A fotografia e a guerra formam, na nossa época, uma parelha que tem muito que se lhe diga, mas não uma leitura única. Susan Sontag, uma escritora americana que descreveu, historiou, e tentou explicar a estranha coligação deste estranho casal (a fotografia e os sofrimentos da guerra) no seu livro “Ohando o sofrimento dos outros” (que diga-se de passagem, foi traduzido por mim) diz a certa altura: “As guerras são agora também imagens e sons de sala de estar. A informação sobre o que está a acontecer noutro sítio, a que se dá o nome de «notícias», sublinha o conflito e a violência – If it bleeds, it leads [«Se há baixas, há cachas»], reza a provecta divisa dos tabloides e dos programas noticiosos de 24 horas – que recebem em resposta compaixão, ou indignação, ou excitação, ou aprovação, à medida que cada notícia vai surgindo.”
Vou lá visitar
15.03.2024 | por José Lima
Essa dor é o amor pleno do qual fizeste forma de vida e matéria para a tua escrita. Vimo-la no trabalho sobre as capacidades dos que te estiveram ao redor. É isto o amor que nos quiseste dizer, por outros sinais, na tua forma de vida, na doação plena às pessoas, no cuidado e atenção com cada um, nos códigos cifrados da tua literatura, mas sempre lá esteve. Tudo é amor!
Para que o vivamos em pleno, para que se tivermos de bazar no dia seguinte, levamos como única garantia do fica com os outros, os nossos!
A ler
13.03.2024 | por Zezé Nguellekka,
o autor resolveu extravasar a substância do livro, em si assaz inócua e inofensiva pois que ratificador do consenso ou, pelo menos, da opinião amplamente maioritária actualmente existente na sociedade caboverdiana das ilhas e diásporas quanto à natureza crioula da identidade cultural caboverdiana e porque largamente descritiva do que o autor considera as expressões arquipelágicas mais relevantes da crioulidade caboverdiana, para nas entrevistas acima referidas tentar recuperar as ultrapassadas teses sobre a suposta diluição de África na crioulidade caboverdiana e da orfandade continental do nosso arquipélago.
A ler
05.03.2024 | por José Luís Hopffer Almada
Decidi traduzir o discurso do Mohammed (Maomé, não David) numa sessão do Palestine Festival of Literature –que decorreu no dia 13 de dezembro de 2023, em Londres– porque este é atravessado pelo pessoal e pelo político que marcam a experiência do poeta palestiniano neste presente de genocídio, um presente que se repete e que se acumula desde antes de 1948 e que é partilhado, de alguma forma, com todos/as os/as palestinianos/as nos seus diferentes exílios.
A ler
05.03.2024 | por Bruno Costa
A investigação expõe o uso de um sistema chamado "Habsora" ("O Evangelho"), que utiliza tecnologia de Inteligência Artificial para gerar quatro tipos de alvos: alvo tático, alvo subterrâneo, alvo de energia e casas de família. Os alvos são produzidos de acordo com a probabilidade de que combatentes do Hamas estejam nas instalações. Para cada alvo, é anexado um arquivo que "estipula o número de civis que provavelmente serão mortos num ataque". Esses arquivos fornecem números e baixas calculadas, para que, quando as unidades de inteligência realizam um ataque, o exército saiba exatamente quantos civis provavelmente serão mortos.
A ler
02.03.2024 | por Anaïs Nony
Na semana passada, “Temporada de Furacões”, da escritora mexicana Fernanda Melchor, venceu Correntes d’Escritas, o Prémio Literário Casino da Póvoa. O romance, resume o júri, “caracteriza o lado mais sombrio da natureza humana, numa comunidade dominada pela violência mais extrema e pela luta entre cartéis de droga”. Para lá desta súmula fácil, a voz de Fernanda Melchor. Em recortes de jornais.
A ler
01.03.2024 | por Pedro Cardoso
A partir dos anos ’50, pelo menos, o compromisso dos poetas com a libertação fica mais evidente, marcado. É verdade que os intelectuais, na época, faziam parte de uma elite muito reduzida, mas deram-se a tarefa de mostrar – tanto a nível interno, como no plano internacional – as condições de repressão e opressão que as sociedades coloniais geravam; as injustiças às quais o povo era submetido. Toda a geração de escritores negritudinistas, Pan-africanistas e independentistas que surgem naquela época geraram debates internos, e também levaram as lutas para fora do espaço colonial.
Cara a cara
29.02.2024 | por Noemi Alfieri e Cláudio Fortuna
Uma verdadeira corrida atrás da popularidade a pensarem certamente em ganharem algum dinheiro que é o que mais falta faz nos bolsos dos angolanos, sobretudo se este “kumbú” for em euros ou dólares. Por razões até legais, a começar pela exigência de uma carteira profissional passada por uma entidade pública, o exercício do jornalismo não pode estar no mesmo saco, onde cabem os tais conteúdos e os seus produtores. Em causa estão, antes de mais, as responsabilidades, entre direitos e deveres, que o exercício da actividade implica quer por parte dos seus profissionais quer pelos órgãos.
A ler
29.02.2024 | por Reginaldo Silva
O que fizemos ao certo, nós que não iniciamos nenhuma revolução industrial, nem explodimos a bomba atómica? Nós que não distribuímos o agente laranja e muito menos o chlordécone? Nós os habitantes de um país cuja única guerra foi exatamente para recuperar um bioma, preservar vidas e o direito à respiração? O que fizemos nós, os resistentes da terra, para que ela nos condenasse? De facto, como dizia alguém, um dos crimes do colonialismo foi alienar-nos de tal modo a ponto de acreditarmos que a nossa simples existência constituía/constitui em si, uma aberração.
Mukanda
21.02.2024 | por Apolo de Carvalho
Durante muito tempo a gente tratou a arte como ilustração, a ideia de que era um produto do seu contexto. Mas e que tal se a gente inverter, uma vez que vivemos numa civilização da imagem, e pensar que a imagem não é produto, ela é produção, ela produz valores, ela produz concepções. E também quando você faz uma crítica interna a essa classificação da branquitude, nós podemos passar por várias questões: quais são as pessoas retratadas? São em geral, homens. Quem é que está nu? Basta ver o movimento Guerrilla Girls, as mulheres estão nuas nos museus. Há que se fazer uma política de acervos, há que se fazer uma política de reestruturação do cânone e das nossas agendas, dos nossos currículos básicos.
Cara a cara
19.02.2024 | por Marta Lança
Os segredos de Estado tornam-se mitos em países como Angola ou a China. São autênticos cofres vazios, lendas populares, elefantes brancos que ocupam o imaginário e o dia a dia do cidadão. Perguntei-lhe qual era o cheiro do corpo do Lenine, se cheirava a mofo no papel.
'Não! Tem um cheiro forte, sufocante e ao mesmo tempo vazio. Não dá vontade de espirrar, dá é mais vontade de não respirar.'
Afroscreen
16.02.2024 | por Fradique
É muito fácil esquecer que os hinos nacionais, as bandeiras e as insígnias foram criadas por mãos humanas, gente como nós. O processo de sacralização desses símbolos, como se tivessem sido obra de um deus no início dos tempos, como se sempre tivessem estado ali, como se fossem invioláveis e imutáveis, é uma espécie de pacto coletivo, não necessariamente consensual, muitas vezes implicando a existência de uma bandeira vencida e outra vencedora. Esse é, como sabemos, o caso de Angola, onde a bandeira vencedora triunfou sobre as outras.
Palcos
15.02.2024 | por Aline Frazão
No filme insinua-se a autocrítica, a crítica ao lugar de privilégio que permitiria conviver ou sobreviver com realidades duras, apesar de se sonhar uma cidade imaginária ou possível ao virar da esquina. Lugar de privilégio cuja dimensão passamos a compreender melhor no final do filme, a chave talvez para entender a natureza do sufoco de L.
Afroscreen
14.02.2024 | por Josina Almeida
Os carnavais brasileiros em Lisboa têm conhecido um aumento exponencial de adesão popular, e essa tendência vai permanecer. Trata-se de um movimento de caráter comunitário e associativo, realizado pela principal comunidade imigrante de Portugal, que representa cerca de 10% da população da cidade e constitui uma parcela significativa da população economicamente ativa. O objetivo da União dos Blocos é justamente garantir que esta celebração cultural possa acontecer da melhor maneira possível, com segurança, conforto e previsibilidade, trazendo assim inúmeros benefícios não só para a comunidade brasileira, mas para toda a cidade de Lisboa.
Cidade
07.02.2024 | por várias
Vemos, na atual situação mundial, que a literatura pode ser usada como muito bem entendem os poderes públicos e privados, num sistema capitalista e global, em que ela circula segundo as regras da indústria e do comércio, como qualquer elemento de lucro e capitalização, concorrendo com a salsicha. Não tenhamos ilusões, que a palavra pode matar ou perder o sujeito nos labirintos da subvida.
A ler
07.02.2024 | por José Luis Pires Laranjeira
Des/Codificar Belém é um projecto de cidadania activa do colectivo FACA que problematiza as narrativas e dissensões no espaço público, colocando em diálogo artistas e jovens de corpos outros, tomando Belém como espaço para reflectir a herança colonial através de ações artísticas em co-criação. Os artistas convidados trabalharam em residência artística com jovens, das quais resultaram a criação de objectos artísticos, realizados e apresentados no espaço público.
Cidade
06.02.2024 | por ColectivoFACA
Aprofundando ainda mais tensões já existentes entre povos que muitas vezes tinham sido inimigas e que agora eram obrigadas a conviver como compatriotas em territórios forçados sobre eles por forças externas, os colonizadores passaram a dar melhor tratamento aos que fossem “assimilados” e, melhor ainda, aos que fossem mais claros e tivessem traços “finos”.
A ler
06.02.2024 | por Aoaní d'Alva
Pela primeira vez na história da Argentina deu-se uma greve geral no primeiro mês de um governo novo. Na manhã de 24 de janeiro, Javier Milei foi confrontado com mobilizações de milhares de pessoas por todo o país, exigindo o fim da Lei Omnibus e do pacote de Decreto Nacional de Urgência. As ruas centrais de Buenos Aires encheram-se de forma organizada através de blocos de diferentes sindicatos e de grupos laborais. Da Praça de Maio ao Congresso (dez quarteirões) era impossível andar, de tal modo as pessoas estavam encavalitadas, gritando e empunhando cartazes contra o novo presidente.
Vou lá visitar
01.02.2024 | por Francisca Duarte
Nascida em 1980 em Luanda, a artista visual vive e trabalha com fotografia entre Londres e Lisboa. Nesta conversa falámos sobre alguns dos seus projetos relacionados com a cultura do cabelo, a maternidade, as tecnologias de controlo, os rituais fúnebres, e ficámos a conhecer o seu percurso e modo de estar na arte e na vida.
Cara a cara
30.01.2024 | por Marta Lança
Nos 30 anos da insurgência, o Exército Zapatista de Libertação Nacional aconselhou os companheiros de luta a não viajarem a Chiapas. Às décadas de militarização da região, de megaprojetos extractivistas, de despojo de terras e de violência paramilitar alentada pelo Estado, soma-se agora uma guerra sangrenta entre carteis de droga que arrasa a região. O governo mexicano diz que as denúncias e pedidos de ajuda são mera propaganda opositora. Os milhares de deslocados, as dezenas de mortos e o terror diário contam uma história muito diferente.
Jogos Sem Fronteiras
29.01.2024 | por Pedro Cardoso