Djam Neguin lança o seu EP Autofagias, a música do cuidado
No dia 26 de julho o performer e cantor cabo-verdiano Djam Neguin disponibiliza nas plataformas digitais o seu mais recente EP com o título Autofagias. Este fonograma foi sendo pensado como processo criativo a partir do momento em que o mundo parou devido à pandemia pelo COVID-19. Esta suspensão serviu de mote para uma reciclagem introspectiva de Djam depurando aquilo que interessa e não interessa para a sua vida artística. “A pandemia trouxe desafios e adversidades, mas também abriu portas para uma profunda transformação, tanto a nível global quanto individual. Fomos forçados a parar e a refletir sobre as nossas vidas e valores”, reflete Djam. Tal como as células humanas que para a sua vitalidade “comem” células danificada, processo biológico ao qual se dá o nome de autofagia. “As composições nasceram de uma mudança de perspetiva, novas lentes através das quais procuro agora ver e sentir o mundo ao meu redor”, comenta Djam Neguin.
As seis músicas do EP Autofagias são, assim, metaforicamente, um processo de reciclagem e de renovação emocional e espiritual, onde se enfrentam e processam as experiências humanas, em vez de simplesmente as ignorarmos ou reprimirmos. Este conceito de cura e autocuidado reflete-se profundamente nas faixas cantadas por Djam Neguin.
Tudo Kussa Muda fala sobre a transformação interna vivida durante a pandemia. Badio Branku, lançado em 2022, aborda o colorismo e inclui o discurso “I Have a Dream” de Martin Luther King. Bom Feeling, de 2023, celebra os novos começos e a importância de se conectar com o que nos faz sentir vivos. Krew Txeu aborda o amor como ato político, com a participação de Nha Balila. Bensom fala sobre a crise ansiogénica dos tempos modernos e a sabedoria dos mais-velhos sobre a calma e serenidade. Por fim, “Mundo Nobu”, com discursos de Amílcar Cabral, é um cântico à construção de um novo mundo. Uma das grandes novidades de Autofagias é a utilização de Inteligência Artificial na produção de visuais. “Para os artistas negros, estas tecnologias representam uma oportunidade de inovação e uma ferramenta poderosa para promover representatividade autêntica e diversa”.
Djam Neguin tem investido na criação de imaginários afrofuturistas, onde a africanidade é vista em suas potências futurísticas. Com Ka Bu Skeci Tradison iniciou uma fase de contribuição para imaginários afrocentrados, celebrando corpos e identidades diversas. “Incorporar perspectivas queer amplia a representatividade e subverte narrativas tradicionais, moldando percepções e atitudes”, explica o artista que trabalhou sonoridades do continente africano como afrobeat, afropop e amapiano.
Autofagias emerge como um manifesto de transformação pessoal e coletiva, celebrando a diversidade e a inovação. Basta para isso colocar os auriculares e deixar-se guiar pelo canto de esperança que surgiu de um tempo de grande aflição.
A primeira apresentação pública de Autofagias será em França, no dia 26 de julho, no Performative Art Forum. Em seguida, Djam Neguin atuará em Salvador da Bahia, Brasil, de 13 a 16 de agosto. Em Portugal, estão previstas apresentações em outubro, marcando o início de uma tour que se estenderá até 2025. Para Cabo Verde, ainda não há previsão de concerto de apresentação. “Tenho muitos outros projetos em andamento, e agora, mais do que nunca, a música será um lugar de encontro para todas as minhas vertentes artísticas. Portanto, investirei fortemente na componente performativa, estética e audiovisual das minhas apresentações”, conclui Djam Neguin.