Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe

Em direção ao amanhã, na X Bienal de São Tomé e Príncipe Este ano é na roça e não na cidade que se dá o primeiro passo da Bienal, a roça onde tudo começou, Água Izé. A história da roça de Água Izé é a história de tantas outras roças, a história que começa com a ocupação colonial das terras, a plantação, a explosão das roças por toda a paisagem das ilhas, a exploração de pessoas e do solo, a história que culmina na independência, no fim do chicote, na nacionalização das roças, e por fim na sua distribuição a privados nos anos 90.

Vou lá visitar

30.06.2024 | por João Moreira da Silva

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções

Everything you touch, you change: o legado dos futuros co-criados pelas mais fantásticas ficções Durante o tempo que corria lento, shelter-in-place, fui mergulhando nos universos que estas duas mulheres traziam para mim. Nunca mais parei. Quando comecei a escrever este texto, tinha a forte sensação de que haveria algo mais a ligar estas duas mulheres do que a sua força e uma necessidade de construir narrativas quase tão intensa quanto a sua necessidade de destruir outras (narrativas). Entre o luto da minha cadela e uma busca voraz de futuro que me levou a mergulhar de cabeça na tradução do texto Positive Obsession/Obsessão Positiva, de Butler, descobri esta ligação. O que se segue é a história desta descoberta.

Corpo

27.06.2024 | por Patrícia Azevedo da Silva

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida]

O estranho caso do escritor Germano Almeida [ou contra a pregação supremacista e o negacionismo glotocida] Quem escreve em língua cabo-verdiana, por ponderada e consciente decisão cultural e identitária, por ser esse o meio através do qual melhor se sente, cria ou se exprime, ou ainda por qualquer secreta ou inconfessável tara, mesmo que só por simples briu di korpu o kabesa ka bale, e não por refúgio ou como muleta, por não dominar convenientemente outra língua, já chegou exatamente onde queria chegar.

A ler

27.06.2024 | por José Luiz Tavares

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes

Uma página de nós: monólogo para cinco vozes Eu que vou ter de comer umas duas colheres desta papa antes de ir dormir, porque conheço a fome. A fome vence o sono. Lá pela madrugada, depois da fome instalar o seu governo dentro de nós, é um inferno total. Só quem já experimentou esta situação sabe do que estou à falar. A fome é implacável, a fome não perdoa, causa uma dor de cabeça que só Deus sabe, algo rói o estômago como uma gadanha arrastando o capim, a cabeça fica uôlo uôlô, as pernas ficam bambas, os olhos ficam viano, viano. É o fim! Vemos cada coisa estranhas. Parece que nos encontramos com a morte.

Palcos

24.06.2024 | por Pedro Sequeira de Carvalho

Ver como um lobo

Ver como um lobo As últimas décadas assistiram a um regresso dos lobos às serras portuguesas, onde o trabalho da conservação vai tomando o lugar de uma oposição ancestral, ao mesmo tempo material e simbólica. Com conceção e direção artística de Bruno Caracol, Ver como um lobo parte da relação entre corpos de lobos e corpos humanos, dos usos dados pela medicina popular a órgãos de lobos (goelas, olhos, ossos) conservados, das imagens das caçadas, aos modelos de previsão de comportamento e de gestão de população usados pela Biologia.

Palcos

24.06.2024 | por vários

Apresentação de “O cemitério  do elefante branco: Retornados e Ficções do Império português”

Apresentação de “O cemitério  do elefante branco: Retornados e Ficções do Império português” Essas pessoas agora sentiam muito ódio, muito medo, muita insegurança e vulnerabilidade. Mas quantos milhares e milhares de negros tinham experimentado isso ao longo dos tempos? Quantos milhares de negros não sentiram a profunda sensação do absurdo daquilo que lhes estava a acontecer? Quantos milhares de negros não sentiram que a sua vida iria de certeza ter um final trágico? Quantos milhares de negros não viveram e morreram fervendo de ódio nas plantações de café, a trabalhar nas minas, ou apanhados pelas armadilhas da tributação que fazia com que de um dia para o outro dessem consigo em São Tomé nas roças de cacau, onde esgotados pelo trabalho do contrato, chegavam por si próprios à conclusão que nunca mais regressariam para a sua família e para a sua terra. Ninguém lhes escutava os gritos e ninguém lhes limpava as lágrimas, durante anos, décadas e séculos, não houve nem consolo, nem misericórdia.

A ler

21.06.2024 | por Cármen Loureiro Rosa

Religião, legislação e o estupro aos direitos femininos no Brasil

Religião, legislação e o estupro aos direitos femininos no Brasil Após o fracasso das tentativas, o nome completo da criança e o hospital onde o aborto seria realizado foi vazado para uma ativista de extrema direita que convocou uma verdadeira caça às bruxas, endossada por uma horda de seguidores. A menina precisou de entrar escondida, no porta-malas de um carro, no hospital no Recife, no Estado de Pernambuco, onde finalmente conseguiu ter seu direito cumprido, porém precisou aderir ao Programa de Apoio e Proteção às Testemunhas, Vítimas e Familiares de Vítimas da Violência (Provita) e mudar de identidade e endereço para ter a oportunidade de viver sem a perseguição de fanáticos religiosos.

Corpo

19.06.2024 | por Gabriella Florenzano

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas

Entrevista a Jeanne Waltz a propósito de O Vento Assobiando nas Gruas  Esta história ficcional da autoria de Lídia Jorge, passada no Algarve durante o boom imobiliário dos anos 90, agora tornada filme, aborda várias dimensões da realidade portuguesa contemporânea: o desengano pós-revolucionário, a imigração cabo-verdiana, a herança colonialista e o racismo. 50 anos decorridos da Revolução dos Cravos, e num momento político em que os valores democráticos estão constantemente a ser postos à prova, este filme convida a uma reflexão sobre o discurso de Portugal como uma sociedade não racista e sobre o imperativo de respeitar todos os seres humanos independentemente das suas diferenças, quaisquer que elas sejam.

Afroscreen

12.06.2024 | por Patrícia Martinho Ferreira e Laura Caballero Rabanal

O mundo que de outro modo não é

O mundo que de outro modo não é Há um traço ancestral latente na articulação do gesto utópico, e no movimento vital desse gesto. Uma estória sobre começos, e sobre fins sempre presentes. Uma conversa, implícita e antiga, com todos os passados que nem como história, subsistem, não tendo sobrevivido aos protocolos de transliteração. Uma faísca anímica, sumiça – a da cedência de controlo sobre o cálculo de probabilidades que constitui o real enquanto tal. Algo movido pelo convívio com a perda, que a traz e carrega consigo – com raiva, orgulho, curiosidade, e carinho.

A ler

12.06.2024 | por Salomé Honório

A vida na clandestinidade

A vida na clandestinidade Documentário forte que não só documenta as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em Barcelona, mas também desafia os espectadores a reconsiderar suas percepções e atitudes em relação à imigração e às políticas sociais, falta muita empatia no mundo e nos dias que vivemos.

Afroscreen

10.06.2024 | por Mariana Ribeiro Mota

Olhar “ao contrário”, entrevista com o arquiteto Paulo Moreira

Olhar “ao contrário”, entrevista com o arquiteto Paulo Moreira Grande parte deste livro foi editado precisamente de “cabeça para baixo”, em Joanesburgo, onde tenho passado algumas temporadas, num novo desafio académico. Isto fez-me pensar na convenção de que no hemisfério norte as pessoas estão “em cima”, enquanto no sul tudo parece acontecer “ao revés”. A verdade é que, como sabemos, segundo as leis da gravidade deste planeta esférico, ninguém está “de pernas para o ar”. Esta constatação é óbvia e factual do ponto de vista da física, mas está longe de ser evidente para todos. O livro apresenta algumas destas evidências.

Cidade

08.06.2024 | por Marta Lança e Paulo Moreira

Luanda, Lisboa, Paraíso: a cartografia da violência dos sujeitos da diáspora

Luanda, Lisboa, Paraíso: a cartografia da violência dos sujeitos da diáspora Sob a pele dos protagonistas Cartola e Aquiles vemo-nos de forma frontal com a experiência de sujeitos que continuam a habitar o território do não pertencer, a despeito de suas presenças já contarem com cinco séculos de existência em Portugal. O texto literário da escritora Djaimilia Almeida ilustra esses limites relacionados à pertença e a complexidade de construir uma subjetividade a partir dos trânsitos, deslocamentos e do não pertencimento.

A ler

06.06.2024 | por Liz Almeida

Angola/ Alguém viu por aí o jornalismo investigativo?

Angola/ Alguém viu por aí o jornalismo investigativo? O país viveu numa situação de ditadura monopartidária assumida nos seus primeiros 17 anos, que também ficou conhecida no discurso oficial com o pomposo nome de “ditadura democrática revolucionária”. Lamentavelmente, a situação prolonga-se até aos dias de hoje embora já com algumas diferenças na sua fachada constitucional e institucional com a existência formal de um regime multipartidário que não alterou, contudo, a natureza do poder absoluto que governa o país com os mesmos vícios de sempre não obstante todo o rejuvenescimento que, a olhos vistos, a elite no poder tem conhecido.

A ler

06.06.2024 | por Reginaldo Silva