Faixa de gajos

Faixa de gajos “O mundo dá voltas” é um dos ditados mais antigos e mais utilizados em toda parte. Portugal invadiu o Grão-Pará e o Brasil em busca de riquezas naturais extraídas através de trabalho escravo no passado e hoje os brasileiros comandam uma invasão em busca de uma vida melhor. Ainda que este país pequenininho esteja entre um dos mais pobres da Europa e aqui também tenha muitos problemas (tive a casa invadida e minhas coisas furtadas), ainda assim é uma realidade mais pacata e menos desigual do que aquela que herdamos no nosso gigantesco país tropical como consequência da brutalidade da nossa invasão, exploração e opressão colonial. E, sim, apesar de não podermos responsabilizar individualmente os cidadãos portugueses pelas ações de seus antepassados, Portugal como Estado tem uma dívida histórica gigantesta, um dever de reparação incontestável. É difícil de engolir para alguns, mas como se diz por aqui, é o que é.

Mukanda

22.04.2025 | por Gabriella Florenzano

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos

Manual de L&CCV do 10.º ano: estamos a fugir dos caminhos Um sistema de escrita é apenas uma ferramenta para grafar a língua — e não pode, por si só, “conter” as variedades linguísticas. Escrita não é língua. Se o objetivo é permitir grafar qualquer variedade, então essas variedades devem aparecer com as suas especificidades. Como as palavras apresentam formas distintas em cada variedade, não se pode adotar uma escrita uniforme — como a proposta pelas autoras — sem perdas significativas.

A ler

21.04.2025 | por Eleutério Afonso

Turistas não, imigrante sim, mas só os pobres

Turistas não, imigrante sim, mas só os pobres Nunca nos consideramos turistas. Porque vamos para os outros mundos com “propósitos nobres”, levamos cultura, espalhamos arte, vamos em busca de luz, procurando mudar o mundo e cuidar do meio ambiente principalmente através de viagens aéreas. Nós não viajamos para consumir folclore ou atraídos por um produto urbano-mercantil criado por um visionário qualquer, nós não fazemos filas para andar cem metros numa espécie de elevador da Bica ou para provar uma queijada de Belém local. Nem fotografias tiramos para as nossas redes sociais. Nós não somos turistas. Nós levamos mais-valias culturais para outras cidades.

Cidade

21.04.2025 | por Marinho de Pina

«Black Rio! Black Power!, o som da identidade negra

«Black Rio! Black Power!, o som da identidade negra Junto a isso, eram lançadas mensagens afirmativas que fortaleciam a estética black — que assustava a sociedade (ainda em 2002, as vendedoras negras das boutiques da zona sul do Rio eram obrigadas a alisar os cabelos ou, no mínimo, trançá-los). Reivindicava-se o direito de aspirar à ascensão social. “O primeiro engenheiro negro que conheci foi o Filó; o nosso destino era ter um lugar subordinado” afirma um dos entrevistados.

Palcos

15.04.2025 | por Laura Burocco

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt)

Moção aprovada pela reunião ordinária, de 5 de abril de 2025, da assembleia da delegação da associação da língua materna cabo-verdiana em portugal (dalmacv.pt) A Comissão Científica da DALMACV-PT composta, in casu, por Ana Josefa Cardoso, Dulce Pereira, Alice Matos, Nélia Alexandre e Hans-Peter (Lonha) Heilmair informa que o processo de análise e reflexão sobre o "Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana" se encontra em curso. Esta reflexão crítica de leitura do manual incide sobre três tópicos: i) Questões Linguísticas; ii. Questões Pedagógico-Didáticas e iii. Questões de Política de Língua.

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14.04.2025 | por vários e José Luís Hopffer Almada

Migro, logo existo

Migro, logo existo Mas a cor é um território. A sexualidade, território. A crença, território. O corpo, território. O género, território. A memória, território. A dança, território. O cabelo, o sonho, o luto, a trauma (seja lá o que isso for), a língua e a linguagem, são todos territórios. Territórios, não propriedades privadas. Mas queremos colocar fronteiras, colocar linhas e marcas em tudo, apesar de todos vivermos em migrações constantes.

Mukanda

14.04.2025 | por Marinho de Pina

Angola entra com lei pesada no combate às “fakenews”

Angola entra com lei pesada no combate às “fakenews” O governo angolano entende que apesar deste tipo de disseminação não ser um acontecimento recente, com a existência da Internet tudo se tornou mais rápido e eficaz, sendo insuficientes as “ferramentas tradicionais do direito” tendo em vista o seu combate. Neste contexto considera-se urgente “a necessidade de se adaptar uma abordagem legal suficientemente abrangente e integrada das informações falsas ocorridas na internet”.

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13.04.2025 | por Reginaldo Silva

A menina burra e a caixa invisível

A menina burra e a caixa invisível Essa sabedoria só resultava dentro dela, mas como nenhum deles sabia sequer que estava em uma caixa, nem que havia algo fora da caixa, e menos ainda nomear todas as coisas e cores estranhas que existiam e que, agora, a menina, que fora burra quase toda a vida, conhecera justamente por causa da sua desobediência. Na triste história da menina burra, a história não acaba assim tão triste, e a menina não acaba assim tão burra. Ela aprendeu a aprender, aprendeu que era a escuridão da caixa a impedia de enxergar conhecimentos e sabedorias, e finalmente foi aos registos e mudou seu nome para "a menina cujo cérebro só aprendia na luz".

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11.04.2025 | por Manuella Bezerra de Melo

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento

Manual do 10.º ano de língua e cultura cabo-verdiana – nota de esclarecimento  Sentimo-nos no dever de esclarecer o grande público quanto a alguns dos princípios orientadores (socio)linguísticos, pedagógicos e didáticos, há muito atestados em literatura especializada e em contextos semelhantes à ecologia linguística cabo-verdiana, que fundamentam todas as opções adotadas na elaboração do Manual, inclusivamente a escolha de uma proposta de ortografia pandialetal para a voz das autoras.

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10.04.2025 | por vários

Nota Autobiográfica ao livro "O Cemitério do Elefante Branco"

Nota Autobiográfica ao livro "O Cemitério do Elefante Branco" Nos meus 12 anos, limitava-me a vê-los e a ouvi-los falar, sem dizer nada. Escutava e assimilava, como se estivesse sentado em frente de uma televisão, olhando as notícias através da neblina do fumo do tabaco. Observado em silêncio, aquele ambiente de decadência, ruína e letargo convertia-se num espectáculo irresistível e aguçava o meu apetite intelectual. Havia algo, ali, que me repelia profundamente, mas que, ao mesmo tempo, me atraía poderosamente. Aquelas personalidades, regadas com álcool, sarcasmo e uma enorme capacidade de mentirem a si próprias, eram atormentadas e autodestrutivas, arrogantes e sedutoras, viscerais e sofisticadas, vulcânicas e complexas. Estavam na Europa, mas com a cabeça totalmente no outro hemisfério do planeta, incapazes de cortar o cordão umbilical com as ex-colónias.

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08.04.2025 | por João Pedro George

Dr.ChatGpt ou de Como eu aprendi a não me preocupar com a IA e passei a amá-la.

Dr.ChatGpt ou de Como eu aprendi a não me preocupar com a IA e passei a amá-la. A IA pode escrever toscamente piadas, mas isso não acontece com a maioria dos seus concorrentes humanos? E ao combinar estilos de humoristas passados ou contemporâneos, ou fazendo pastiches de ídolos, será a IA assim tão diferente dos humoristas que procuram ainda a sua “voz”? No fundo, como os escritores que, influenciados pelas suas “leituras”, escrevem à “maneira” de um Lobo Antunes, de um Saramago ou um Hemingway, ou seguindo as regras de determinados géneros e de correntes literárias, ou os cineastas que fazem filmes à Tarantino, westerns fordianos, melodramas Almodovaríanos? Fábio Porchat, por exemplo, começou a sua carreira interrompendo o programa de um ídolo nosso (Jô Soares) para representar um guião de Porchat, de um hipotético episódio da série os Normais, criada e escrita por Fernanda Young, em que Porchat faz os papeis de Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães).

Cara a cara

07.04.2025 | por Pedro Goulão

“Explosão musical contra a motosserra de Milei”

“Explosão musical contra a motosserra de Milei” A canção de protesto é marca profunda na América Latina. Lá no Sul, na Argentina, a música voltou às ruas para denunciar a destruição do Estado de bem-estar e a repressão de grupos vulneráveis ou de qualquer um que grita alto nas ruas contra o governo de Milei. A memória do cancioneiro latino-americano das ditaduras-Condor atualiza-se – não é mais só trova, virou rap, hip-hop reggaeton, pop, trap. Som vivo contra esta regressão que tenta, como antes, impor silêncios profundos.

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02.04.2025 | por Pedro Cardoso

Ela desnomeia

Ela desnomeia A definição não é alheia à vontade de substituir o sistema dominante, socialmente estabelecido. A indefinição, contudo, corresponde a outra estratégia, uma que exige que nos mantenhamos abertos ao mundo e aos outros. Nada, nem mesmo a linguagem, está garantido. Afinal, “desnomear” nem sequer é uma palavra. Eva tem estado sempre a imaginar um mundo diferente daquele que conhecemos.

Corpo

01.04.2025 | por Marta Rema