juvenil da SADC), Érica Cardoso (estudante de Medicina e Secretária Adjunta para os Assuntos Sociais e Ambientais da FMUAN).
A moderação estará sob a responsabilidade da jornalista cultural e curadora Estrela Tomé.
“Unidos por Bissau: Agroecologia e Feminismo na Guiné Bissau” narra de maneira instigante a história de “mulheres corajosas da Guiné Bissau, uma nação localizada na África Ocidental, que desafiam o patriarcado construindo instituições que promovem a autossuficiência através da agroecologia. Elas também desafiam as normas sociais ao se oporem à mutilação genital feminina e ao rejeitarem o casamento forçado. Dando continuidade ao legado de Amílcar Cabral, o líder independentista da Guiné-Bissau, que colocou os direitos das mulheres no centro da luta pela libertação. As mulheres de uma geração em ascensão estão a retomar o seu poder.”
Cine Verde é uma ramificação do projecto Cinéfilos & Literatus e trabalha na projeção de documentários que abordam questões ambientais e ecológicas, visando discutir problemáticas contemporâneas correlacionadas.
A entrada é gratuita, sintam-se convidad@s.

19.10.2023 | par martalanca | cine verde

Mesa realizada pelo Prêmio Oceanos reúne os escritores brasileiros Carola Saavedra e Kaká Werá Jecupé, no Folio +

No dia 22 de outubro, domingo, acontece a mesa “Existir é lembrar o que não vivemos: o resgate dos saberes tradicionais”, promovida pelo Oceanos - Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa como parte da programação do Folio +, em Óbidos. O encontro reúne o escritor indígena Kaká Werá Jecupé e a escritora semifinalista do prêmio Oceanos Carola Saavedra, mediados por Selma Caetano, diretora da premiação.

Os saberes dos povos originários das Américas, assim como suas cosmogonias, apresentam um modo diverso para se olhar para as questões globais mais prementes - mudanças climáticas, desigualdades socioeconômicas, disputas geopolíticas -, mas também para o próprio fazer literário, menos fincado no “eu” e em tradições e correntes literárias. Nessa mesa, Kaká e Carola conversam sobre esses temas, além de falar sobre seus últimos lançamentos e suas próprias trajetórias como escritores.

Sobre os convidados

Kaká Werá Jecupé nasceu em São Paulo, no ano do golpe militar no Brasil, 1964. De origem indígena, do povo Tapuia, foi acolhido e nomeado Guarani pelo pajé Guyrá Pepo, da aldeia Morro da Saudade, na Mata Atlântica, São Paulo. Ali, viveu e aprendeu a cultura Guarani. É escritor, autor de mais de uma dezena de livros, tradutor, ambientalista, pesquisador e propagador dos saberes ancestrais de povos indígenas.

Carola Saavedra nasceu em Santiago do Chile, em 1973, e se mudou para o Brasil aos três anos. Morou na Espanha, na França e agora mora na Alemanha, onde é pesquisadora do Instituto Luso-Brasileiro da Universidade de Colônia. Escritora e tradutora, publicou livros de ensaios, poesia e romances, traduzidos para inglês, francês, espanhol e alemão, como Paisagem com dromedário, O inventário das coisas ausentes, Com armas sonolentas, O mundo desdobrável e, entre outros, O manto da noite, semifinalista do Oceanos 2023.

Selma Caetano nasceu em Santos, São Paulo, e é gestora cultural e curadora-coordenadora do Prêmio Oceanos. Formada em Literatura Portuguesa e Brasileira pela PUC-SP, com especialização em Gestão Cultural pela Universidade de Girona, Espanha, em parceria com o Observatório Itaú Cultural/SP. É autora de Graciliano Ramos - Biografia Ilustrada, O livro das palavras – coletânea de entrevistas, textos críticos e biográficos de 30 escritores de Língua Portuguesa, em parceria com José Castello.

Quando?

Dia 22/10, às 17h30 (horário de Portugal)

Onde?

Livraria Artes & Letras, na rua da Porta da Vila, 16 – Espaço Ó, em Óbidos

19.10.2023 | par martalanca | Folio, Prémio Oceanos

CONFERÊNCIA: E Tu Por Que és Negro?

20.10.2023 I Uma exposição de Rubén H Bermudez Curadoria: Pablo Berastégui Lozano
Conversa 16h | FBAUP Aula Magna Rubén H Bermúdez e Pablo Berastégui Lozano Moderação: José Sérgio Inauguração 18h | Rampa

Em “E tu, por que és negro?” (Y tú, ¿por qué eres negro?), Rubén H. Bermúdez questiona a construção da negritude como uma força política em Espanha, a partir da sua própria biografia. O projeto começa como um livro de fotografia e uma exposição, onde as imagens feitas pelo autor se misturam com elementos da cultura popular, e com conversas e elementos simbólicos da sua vida.
Em Espanha, Rubén H. Bermúdez é um dos raros artistas a explorar, na primeira pessoa, a sua identidade como pessoa racializada. Ao contrário de Portugal, que há algum tempo presta atenção às questões relacionadas com o passado colonial e a presença de pessoas racializadas, o país vizinho ainda não aborda, de modo consequente, esse tema.
“E tu, por que és negro?” apresenta-se como um convite para partilhar experiências e promover um diálogo sobre as questões identitárias de ambos os países ibéricos, à luz das realidades sociais e demográficas contemporâneas.
Esta exposição foi exibida em locais como na CaixaForum de Madrid e Barcelona, a Bienal de Fotografia de Bamako e o Festival Circulations de Paris. Posteriormente, a esse primeiro corpo de trabalho juntou-se a longa-metragem “A todos nos gusta el plátano”, composto por imagens captadas por sete afrodescendentes em Espanha. O filme foi reconhecido com três prémios (Júri, Público e Jovem) no festival de cinema documental Documenta Madrid 2021. A exposição é complementada pela incorporação de um espaço de documentação de outras experiências de consciência afro em Espanha, através de publicações e materiais diversos. 

Rubén H. Bermúdez (Móstoles, Madrid) é  fotógrafo, designer e professor. Tem formação pela Escola de Fotografia EFTI. Graças à bolsa Fotopres da Fundação La Caixa, Bermúdez teve a oportunidade de produzir o livro de fotografia ‘Y tu, por que eres negro?’ (2017), no qual condensa as principais características da sua prática artística. O seu trabalho tem sido exibido em diferentes espaços, como o Museu Nacional Reina Sofía, e em eventos como os Rencontres de Bamako / Bienal Africana de Fotografia, e foi adquirido pela Coleção de Arte Contemporânea da Comunidade de Madrid, depositada no centro CA2M. Uma nova versão do projeto será apresentada em 2023 no Festival PhotoIreland. Em 2021, realizou a sua primeira longa-metragem, ‘A todos nos gusta el plátano’, que recebeu vários prémios na Documenta Madrid 2021. É co-fundador do coletivo AfroConciencia, um grupo de reflexão e ação coletiva que procura empoderar afrodescendentes, promovendo e motivando o seu papel como agentes de transformação social, e é co-responsável pelo Centro Cultural Espaço Afro de Madrid.
Pablo Berastégui Lozano (Pamplona, 1968) vive e trabalha em Portugal e Espanha. Desenvolveu uma sólida carreira de 20 anos como produtor cultural em diferentes instituições, principalmente em projetos de grande escala. Atualmente é o diretor do projeto de fotografia documental denominado Salut au monde! que iniciou em fevereiro de 2019 no Porto. Foi Diretor Geral de San Sebastián 2016 Capital Europeia da Cultura e anteriormente foi responsável pelos espaços culturais da cidade de Madrid como Matadero Madrid (2008-2012) e o Centro Conde Duque (2013). Foi diretor do Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais PhotoEspaña entre 2003 e 2006. É atualmente professor de Planificação e Gestão de Projetos Culturais no curso de Estudos Curatoriais da Universidade de Navarra. Colabora igualmente como consultor em diferentes projetos culturais em Espanha e Portugal.

19.10.2023 | par martalanca | Rampa, Rubén H. Bermúdez

AfroLab – A Construção das Literaturas Africanas

O projeto de investigação AfroLab – A Construção das Literaturas Africanas. Instituições e Consagração dentro e fora da Língua Portuguesa 1960-2020 (PTDC/ LLT-OUT/6210/2020) convida-vos a estar presentes no Simpósio Internacional AfroLab 2023 – Escritas Afrodescendentes, a decorrer nos dias 9 e 10 de novembro deste ano, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Introduzido nos anos noventa do século XX por intelectuais e ativistas como forma de se referirem a uma subjetividade africana ancestral, o termo “afrodescendente” tem vindo a conhecer, nos anos recentes, crescente destaque. A realização, em 2001, da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias consolidou a “afrodescendência” enquanto categoria analítica e de luta ao reconhecer não apenas a existência destas esferas populacionais, mas, também e sobretudo, as disparidades socioeconómicas que historicamente as afetam. Na reta final da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) proclamada pela Assembleia Geral da ONU, urge repensar este conceito diverso, polimórfico e heterogéneo, atentando, simultaneamente, nos desafios hoje enfrentados pelas comunidades.

18.10.2023 | par martalanca | afrolab, literaturas africanas

2720 estreia em Espanha no Festival Internacional de Cine de Gijón

A curta-metragem de ficção 2720, de Basil da Cunha, está selecionada para a Competição Internacional do 61.ª edição do Festival Internacional de Cine de Gijón, onde fará a sua estreia em Espanha.
 

Jyzone acaba de sair da prisão. Encontrou um novo emprego, mas as pessoas com quem se cruza a caminho do trabalho correm o risco de o fazer chegar atrasado ao seu primeiro dia. Através de um retrato coreográfico e poético, delineado por um hábil trabalho de câmara, Basil da Cunha explora o violento bairro da Reboleira, em Lisboa, com a participação dos seus habitantes.
Realizada por Basil da Cunha, com produção da Filmaporto - film commission e coproduzido por Edgar Medina (Arquipélago Filmes), 2720 (2023, Portugal / Suíça, FIC, 25 min) explora a vida no perigoso bairro da Reboleira, em Lisboa. Comissionada e coproduzida pelo Batalha Centro de Cinema, a curta-metragem ganhou o Prémio do Público no festival Curtas Vila do Conde 2023 e foi selecionada para as competições internacionais dos festivais Visions du Réel e International Short Film Festival Oberhausen.
Para Basil da Cunha, realizador suíço de origem portuguesa, cujo trabalho foi apresentado em Cannes, o filme é uma oportunidade “para viver um lugar e o seu tempo, mas também para descobrir a riqueza de cada uma das personagens que encontramos no nosso caminho”. É a apresentação de um lugar que é também “um retrato onde a ficção e a realidade coabitam de uma forma estranhamente poética”, ao mesmo tempo que colide com o desfecho trágico de uma vida fora da lei, com as violentas rusgas policiais que ecoam ao longo do filme.
2720| Festival Internacional de Cine de Gijón

Basil da Cunha
Realizador suíço de origem portuguesa, Basil da Cunha nasceu em 1985. Paralelamente aos seus estudos em ciências políticas e sociologia, realizou várias curtas-metragens de produção própria antes de co-fundar a Thera Production. Em 2009, iniciou a sua formação em cinema na Universidade Head, em Genebra. No seu primeiro ano, Basil realizou o filme “A Côté”, que foi nomeado para o Prix du Cinéma Suisse 2010 e recebeu o Prémio de Melhor Filme Nacional no Curtas Vila do Conde 2010. No final de 2010, filmou “Sunfish” em Lisboa. Este filme foi apresentado na Quinzaine des Réalisateurs (Cannes) em 2011. Em 2014, Basil da Cunha realizou “Nuvem Negra”, um filme experimental no âmbito da Bienal da Imagem em Movimento (Genebra). A sua mais recente longa-metragem, “O Fim do Mundo”, teve a sua estreia mundial em Locarno e foi exibida noutros festivais de prestígio, como Busan, Milão e São Paulo. Foi premiado em Les Arcs e Valladolid antes de ganhar o prémio de melhor fotografia no Prix du Cinéma Suisse em 2020.

FICHA TÉCNICAPRODUÇÃO: Filmaporto - film commission, Edgar Medina (Arquipélago Filmes)
DISTRIBUIÇÃO: Agência da Curta-Metragem  
REALIZAÇÃO: Basil da CunhaARGUMENTO: Basil da CunhaFOTOGRAFIA: Vasco Viana
SOM: Rafael CardosoMONTAGEM: Basil da CunhaELENCO PRINCIPAL: Jason Varela, Camila Diniz
 


18.10.2023 | par martalanca | 2720, Basil da Cunha

Alkantara Festival 2023

Nos 30 anos desde a primeira edição do Danças na Cidade, o Alkantara Festival está de volta com uma programação de encantamentos e inquietações, que questiona os limites da empatia – daquilo que somos capazes de compreender, a partir das nossas experiências individuais. De 10 a 26 de novembro, em vários palcos - e num bairro - de Lisboa. Eis a programação completa do Alkantara Festival 2023.

Entre 10 e 26 de novembro, o Alkantara Festival regressa com um programa de nove espetáculos de artistas nacionais e internacionais, três projetos de curadoria - no fundo, três festivais dentro do festival - e ainda duas festas e um conjunto de encontros e de conversas - e de inícios de outras. Um programa que, a partir das práticas artísticas contemporâneas, se constrói na confluência de histórias e experiências, várias delas de violência e desconforto, ora contadas na primeira pessoa, ora reencenadas por outras.

Até onde podemos ir? Quão próximo conseguimos chegar? De realidades que nos são próximas ou distantes, as propostas do Alkantara Festival 2023 atravessam questões identitárias, problemas ecológicos, sociais e políticos. Mas apresentam também possibilidades de celebração, de emancipação, de construção a partir do reconhecimento de que somos múltiplos, e de que o que conseguimos compreender tem limites. É com esses limites que este programa nos confronta, para lá do encantamento com a beleza do desconhecido.

Um “não” radical para salvar o que amamos

O fim-de-semana de abertura conta com a estreia nacional de Whitewashing, de Rébecca Chaillonencenadora e performer martinicana sediada em Paris, no Teatro do Bairro Alto. Como podem as mulheres negras cuidar de si e dos seus corpos numa sociedade dominada pela branquitude? O público é convidado a olhar, a observar, enquanto o corpo que a sociedade deseja tornar invisível se torna cada vez mais inevitável na sua presença. Num antigo espaço industrial em Alvalade, segue-se F(r)esta, uma celebração organizada pelo núcleo MeioFio (Ágatha Cigarra e a sua equipa, formada por Era Jaja Rolim, Alex Simões e Renato Kurup), que através das suas pesquisas percorre os propósitos e impulsos da festa e a sua inevitabilidade.

No mesmo fim-de-semana, na Culturgest, reflete-se sobre poder, resistência e lei no Brasil contemporâneo, no espetáculo Antígona na Amazónia, do suíço Milo Rau/NTGent & MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A luta pela reforma agrária, os massacres contra o MST, os genocídios negro, indígena e transgénero, as alterações climáticas e o agronegócio são elementos desta história funesta, mas não sem esperança - se nos apressarmos a dizer um “não” radical para salvar o que amamos. Em palco quatro pessoas-intérpretes revezam-se entre a interpretação das personagens de Sófocles e de si próprias, num espetáculo que junta a tragédia grega clássica, a sua adaptação à Amazónia contemporânea e a história da construção do próprio espetáculo.

A convite do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian e do Alkantara, o coletivo japonês Chim↑Pom from Smappa!Group desenvolve Side Trip, um programa integrado na Engawa - Temporada de arte contemporânea japonesa. Desafiando os limites de uma rua em Marvila, a intervenção dos membros do coletivo reclama este espaço público como lugar de convivialidade. Com início num magusto, a 11 de novembro, esta intervenção conta com um programa público de eventos - encontros, performances, workshops e comida - pensado em colaboração com grupos comunitários dos bairros de Marvila.

Entre os dias 11 e 14 de novembro, o Espaço Alkantara acolhe Pedra Pele Pulmão - outro dos três programas de curadoria integrados no Alkantara Festival 2023. Concebido pelo Terra Batida, e resultado de uma residência coletiva no município do Fundão, Pedra Pele Pulmão tem coordenação de Ritó (Rita Natálio), e reúne propostas artísticas de Alina Ruiz Folini, Teresa Castro, e do coletivo humusidades, em diálogo com vários outros artistas, ativistas e pesquisadores. Composto por um conjunto de performances, conversas e um workshop e tomando como ponto de partida o corpo, ensaiam-se especulações sobre os problemas da mineração e da monocultura, a partir das especificidades da região do Fundão.

Kilombo, com curadoria de Aurora NegraKilombo, com curadoria de Aurora Negra

 

“Não perguntamos apenas sobre quem cortou as raízes”

Na segunda semana de Alkantara Festival, o São Luiz Teatro Municipal recebe de 17 de 19 de novembro Kilombo, um programa de três dias com curadoria de Aurora Negra (Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema). Kilombo, que teve já uma primeira edição no Espaço Alkantara, em 2021, regressa para uma segunda edição, de novo como lugar de “celebração, reunião e resistência” de uma comunidade, com performances, música, cinema, comida e uma exposição.

Nos dias 17 e 18, no palco da sala Luís Miguel Cintra, Calixto Neto apresenta Feijoada. Uma roda de samba em que músicos, performers e o público dançam, cantam e partilham uma feijoada brasileira, aprofundando a relação - pessoal e política - entre Brasil, Portugal e a diáspora africana. “Não perguntamos apenas sobre quem cortou as raízes, queremos saber quem afiou as facas.” Este é o mote para denunciar as camadas de opressão do legado da colonização.

Gaya de Medeiros apresenta uma nova versão de Pai para Jantar (17 a 19 na Black Box do Centro Cultural de Belém). Pai para Jantar constrói-se num jogo com o público que tenta esmiuçar a masculinidade de forma poética e bem-humorada, brincando com os modos como agenciamos palavras, afetos e arquétipos ao redor da ideia de “ser homem”. E propõe um caminho subjetivo em direção ao lastro dos nossos pais, que perdura na nossa personalidade e que está na base de muitos desejos e fracassos.

Nos mesmos dias, no TBA, Marco Mendonça estreia o seu primeiro espetáculo a solo: Blackface. Uma conferência musical, entre o stand-up, a sátira e o teatro documental e autobiográfico que, através de uma extensa pesquisa visual e diferentes sketches humorísticos percorre cinco séculos de história para falar do longo e doloroso legado da prática racista do blackface.

 

Às vezes precisamos de conversar com outra pessoa para nos conhecermos

No terceiro e último fim-de-semana do festival, de 24 a 26 de novembro, Sónia Baptista celebra a sexualidade e o despudoramento no envelhecimento em Sweat, Sweat, Sweat (Um conjunto de pequenos afrontamentos). Na sala Mário Viegas do São Luiz, entre inquietações e frustrações, a artista desmonta a inevitabilidade do envelhecimento e da menopausa, em todo o seu esplendor sintomático, sem romantização, descobrindo fluidos, serenos e reconfortantes entendimentos da sexualidade, da espiritualidade e da identidade de género.

Nos dias 24 e 25, ao palco do grande auditório da Culturgest sobe um elenco constituído por pessoas da comunidade transgénero de Abidjan, uma das mais populosas cidades africanas e capital económica da Costa do Marfim, onde nasceu a coreógrafa Nadia Beugré. A sua obra Profético (Nós já nascemos) resulta do contacto que tem mantido com essa comunidade: pessoas que, designadas à nascença como rapazes, flutuam entre géneros num gesto de reivindicação de liberdade feroz, numa sociedade extremamente patriarcal que, na melhor das hipóteses, finge que não as vê.

Às vezes precisamos de conversar com outra pessoa para nos conhecermos, e, na escuridão da noite dos dias 25 e 26, acontece, no TBA, Fazer Noite, de Bárbara Bañuelos. Um espetáculo que é uma conversa entre Bárbara, encenadora espanhola, e Carles A. Gasulla, guarda-noturno num parque de estacionamento. Ocupando as cadeiras vazias entre o público, Bárbara e Carles conversam sobre livros que leram, sobre precariedade laboral, sobre colonialismo, saúde mental e estigmas sociais, convocando o público para um exercício de empatia e de vulnerabilidade coletiva.

Em Uirapuru, a 25 e 26 no São Luiz, o coreógrafo brasileiro Marcelo Evelin e a sua companhia, a Demolition Incorporada, inspiram-se nas entidades que habitam as florestas do Brasil e no imaginário das matas brasileiras. A floresta apresenta-se como espaço de encantamento, como lugar de regresso, um interior profundo e desconhecido. Uirapuru é o cantor da floresta. Significa, em tupi-guarani, “o homem transformado em pássaro” ou “ave enfeitada”.

No penúltimo dia do festival, a garagem da Culturgest é tomada por Montação, do coletivo Afrontosas (Antonyo Omolu, Di Candido, aka DIDI, e Rodrigo Ribeiro Saturnino, aka ROD), numa celebração LGBTQIAP+ das manifestações de (r)existência queer, negra em diáspora, ressignificando e redimensionando o imaginário das festas queer, que o coletivo frequenta desde sempre – de Lisboa até o Rio de Janeiro, passando por Cabo Verde, Guiné e outras distâncias afrodiaspóricas.

Além dos espetáculos, a programação de 2023 do Alkantara Festival é marcada por uma série de conversas pós-espetáculo, com moderação de Raquel Lima, para trocas e reflexões sobre os processos criativos e os temas abordados; o programa Trilhas, com a moderação de Amina Bawa, desenvolvido em parceria com associações culturais e coletivos informais que desenvolvem ações junto das comunidades LGBTQIAP+, migrantes e refugiadas, pessoas com deficiência e pessoas afrodescendentes, numa procura de construir caminhos para que pessoas ainda ausentes como público das grandes salas de espetáculos de Lisboa estejam cada vez mais presentes; e Matéria Leve, um grupo de estudo em iluminação cénica coordenado por Leticia Skrycky e atravessado por três linhas: pesquisa, experimentação e técnica.

Também no contexto do festival, decorrem dois encontros de projetos desenvolvidos com o apoio da União Europeia, no âmbito do programa Europa Criativa: Common LAB 2023, o primeiro de 3 laboratórios integrados no projeto Common Stories, que junta organizações de artes performativas, artistas e públicos para ampliar narrativas europeias e abordar as noções dinâmicas de identidade e diversidade, numa sociedade europeia em transformação, e conta com a conferência Common Stories: Reformular a Autoridade e a Autoria nas Artes, dia 20 de novembro, na Culturgest, onde se refletirá sobre apropriação cultural, destituição autoral, racismo cultural, assim como outras lógicas de extrativismo artístico; e In Ex(ile) Lab, um projeto de dois anos que procura apoiar a integração profissional de um grupo de 12 artistas que se mudaram recentemente para Chipre, França, Itália ou Portugal, oferecendo condições para a criação de uma performance, para o desenvolvimento de contactos profissionais e para chegar a novos públicos no espaço europeu.

 

O Alkantara Festival 2023 é coproduzido por Centro Cultural de Belém, Centro de Arte Moderna (CAM) - Fundação Calouste Gulbenkian, Culturgest, São Luiz Teatro Municipal e Teatro do Bairro Alto, e tem apoio à apresentação do Institut Français, do projeto MaisFRANÇA, uma temporada concebida pelo Instituto Francês de Portugal, da Ação Cultural Espanhola (Programa para a Internacionalização da Cultura Espanhola) e do Flanders State of the Art. Alkantara é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes e pela Câmara Municipal de Lisboa.

Programa completo em alkantara.pt

 

18.10.2023 | par martalanca | Alkantara

Com música e reivindicação de uma maior participação de estudantes negros e lusófonos NEAL - da NOVA FCSH - realiza empossamento.

Dia 12 de outubro de 2023 decorreu no Campus da Avenida de Berna o empossamento do novo corpo directivo do NEAL, Núcleo de Estudos Africanos e Lusófonos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH). O novo corpo directivo reivindica maior participação dos estudantes negros e lusófonos na vida da Universidade. Para a guineense Eunice Gomes, estudante da licenciatura em Antropologia e eleita a nova Presidente do NEAL: “a universidade é um reflexo da sociedade e em uma sociedade estruturalmente racista, como a sociedade portuguesa, a universidade também reproduz uma lógica racista”. A nova presidente do NEAL reforça a importância de se ter um núcleo de estudos africanos e lusófonos atuante e forte dentro da universidade, pois nas suas palavras “é  preciso descolonizar o conhecimento e a academia”.

Corpo directivo do NEAL – Foto Rosa NevesCorpo directivo do NEAL – Foto Rosa Neves

A NOVA FCSH nasceu em 1973 com o influxo de modernização já no fim da ditadura, isto é, a NOVA nasceu em um período de abrandamento, na antevéspera dos ventos de abril. Se os valores de abril são referências para o futuro, já que trazem consigo os ideais de liberdade, igualdade e justiça, o NEAL acredita que a universidade não pode reproduzir lógicas de opressão e discriminação.

Aly Só,  guineense, Presidente da Mesa da Assembleia e estudante da licenciatura em História conta: “ao chegar à NOVA FCSH sentia-me peixe fora d’água. Sentia-me perdido. Foi duro no início. Não sabia como funcionava a universidade, nem as avaliações”, e explica: “Ao descobrir  o NEAL e ser membro do núcleo senti-me integrado na universidade e senti uma maior abertura. Com o NEAL perdi o medo de conversar com as pessoas e percebi a importância de trabalhar em conjunto e de estarmos organizados politicamente”. Já Lara Menezes, portuguesa e filha de pais santomenses, estudante da licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas e Vice-Presidente do NEAL, explica que: “regressando para Portugal depois de 14 anos a viver em Londres tive um choque ao ver a falta de diversidade na NOVA FCSH ”. Lara relata: “a maior parte das vezes eu sou a única aluna negra da sala e até descobrir a existência do NEAL, por não me sentir integrada, eu só vinha para universidade para assistir aulas. O NEAL permitiu-me compreender que estar na  universidade é mais do que isso. Permitiu-me sentir acolhida”.

Alunos da NOVA FCSH fazem brinde a nova gestão do NEAL – Foto Elizabeth OlegárioAlunos da NOVA FCSH fazem brinde a nova gestão do NEAL – Foto Elizabeth Olegário

Elizabeth Olegário, doutoranda em Estudos Portugueses, investigadora do CHAM e novo membro do corpo directivo do NEAL explica que é preciso ver a realidade dos estudantes e investigadores estrangeiros como uma questão maior, pois eles não são mais um pequeno segmento das universidades portuguesas. Elizabeth Olegário reforçou os problemas desses estudantes e investigadores no seu recém artigo publicado na edição de setembro do Le Monde Diplomatique – Ed. Portuguesa. O artigo intitula-se: “Estudantes e Investigadores Estrangueiros: Muitos, mas quase invisíveis” Estudantes e investigadores estrangeiros: muitos, mas quase invisíveis, por Elizabeth Olegário (Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa, Setembro 2023 ).

Elizabeth Olegário

16.10.2023 | par martalanca | Estudos Africanos, FCSH

Big Bang Henda, de Fernanda Polacow

Derrubando estátuas e símbolos, construindo novas memórias, enquadrando a paisagem destruída, escrevendo cartas para o futuro, revertendo dinâmicas de poder: Big Bang Henda é um documentário-poesia-manifesto sobre o trabalho do artista angolano Kiluanji Kia Henda. Ele leva-nos numa viagem pelas suas criações e reflexões, que estão na vanguarda do pensamento anticolonial, instando-nos a considerar a forma como as gerações que cresceram durante ou no rescaldo da guerra reinterpretam esse acontecimento.

Doc Lisboa 24 Out • 19:00 / 21’
Culturgest - Auditório Emilio Rui Vilar

 

16.10.2023 | par martalanca | Doc Lisboa, kiluanji kia henda

"Fotografar Abril: a Memória da memória da Revolução Portuguesa" - Ellen W. Sapega - 20 de Outubro 2023, 16h30-18h00 - Faculdade de Letras de Lisboa

The interactive seminar cycle “Memory, Culture and Citizenship in Post-Colonial Nations” is back!
The first session of the academic year will also be the inaugural session of the seminar series “50 years of April: Citizenship, Culture and Memory” organized by the research group CITCOM.
Our guest speaker, Ellen W. Sapega (University of Wisconsin - Madison), will present her work on the photographic memory of the Carnation Revolution.The photographs taken in Lisbon on 25 April 1974 and in the days that followed continue to challenge the viewer almost 50 years later, partly because many of them contain a complicit relationship between subject and object - between the photographer and the authors of the actions they intend to capture. Some of these photographs continue to circulate over the years, sometimes appearing in quite unexpected places and spaces; thus, they have already gained the status of lieux de mémoire that codify and condense the collective memory of the revolution.
Moderated by anthropologist Elsa Peralta (CeComp, FLUL), this session will be held in Portuguese.
Organization: CITCOM, Legacies of Empire and Colonialism in Comparative Perspective, and “Constellations of Memory: a multidirectional study of postcolonial migration and remembering”
(PTDC/SOC-ANT/4292/2021)
Location: Room C138.A, FLUL
Date: 20 October 2023, 4:30-6 PM
More info here and here.

16.10.2023 | par martalanca | abril, fotografia

Lançamento I “De quem se esqueceu Lisboa? - A luta pela inscrição da memória anticolonial no espaço público”, de Leonor Rosas

No dia 18 de outubro, às 19h, na Biblioteca do Goethe Institut Lisboa, será apresentado o livro “De quem se esqueceu Lisboa? - A luta pela inscrição da memória anticolonial no espaço público”, de Leonor Rosas. O livro será apresentado pela antropóloga Elsa Peralta (CeComp, FLUL), pelo historiador Miguel Cardina (CES) e por Djuzé Lino da Associação Batoto Yetu. Esta obra, publicada âmbito do projeto Constellations of Memory, financiado pela FCT, reflete sobre a perpetuação das narrativas lusotropicais e brancas no espaço público lisboeta, procurando perceber de que forma se podem ler relações de poder nesta paisagem memorial, e sobre as possibilidades e projetos de inscrição de memórias contra-hegemónicas, anticoloniais e antirracistas no mesmo. Contamos com a tua presença!

 

On the 18th of October, at 7pm, at the Goethe-Institut Lisbon Library, the book “De quem se esqueceu Lisboa? - A luta pela inscrição da memória anticolonial no espaço público”, by Leonor Rosas will be presented. The book will be presented by the anthropologist Elsa Peralta (CeComp, FLUL), the historian Miguel Cardina (CES) and Djuzé Lino from the Batoto Yetu Association. This work, published as part of the Constellations of Memory project, funded by FCT, reflects on the perpetuation of Lusotropical and white narratives in Lisbon’s public space, seeking to understand how power relations can be read in this memorial landscape, and on the possibilities and projects for inscribing counter-hegemonic, anti-colonial and anti-racist memories in it. Hope seeing you there!

16.10.2023 | par martalanca | lisboa, memória

NOVAS CARTAS PORTUGUESAS - PUBLICAÇÃO E PROCESSO

SEMINÁRIO #10 23 de outubro de 2023, 16h00 (GMT+1) Adriana Bebiano (CES/FLUC)

O ciclo As Tramas da Memória: datas para contar é organizado pela coordenação da linha de investigação Europa e o Sul Global: patrimónios e diálogos do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. O ciclo visa assinalar e refletir sobre datas menos sonoras, mas igualmente determinantes para a construção do 25 de Abril de 1974 e das independências dos países africanos de língua oficial portuguesa e de Timor-Leste. Os seminários decorrem online, sempre que possível na data a assinalar, todos os meses, pelas 16 horas, ao longo de 2023. Esta atividade está integrada na iniciativa do CES, «50 anos de Abril».

16.10.2023 | par martalanca | Tramas da Memória

Memórias em Tempo de Amnésia II, de Álvaro Vasconcelos

Neste segundo volume de Memórias em Tempo de Amnésia, acompanhamos o percurso de Álvaro Vasconcelos da África colonial para a Europa, num reencontro com Portugal lá fora, em Bruxelas e Paris.Relata o encontro com exilados políticos e da guerra e com os emigrantes, que se iam integrando na vida democrática, mesmo que a ditadura procurasse afastá‐los da luta pela liberdade, ampliando a narrativa lusotropicalista e transformando a saudade em mito identitário nacional.É uma crónica dos longos anos 60 que terminaram, como este livro, com o 25 de Abril e o Primeiro de Maio de 1974. Um retrato da revolução cultural dos anos 60, que teve o seu epicentro em Maio de 68, em Paris, que desconstruiu a sociedade patriarcal e ampliou os direitos humanos, afirmando o feminismo e tornando o racismo e o machismo ilegítimos. O livro é a afirmação do dever de memória sobre a brutalidade e a miséria do Portugal da ditadura, lembtando os que se revoltaram em nome da liberdade, na multiplicidade de vozes de militantes políticos, artistas, ativistas associativos, num tempo em que a Europa democrática, que tirara as lições da Segunda Guerra Mundial, era terra de asilo e de  solidariedade antifascista.Aqui ouvimos vozes dessa geração, como, entre outras, a de Maria Teresa Horta,  Sérgio Godinho, Hélder Costa, Helena Cabeçadas, Ana Benavente, Teresa de Sousa, Irene Pimentel, Mário Mesquita, Pedro Bacelar de Vasconcelos, João Escórcio, João Bernardo Honwana, Miguel Dias Vaz. Em conversa com Álvaro Vasconcelos, relatam as aspirações e os  ideais que permitiram a conquista da liberdade e o fim do colonialismo. O livro integra também a memória dos processos que permitiram que utopias libertadoras se empedernissem em totalitarismos mortíferos, que o niilismo triunfasse, ao mesmo tempo que surgiam os primeiros sintomas da contrarrevolução conservadora – que ganhou ainda mais força neste século, com o ressurgimento da extrema-direita.

15.10.2023 | par martalanca | Memórias em tempo de amnésia