Discurso de Saudação de Gurminder K. Bhambra, Presidente da Associação Britânica de Sociologia
Sinto-me verdadeiramente feliz por ter sido eleita presidente da Associação Britânica de Sociologia, e é com gosto que irei continuar o excelente trabalho de Susan Halford, que durante o seu mandato enfrentou o auge da pandemia COVID. É uma honra e uma responsabilidade. Temos perante nós desafios muito consideráveis e, como recém-empossada presidente, esses desafios serão o foco das minhas actividades.
A pandemia combinou-se com outras crises, que em conjunto trouxeram para o primeiro plano questões fundamentais da desigualdade social, tanto nacional como global. Das diferentes consequências da pandemia COVID-19 em cada país, às disparidades no processos de disponibilização de vacinas entre países; da hostilidade politicamente organizada contra migrantes e minorias, à escalada da violência e instabilidade geradora de pessoas refugiadas; da captura por parte das elites de uma parte cada vez maior da riqueza global, a um aumento global da pobreza e da miséria, e até mesmo as interligações entre o crescimento e o esgotamento no centro da degradação ambiental e da catástrofe climática, tanto iminente como histórica.
As desigualdades que marcam e moldam estes diferentes exemplos não são internas aos países ou às situações, mas transcendem fronteiras e limites; são globais tanto no que diz respeito às suas configurações contemporâneas, como à sua constituição histórica. De igual modo, as soluções para tais problemas serão globais, ou seja, estruturais.
No entanto, a sociologia tem estado ausente de muitos destes debates: não por falta de vontade ou de empenho, mas porque a resposta política dominante tem sido organizada em termos individuais; tem favorecido a ciência comportamental e a agência individual à negligência da sociologia das estruturas sociais.
Ao abordar as estruturas sociais e as soluções colectivas, é necessário que a sociologia aborde também as suas próprias noções. Os conceitos e categorias que utilizamos enquanto sociólogas e sociólogos, por exemplo, foram construídos com base em histórias particulares do Estado-nação e em ideias de modernidade e de filiação. Se essas histórias não explicarem de forma adequada o nosso passado comum mais lato, então esses conceitos e categorias irão reproduzir as próprias desigualdades que de outra forma procuramos resolver.
O que é necessário, sugiro, é uma sociologia reparadora, empenhada em desfazer as insuficiências que se alojaram na nossa disciplina e trabalhar para um projecto de reparação e transformação para um mundo que funcione para todos nós, tendo ao mesmo tempo em mente a necessidade de abordar as questões que agora nos confrontam.
Ao enfrentarmos a ameaça ao futuro do nosso mundo, temos de nos lembrar que o nosso mundo foi construído sobre a destruição do mundo dos outros. Como enfrentar a catástrofe climática por vir, bem como as que já se verificaram? Proponho que uma ética pós-colonial nos obriga a manter ambas as questões dentro de um enquadramento comum.
Este é um momento crítico para a sociologia e um momento crítico para nós como sociólogas e sociólogos. O desafio que temos perante nós é o de desenvolver uma sociologia que garanta um futuro à escala planetária.
Enquanto sociólogas e sociólogos, entendemos que este é, necessariamente, um projecto colectivo; A Associação Sociológica Britânica é uma organização de membros que acredita no poder da associação para fazer a diferença no mundo.
Junta-te a nós”.
Gurminder K. Bhambra é uma teórica, e intelectual pública especializada em sociologia histórica pós-colonial e global. O seu trabalho corrente centra-se na justiça epistemológica e reparações.