Sob a pele dos protagonistas Cartola e Aquiles vemo-nos de forma frontal com a experiência de sujeitos que continuam a habitar o território do não pertencer, a despeito de suas presenças já contarem com cinco séculos de existência em Portugal. O texto literário da escritora Djaimilia Almeida ilustra esses limites relacionados à pertença e a complexidade de construir uma subjetividade a partir dos trânsitos, deslocamentos e do não pertencimento.
A ler
06.06.2024 | por Liz Almeida
No filme insinua-se a autocrítica, a crítica ao lugar de privilégio que permitiria conviver ou sobreviver com realidades duras, apesar de se sonhar uma cidade imaginária ou possível ao virar da esquina. Lugar de privilégio cuja dimensão passamos a compreender melhor no final do filme, a chave talvez para entender a natureza do sufoco de L.
Afroscreen
14.02.2024 | por Josina Almeida
Os carnavais brasileiros em Lisboa têm conhecido um aumento exponencial de adesão popular, e essa tendência vai permanecer. Trata-se de um movimento de caráter comunitário e associativo, realizado pela principal comunidade imigrante de Portugal, que representa cerca de 10% da população da cidade e constitui uma parcela significativa da população economicamente ativa. O objetivo da União dos Blocos é justamente garantir que esta celebração cultural possa acontecer da melhor maneira possível, com segurança, conforto e previsibilidade, trazendo assim inúmeros benefícios não só para a comunidade brasileira, mas para toda a cidade de Lisboa.
Cidade
07.02.2024 | por várias
Se, entre os séculos XV e XIX, Portugal foi um dos principais países esclavagistas, perguntamos com espanto: porque é que só agora ainda não foi edificado o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas? Esta ausência dá pistas para se questionar o modo como o país lida com o passado e como tal passado ecoa no racismo sistémico de hoje. A acontecer, a sua concretização vem ainda assinalar um momento em que se está a pensar e a ressignificar a memorialística imperial, aspirando a uma cidade onde todos se sintam representados na capital do país e de um antigo império.
Cidade
22.12.2023 | por Marta Lança
A Lisboa viva das coletividades e das associações, onde uma comunidade solidária e vizinha se reunia para jogar, brincar, cantar, comer e beber, musicar, politizar e conversar, foi transformada em apartamentos de luxo, hotéis ditos de charme, residências para alojamento chamado local, mas que expulsa os locais, ou simplesmente ruínas à espera de um investidor-ainda-melhor-do-que-os-outros.
Cidade
21.12.2023 | por Carla Baptista
Ai noites de Assomada
dos prantos em Fundura
suplicando pelas almas redivivas
pelas vozes exuberantes nos jardins
da Praça Estrela na Praça Camões
na Praça do Rossio na Praça Figueira
no Largo Martim Moniz no bairro da Mouraria
no bairro da Alfama nas colinas da Graça
no Canecão no Conde Barão no Lontra
no Coquenote no Cave Adão
no Monte-Cara lá na Dedês
na Casa de Cabo Verde...
Mukanda
19.12.2023 | por José Luís Hopffer Almada
Duramente atingida pela austeridade, radicalmente transformada pelo turismo, subitamente suspensa pela crise sanitária, a cidade de Lisboa sofreu profundas transformações durante a última década. Fruto de políticas que popularizaram a sua imagem enquanto cidade cosmopolita e de lazer, a turistificação e financeirização do espaço público e privado transformaram as formas de ver e viver Lisboa.
Cidade
24.10.2023 | por Catarina Botelho e David-Alexandre Guéniot
De um encontro com os autores de Tribuna Negra Origens do Movimento Negro em Portugal (1911-1932), Cristina Roldão, José Pereira e Pedro Varela, resultou uma longa conversa. Como postura de investigação, a formulação interrogativa, assumindo as lacunas, deixa no ar o que ainda não sabemos: “o que elas terão dito?” “o que terão feito?”, criando mais perguntas à pesquisa sobre a Lisboa negra do início do século XX. Aliás, a sensação ao ler o livro é a de que cada capítulo dava um outro livro. Os autores foram aos arquivos, aos jornais feitos por negros, e alguma literatura, de Mário Pinto de Andrade saliente-se "As Origens do Nacionalismo Africano", e deixam-nos pistas de figuras fundamentais, organizações, coletivos, de como circularam de ideias, como se configurou o internacionalismo negro com as suas disputas, estratégias e linhas de força. Esclarecem sobe as distintas posições sobre o colonialismo português e o trabalho forçado em São Tomé ("a crítica ao colonialismo não era ainda o anticolonialismo"), o debate sobre descriminação racial, o papel político de mulheres negras, a população negra que trabalhava em Lisboa, e tanto mais. A metáfora da "conversa interna" insere-se na vontade de continuar as pegadas de uma historiagrafia não eurocêntrica, na busca de si.
Cara a cara
22.06.2023 | por Marta Lança
É importante que uma obra pública (sobretudo um memorial) não mostre apenas uma face, mas que se abra a distintas leituras. Trata-se de uma plantação em luto, queimada, que traduz o lado lúgubre e funerário da plantação. E ainda faz homenagem à resistência dos escravizados pelo gesto de queimar a plantação e boicotar o regime de opressão. A plantação é o lugar onde o processo de desumanização ocorre.
Cara a cara
07.04.2023 | por Marta Lança
Velhotes a jogar bilhar à espera de vez para a cadeira de barbeiro. Concertos de bandas multiculti. Valsas e forrós, sardinhadas e jazz. Erasmus, poetas, ex-ocupas, membros da sociedade da copofonia artística. Tantos encontraram refúgio no Grémio Lisbonense, uma jangada com secular varanda de pedra sobre o Rossio. O velho Grémio, porto de abrigo de cultura numa Baixa pombalina que se rende à especulação e gentrificação, foi afundado à força de bastonada policial. O “Elogio da loucura” numa cadeira de barbeiro. Texto de 2008
Cidade
07.03.2023 | por Marta Lança
Continuarem a defender os nossos princípios e o programa de ação. Os Cidadãos por Lisboa defendem uma visão política de uma cidade, aberta, e que não deixa ninguém para trás. E temos bem claro que há valores e grupos que merecem a nossa especial atenção, particularmente no que toca às condições de vida das pessoas mais vulneráveis e com menos visibilidade na nossa sociedade. Estamos com estas pessoas, independentemente de uma ideia de cidade que se quer impor em Lisboa e que não as considera, como as que foram defendidas pelo Chega nesta sessão da Assembleia Municipal.
Cara a cara
16.02.2023 | por vários
A instalação é o pretexto para falarmos da sua trajetória de vida. Equilibrista entre várias culturas, vive há 31 anos numa Lisboa agora mais aberta e diversa, abertura e diversidade para as quais pessoas como Lucky tanto contribuíram, desde construí-la a pô-la a dançar. Uma cidade de momentos duros, mas de encontros e possibilidades com os quais foi crescendo. Neste texto, são as memórias de Dj Lucky que nos conduzem, entre várias pistas de som, de quisange, semba e afroblues, e várias pistas no chão, de Kinshasa ao bairro da Graça, passando por Luanda, Cova da Moura e Bairro Alto.
Cara a cara
15.11.2022 | por Marta Lança
"A escrita de literatura infantil é uma aventura. É um exercício de regresso a um tempo em que não se tinha certezas, mas em que havia muita ousadia. Um tempo em que se transformava as incertezas em certeza de que não se sabe, mas que tem de se descobrir. E descobria-se e criavam-se mundos e possibilidades. A escrita de literatura infantil é um processo de sobrevivência."
Cara a cara
28.10.2022 | por Carla Fernandes
Pouco a pouco, habitamos esse pedaço grande da cidade, ali colhendo memórias, visíveis e invisíveis, para voltar a afirmar o valor da interculturalidade e a importância das gentes de Santa Clara no desenvolvimento da capital. Nesta 14.ª edição do TODOS, convidamos a olhar Santa Clara como um centro de onde a cidade irradia, na certeza de que, juntando diferentes ideias, emoções e vontades, poderemos continuar a Acertar o Mundo. Depois de um primeiro ano de trabalho, queremos agora amplificar artisticamente essa experiência, ajudando a romper com o entorpecimento da quotidianidade para evitar que cada um se torne prisioneiro de lugares-comuns e das ideias que já conhece.
Palcos
01.09.2022 | por vários
Ao longo de 10 anos uma equipa constituída por artistas visuais, antropólogos, arquitetos, designers, engenheira agrónoma, participaram e realizaram um conjunto de projetos artísticos, documentais e cinematográficos no bairro da Quinta da Vitoria, com o pressuposto de contribuir para uma representação mais inclusiva destas comunidades. Ao mesmo tempo que o bairro foi sendo construído pelos próprios moradores, foi crescendo uma barreira invisível que o delimita da cidade. Esta divisão crescente, preconceitos e representações abstratas, contribuíram para a exclusão social e cultural destas comunidades.
Cidade
10.08.2022 | por Sofia Borges
Embora invisível, há um “muro” a separar a Quinta do Mocho da cidade à sua volta. Empurrados para bairros precarizados e segregados, as populações imigrantes e/ou afrodescendentes são guetizadas por políticas públicas promotoras da marginalização social. É o que explica o Sr. Vítor sobre a construção da Quinta do Mocho: “já havia a ideia de se construir um gueto”.
Afroscreen
07.06.2022 | por Otávio Raposo
Uma figura está de boca aberta, em posição de espanto e outra, com medo; no centro, o Marquês de Pombal, com a sua inconfundível cabeleira, estende a mão num sinal de confiança, talvez até de futuro. Uma imagem é para ser olhada várias vezes, pelo menos uma imagem no seu sentido mais nobre de valer mil palavras e, olhando com mais atenção, percebemos que o rosto branco do Marquês de Pombal, com a pesada maquilhagem de época, é afinal um rosto negro.
Palcos
30.05.2022 | por Susana Moreira Marques
O remapeamento das memórias de Lisboa e Hamburgo foi o objetivo do ReMapping Memories Lisboa – Hamburg: Lugares de Memória (Pós)Coloniais, do Goethe-Institut Portugal. Susanne Sporrer, diretora do instituto, e Marta Lança, coordenadora do projeto, explicam a importância de descolonizar a cidade e fazem o balanço destes dois anos que se assinalam a 28 de maio, com uma festa que é para continuar.
Cidade
27.05.2022 | por Catarina Pires
A história do Sr. Vítor encontra muitos paralelos com a de outros imigrantes, marcada pelo trabalho nas obras, as dificuldades em continuar os estudos e a habitação precária. A história da Quinta Mocho, onde vive o Sr. Vítor, tem muitas semelhanças com a de outros “bairros sociais” da periferia de Lisboa. O modelo de realojamento ali adotado não incorporou a opinião dos moradores e acabou por reproduzir as lógicas de silenciamento, imposição e exclusão entre aqueles que vivem em regime de subalternidade urbana.
Afroscreen
18.05.2022 | por Otávio Raposo
Outros Céus Fechados de Lisboa aparece como inquietação perante as distopias urbanas, apoiadas pela financeirização que evidentemente tem os espaços abandonados como ativos económicos permanentes, bastante distante de quaisquer alternativa que visa prolongar os direitos à cidade e à habitação, como meios inadiáveis na construção do Estado Social.
Cidade
11.05.2022 | por Lubanzadyo Mpemba Bula