A vida é um mar de perguntas sem respostas” – Jessemusse Cacinda

A vida é um mar de perguntas sem respostas” – Jessemusse Cacinda Eu quis escrever justamente para não estar num só lado. A literatura não tem lado. A literatura é o respeito pela diversidade que faz o nosso país e o nosso continente. Este 'Kwashala Blues' é uma oportunidade para os moçambicanos conhecerem-se a si mesmos. Mas também para celebrar as dores e alegrias das pessoas deste país e deste continente.

07.11.2024 | por Eduardo Quive

“Deviam fazer-lhe um monumento em Angola”, conversa com Bonga Kwenda sobre Mário Pinto de Andrade.

“Deviam fazer-lhe um monumento em Angola”, conversa com Bonga Kwenda sobre Mário Pinto de Andrade. Bonga é um músico angolano conhecido no mundo inteiro. Em 1966 fixou-se em Portugal para se dedicar ao atletismo, mas poucos anos depois fugiu do país para escapar ao controlo da polícia política. O seu primeiro disco, Angola 72, saído na Holanda e cantado inteiramente em kimbundu, serviu para dar impulso à luta anticolonial e é ainda hoje um marco da música angolana. Nesta conversa, Bonga fala da sua trajectóri

06.11.2024 | por Elisa Scaraggi e projeto

Ver como o lobo e olhar como um artista, entrevista a Bruno Caracol

Ver como o lobo e olhar como um artista, entrevista a Bruno Caracol A tua investigação parte de uma relação histórica entre humanos e lobos numa tensão mútua, e a escassez. Escreves que o lobo ocupa um lugar simbólico da escassez, ameaça tomar as almas dos últimos filhos de famílias numerosas. Nas fábulas o lobo aparece sempre como ameaça, na figura do lobo mau, aquele que vai comer os filhos da cabrinha, ou a avó do Capuchinho Vermelho.

15.10.2024 | por Marta Lança e Bruno Caracol

O teatro é uma arte do presente - entrevista a Rogério de Carvalho

O teatro é uma arte do presente - entrevista a Rogério de Carvalho Tudo o que se faz em teatro é fictício, e a ficção identifica-se com a artificialidade. O artificial hoje, na medida em que o teatro procura ter o seu mundo, já não cria aquela ilusão de uma mensagem homenageante, uma linguagem de favorecimento do poder ou do anti-poder.(...) Uma bela história sequencial apenas nos embala e, enquanto espectadores, deixamos de ser activos. Em geral, hoje os textos estão a fugir do processo de narratividade.

24.09.2024 | por Marta Lança

“Se não lemos, achamos que o mundo começa e acaba no nosso umbigo”, entrevista a Inocência Mata

“Se não lemos, achamos que o mundo começa e acaba no nosso umbigo”, entrevista a Inocência Mata Estou muito contente pela opção que fiz porque ensino literatura, estudos literários e estudos pós-coloniais, que são áreas de grandes questionamentos. Eu não gosto do saber “congelado” ou do saber que não se discute. Não gosto de ideias dogmáticas. Gosto de discutir ideias, considero que existe sempre outra forma de ver o mundo, particularmente na área das humanidades e das ciências sociais, que não são ciências exatas.

14.05.2024 | por Nélida Brito

“A minha arte não é feita de técnica, mas de sentimento”, entrevista a Toy Boy

“A minha arte não é feita de técnica, mas de sentimento”, entrevista a Toy Boy Com 46 anos, Toy Boy acompanhou as várias fases do país no pós-independência e iniciou atividade artística no pós-guerra civil. O seu trabalho é a expressão da vivência na cidade de Luanda, intrinsecamente ligado ao sofrimento e criatividade que se sente nas ruas. Sintonizado com os movimentos e núcleos artísticos da cidade (como o Elinga Teatro e o Fuckin’ Globo), Toy Boy conta-nos o seu percurso com a sinceridade e a sensibilidade que o caracterizam. Driblando as dificuldades no seu caminho e a exigência da sobrevivência, apropria-se de uma certa pop art, fazendo colagens ou ready-mades, instalações, potenciando materiais reciclados como a ferrugem, mas sobretudo dá corpo e voz às singularidades da vida urbana.

12.05.2024 | por Marta Lança

“Com a sua obra, Paula Rego mostrou que a democracia não está completa sem incluir os direitos das mulheres”, entrevista a Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira

“Com a sua obra, Paula Rego mostrou que a democracia não está completa sem incluir os direitos das mulheres”, entrevista a Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira Em entrevista ao BUALA, as curadoras Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira falam da sua investigação em torno do trabalho desta artista portuguesa, cuja obra desafiou a época ditatorial em que viveu. O contexto pré e pós-Revolução dos Cravos, as questões políticas ou os direitos das mulheres são apenas algumas das temáticas que Paula Rego representou nas suas gravuras, pinturas e desenhos. A crítica à sociedade marca presença em todas, ainda que subtilmente.

02.05.2024 | por Mariana Moniz

Retirar o corpo da mulher da zona delimitada, entrevista com Yola Balanga

Retirar o corpo da mulher da zona delimitada, entrevista com Yola Balanga Comecei por falar de questões de género, questões ligadas a mulheres, corpo da mulher, mas é praticamente impossível falar de tudo isso sem tocar na política ou na religião. Então acho que o meu caminho vai ser por essas duas esferas, temos muitas problemáticas para retratar aqui e precisamos de vozes que deem a cara por esses temas, como é que esses dois elementos (a política e a religião) põem o corpo da mulher num quadrado super delimitado e normalizado…

12.04.2024 | por Marta Lança

A resistência da Livraria Ulmeiro

A resistência da Livraria Ulmeiro Antes do 25 de Abril fui processado como fundador, também, da Assírio e Alvim, pela edição do livro “Portugal sem Salazar” e, depois do 25 de abril, pela edição do livro “Massacres na Guerra Colonial Tete” num processo movido pelo Estado Maior General das Forças Armadas que chegou, depois, ao 5º Tribunal Militar Territorial de Lisboa e o acusador público, o militar que fazia esse papel, pediu que o processo fosse integrado na chamada Lei da Amnistia, a Amnistia dos crimes de abuso de liberdade de imprensa.

09.04.2024 | por Mariana Ribeiro Mota

Um poeta, um filósofo, um Buda e um Viking

Um poeta, um filósofo, um Buda e um Viking Sempre me impressionou o modo como conviviam dentro de ti um poeta, um filósofo, um Buda e um verdadeiro Viking, tornando-te num ser singular, com posturas únicas diante da vida. Posturas que revelavam a tua integridade, a tua iluminação espiritual, a tua capacidade de transcender a rótulos e preconceitos que muitas vezes nos separam dos outros seres humanos, a tua capacidade de congregar e unir as pessoas por todos os lugares onde passavas.

24.03.2024 | por Leopoldina Fekayamãle

Entendam que a literatura não é nem inútil, nem abstrata, entrevista a Noemi Alfieri

Entendam que a literatura não é nem inútil, nem abstrata, entrevista a Noemi Alfieri A partir dos anos ’50, pelo menos, o compromisso dos poetas com a libertação fica mais evidente, marcado. É verdade que os intelectuais, na época, faziam parte de uma elite muito reduzida, mas deram-se a tarefa de mostrar – tanto a nível interno, como no plano internacional – as condições de repressão e opressão que as sociedades coloniais geravam; as injustiças às quais o povo era submetido. Toda a geração de escritores negritudinistas, Pan-africanistas e independentistas que surgem naquela época geraram debates internos, e também levaram as lutas para fora do espaço colonial.

29.02.2024 | por Noemi Alfieri e Cláudio Fortuna

"Os nacionalismos não são discursos inócuos, têm raça e género", entrevista a Lilia Schwarcz e Nuno Crespo

"Os nacionalismos não são discursos inócuos, têm raça e género", entrevista a Lilia Schwarcz e Nuno Crespo Durante muito tempo a gente tratou a arte como ilustração, a ideia de que era um produto do seu contexto. Mas e que tal se a gente inverter, uma vez que vivemos numa civilização da imagem, e pensar que a imagem não é produto, ela é produção, ela produz valores, ela produz concepções. E também quando você faz uma crítica interna a essa classificação da branquitude, nós podemos passar por várias questões: quais são as pessoas retratadas? São em geral, homens. Quem é que está nu? Basta ver o movimento Guerrilla Girls, as mulheres estão nuas nos museus. Há que se fazer uma política de acervos, há que se fazer uma política de reestruturação do cânone e das nossas agendas, dos nossos currículos básicos.

19.02.2024 | por Marta Lança

“As tecnologias continuam a favorecer o projeto de desumanização”, entrevista a Alice Marcelino

“As tecnologias continuam a favorecer o projeto de desumanização”, entrevista a Alice Marcelino Nascida em 1980 em Luanda, a artista visual vive e trabalha com fotografia entre Londres e Lisboa. Nesta conversa falámos sobre alguns dos seus projetos relacionados com a cultura do cabelo, a maternidade, as tecnologias de controlo, os rituais fúnebres, e ficámos a conhecer o seu percurso e modo de estar na arte e na vida.

30.01.2024 | por Marta Lança

"Leio um poema, sinto a sua musicalidade e passados 10 minutos estou a musicar"- entrevista a Ruy Mingas

"Leio um poema, sinto a sua musicalidade e passados 10 minutos estou a musicar"- entrevista a Ruy Mingas A música ocupa um espaço na minha vida mas não do ponto de vista profissional, eu nunca seria uma profissional na música, já na educação e no desporto sim. São áreas que me estimulam muito, sinto-me bem, gosto de estar aqui com os jovens e estudantes, discutir com eles, como gosto de estar no desporto, são as relações humanas mais tocantes a que me prendo. Já a música é natural, eu cresci com a música, desde os meus avós, faz parte da minha vida como prazer e convívio.

05.01.2024 | por Marta Lança

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais”

Lee-Ann Olwage: “Se procuramos melhorar, globalmente, a vida das pessoas com demência, então não podemos ignorar a parte que diz respeito às diferentes perceções culturais” Lee-Ann Olwage, que admite lutar contra os seus próprios problemas de saúde mental, tem também familiares que sofreram ou sofrem com Alzheimer. Por essa razão, afirma que, com o seu trabalho, pretende criar um espaço no qual as pessoas que fotografa possam desempenhar um papel ativo na criação das imagens e que, acima de tudo, as faça sentir como as verdadeiras “heroínas” das suas próprias histórias.

13.12.2023 | por Mariana Moniz

O meu irmão David

O meu irmão David Para mim, enquanto pessoa e cidadão caboverdiano, mas sobretudo como irmão mais novo, o exemplo do meu irmão David permanece marcante e indelével tanto como juristas que somos como também como poetas, ensaístas e estudiosos da caboverdianidade que também somos, em especial no que respeita à sua impoluta integridade moral, ao seu gosto pelo saber e pelo conhecimento e à sua intimorata pugna pela nossa afro-crioulidade e por uma caboverdianidade multidimensional no entendimento da diversidade das suas matrizes e das suas acttuais vertentes culturais.

05.12.2023 | por José Luís Hopffer Almada

A negritude em Portugal com outra perspetiva analítica, conversa com os autores de "Tribuna Negra"

 A negritude em Portugal com outra perspetiva analítica, conversa com os autores de "Tribuna Negra" De um encontro com os autores de Tribuna Negra Origens do Movimento Negro em Portugal (1911-1932), Cristina Roldão, José Pereira e Pedro Varela, resultou uma longa conversa. Como postura de investigação, a formulação interrogativa, assumindo as lacunas, deixa no ar o que ainda não sabemos: “o que elas terão dito?” “o que terão feito?”, criando mais perguntas à pesquisa sobre a Lisboa negra do início do século XX. Aliás, a sensação ao ler o livro é a de que cada capítulo dava um outro livro. Os autores foram aos arquivos, aos jornais feitos por negros, e alguma literatura, de Mário Pinto de Andrade saliente-se "As Origens do Nacionalismo Africano", e deixam-nos pistas de figuras fundamentais, organizações, coletivos, de como circularam de ideias, como se configurou o internacionalismo negro com as suas disputas, estratégias e linhas de força. Esclarecem sobe as distintas posições sobre o colonialismo português e o trabalho forçado em São Tomé ("a crítica ao colonialismo não era ainda o anticolonialismo"), o debate sobre descriminação racial, o papel político de mulheres negras, a população negra que trabalhava em Lisboa, e tanto mais. A metáfora da "conversa interna" insere-se na vontade de continuar as pegadas de uma historiagrafia não eurocêntrica, na busca de si.

22.06.2023 | por Marta Lança

Nereida Carvalho Delgado prepara um solo sobre abuso sexual de crianças em Cabo Verde

Nereida Carvalho Delgado prepara um solo sobre abuso sexual de crianças em Cabo Verde   Nereida Carvalho Delgado conta-nos um pouco do seu percurso no teatro que começa em 2004 com a companhia Fladu Fla, na Praia, sua terra natal. Muda-se para São Vicente, onde vai estudar Biologia Marinha e onde fica por nove anos, dando continuidade a formações de teatro numa associação italiana, na comunidade onde vivia, Ribeira de Craquinha. Está em Loulé, no contexto do Festival Tanto Mar, a fazer uma residência artística sobre um tema muito difícil mas com a urgência total em ser falado: a violência e abuso de crianças e adolescentes que, em Cabo Verde, dá-se muitas vezes no seio da família.

27.05.2023 | por Marta Lança

Djam Neguim artista cabo-verdiano: “Só é possível um futuro em que todes existam de todas as formas”

Djam Neguim artista cabo-verdiano: “Só é possível um futuro em que todes existam de todas as formas” Náná é o sufixo de Funaná, uma dança e música com origens na ilha de Santiago, música forjada, sobretudo por homens no mundo rural onde as mulheres têm um lugar passivo. A proposta de Djam Neguim consiste numa distorção destas "normatizações" da cultura cabo-verdiana, ainda muito rígida. “Com o meu trabalho tento romper com estas representações folclóricas e turísticas”, refere na nossa conversa que aconteceu pelas plataformas digitais.

28.04.2023 | por André Castro Soares

Entrevista a Kiluanji Kia Henda sobre Plantação, projeto para o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas

Entrevista a Kiluanji Kia Henda sobre Plantação, projeto para o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas É importante que uma obra pública (sobretudo um memorial) não mostre apenas uma face, mas que se abra a distintas leituras. Trata-se de uma plantação em luto, queimada, que traduz o lado lúgubre e funerário da plantação. E ainda faz homenagem à resistência dos escravizados pelo gesto de queimar a plantação e boicotar o regime de opressão. A plantação é o lugar onde o processo de desumanização ocorre.

07.04.2023 | por Marta Lança