O didgeridoo é como um iceberg, entrevista com Ricardo Branco
“O didgeridoo é como um iceberg: as pessoas só veem a ponta, que é o instrumento em si, mas por detrás ou por baixo existe uma cultura imensa, uma das mais antigas do mundo. Na cultura aborígene australiana, o didgeridoo é apenas um pequeno elemento, e há muito mais de significativo para explorar.”
Em finais de Agosto de 2024, a propósito do FATT- Festival de Artes Tribais e Tradicionais, estivemos à conversa com Ricardo Branco, um dos fundadores da Associação Portuguesa de Didgeridoo e organizador do Festival. Este festival, cujo mote principal é a arte aborígene e o didgeridoo, tem reunido muitas artes, artistas e artesãos, desde a marcenaria, a dança africana, a botânica, o chi kung… Vários mundos que se cruzam. Aqui fica uma viagem pelo percurso desta associação, do Festival e seus principais organizadores.
Começamos por perguntar-vos como apareceu o didgeridoo nas vossas vidas e como se formou a Associação Portuguesa de Didgeridoo (APD)?
Começou em 2001, com encontros a nível nacional. Na altura, existia uma plataforma de comunicação na internet chamada miRC, muito antes do Messenger e outras redes sociais. Era um meio de comunicação entre pessoas, e, nos anos 90 e princípios de 2000, começaram a formar-se vários grupos: havia música tribal, malabarismo, didgeridoo. A partir daí, comecei a organizar encontros. Nessa altura, o didgeridoo era muito “underground” – ainda o é, mas, na época, era ainda mais. Toda a informação sobre o instrumento era muito difícil de encontrar. A internet da altura não tinha tantos recursos como hoje. Basicamente, as pessoas conheciam-se online, combinavam um dia e reuniam-se.
A essência dos encontros era a “música tribal”, sendo o didgeridoo e o djembé os principais instrumentos. Além disso, havia uma componente de arte circense, como o malabarismo. Foi assim que o movimento começou a nascer e a crescer. Durante dois anos, houve vários encontros a nível nacional, principalmente em Lisboa, Porto e Coimbra. Os encontros maiores reuniram cerca de 50 pessoas, enquanto um encontro normal juntava 20 ou 30.
À medida que a comunidade crescia, tornou-se evidente o interesse de várias pessoas pelo didgeridoo. Na altura, eu e o meu irmão, Ruben Branco, tínhamos alguma informação – pouca, que conseguimos encontrar na internet – sobre como o instrumento era construído. Começámos a fabricar didgeridoos e a tocar. Com o tempo, comecei a vender os instrumentos e a partilhá-los nesses encontros. Notámos um interesse crescente por parte das pessoas, e o movimento começou a ganhar um ponto de encontro central, por assim dizer. Foi aí que nasceu a ideia de organizar festivais.
O primeiro festival chamou-se “Festival Tribal” e teve lugar na ilha de Tavira. Foi organizado por mim e pelo José Pinto, o Zeca, que fazia parte dos encontros na altura. Organizou-se o festival, mas, no final, não pôde ser oficializado porque as entidades competentes pediram que o cancelássemos à última hora. No entanto, o flyer já estava feito e a publicidade já tinha sido divulgada, pelo que não pudemos cancelar completamente. As pessoas acabaram por se reunir, e o evento aconteceu de forma espontânea, sem um programa definido. Foi uma exploração voluntária: as pessoas tocavam, faziam artes circenses e passavam o fim de semana juntas. Acampamos e dormimos na ilha. Foi assim que tudo começou, por volta de 2002.
Em 2003, o evento realizou-se num local privado no Pinhal Novo. Em 2004, fomos para Querença, num espaço chamado Satóri, e, a partir daí, começámos a concentrar-nos no Algarve. Temos ligações familiares à região, pois a família da parte da minha mãe é da Serra do Caldeirão, Ameixial, uma aldeia do concelho de Loulé.
Após as primeiras edições, o festival mudou de nome. Inicialmente, chamava-se “Festival Tribal”, depois passou a “Festival de Artes Tribais e Tradicionais” (FATT). Mais tarde, adotou o nome “Festival Didgeridoo - FATT, refletindo a inclusão de artes tradicionais de outros países e de Portugal.
A minha descoberta pessoal do didgeridoo aconteceu em 2001, quando ouvi o primeiro álbum dos Blasted Mechanism, Balayhashi, que incluía uma música muito conhecida, “Atom Bride Team”. Fiquei fascinado com o som do didgeridoo, mas o encanto especial surgiu quando assisti à banda ao vivo. A partir daí, o didgeridoo tornou-se uma paixão. Para além de tocar e construir instrumentos, senti que a minha vocação era desenvolver uma comunidade, reunir pessoas e organizar festivais para divulgar o instrumento e a sua ligação aos povos aborígenes da Austrália, particularmente do nordeste da Austrália, em Arnhem Land.
Já passaram quase 22 anos desde Tavira e quase 24 desde os primeiros encontros. Este percurso é, acima de tudo, um trabalho de amor e dedicação. Como somos uma associação sem fins lucrativos, cada membro tem a sua vida pessoal e faz isto por paixão. Enquanto sentirmos esta energia e fascínio, continuaremos.
No meio de tudo isto, nasceu também a Associação Portuguesa de Didgeridoo (APD), como forma de promover atividades para além do festival. A associação conta com cerca de 10 a 12 membros, embora já tenha sido maior. Organizamos workshops, demonstrações sobre a cultura aborígene, exposições de instrumentos e arte aborígene. O FATT continua a ser a principal atividade da associação, mas queremos também focar-nos em eventos e actividades regionais ao longo do ano.
O grupo inicial, que criou o FATT e a APD, mantém-se? Há pessoas que foram indo e vindo, como é que se foi desenvolvendo este grupo?
Basicamente, o FATT existiu antes da APD. Após algumas edições do festival, percebemos que podíamos contribuir mais a nível local e regional, sendo uma associação. Pesquisámos sobre os passos necessários para criar uma associação e fundámos a APD. Naturalmente, algumas das pessoas que participaram na fundação já não estão presentes atualmente. Outras ainda continuam, e o núcleo principal mantém-se ativo. Sempre foi uma associação em crescimento, mas a gestão de pessoas é, por vezes, um desafio. Cada pessoa seguiu o seu caminho: algumas decidiram sair da associação, enquanto outras permaneceram. Com o passar do tempo e a realização de atividades e eventos, surgem também novos membros.
Por exemplo, atualmente, 70% das novas pessoas que integram a associação já participavam no festival e noutras atividades. Devido ao seu interesse e trabalho voluntário durante algumas edições, envolveram-se no projeto, tornaram-se associadas e hoje contribuem para a associação. Como referi, trata-se de uma associação sem fins lucrativos, e tudo o que fazemos é voluntário. No entanto, o grupo está disperso: eu, por exemplo, estou na zona do Alentejo, há pessoas no Algarve, em Lisboa e arredores, e até no estrangeiro. Tentamos reunir-nos sempre que possível em encontros ao longo do ano, para desenvolver o plano de atividades e os eventos principais. Além das reuniões virtuais, valorizamos muito a componente humana. Quando se organiza um evento como o festival de didgeridoo, o contacto humano é essencial, pois é através da gestão das pessoas que conseguimos desenvolvê-lo.
Tentamos sempre preservar esse espírito. Antes de sermos organizadores, somos amigos. Fazemos questão de separar a amizade da organização das atividades, mantendo um equilíbrio saudável. A associação não tem muitas atividades regulares, mas trabalha principalmente na zona do Algarve. A sede está localizada na aldeia da Penina, em Loulé. Recentemente, temos realizado algumas atividades na Penina e no Ameixial, a terra natal da minha mãe, que pertence à Serra do Caldeirão, Loulé. Já organizamos vários eventos lá e, mais recentemente, criámos um novo conceito, o “Raízes”.
O conceito do Raízes é trazer o espírito do FATT para a aldeia. Em vez de atrair as pessoas até nós, levamos o FATT até à aldeia, criando uma simbiose entre o evento e a comunidade local. A grande diferença entre o FATT e o Raízes é essa: no FATT, as pessoas vêm até “nossa casa”; no Raízes, somos nós que vamos até à “casa delas”. O espírito e a essência são os mesmos, apenas muda o contexto. O Raízes ainda é um conceito em desenvolvimento. Já realizámos duas edições, em 2022 e 2023 na Aldeia do Ameixial (Loulé), com o nome “Ameixial Raízes”. Contudo, muitas pessoas ainda não compreendem totalmente a ideia, por isso estamos a trabalhar para divulgar melhor o conceito.
Quando organizamos o FATT, jogamos em casa, e isso dá-nos maior controlo sobre o que queremos desenvolver. No futuro, queremos expandir o número de membros e especializar as funções na associação. Por exemplo, gostaríamos de contar com um eletricista, entre outros profissionais, para facilitar a organização das atividades. Estamos a tentar formar uma equipa em que cada pessoa tenha uma área de especialização, o que nos permitirá desenvolver as atividades de forma mais eficiente.
Tudo isto tem sido uma grande aprendizagem, feita de muito esforço e dedicação. Enquanto houver inspiração no instrumento e na cultura que o rodeia, continuaremos a fazer este trabalho com paixão.
O mote fundamental sempre foi o didgeridoo mas sempre existiram outros pontos de encontro e de exploração?
O nosso mote é o didgeridoo, e foi este instrumento que nos uniu. Grande parte das pessoas envolvidas são tocadoras ou até mesmo construtoras deste instrumento, o que criou a ligação inicial entre nós. No entanto, temos vindo a expandir o nosso foco para outras áreas, como pintura, escultura e afins.
Em 2019, na última edição realizada em Santo Estêvão, Tavira, apresentamos pela primeira vez em Portugal uma exibição de instrumentos, os “Yidaki”, que são os instrumentos originários da Austrália, especificamente da região de Arnhem Land. Esta exibição inclui não apenas instrumentos, mas também pinturas e outros artefactos da cultura aborígene, pertencentes ao nosso amigo e músico da Holanda, Michiel Teijgeler. Foi a primeira vez que se realizou em Portugal uma exibição dedicada à arte do didgeridoo, embora possam ter existido outras iniciativas culturais relacionadas.
Estamos ainda a procurar a melhor forma de divulgar o instrumento e a sua origem, pois, embora muita gente seja atraída pelo didgeridoo, não é fácil transmitir o seu contexto cultural. Costumo dizer que o didgeridoo é como um iceberg: as pessoas só veem a ponta, que é o instrumento em si, mas por detrás ou por baixo existe uma cultura imensa, uma das mais antigas do mundo. Na cultura aborígene australiana, o didgeridoo é apenas um pequeno elemento, e há muito mais de significativo para explorar. É isso que tentamos promover, trazendo grupos, exibindo vídeos e documentários, e desenvolvendo outras iniciativas.
No entanto, esta é uma área ainda em desenvolvimento. Não é simples, porque o público, em geral, concentra-se mais em concertos e atividades práticas. É nos workshops que conseguimos transmitir melhor este conhecimento, assim como ao apresentar artistas e instrumentos novos.
Apesar de tudo, o mote continua a ser o didgeridoo, mas ao longo dos anos outros elementos culturais têm caminhado connosco. Por exemplo, a dança e a percussão africana, representada por Joana Peres, Russo, Dez (André Soares), Sérgio Almeida, Vanessa —, é uma parte integrante da nossa história. Eles têm-nos acompanhado no percurso da APD, e tentamos explorar também esta vertente da cultura africana.
Temos ainda um vasto grupo de amigos artesãos, o que enriquece as nossas actividades, seja no festival ou fora dele. Procuramos, cada vez mais, incluir o elemento “T” de “tradicionais” no festival, ao juntar artesãos locais. Um bom exemplo foi a edição de 2024, onde realizámos workshops conduzidos por artesãos da zona de São Luís, no Alentejo. Estes incluíram construção de ocarinas, teares, e atividades como massagens através do som.
No fundo, um dos aspetos mais importantes da nossa associação e do festival é a integração das comunidades locais. Trabalhamos para promover este intercâmbio, trazendo as pessoas locais para os nossos eventos e criando uma verdadeira simbiose entre o global e o local.
Ao longo destes anos de trabalho da APD o que vos fez continuar e persistir e manter a realização do FATT? O que vos manteve no desenvolvimento deste projeto?
Eu e os restantes elementos gerimos a associação o melhor possível, o que não é uma tarefa fácil, porque não somos profissionais nesta área. Fazemos isto há muitos anos, mas nunca com uma dedicação a 100%. Tentamos sempre encontrar um equilíbrio financeiro para continuar a realizar os eventos, mas nem sempre é possível. Há sempre custos inesperados, e às vezes é difícil mantê-los sob controle. Procuramos ter um fundo de maneio para planear atividades futuras, mas é sempre uma incerteza. Durante muitos anos, tive de investir pessoalmente para que as atividades acontecessem. E enquanto houver esse espírito de luta e amor, continuaremos a fazê-lo, não só com investimento financeiro, mas também com dedicação de tempo e energia. O que nos une na associação é, sobretudo, essa energia coletiva. A componente financeira serve principalmente para trazer artistas e organizar atividades que inspirem as pessoas a perceber a magia do didgeridoo.
Até a terceira edição do festival, o evento era gratuito. Nunca pedimos dinheiro a ninguém. No entanto, percebemos que era difícil, por exemplo, trazer artistas sem lhes pagar um cachê. Por mais que tentemos, cada artista tem a sua vida e merece ser remunerado pela sua arte. Mesmo que os nossos cachês não sejam elevados, sempre respeitamos esta regra: todos os artistas que participam no FATT são pagos. Tentamos também realizar trocas de conhecimentos; por exemplo, as pessoas podem participar em atividades em troca de bilhetes, e estabelecemos acordos mútuos.
Contudo, manter a associação viva é um desafio constante. Durante muitos anos realizamos a maioria das nossas actividades na zona do Algarve, principalmente no concelho de Loulé e também trabalhamos muitos anos com a CM Lagoa. Este tipo de apoio tem sido crucial para conseguirmos organizar os eventos. Ainda assim, é muito difícil fazer este tipo de atividade sem cobrarmos entradas. As receitas servem para cobrir os custos do evento, e qualquer excedente é guardado para financiar eventos futuros. Como somos uma associação sem fins lucrativos, não há lucros. Nenhum associado é remunerado, e o dinheiro gerado serve exclusivamente para o desenvolvimento das atividades.
Ao longo dos anos, o FATT tem sido um espaço especial. É fantástico ver famílias a crescerem com o festival. Já vimos casais formarem-se no FATT, e agora regressam com filhos…este detalhe é mágico.
Estas pessoas sabem que tudo o que fazemos é por amor à camisola. A edição de 2024 foi um exemplo disso: exigiu um esforço tremendo, energético, financeiro e pessoal de toda a equipa, mas foi muito recompensador.
Um dos grandes desafios que enfrentamos é a falta de um espaço próprio. Cada evento que realizamos, por mais pequeno que seja — seja para 300, 500 ou 1000 pessoas —, requer uma logística enorme. No entanto, no final, temos de desmontar tudo, porque o espaço não é nosso.
É como plantar uma árvore e depois cortá-la porque não podemos cuidar dela. Foi preciso muito tempo, mas nesta última edição encontrámos um espaço com potencial de crescimento, um local chamado Ribeira do Ruivo (Interior da vila de São Teotónio, Odemira) o terreno onde aconteceu a edição de 2024, é o local da minha casa, onde a minha família, eu, a Susana e a Francis vivem. Sempre foi um sonho ter a possibilidade de desenvolver um local para ter as melhores condições possíveis para receber público e criar uma experiência ao redor do didgeridoo.
Este local dá-nos a possibilidade de “plantar árvores”, no sentido figurativo, para que as coisas possam crescer e tornar-se mais autónomas no futuro. Ter um local nosso para expandir as nossas iniciativas. Queremos criar mais atividades não só relacionadas com o didgeridoo, mas também com outras formas de arte, sempre com o objetivo de inspirar e unir as pessoas em torno música e cultura.
Muitos dos elementos que organizam o FAAT são do Algarve? Originários do Algarve e do Alentejo? É essa a razão que tem levado o FAAT a ser realizado sempre pelo sul?
Por acaso, essa é uma pergunta que muita gente faz: por que motivo realizamos as atividades apenas no sul do país? A verdade é que já organizamos algumas no norte, mas como somos um grupo pequeno, há sempre uma grande necessidade de termos dois ou três elementos presentes nos locais onde as atividades decorrem. A nível logístico e de comunicação com outras entidades, é complicado, especialmente se considerarmos, por exemplo, que eu vivo no Porto e quero organizar um evento no Algarve. Sem pessoas na zona do Algarve, seria bastante difícil e dispendioso, tanto em termos de tempo como de logística, para gerir tudo, desde reuniões com entidades locais até à organização propriamente dita.
Por isso, praticamente todos os nossos eventos têm lugar no Algarve, excepto em 2024 que fizemos o FATT pela primeira vez na Ribeira do Ruivo, no concelho de Odemira. No Algarve, concelho de Loulé, contamos com o Zé João e a Manoli Ortiz, que são membros da Associação. É nesta zona que temos trabalhado com maior intensidade, organizando as atividades nas áreas onde temos uma maior proximidade. Os restantes elementos juntam-se no local conforme necessário.
Atualmente, grande parte dos associados encontra-se entre o Alentejo e o Algarve, embora tenhamos também membros na zona de Setúbal, Lisboa e até no estrangeiro. Ainda assim, para que um evento aconteça, é essencial haver uma ligação local.
Já fizemos atividades no norte, por exemplo a “Residência de Didgeridoo”, durante 3 anos na Aldeia de Campo Benfeito (Castro Daire) e o “FATT Indoor”, no Porto. Certamente há lugares lindíssimos no centro e norte para realizar atividades, mas como a nossa vida está mais no sul, temos dado prioridade a estas regiões. Mas no entanto estamos abertos a propostas e queremos levar o didgeridoo a todos os cantos de Portugal.
Houve algum apoio institucional, regional, algum município, alguma outra associação, organização que tenha apoiado ao longo destes anos o FATT de uma forma mais regular ou algum apoio que seja importante referir?
A nível de instituições, nomeadamente câmaras e entidades privadas, temos concentrado muitas das nossas edições no Algarve, particularmente no município de Loulé, onde está a nossa sede (Aldeia da Penina). Esta Câmara tem sido um grande apoio para nós, graças à nossa experiência, história e ao tipo de atividades que realizamos, que têm sido muito bem recebidas por eles. Com o apoio da Câmara de Loulé, conseguimos organizar vários eventos e criar parcerias para promover o didgeridoo e outras artes associadas. Também fizemos muitas edições do FATT, no sítio das Fontes (Estômbar) com apoio da Câmara Municipal de Lagoa.
No entanto, grande parte das nossas atividades continua a ser feita sem qualquer tipo de apoio externo. Este é, sem dúvida, um dos grandes desafios que enfrentamos enquanto associação. Atualmente, conseguimos manter as atividades principalmente graças à venda de bilhetes e ao investimento pessoal, tanto energético como financeiro, dos membros.
Estamos, contudo, a tentar expandir a associação e explorar novas oportunidades de financiamento. Este ano, identificámos um contacto que poderá ajudar-nos a entrar no mundo dos apoios europeus e das artes subsidiadas pelo Estado. Esta é uma área que nunca exploramos de forma estruturada, mas sentimos que temos potencial para crescer neste sentido, uma vez que o que fazemos é único e transmite uma magia especial. Todas as pessoas que participam nos nossos eventos conseguem sentir isso.
Embora existam muitos festivais com conceitos semelhantes, esforçamo-nos para manter uma abordagem “artesanal” e autêntica, dando alma ao que fazemos. Quando as coisas são feitas por amor à camisola, o resultado é completamente diferente do que seria se houvesse apenas um objetivo financeiro rígido. Não queremos ser pressionados por metas financeiras específicas ou comprometer os valores que nos movem.
A independência é um dos nossos principais objetivos. Sabemos que alcançar a auto-suficiência financeira requer tempo e muito esforço, mas é um caminho que acreditamos ser possível. Queremos continuar a colaborar com entidades locais e outras organizações, mas sem perder a nossa essência e sem nos associarmos a qualquer ideologia ou entidade específica. O nosso foco é no didgeridoo, na arte e no modo de vida que valorizamos.
Existem exemplos de organizações e eventos que conseguiram alcançar este nível de independência, e olhamos para eles como inspiração. Agora, cabe-nos encontrar estratégias e explorar oportunidades de apoio que nos permitam crescer e tornar-nos sustentáveis, sem comprometer os nossos princípios.
Por fim, gostaria de expressar a minha gratidão a todos os elementos da APD, aos artistas, ao público, às entidades e a todos vocês que participam nos nossos eventos e contribuem para que a APD continue a lutar e a realizar atividades em torno do didgeridoo. Este apoio tem sido a chama que nos mantém vivos e que nos faz acreditar que estamos a contribuir para um futuro melhor.
Enquanto o sonho se mantém vivo, tudo o resto acontece. É essa chama que nos inspira e nos dá forças para continuar a criar, inovar e partilhar a magia do didgeridoo com o mundo.