Numa cidade cada vez mais imersa num imaginário de postais turísticos, ativos imobiliários e visões alienistas — onde o quotidiano de quem a habita tende a desaparecer -, Lisboa Mesma Outra Cidade propõe uma outra cartografia. Este segundo volume reúne sete ensaios fotográficos e três crónicas literárias que traçam um retrato fragmentário, íntimo e atento da cidade vivida por dentro. Mais do que definir o que Lisboa “é”, trata-se aqui de multiplicar as formas de ver, pensar e imaginar a cidade a partir de quem nela caminha, observa e habita.
Cidade
18.09.2025 | por David-Alexandre Guéniot e Catarina Botelho
Lisboa é completamente segregada mas não se nota porque é um espaço onde transitam pessoas de vários lugares e backgrounds. Mas é isso, elas só transitam, não habitam, não vivem, não usufruem da cidade. Elas só trabalham, só servem. E as pessoas que habitavam a cidade têm sido empurradas para fora dela, embora precisem de voltar diariamente para a servir. E nesses lugares para onde são empurradas não há nada além da cama. Quando tentam voltar para usufruir da cidade, nos poucos tempos que vão tendo livres: não há transporte.
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18.09.2025 | por Marta Lança
Paralelamente às suas primeiras estórias escritas e avulsamente publicadas, em finais da década de 1950, escreveu Luandino alguns poemas que circularam em jornais e revistas, tendo a poesia, no seu mais apurado grau de elaboração e factura, tomado e entranhado o rigor da prosa que foi escrevendo num crescendo de oficina lenta, implacável, furiosamente pessoal, encantatória. E que maravilhosa antologia poética se pode fazer com os «pontos luminosos» (Ezra Pound) da sua obra de ficção! Eis, entre tantos outros possíveis, um exemplo — obviamente não cooptado para este livro, mas aqui convocado pela sua fulgurante potenciação poética inequívoca:
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18.09.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves
Esse trabalho analítico mobilizou a diversidade de saberes e experiências dos membros do grupo de trabalho, em todas as áreas que interagem na conceção e na elaboração do Manual, enquanto instrumento de suporte do ensino e da aprendizagem da língua materna e da cultura cabo-verdiana. São saberes e especializações em Linguística, Sociolinguística, Crioulística, Língua Cabo-verdiana e Literatura Cabo-verdiana; em Didática das Línguas, Pedagogia e Desenvolvimento Curricular. São saberes e experiências na conceção e na implementação de projetos bilingues, dentro e fora de Cabo Verde; no exercício da docência de várias disciplinas e da própria língua cabo-verdiana, do ensino básico ao universitário, em Cabo Verde e em Portugal;
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18.09.2025 | por várias
Embora haja numericamente muitos brasileiros em Portugal, nossa representatividade e influência em espaços públicos de discussão e decisão ainda não correspondem ao nosso volume populacional. Isso se deve, em grande parte, aos entraves burocráticos que consomem nosso tempo e energia, e também à desinformação. Muitas vezes, não sabemos como ou onde buscar orientação para participar mais ativamente da vida cívica, o que acaba silenciando nossa voz coletiva e limitando nossa capacidade de advocacy e de reivindicação de direitos.
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17.09.2025 | por Marta Lança
Portugal é um país de imigrantes, com uma história de idas e vindas, mas sei que há muitos casos de preconceito contra imigrantes de várias nacionalidades, potencializados por discursos de extrema-direita que os culpabilizam. Vejo pessoas vivendo em sistema rotativoss s em apartamentos (enquanto uns dormem de dia, outros trabalham à noite e vice-versa). Há preconceito nos serviços públicos e nas escolas. Não é algo exclusivo de Portugal, mas infelizmente faz parte do dia a dia em Lisboa.
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17.09.2025 | por Marta Lança
Esses movimentos servem para: Informar as pessoas sobre os seus direitos e deveres; Incentivar a participação comunitária em temas como habitação, violência policial, racismo e exclusão; Pressionar o Estado a implementar políticas públicas reparadoras; Trazer essas discussões para o centro do debate político e social. Mais do que protestar, estes coletivos estão a construir consciência cidadã, mostrando que temos direito a uma cidade justa, e que também temos poder para transformar essa realidade.
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15.09.2025 | por Marta Lança
A história de Adilson inscreve a de muitos "crioulos sem chão" que carregam Portugal às costas sem nunca poderem pertencer. «Eu não sou português, sou Portugal», a frase manifesto que valeu a Dino de Santiago vários comentários de haters e bots de extrema direita. O espetáculo rompe com o mito da integração: a realidade é feita de esperas, recusas e silêncios, mães que morrem no desgoto antes de verem resolvidos a cidadania. As personagens desfazem o mito da identidade ligada aos lugares concretos, somos feitos daquilo que trazemos, das curvas do bairro. Os nossos corpos são pátria. O que é que me espera do outro lado do mar?, A luta chama, será que eu vou? De que lado estou? E a pergunta meio ameaçadora: Quer ou não quer ser português? Lembrei-me da banda Miss Universo, que parecem responder a esta pergunta com outra mais interessante «explica lá outra vez o que é que ser português?»
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14.09.2025 | por Marta Lança
Se o surgimento do movimento dos Soulèvements de la terre foi a melhor notícia dos últimos anos no que diz respeito às lutas ecológicas e ambientais, a publicação do livro que aqui abordamos parece-nos um contributo essencial, com os recursos teóricos, táticos e estratégicos que nos apresenta, para as lutas ecológicas, agrícolas e sociais, transmitindo o gosto e a necessidade absoluta da ação direta coletiva.
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12.09.2025 | por várias
A criação é fluída, assim como foi o processo. O que começou com uma residência artística a solo de Sergio García (a primeira de um artista estrangeiro no Estúdio-V), rapidamente evoluiu numa conexão criativa com Mac Verkron, com a intenção deliberada de refletir em conjunto a crueza e dureza estética de fogo, ar, madeira e de outros elementos naturais, cada um com um significado espiritual.
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11.09.2025 | por Pedro Cardoso
Um trabalho sobre a vida da Mulher saharaui exilada há 50 anos no deserto mais inóspito do planeta. Cada peça apresenta uma imagem da realidade que as mães saharauis viveram durante um verão e um inverno, no deserto hamada. “Esta coleção conta uma história de resistência que perdura há mais de cinquenta anos, convidando o público a entender uma realidade frequentemente ignorada. É uma oportunidade única de aproximação à riqueza cultural e humana do povo saharaui, despertando empatia e reflexão através da arte.”, declara o artista plástico.
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11.09.2025 | por Maria Frederica
Achei-as muito exuberantes na postura e aparência. Cumprimentavam-se pelos nomes e perguntavam longamente como estavam os familiares. Moviam-se diretamente para o seu assento cativo e conversavam sobre os mais variados temas. Estavam em casa. A familiaridade com que se moviam no barco e falavam de uma fila para a outra, como diziam a pessoas estranhas para estarem à vontade, comprovava que aquele era o seu território de direito. Na hora do desembarque despediam-se rapidamente, voltavam a encolher-se nos casacos, e saiam desfazendo os laços de proximidade estabelecidos no interior do barco. Cada uma em sua direção e a velocidades distintas. Umas corriam para o metro, outras para os autocarros e outras, provavelmente, para os elétricos, ou até mesmo para outro barco. Desapareciam num ápice.
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10.09.2025 | por Marta Lança
Nesta Marxa, sob o mote “Di povu pa povu: Libertação, Dignidade e Soberania popular”, reconhecendo a importância indiscutível das lutas pela independência, olhamos criticamente para o percurso feito até agora e afirmamos o nosso compromisso com a luta pela soberania popular e panafricana ainda por construir.
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10.09.2025 | por vários
Além do atropelo de todos os comandos legais sobre a língua cabo-verdiana, que é, nem mais, e por lei da Assembleia Nacional, «fundamento de soberania», e por isso objeto de proteção especial, e daí a exigência constitucional da intervenção do senhor presidente da República, não podendo nenhuma intervenção técnica num simples manual escolar mudar a sua feição, há ainda a incompetência orgânica do ministério da educação para a realização de um ato de padronização linguística, ainda que encapotada, pois as mentes engendradoras de tal façanha, apesar das evidências em contrário, e por todos apontadas, juram por este mundo e pelo outro que não se trata de tal coisa.
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10.09.2025 | por José Luiz Tavares
O termo “laboratório” carrega aqui um duplo sentido. Por um lado, evoca a condição histórica de São Tomé e Príncipe como território-experiência: nas roças ensaiaram-se formas extremas de exploração agrícola, racial e social, espelhando no Atlântico o que já acontecia nas plantações americanas. Por outro lado, o laboratório afirma-se hoje como espaço de criação, de ensaio artístico e de produção crítica, onde a experiência coletiva se converte em imaginação partilhada. De entreposto de corpos arrancados às suas terras, as ilhas tornam-se entreposto cultural, lugar de circulação de ideias, linguagens e estéticas que devolvem ao mundo a sua própria imagem.
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09.09.2025 | por vários
Estranho seria que, sobretudo numa fase experimental, as autoras e avaliadoras externas do Manual (que nele também participaram) se recusassem a escutar e a debater avaliações críticas e sugestões, particularmente se resultantes de uma análise cuidada e séria, feita por membros, alguns honorários, como eu, de uma Associação que, não sendo de linguística nem para linguistas, se dedica ao estudo, promoção e valorização da língua cabo-verdiana. O próprio Ministro da Educação, numa intervenção televisiva, se afirmou aberto a observações e críticas científicas.
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07.09.2025 | por Dulce Pereira
Em 1977, o Diário de Notícias publicou algumas notícias dando conta da contestação à definição de nacionalidade portuguesa consagrada pela chamada «Lei de Almeida Santos», de 1975, que determinava que apenas aqueles que conseguissem provar que eram portugueses — demonstrando que tinham ascendência portuguesa — teriam acesso à nacionalidade portuguesa. Alguns retornados exigiram que fossem incluídos os «ex-funcionários ultramarinos que se tenham distinguido pela sua lealdade e portuguesismo, e naturais das ex-colónias cujo regresso ao respectivo novo país envolve risco atendível de saúde ou outro».
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05.09.2025 | por João Pedro George
Forjado na sociedade colonial-escravocrata como meio de comunicação entre os diferentes grupos étnicos negros escravizados trazidos cativos da costa africana vizinha para as ilhas e os seus senhores brancos chegados com as navegações marítimas europeias, o tráfico negreiro e o comércio triangular transatlântico, o crioulo cabo-verdiano emergiu, assim, como a expressão (linguística) mais eloquente e visível da cultura crioula surgida da interacção, do confronto e do diálogo civilizacionais entre dominados e dominadores, entre explorados e exploradores, no chão agreste das ilhas cabo-verdianas, encontradas desertas de populações autóctones e virgens dos pontos vista antropológico e sociológico.
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28.08.2025 | por José Luís Hopffer Almada
"Refiro espaços urbanos menos impositivos do que as intervenções estéticas e formais que mais normalmente acontecem, onde os escultores são convidados a decorar os espaços. Sempre achei que era indecente forçar alguém que teria de passar por esse espaço todos os dias, porque lá mora, ou tem de apanhar um comboio ou um autocarro, ser forçado a experimentar uma opinião estética minha. Isso é perfeitamente normal e aceitável numa galeria de arte contemporânea, onde há um contrato, o visitante entra e sabe que vai ver arte contemporânea, enquanto na rua esse contrato não existe, tenho pudor disso."
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27.08.2025 | por Marta Lança
Outra faceta de António Jacinto — uma espécie de “conselheiro sentimental”, passe a expressão — é-nos dada pela sobrinha Maria Cecília, ao contar o caso da sua irmã Nica, apaixonadíssima por um colega de escola, «que não lhe deu bola nenhuma.» Desesperada, procura junto do tio amado, não só consolo, mas também a sugestão de um modo capaz de aliviar a dor do seu “mal de amor”. Conselho do sábio Jacinto: «— Nica, nunca se namora com ninguém da mesma escola, nem da mesma rua. Nunca se esqueçam disso.»
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26.08.2025 | por Zetho Cunha Gonçalves