António Jacinto: Poeta e Guerrilheiro

COLÓQUIO INTERNACIONAL | 04 abr. | 14h00-19h00 | Auditório | Entrada Livre - Biblioteca Nacional

No ano em que se comemora o 50.º aniversário da Independência de Angola e o centenário do nascimento de António Jacinto, a Biblioteca Nacional de Portugal organiza um colóquio de evocação e celebração de “António Jacinto: poeta e guerrilheiro”. Esta iniciativa é coordenada pelo escritor Zetho Cunha Gonçalves, organizador da edição da sua obra completa.

O colóquio será constituído por três partes. Numa primeira parte, vários investigadores e professores que estudam a obra de António Jacinto e a literatura angolana do século XX apresentarão os resultados das suas investigações mais recentes: Ana Paula Tavares, David Capelenguela, Francisco Soares, Francisco Topa, José L. Pires Laranjeira. Numa segunda parte, vários escritores e amigos do poeta darão o seu testemunho: Jacinto Rodrigues, João Melo, Luandino Vieira, Manuel F. Martins e Sofia do Amaral Martins. Uma terceira parte será constituída pela transformação do colóquio num livro de homenagem editado pela Biblioteca Nacional de Portugal. Nele constarão os estudos e testemunhos acompanhados das suas mais importantes fotografias.

Resumos

Linguagem literária e tradução em Fábulas de Sanji de António Jacinto | Ana Paula Tavares

Entre fórmulas fixas e jogos de palavras, António Jacinto persegue, neste livro, a memória coletiva de uma determinada sociedade e inscreve o seu repositório no património da oralidade da sociedade angolana.

Atravessando novas propostas teóricas para lá das fontes e da construção do texto vamos deter-nos na tradução e nos diferentes trânsitos entre línguas, personagens e géneros implicados. Trata-se de acompanhar a fixação pela escrita de textos da oralidade e ao mesmo tempo do edifício de reoralização da escrita como lugar de investimento e significado dos nós temáticos que enformam os trabalhos incluídos no livro.

A força do Movimento dos novos Intelectuais: O caso de António Jacinto e a Fundação da União dos Escritores Angolanos | David Capelenguela

Este trabalho procura compreender como é que o “movimento de libertação nacional angolano, concebido a partir de movimentos culturais, ter contado com a presença de escritores entre os principais fundadores e líderes. Escritores que deram sua contribuição das mais variadas formas possíveis: no front da batalha comandando tropas”; e como é que, a partir da prisão, esses escritores produziram obras literárias de mensagem anticolonial que levaram à consciencialização e encorajaram os angolanos, a partir de uma manifestação de projeto estético-literário que realçava o que de mais importante deveria ser matéria-prima para a sua poesia: a realidade angolana, a sua vida social, em especial a condição do homem negro, e as suas belezas e riquezas.

Por fim, faz-se ainda uma análise da forma particular como a produção literária de António Jacinto, enquanto integrante do Movimento dos Novos Intelectuais, auxiliou a metaconsciência e a determinação do povo angolano para a luta de libertação contra o colonialismo português até à independência em 11 de novembro de 1975 e  para que “uma das primeiras medidas tomadas pelo governo do MPLA ao assumir o poder, constituindo como presidente da república o poeta Agostinho Neto, fosse a criação de um órgão editorial que pudesse viabilizar a publicação de inúmeras obras escritas durante o período colonial (…), a União dos Escritores Angolanos (UEA)”. [Hamilton, pp.167-8], em 10 de dezembro de 1975.

Uma arte poética experimental | Francisco Soares

A lírica e a narrativa de António Jacinto, como também os sinais de um pensamento sobre a poesia como arte (em geral, ou seja, narrativa e lírica) apontam para uma constante busca de modelos, soluções ou sínteses entre várias hipóteses de trabalho no contexto específico da angolanidade artística do seu tempo. Tal busca não se completou, não chegou a realizar-se, apenas ficaram tentativas dispersas.

Esta situação proporciona a oportunidade única para estudar o ambiente literário no qual os primeiros poetas independentistas buscavam conseguir expressão própria.

Comparando, de passagem, com o percurso literária do Viriato da Cruz e de Agostinho Neto, testar-se-á, uma vez mais, o conceito de inquietação estética na obra de António Jacinto.

Um Pitigrilli do Oriente ou uma adaptação com sabor a Jacinto | Francisco Topa (CITCEM - FLUP)

Partindo do conto Em Kiluanji do Golungo, de 1984, abordar-se-á a origem da narrativa e o modo como António Jacinto a adaptou, permeando-a de provérbios de origem vária. Será salientada a ligação da narrativa à poética do autor, marcada pela certeza de que “Também entramos na história”.

Liberdade, encarceramento, poesia e cumplicidade | José L. Pires Laranjeira

Liberdade, prisão e denúncia em António Jacinto e breve aproximação a António Cardoso - da MENSAGEM à CULTURA, IMBONDEIRO, CEI e MENSAGEM - a mesma luta discursiva por uma nova cultura e independência nacional.

Nota biográfica

António Jacinto (Luanda, 28 de setembro de 1924 - Lisboa, 23 de junho de 1991) foi um dos mais destacados poetas e ficcionistas da modernidade literária angolana.

Fundador, em 1948, com Viriato da Cruz e Agostinho Neto, entre outros, do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, para o qual a Cultura era um meio para a consciencialização política e de luta para a conquista da independência nacional de Angola.

Esta foi a sua luta, de uma vida inteira, pelo que pagou o alto preço da prisão política, em 1961, acabando por ser desterrado, como tantos outros nacionalistas angolanos do chamado «Processo dos 50», para o Campo de Concentração do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, onde chegou a 13 de agosto de 1964, e de onde só foi libertado, juntamente com o também escritor e nacionalista angolano José Luandino Vieira, a 15 de junho de 1972.

Conseguindo sair clandestinamente de Portugal, juntou-se às forças da guerrilha do MPLA, tendo sido, até aos acordos de cessar-fogo entre o exército português e o MPLA, em outubro de 1974, diretor do Centro de Instrução Revolucionária Kalunga, na fronteira da República do Congo com Cabinda.

No primeiro governo de Angola independente, desempenhou o cargo de ministro da Educação e Cultura. Publicou os seguintes livros: Poemas, 1961; Vôvô Bartolomeu seguido dos poemas Era Uma Vez… e Outra Vez Vôvô Bartolomeu, 1979; Em Kiluanji do Golungo, 1984; Sobreviver em Tarrafal de Santiago, 1985; Prometeu, 1987; Fábulas de Sanji, 1988.

Em 1979 foi agraciado com o Prémio Lotus, pela Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, «pela sua contribuição para a cultura universal e para o esclarecimento da luta travada pelos Povos em prol da sua libertação, do progresso e da paz, e ainda pelo engajamento direto no combate contra o imperialismo e o racismo, que comprometem os valores humanos e culturais da humanidade.»

Na sequência da publicação de Sobreviver em Tarrafal de Santiago, foi agraciado com o Prémio NOMA e a atribuição, pelo Conselho de Estado de Cuba, da Ordem Félix Varela de 1.º Grau, que recebeu das mãos de Fidel Castro. Em 1987, recebeu o Prémio Nacional de Cultura, o mais importante galardão literário angolano.

+ info no site da Biblioteca Nacional. 

28.03.2025 | por martalanca | António Jacinto