“me debrucei pra escrever algo pra minha avó, pro mundo não se esquecer de mim, como fez questão de esquecê-la.”

“me debrucei pra escrever algo pra minha avó, pro mundo não se esquecer de mim, como fez questão de esquecê-la.” uma ou três mulheres, porque esse texto fala sobre a quase impossibilidade de ser par, e três ou um, já nos coloca mais perto das que estão aqui, mas já se foram. eu queria que fossemos sete, mas sete talvez fosse pedir demais a vocês, então distribua no palco um ou três pedestais com microfones, um pra EU, um pra ELA outro para NÓS. texto escrito para atrizes, mas principalmente um teatro feito para poetas.

06.11.2024 | por Luz Ribeiro

Um Arrepio, uma fricção, a polinização da forma da poesia falada e cantada

Um Arrepio, uma fricção, a polinização da forma da poesia falada e cantada   As canções originais que compõem o espetáculo são outro ponto forte do projeto. Cada uma delas nasce de um contexto específico, de observações do quotidiano e de reflexões sobre a vida. São músicas que dialogam diretamente com as questões de identidade e polinização cultural, criando uma ponte entre o passado e o presente. “Acreditamos que, por isso, conseguimos tocar o público e ligar-nos às nossas experiências comuns”, referem.

17.09.2024 | por André Soares

A minha música negra

A minha música negra   Sorvi o grito de Sly Stone e acolhi, entusiasmado, o "na-na na-na boo-boo" de Rose Stone. Hino à harmonia racial, social e étnica, Everyday People tornou as minhas tardes mais coloridas, pacíficas e alegres. Agarrei-a pela cintura, dancei com ela sem me mexer. E comecei a cantá-la, os lábios levemente abertos, perdido diante do último verso desta sequência: I am no better and neither are you. We're all the same, whatever we do, You love me, you hate me, You know me and then, You can't figure out the bag I'm in. Sim, foi em You can't figure out the bag I'm in que o meu ouvido ficou a bailar.

18.08.2024 | por José Marmeleira

Semba enquanto património imaterial: políticas, imagens e sonoridades da cultura em Angola - defesa de tese

Semba enquanto património imaterial: políticas, imagens e sonoridades da cultura em Angola - defesa de tese Esta tese explora o semba, uma expressão cultural artística de dança e música urbana, profundamente enraizada na cidade de Luanda. Analiso como este bem cultural tem sido transformado em património cultural imaterial enfrentando desafios como a patrimonialização, comercialização, objetificação e turistificação. A investigação contextualiza a iniciativa global de elevar gêneros musicais e de dança à categoria de património imaterial pela UNESCO e examina as políticas culturais do Estado angolano, nesta corrida ao património imaterial. Foco-me particularmente nas interações entre a comunidade de práticas do semba e comunidade autorizada do património, explorando como estas comunidades, grupos e indivíduos gerem, performam e representam o semba como património cultural intangível.

08.08.2024 | por André Soares

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado

Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado Djam Neguin tem investido na criação de imaginários afrofuturistas, onde a africanidade é vista em suas potências futurísticas. Com Ka Bu Skeci Tradison iniciou uma fase de contribuição para imaginários afrocentrados, celebrando corpos e identidades diversas. "Incorporar perspectivas queer amplia a representatividade e subverte narrativas tradicionais, moldando percepções e atitudes", explica o artista que trabalhou sonoridades do continente africano como afrobeat, afropop e amapiano. Autofagias emerge como um manifesto de transformação pessoal e coletiva, celebrando a diversidade e a inovação. Basta para isso colocar os auriculares e deixar-se guiar pelo canto de esperança que surgiu de um tempo de grande aflição.

20.07.2024 | por André Soares

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço

Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço Fausto de cabelo azeviche viola debaixo do braço, generosidade sempre pronta ao tratar o alheio macio por natureza, tranquilo com um sorriso que resolvia parte das macas, era uma figura que se destacava por incrível que pareça pela sua discrição com a música a tiracolo sempre!

03.07.2024 | por Isabel Baptista

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes Eu que vou ter de comer umas duas colheres desta papa antes de ir dormir, porque conheço a fome. A fome vence o sono. Lá pela madrugada, depois da fome instalar o seu governo dentro de nós, é um inferno total. Só quem já experimentou esta situação sabe do que estou à falar. A fome é implacável, a fome não perdoa, causa uma dor de cabeça que só Deus sabe, algo rói o estômago como uma gadanha arrastando o capim, a cabeça fica uôlo uôlô, as pernas ficam bambas, os olhos ficam viano, viano. É o fim! Vemos cada coisa estranhas. Parece que nos encontramos com a morte.

24.06.2024 | por Pedro Sequeira de Carvalho

Ver como um lobo

Ver como um lobo As últimas décadas assistiram a um regresso dos lobos às serras portuguesas, onde o trabalho da conservação vai tomando o lugar de uma oposição ancestral, ao mesmo tempo material e simbólica. Com conceção e direção artística de Bruno Caracol, Ver como um lobo parte da relação entre corpos de lobos e corpos humanos, dos usos dados pela medicina popular a órgãos de lobos (goelas, olhos, ossos) conservados, das imagens das caçadas, aos modelos de previsão de comportamento e de gestão de população usados pela Biologia.

24.06.2024 | por vários

Pérola sem rapariga: a invenção do riso

Pérola sem rapariga: a invenção do riso Em Pérola sem rapariga, os tais largos minutos mudos são, pois, o tempo de uma desfaçatez em que se esborrata a pintura. Recusa-se, primeiro, num frémito, a fixação do rosto, e logo se reencenam as obras-primas do costume: Meisje met de parel, Vermeer; Les demoiselles d’Avignon, Picasso; Las meninas, Velásquez. Os nomes que lembramos são os deles, delas nada sabemos, ficaram-nos os títulos. Talvez por isso, imagino, Filipa e Sara desmancham a pose. Dizem-lhes para não mostrarem os dentes, e elas riem muito. Virá a libertação de um riso nu, despudorado? Urge, afinal, esconjurar o gesto venatório de quem mira, e entreabrir intervalos na ordem dos dias.

20.05.2024 | por Inês Galvão

Tal como foi o silêncio [de lutos e luzes]

Tal como foi o silêncio [de lutos e luzes] O luto pode ensinar-nos a viver em liberdade. Esta peça convida-nos a tomar a decisão. Em doze inspirações, que poderiam ser atos poéticos, o público é convidado a respirar palavras e silêncios, espelhos e espaços, dor e busca, encontro e tempo. O espetáculo passa-se todo numa sala, a atriz parece-nos tão próxima que podia ser qualquer um que entra e fica na sala. Ao mesmo tempo, parece-nos tão distante que nos desperta a memória do que todos temos medo de viver. A ausência.

16.05.2024 | por Joana Morais e Castro

Batuku cabo-verdiano, musica di terra

Batuku cabo-verdiano, musica di terra Foi com a Revolução de 1975 que o Batuku, até então adormecido, renasceu no seio de ocasiões comemorativas como o casamento. E foi numa celebração matrimonial que, ainda criança, tive o meu primeiro contacto com a energia contagiante do Batuku, que é tradicionalmente cantado e dançado, durante toda a noite, pelas mulheres mais velhas, que celebram a união que se avizinha.

11.04.2024 | por Nélida Brito

Danças afrobrasileiras, dança dos Orixás, Entrevista a Rita Carneiro

Danças afrobrasileiras, dança dos Orixás, Entrevista a Rita Carneiro As danças afro-brasileiras estão muito conectadas à religião. São danças de inspiração afro-religiosa, como a Dança dos Orixás, que são as divindades do Candomblé. Cada orixá está ligado a um elemento da natureza, como por exemplo a Iansã, que é a deusa das tempestades, dos raios e trovões. Ela é uma deusa muito forte, que lida com o fogo e é a única que lida com a morte, não tem medo da morte. No caso do Afoxé, ele é considerado candomblé de rua porque era o momento em que as pessoas do candomblé levavam o que acontecia no terreiro (lugar onde aconteciam as cerimônias) para a rua.

08.04.2024 | por Nélida Brito

O momento África - notas de uma formação com Nadia Beugré

O momento África - notas de uma formação com Nadia Beugré Nadia Beugré, nascida na cidade de Abidjan na Costa do Marfim, tem origem de uma família de artistas muçulmanos. É uma das primeiras mulheres a integrar uma companhia contemporânea de dança exclusivamente de mulheres no continente Africano, a Cia Tchetché, liderada por Béatrice Kombé. Suas obras estão sempre conectadas com a vida e a experiência potente do sentido e conexão da alma, e extrapolam o campo da dança, conectando artes visuais, música, filosofia, espiritualidade entre tantos outros campos.

03.04.2024 | por Dally Schwarz

O que resta depois do Carnaval: Liceu, Mingas, o hino e a bandeira I Um passo atrás

O que resta depois do Carnaval: Liceu, Mingas, o hino e a bandeira I Um passo atrás É muito fácil esquecer que os hinos nacionais, as bandeiras e as insígnias foram criadas por mãos humanas, gente como nós. O processo de sacralização desses símbolos, como se tivessem sido obra de um deus no início dos tempos, como se sempre tivessem estado ali, como se fossem invioláveis e imutáveis, é uma espécie de pacto coletivo, não necessariamente consensual, muitas vezes implicando a existência de uma bandeira vencida e outra vencedora. Esse é, como sabemos, o caso de Angola, onde a bandeira vencedora triunfou sobre as outras.

15.02.2024 | por Aline Frazão

Sobre Bantu, de Victor Hugo Pontes

Sobre Bantu, de Victor Hugo Pontes Assim como o destas pessoas de Bantu, onde sete bailarinos, três moçambicanos e quatro portugueses, cinco homens e duas mulheres, quatro negros e três brancos, se juntaram para entrar em jogo. Vinham com as suas marcas, as suas histórias, os seus ritmos nos pés e na mente. Juntos experimentaram frases rítmicas, improvisaram muito, trocaram de papéis, desconstruíram o que achavam saber, impulsionaram a expressão de cada um e a de um coletivo que se reconfigura entre solos e gestos gregários. Tateando-se, libertando-se, individual e socialmente, os corpos brancos e negros contrastam mas afagam-se.

22.01.2024 | por Marta Lança

Da missão em “A Missão da Missão”, ou de como se aplaude de pé quando o Teatro nos explode o coração

Da missão em “A Missão da Missão”, ou de como se aplaude de pé quando o Teatro nos explode o coração   Quadro “eu é que sou a mais negra”, trazendo ao de cima questões sobre o lugar de fala, sobre o direito (ou não) de reclamar para si a negritude quando a pele, à vista desarmada, não conta essa marca; Quadro “é estrutural”, usando um saco de boxe, numa clara analogia ao cansaço do argumento que justifica tudo como “estrutural” e as vezes em que essa ideia iliba os indivíduos das suas responsabilidades no quotidiano; Quadro “a solidão da mulher negra”, uma longa conversa – hilariante e profunda – sobre a constatação de que a maioria dos homens negros que alcançam algum poder (ou fama) acabam quase sempre por escolher mulheres brancas para suas companheiras;

30.12.2023 | por Maria Lima / Daniela Lima

Sim aos Comboios, Não aos Saloios*

Sim aos Comboios, Não aos Saloios* Tal como os novos velhos políticos percebem que, para ascenderem, devem excitar a comunicação social esfomeada — enquanto regam com álcool as feridas das democracias. E a violência da guerra começa assim, não é? Quando nos viciamos nesse frenesim alucinante do sangue a esguichar a qualquer hora, em qualquer direcção.

28.12.2023 | por Francisco Mouta Rúbio

Tradidanças, na serra, entre bailes e cantos, poços e florestas

Tradidanças, na serra, entre bailes e cantos, poços e florestas Além do que está organizado durante os dias de Festival, abundam espontâneos encontros musicais e de dança, alguns acontecem madrugada fora na zona do recinto, com dezenas de pessoas que vão fazendo a música e a dança sem alinhamento, outros nos espaços envolventes. O espírito de encontro e de convívio marca toda a gente que participa no Tradidanças, assim como a possibilidade de fazer junto. Este relacionamento social mais impactante resulta, por certo, dos diferentes tipos de baile que proporcionam uma socialização diferente daquela que é vivida na maior parte dos Festivais de Verão. Aqui há convívio garantido mão na mão, olhos nos olhos, entre saltos ritmados, galopes e trocas de par. O Festival tem ainda outra particularidade: é claramente intergeracional, com muitas atividades para crianças e gente de todas as idades.

21.08.2023 | por Maria Prata

'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto

'Os Sons da Nação', História Política e Social da Música Urbana de Luanda: 1945-2002 - excerto Eu defendo que é na e pela música popular urbana, produzida esmagadoramente nos musseques de Luanda, que os homens e mulheres angolanos forjaram a Nação e articularam expectativas sobre o nacionalismo e sobre a soberania política, económica e cultural. Fizeram-no pelas relações sociais que se desenvolveram em torno da produção e do consumo de música. O conteúdo lírico e o som musical importavam, mas o público e os músicos davam-lhes um significado dentro do contexto. Por outras palavras, a música, no fim da Angola colonial, moveu as pessoas para uma Nação e de encontro ao nacionalismo, porque as aproximou de novos espaços urbanos, de novas maneiras, através de linhas de classe e etnia, através da política íntima e pública do género.

13.07.2023 | por Marissa Moorman

Ritual de Escuta

Ritual de Escuta O enredo gira em torno da preparação da conversa que pais de filhos gerados em relações inter-raciais terão, algum dia, de ter com as suas crianças sobre questões raciais. É um tema difícil, por isso, muitos pais não sabem como começar a discussão e perdem-se entre acusações e o autoflagelo. O ator Daniel Moutinho e a atriz Manuela Paula dão vida ao casal inter-racial que procura um caminho para “A Conversa”. São cerca de 20 minutos de auscultação em que o ouvinte será levado pelo mundo de dúvidas, aspirações, esperança, determinação e incerteza, num ensaio para uma conversa que é inevitável, seja por iniciativa própria ou por força da sociedade.

05.04.2023 | por Carla Fernandes