O ciclo explora os cruzamentos entre o cinema experimental e a etnografia através de uma cartografia de práticas e gestos cinematográficos desenvolvidos histórica e contemporaneamente na América Latina. Dos filmes de Bruce Baillie e Chick Strand realizados no México ao cinema amazónico, que supera e desloca o terreno de intersecção entre o cinema experimental e a etnografia, e da obra do etnógrafo Jorge Prelorán à do cineasta experimental Bruno Varela, passando pelas peças pioneiras de videoarte de Juan Downey e pelos “poemas etnográficos” (Nicole Brenez) de Raymonde Carasco e Régis Hébraud, as treze sessões deste ciclo de três anos propõem um percurso representativo da diversidade visual e epistemológica do continente latino-americano.
Afroscreen
21.11.2023 | por Raquel Schefer
O resultado evidente do processo disciplinar desencadeado pela Documenta15, confirmado pelo que está a acontecer nos últimos dias, é o desmascarar da hipocrisia perversa da política cultural descolonial europeia. Em vez de resolver questões internas que vêm à tona de modo cada vez mais flagrante, o Estado alemão prefere aplicar medidas disciplinares autoritárias, repetindo antigas formas de gaslighting implementadas na Alemanha de Leste durante as décadas de 1970 e 1980 e criando, a cada situação, novos bodes expiatórios.
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21.11.2023 | por Laura Burocco
A luta de Mamadou Ba não é individual, é coletiva, e é de todas as pessoas e organizações democráticas que resistem ao crescimento dos fascismos e recusam o regresso de regimes monstruosos associados à chamada extrema direita. Deste modo, requeremos revisão da sentença condenatória e da pena imposta. Que a justiça seja restaurada já! Mamadou já fez saber que usará os instrumentos que o Estado de Direito lhe garante para levar a justiça até às últimas instâncias, incluindo o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, se necessário. A luta antirracista continua!
Mukanda
20.11.2023 | por vários
Num momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso. À beira do ano em que nos preparamos para celebrar meio século do 25 de Abril, tudo isto é revoltante.
Mukanda
20.11.2023 | por vários
A língua é quase sempre o último reduto desses ódios recalcados. As palavras são de certo modo um espelho da sociedade e o racismo e a xenofobia são ainda hoje os herdeiros dessas palavras que ferem, que podem mesmo matar. E que sobrevivem até aos dias de hoje, mesmo quando há muito se esfumaram as razões históricas que lhes deram origem.
A ler
20.11.2023 | por José Lima
A língua tem lugar, enraizada num chão onde é vivida, mas, além disso, é lugar de expressão de lugares. No sentido em que através dela algo se mostra, a língua é faculdade de ser atravessada, lugar de influências e dependências que levam o nome de uma negociação e que são também uma forma de atravessar, o resultado de uma viagem do lugar de sentido que somos por lugares de sentido que outros são e reciprocamente. Era esse o sentido de negociação de identidade a que se referiu Chiziane. Travessia que consiste em se deixar atravessar, língua e território percorrem-se como uma fita de Moebius.
A ler
15.11.2023 | por André Barata e Liliana Coutinho
Um país em busca
Do seu verde nome
Ou, melhor, do verde
Lacrado no seu nome
Ou, muito melhor ainda,
Do lugar verde imaginado
Lavrado e ajuramentado
Com o seu inoxidável nome
No sonho do poema de amanhã
Mukanda
10.11.2023 | por José Luís Hopffer Almada
Para as mulheres, a poesia não é, pois, um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência. Forma a qualidade da luz pela qual manifestamos as nossas esperanças e sonhos no sentido da sobrevivência e da mudança, tornando‐os primeiro linguagem, depois ideia, e depois acção mais tangível. A poesia é o modo como nomeamos o inominado para que possa ser pensado. Os horizontes mais longínquos das nossas esperanças e medos são calcetados pelos nossos poemas, esculpidos na experiência rochosa do nosso quotidiano.
Mukanda
08.11.2023 | por Audre Lorde
Lola & Mami - Um Fragmento de amor é a sua primeira curta-metragem. Nela explora as masculinidades tóxicas que habitam a cidade de Luanda, esses homens que tudo dizem poder e fazer, simultaneamente com uma auto-estima de rastos. Com guião e produção promovidos nas residências do Atelier Mutamba, pelo Kino Yetu (em português “nosso cinema”), teve a participação de vários realizadores como Gegé M'bakudi e Irene A’Mosi.
Afroscreen
08.11.2023 | por André Soares
Cumprida a função da poesia que em seu empenhamento político foi um modo de consciencialização, de resistência contra o colonialismo, e de luta pela independência de Marrocos, uma nova expressão poética, com o advento da independência, começa a tomar forma, criando o seu próprio espaço no panorama da poesia árabe. É neste contexto que se inserem as poetas que aqui se dão a ler, em pé de igualdade com a poesia escrita por homens, a qual, desde há séculos, detém uma preponderância incomensuravelmente maior.
Mukanda
08.11.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves
"O objectivo desta reflexão é discutir os termos de (auto)identificação e de pertença em Portugal, através da localização da escrita de autoria afrodescendente no sistema literário português, cujo contexto é claramente português, sendo os seus autores sujeitos conscientes do deslocamento geográfico e psico-cultural, porém com um sentido de pertença claramente europeu – razão por que vêm sendo designados afropeus a sua escrita afropeia, evidenciando particularidades de uma diversa cenografia literária nacional que, em certa medida, desafia a visão hegemónica do “cânone literário” português." Inocência Mata
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06.11.2023 | por vários
Esta moda existirá há duas décadas em alguns países europeus, mas a outra perversão que resulta do conceito de Taye Selasi é a que permite que se exclua deste grupo de afropolitanos todos os africanos que não obtêm os vistos necessários para acederem às capitais europeias, todos aqueles que estão afastados dos circuitos do poder e da possibilidade de serem tomados como um novo exotismo.
A ler
03.11.2023 | por António Pinto Ribeiro
Esta noite, os mortos regressam à nossa dimensão. Dançam com os vivos. Lambuzam-se com as comidas preferidas e embriagam-se com tequila e mezcal. Na sua incorporalidade, chegam desde o inframundo, guiados pelo aroma das flores de cempasúchil, pelo fumo do copal e pela luz das velas dos altares e campas. Nos espelhos e nas fotografias reconhecem-se; nos objetos pessoais, materializam-se. Esta noite, a vida e a morte fundem-se num abraço nostálgico e espectral.
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01.11.2023 | por Pedro Cardoso
Tratando-se de um colonialismo moderno, iniciado em 1948, num período em que começou também o processo que poria fim a colónias, a tática da desumanização foi reproduzida pelo novo Israel. O Outro, neste caso o povo autóctone palestiniano, é, tal como foram os povos africanos ou os povos indígenas nos vários continentes, caracterizado como “animal”, como “verme”, e por outros nomes que tentam quebrar a tal “igualdade” a que nos convida a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ainda hoje, o uso destas catalogações inumanas do Outro serve para justificar a forma como é tratado, a violência que é exercida sobre ele, a humilhação lenta, a tortura, o assassínio – como se acabar com um animal fosse mais fácil ou justificado.
Jogos Sem Fronteiras
31.10.2023 | por Alix Didier Sarrouy
Tanto pode resultar, da leitura de um texto, a decisão de nunca mais voltar a ler nenhum, como a constatação de que o desespero e a dor que nos afligem, ou a revolta e o amor que nos entusiasmam, por não serem propriedade nossa, podem muito bem ser a afinação do encontro com os outros. E nesse encontro, subtraído à economia da produtividade, talvez se possa encontrar os leitores para lá dos clientes.
A ler
30.10.2023 | por Fernando Ramalho
Duramente atingida pela austeridade, radicalmente transformada pelo turismo, subitamente suspensa pela crise sanitária, a cidade de Lisboa sofreu profundas transformações durante a última década. Fruto de políticas que popularizaram a sua imagem enquanto cidade cosmopolita e de lazer, a turistificação e financeirização do espaço público e privado transformaram as formas de ver e viver Lisboa.
Cidade
24.10.2023 | por Catarina Botelho e David-Alexandre Guéniot
Ao aprofundarmos a reflexão sobre as lógicas coloniais ainda presentes em nosso cotidiano, revelamos a complexidade da verdade e a urgência de agirmos em consequência disso. Isso implica em abandonar posturas arraigadas e abrir mão dos privilégios associados à branquitude e à Europa. Essa renúncia pode ser o ponto de partida de negociação da realidade.
Corpo
24.10.2023 | por Marcela Pedersen
Não bastou o Estado ter demorado mais de 40 anos – mais do que a idade da maioria das vítimas – para tentar assegurar às vítimas o direito à identidade?Objetivamente, aquilo a que assistimos foi um exercício de crueldade, em que se reavivaram gratuitamente sentimentos de perda, de dor e de mágoa, com objetivos que nada têm de nobre.E se nenhum dos restos examinados corresponde às pessoas a quem se disse pertencerem, o que se passará com os restos mortais já entregues às famílias e enterrados sem exames prévios?
Mukanda
20.10.2023 | por vários
A gravidade do problema, como a ciência do Sistema Terra há tempos alerta, é de simples entendimento: as atividades predatórias, em vetores múltiplos de atuação na região amazônica – com forte influência do capital em demandas que transcendem as fronteiras – impactam no processo de ruptura deste complexo sistema, levando a uma irreparável destruição da Amazônia, com impactos sentidos à escala planetária.
Mukanda
16.10.2023 | por vários
Sendo a criação poética um acto visceral de questionamento da linguagem transcendendo-a pela própria linguagem em seu caudal multímodo – num trabalho minucioso de artesão implacável, através dos temas e motivos cujos ritmo e plasticidade musical se impõem ao Poema na sua irradiante carga metafórica –, o Poeta outra coisa não faz que não seja a recuperação absoluta e original do dizer primevo que na sua Obra afirma em estado de voz própria, pessoalíssima – porém, voz de dádiva à Humanidade sem nada pedir em troca, e de comunhão com cada Ser nos seus anseios, nas suas angústias, nas suas paixões, nos seus alumbramentos.
A ler
16.10.2023 | por Zetho Cunha Gonçalves