“O impossível hoje é possível amanhã”.
A história como possibilidade também implica impossibilidade, daí a necessidade que temos, os que lutamos pela mudança, de fazer o impossível hoje para que aquilo que não seja possível hoje, sim o seja amanhã.
Paulo Freire
No primeiro outono em exílio, em 1965, Paulo Freire (1921-1997) via com tristeza e abatimento as árvores sem folhas num Chile que ainda iria aprender a amar como seu. Eram tempos difíceis, há menos de um ano fora preso e, depois de 72 dias em cárcere, impelido a deixar o seu país coma esposa Elza Freire (1944–1986) e cinco filhos, sob uma ditadura que destruía corpos e projetos de futuros em gesta[1]. Na Bolívia, primeira paragem, faltavam-lhe condições de viver, primeiro sem ar pela altitude de La Paz e, depois de vinte dias, sujeito a outro brutal golpe autoritário[2]. Chegaram primeiro a Arica, depois a Santiago do Chile. Se outros exilados o ajudaram a encontrar trabalho para o sustento da família, não seria fácil ao professor deixar a paisagem da terra onde viveu e trabalhou por quarenta e sete anos e onde as árvores sem folhas eram árvores mortas. A lição de outono vinha de Elza que, segundo sua recordação, lhe disse:
- Olha, quando estiveres vendo as árvores assim, pensa que isto é apenas um momento na tua vida de observador e na vida das árvores. A ausência das folhas anuncia sua próxima presença.
Paulo Freire nos conta que aprendeu com a percepção de Elza das estações que “a espera nasce da ação, sem a qual não há esperança”. E foi com Elza que, nos cinco anos seguintes, viveu o Chile como experiência decisiva em suas trajetórias. Depois de 27 anos daquela chegada, manteria a afirmação de que “as coisas mais substantivamente radicais as escrevi neste país”, o que incluiu Educação como prática da liberdade (1965, 1967) e Pedagogia do Oprimido (1970).
Esses escritos foram traduzidos em muitas línguas e ultrapassaram fronteiras interditas a Paulo Freire, incluindo o Brasil e Portugal, então submetidos a ditaduras. Eram brochuras e papéis que passavam de mão em mão e fortaleciam as lutas contra a opressão, como as da libertação colonial em África, onde Freire era conhecido quando ainda estava no Brasil, como se verá. Ou ainda foram esteio a iniciativas brotadas da vontade de transformação, tantas que ainda estão sendo mais bem conhecidas. Como aquela em que a jovem professora primária Virgínia Pereira e alguns companheiros começaram sua tarefa educativa com pescadores da Ilha Terceira nos Açores, no princípio dos anos 1970, com a chegada clandestina de textos de Paulo Freire escritos no Chile, depois publicados no Brasil. Da matéria desses encontros é feito o livro que tem em mãos.
Um educador no mundo
Este é um livro-homenagem a Paulo Freire que se tornou um educador do mundo pela ampla difusão de suas ideias filosóficas, de seu método pedagógico e de sua ação, primeiro no Brasil, depois no Chile, seguindo para países da América Latina, Estados Unidos, Europa, África, Ásia e Oceania. Em relevo estão momentos-chave da trajetória de Paulo Freire e o itinerário internacionalista de um pensamento cuja recepção por largos anos foi marcada pelo interdito, pela censura, por uma circulação clandestina e pelo exílio.
Este é um livro de Paulo Freire, com a presença e a palavra do educador em entrevista, em debate e em escritos autobiográficos. É a reflexão e a memória de Paulo Freire por ele mesmo, uma memória que nunca foi em primeira pessoa, que se faz no plural mesmo quando diz de si, mesmo quando expõe sua sensibilidade e os modos como foi realizando sua leitura do mundo.
E este é também um livro sobre Paulo Freire. Primeiro, por meio de sua amiga e colaboradora, Marcela Gajardo Jiménez, que participa nesta edição com um valioso estudo sobre o significado dos anos no Chile para o pensamento de Freire. Em seguida, sobre a história da edição de um de seus escritos em Portugal, a brochura que, no turbilhão dos acontecimentos pós-25 de Abril, permaneceu pouco conhecida e referida, e hoje torna-se também fonte, documento e memória desses mesmos acontecimentos. É sobre Paulo Freire em diálogo com leitoras e leitores militantes sociais em busca de uma reflexão mediada pelas circunstâncias históricas, desde os anos 1960 a fins de 1970, especialmente. É também sobre a conversa possível com grupos que não o conheciam pessoalmente, mas que o haviam lido, algumas vezes sob o risco metodológico de fazerem experiências em educação popular, a despeito das decisões de Estado ou orientações correntes.
Na organização deste projeto, partimos das convergências entre Brasil, Chile e Portugal e seus conectivos com outras geografias da libertação buscando reunir escritos de Paulo Freire publicados em castelhano e sem tradução em língua portuguesa. Nomeadamente, são inéditos como traduções: a conferência Sou Projeto, proferida em seu retorno ao Chile em 1991, e o artigo Círculos de Cultura, escrito em 1968, ambos de autoria de Paulo Freire. Como também a tradução do artigo de Marcela Gajardo Jiménez, Paulo Freire e os anos do exílio no Chile. Por outro lado, buscou-se republicar dois textos que circularam somente em Portugal e não se encontravam facilmente disponíveis: Alfabetização e consciencialização – Paulo Freire e Militantes da Base - Frente Unitária de Trabalhadores (Base - FUT), fruto de um diálogo realizado em 1974 e publicado em 1981; e “Não há educação neutra” – Entrevista de Paulo Freire a O Jornal da Educação, de Lisboa, em 1977. Durante a feitura deste livro, as informações recolhidas, os documentos localizados e as dúvidas levantadas conduziram a escrita do texto original Paulo Freire em Portugal. A história de um encontro e de uma edição.
Para a organização, houve a intenção de ativar a leitura desses materiais que referem situações complexas, travejadas por regimes autoritários e lutas de libertação em diferentes latitudes, e refletem o ímpeto por transformação, com reapropriações do pensamento de Freire que, no caso aqui reproduzido, dialogaram presencialmente com o pensador. Daí que este livro não se limite ao Brasil, ao Chile e a Portugal, porque os textos se implicam na geografia que Paulo Freire percorreu, ou como ele diria, frutos de sua andarilhagem esperançosa, numa conjuntura singular, em que ele e Elza viviam um exílio dentro de outros exílios, e seguiam “caminhando pelo mundo, discutindo, conversando, aprendendo”[3].
E são tantas e tão belas as histórias de Leitores e Leitoras de Paulo Freire, que é um custo reduzir estes encontros sensíveis com seus livros e com sua experiência em coletivos ao jargão acadêmico sobre a influência da sua obra. Entrevistas, debates, escritos de natureza vária testemunham a presença ativa de Paulo Freire como educador no mundo. As traduções de Pedagogia do Oprimido dão asas ao livro[4] e vamos encontrá-lo, nos anos de 1970, em muitas mãos, em muitos países[5]. Vasta é a leitura dialogada naqueles anos, e um notável exemplo se encontra na experiência das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) no Brasil, fruto histórico da sementeira da Teologia da Libertação.
Hoje, Paulo Freire é o brasileiro mais homenageado da história e um dos pensadores mais citados do mundo, como destacou a socióloga Ilse Schimpf-Herken, fundadora do Instituto Paulo Freire em Berlim[6]. Na Alemanha, o educador é considerado como um dos grandes nomes da pedagogia, ao lado de Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau, Rudolf Steiner e Maria Montessori, como reforçou o professor Heinz-Peter Gerhardt[7].
O internacionalismo de Paulo Freire se associa à mobilização de um pensamento que tem nas suas bases o conceito de Conscientização, cuja definição, se não é precisa, na elaboração de Marcela Gajardo “faz referência a um aprendizado orientado para a percepção de realidades econômicas, políticas e sociais como requisito indispensável da ação política e social”, do ponto de vista pedagógico. Numa perspectiva filosófica, a conscientização “vincula ciência e existência, e faz consciente a realidade e as contradições do mundo humano”[8]. Também nos lembra bel hooks que “repetidamente” Paulo Freire reiterou a seus leitores que “nunca falou da conscientização como um fim em si, mas sempre na medida em que se soma a uma práxis significativa. Gosto quando ele fala de tornar real na prática o que já sabemos na consciência”[9].
Internacionalismo freireano
Desde o final da década de 1960, os escritos de Paulo Freire se encontram com leitores radicais no continente africano, como destacou Paulo Fernandes Silveira[10]. Entre os anos de 1975 e 1980, Paulo Freire esteve seguidas vezes na Guiné-Bissau, em São Tomé e Príncipe, Angola e Cabo Verde, em sua atuação junto aos grupos locais empenhados em construir massivos programas de alfabetização. Cartas a Guiné-Bissau é um testemunho desses itinerários, sobre o qual, no livro dialogado com Antonio Faundez, reconhece “um bom começo teórico, uma boa proposta teórica, interessantes sonhos teóricos de uma experiência que depois apresentou sérias dificuldades para realizar” e assevera, entretanto: “continuo lendo as Cartas a Guiné-Bissau, continuo aprendendo com o que escrevi. Há uma validade teórica no livro (…) Acho que continuam de pé as grandes linhas das propostas que fiz na Guiné-Bissau”.[11]
É também a luta dos irmãos e irmãs negras, camaradas da Guiné Bissau que a professora e ativista bell hooks situa no momento de seu encontro com a obra de Paulo Freire “em que estava começando a questionar profundamente a politica da dominação, o impacto do racismo, do sexismo, da exploração de classe e da colonização que ocorre dentro dos próprios Estados Unidos, me senti fortemente identificada com os camponeses marginalizados de que ele fala e com meus irmãos e irmãs negros, meus camaradas da Guiné Bissau”[12].
Na África do Sul, o padre Colin Collins, do Movimento Universitário Cristão (UCM), incorpora elementos do que se passaria a chamar de “método Paulo Freire” em cursos comunitários de alfabetização de adultos[13]. Mulheres militantes participantes do Graal, movimento ecumênico internacional, foram conhecer o trabalho de Freire no Brasil e em Portugal[14]. Nos anos de 1970, Anne Hope, educadora feminista sul-africana, militante do Graal e ex-aluna de Freire na Universidade de Boston, motiva um curso de alfabetização e formação política, com base no “método freireano”, com a participação de agentes comunitários de diversos países africanos; o que geraria um manual em três volumes Training for transformation: a handbook for community workers[15], com um repertório dos estudos de Paulo Freire e de Julius Nyerere, além de passagens das obras de Amílcar Cabral, Frantz Fanon, entre outros reconhecidos pensadores negros. Entremeando os textos com excertos de discursos de líderes políticos negros – Agostinho Neto, Luther King, Robert Mugabe e Samora Machel – assim como excertos de reflexão teológica – Dom Hélder Camara, Leonardo Boff, Pierre Teilhard de Chardin, entre outros.[16].
É de se assinalar do rol de leituras os modos de presença de Frantz Fanon na obra de Freire. “(…) Paulo Freire escreve sobre a liberdade em meio ao subdesenvolvimento, ali onde a colonização e suas permanências exercem sobre o oprimido sua potência de desumanização. A moção de Fanon, que reivindica a legitimidade do uso da violência contra o colonizador e seus necropoderes, é recepcionada pela cultura da emancipação de Freire como uma contraviolência, como uma reação a uma violência de origem e estrutural. A coincidência entre o ato da mudança e a mudança do sujeito faz toda a fortuna da obra de Freire”[17].
Paulo Freire talvez tenha sido o primeiro intelectual público brasileiro a ler, reconhecer e integrar Fanon ao seu pensamento. No Chile, tem em mãos a primeira edição (1963) em espanhol de Los Condenados de laTierra, pela Fondo de Cultura Económica do México.[18] Em seu Pedagogia do Oprimido, estampa dedicatória inspirada naquela obra: “A los desharrapados del mundo y a quienes, descubriéndose en ellos, con ellos sufren y con ellos lucham”, como se lê na edição uruguaia de Tierra Nueva, de 1970. Em fevereiro de 1996, em Alfabetização e Miséria, de publicação póstuma, encontramos Fanon nas referências bibliográficas.
No início dos anos 1970, Anne Hope e S. Timmel compartilharam o método freireano com Steve Biko e militantes do movimento da Consciência Negra. O movimento gerou programas comunitários inspirados no pensamento de Paulo Freire no âmbito da formação da classe trabalhadora, como se pode observar em “Eu escrevo o que eu quero”, de Steve Biko”[19]. Uma das estratégias políticas freireanas retomadas na filosofia da práxis de Biko e da Consciência Negra é o estímulo ao empoderamento, como assevera Paulo Fernandes Silveira. Essa estratégia freireana também é discutida por Anne Harley e Zamalotshwa Thusi[20], em artigo sobre o CLING, um projeto de alfabetização hoje realizado em contêineres instalados em comunidades pobres, em Johanesburgo, na África do Sul.
Peter McLaren, professor na Chapman University (EUA), em recente artigo, destaca pontos fulcrais na trajetória intelectual de Paulo Freire –“sua fé moderna na agência humana e na sociabilidade inabalável da linguagem” - observando que “o projeto de Freire permaneceu firmemente uma pedagogia dos oprimidos”. E assinala quanto aos modos de recepção: “A obra de Freire seria absorvida mais tarde por educadores, filósofos e ativistas políticos na América do Norte e na Europa, mas foi cunhada fundamentalmente no Sul Global: em comunidades de base, bairros urbanos, subúrbios e favelas, onde influenciou – e foi influenciada por – incontáveis movimentos sociais, dos esforços anti-apartheid na África do Sul ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra no Brasil”.[21]
Paulo Freire acompanhou com júbilo a campanha de alfabetização em Cuba, quando em um ano finca a bandeira em seu território livre do analfabetismo, por ele considerada entre os maiores avanços em educação no século XX. Freire e Raúl Ferrer, um dos principais artífices da vitoriosa campanha em Cuba, se encontram em 1965 na Conferência Mundial Contra o Analfabetismo e outra vez em 1979 no âmbito da Revolução Sandinista na Nicarágua, para cuja Campanha muito contribuiu, assim como na campanha de alfabetização no Peru.
“Um tempo fundante”: a biblioteca de Paulo Freire
No Ano Centenário de Paulo Freire, o professor e crítico literário brasileiro Luiz Costa Lima publicou um testemunho emocionado desde os anos 1953 em que, jovem de 16 ou 17 anos, começou a frequentar a biblioteca do seu vizinho Paulo na Rua D. Rita de Souza, em Recife. “Foi de sua biblioteca que li os autores salientes da poesia moderna brasileira, assim como intérpretes sociais do país. (…). Se não sou eu que indevidamente extrapolo, as conversas mantidas na Rua Rita de Sousa continuam a ecoar em minha mente. Sem ser responsável pelo que elas geram, devo a Paulo sua longa fermentação”[22].
É desse tempo que “Andarilhando pelas livrarias de minha cidade”, Paulo Freire recorda comovido algumas tardes do Recife, quando ia às livrarias, puro deleite de convivência com os livros e as camaradagens intelectuais. A Livraria Imperatriz, do velho Berenstein, onde conversava com Melkzedeck, para ele, um dos maiores livreiros do Recife, depois dono de excelente sebo. “A Livraria Editora Nacional, com Mousinho e sobretudo Aluízio, sensível e competente livreiro”[23]. Aliás, a todos lembra como Mestres ajudando-o a apurar o olho nas prateleiras, no índice dos livros ou lendo sua apresentação. A Nacional dispunha uma grande mesa com cadeiras em volta, onde se completava o passeio pelas prateleiras, era a boa conversa entre livros. No fundo da livraria, um espaço para os grandes caixotes com os livros importados. “Tenho ainda hoje no meu corpo, o gozo com que assistia a abertura dos caixotes”, de fato um ritual. “E a emoção com que ia folheando um a um os livros que iam sendo libertados”; na roda que se formava com Amaro Quintas e outros companheiros de “exercício da curiosidade”, lembrou Paulo Freire[24]. Era o tempo da entrega aos estudos gramaticais, à filosofia da linguagem e dos ensaios introdutórios à linguística, mas não apenas: “Minha paixão se moveu sempre na direção dos mistérios da linguagem, na busca inquieta do momento de sua boniteza”. E daí o prazer com que me entregava, sem hora marcada para terminar”, às leituras: Machado de Assis e Eça de Queiroz, ao lado de Lins do Rego, Graciliano Ramos, Drummond, Manuel Bandeira…”[25].
Em finais de 1962, Luiz Costa Lima se integrou, na Universidade do Recife, no Serviço de Extensão Cultural (SEC), dirigido por Paulo Freire, de onde se preparavam os instrutores implicados no trabalho de alfabetização que este concebeu. Nada de cartilhas ou materiais prévios, lembra Luiz Costa Lima. Num quadro-negro projetava-se uma ou mais palavras e, “depois de ser ensinada a identificação das letras, pedia-se ao alfabetizando que, a partir dela/s, pela mudança de letras ou sílabas, se formulassem outras palavras. Ou seja, incentiva-se a capacidade de combinação do aprendiz, sua imaginação ideativa e não simplesmente sua memorização visual”. O aparelho de projeção foi concebido por Francisco Brennand. Luiz Costa Lima participava, por aulas de cultura brasileira, na formação dos instrutores. Foi assim que se constituiu a primeira experiência, realizada em Angicos, Rio Grande do Norte. Esse período de 1947 a 1964 é descrito pelo próprio Paulo Freire como “um tempo fundante”, como destacou Paulo Fernandes Silveira[26].
É por volta dessa época que se dá a formação da biblioteca do educador, iniciada nos encontros rememorados em torno dos caixotes de livros importados, segundo destacou Ana Maria Freire, sua segunda esposa. Chamada carinhosamente de Nita, é ela que nos informa sobre o livro de anotações das obras adquiridas por Paulo, que começa em 1942 e prossegue, pacientemente anotados, autor, título, valor pago ou oferta do livreiro, ano após ano, até 1955. Ali estão catalogadas obras de autores nacionais e de autores estrangeiros; editados no Rio de Janeiro ou São Paulo, ou em muito maior número, nas casas editoras da Espanha, da Argentina, do México, da França ou da Inglaterra e dos Estados Unidos, de Portugal, importados pelas livrarias do Recife. “Através desse registro, feito de próprio punho por Paulo, de 572 livros, podemos observar que ele começou a ler obras em espanhol, em 1943; em francês, em 1944 e em inglês, em 1947”[27].
Já antes dos anos de 1970, sua tese “Educação e atualidade brasileira”, de 1959, se debruçava sobre o trabalho de formação nos “Círculos de Pais e Professores”, no “Curso de Preparação de Professores”, e no “Serviço Social da Paróquia do Arraial”, em Pernambuco. Em 1967 publica a tese acrescentada e retrabalhada; nascia o Educação como prática da liberdade, dando a conhecer as práticas nos “Cursos de Alfabetização de Jovens e Adultos”, da Universidade do Recife, e nos “Círculos de Cultura”, do Movimento de Cultura Popular, da Prefeitura do Recife.
Para Carlos Rodrigues Brandão, “tudo de repente acontece muito depressa. Depois das “Quarenta Horas de Angicos”, Paulo Freire e sua equipe começam a preparar o que seria uma grande Campanha Nacional de Alfabetização. Estender a todo o Brasil o que antes haviam sido pequenas experiências de uma alfabetização inovadora junto a pequenos grupos de mulheres e homens do Recife e dos sertões do Nordeste”[28], quando, “em 1º de abril de 1964, os militares e outros rompem a frágil democracia” brasileira e instauram uma ditadura que iria durar 22 anos.
Frente ao golpe de 1964, Luiz Costa Lima pergunta: “Contra o poder das armas que pode a ilusão de sonhos? O Serviço de Extensão Cultural é desfeito, seus membros são demitidos, muitos foram presos ou, meses depois, incluídos no Ato Institucional I. O golpe acentuava que a sobrevivência de cada um dos atingidos obrigava a que procurassem outros ares”. São os tempos de Exílio.
Paulo Freire “ao redor de”
Em depoimento no ano de 1977, Elza Freire rememorou os significados do exílio. “Uma das primeiras coisas que passamos a ter no Chile era não ver só a nossa família, a de cada um que chegava era família também.Acho que uma das coisas que o exílio dá fortemente é ver o outro”[29]. Para a educadora, tratou-se de um “choque de valores” que permitiu a observação do outro, do mundo e de si mesmos. No Chile, encontraram a solidariedade, os meios e como puderam refazer o espírito depois da saída do Brasil por motivos políticos, no testemunho da educadora[30].
O reconhecimento que Paulo presta a Elza Freire, na sua vida, no seu pensamento e no seu trabalho, de modo fortemente interligados, é invocado por ele em passagens neste livro, incluindo a atuação da educadora em São Tomé, Angola e Guiné-Bissau[31]. Após o falecimento da esposa, em 1986, reiterou suas contribuições para uma trajetória em comum e seu pensamento: “Não tenho a menor dúvida de que fiz um pouco por Elza, mas ela fez por mim muito mais. São coisas que não se podem medir e nem pesar, mas as vezes no silencio do meu quarto, lendo, paro e tento entender isto e busco a inteligência do mistério de ser feito e refeito com o fazer de outra pessoa e descubro que Elza me fez demais”[32]. Mais recentemente, estudos de Nina Spigolon voltam-se para Elza Freire e aos temas ligados ao exílio, à Educação,à Pedagogia e à memória[33]. Aqui, chama-se atenção para a partilha “do sensível” na experiência de exílio e suas implicações na obra do educador, escrita de uma pessoa “ao redor de”, como na elaboração de Carlos Rodrigues Brandão.
Imagem distante de um intelectual solitário, dos “ilusoriamente autossuficientes”, ou mesmo das fotos que frequentemente ilustram as capas dos livros de Paulo Freire, em que aparece sozinho, como chamou a atenção Carlos Rodrigues Brandão, “quase sempre o mesmo rosto de um homem já com os cabelos e as barbas brancas e com um sereno ar de profeta pensativo”, numa desigualdade de proporções que falseia a realidade: “Paulo Freire gostava de dizer de si mesmo que sempre foi “um homem conectivo”. Um “homem-ponte”, um “homem-elo”[34]. O caráter coletivo dessa proposta pode ser concretizado na ideia do “círculo de cultura”, lugar fecundo e feliz da imaginação de Paulo Freire. “Assim como “estar em equipe” foi antes do exílio, durante o exílio e depois dele, até sua partida, o seu lugar de vida e trabalho preferido”, como afirmou Brandão[35].
Assim também é a memória de José Luís Fiori sobre o período de escrita de Pedagogia do Oprimido, entre 1967 e 1968, em que Freire “tinha por hábito discutir – quase diariamente – com sua equipe de pesquisa e com outros colegas” do Instituto de Investigação e Capacitação em Reforma Agrária (ICIRA)[36], enquanto liderava pesquisa sobre “o universo temático dos camponeses chilenos”. Ao lado de Fiori, Maria Edy Chonchol e outros, Marcela Gajardo foi uma das colaboradoras de Paulo Freire no ICIRA, em Santiago do Chile, de 1967 a 1969. Ao partir como professor visitante para a Universidade de Harvard nos Estados Unidos, Paulo Freire deixou para a amiga vários presentes, incluindo as estantes e a mesa de trabalho, onde revisou as provas de Educação como Prática da Liberdade (1965, 1967) e escreveu a versão final de Pedagogia do Oprimido (1970), seu livro mais conhecido. Deixava os originais de muitos documentos, que posteriormente foram a base de livros como Extensão ou Comunicação? (1969) e Sobre a Ação Cultural (1970), publicados primeiro pelo ICIRA e depois traduzidos em diversos idiomas. Eram materiais de formação de camponeses e professores, utilizados para suscitar o debate acerca do potencial da alfabetização e da educação de adultos como ferramenta de formação cidadã, ou ainda, segundo Gajardo, para a formulação crítica sobre a educação escolar e suas funções correntes.
Marcela e seu companheiro Sérgio também receberam as provas tipográficas da primeira edição de A Educação como prática da Liberdade, acompanhadas de uma dedicatória carinhosa: “Estas provas tipográficas não têm nenhum valor em si. Para mim, no entanto, desde o primeiro momento em que as tive em mãos, significaram algo misterioso que me levou, por momentos, não a lê-las, mas a mirá-las. Simplesmente mirá-las. As deixo com vocês, como lhes deixo esse sentimento acompanhado do apreço que lhes aprendi a ter. Com o abraço fraterno de Paulo. Outono de 1969”[37].
Era outro outono, encerrando um período decisivo na vida de Paulo Freire. “Foi a época de Paulo Freire sem barba. Os anos sessenta. Da chamada Revolução em Liberdade no Chile, da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, da social-democracia e do Estado de bem-estar social em alguns países do norte da Europa. Da Guerra Fria com o bloqueio soviético, da Revolução Cubana, da revolução cultural na China de Mao e da Revolução das Flores na França. Anos nos quais se iniciou minha amizade não somente com Paulo, mas com muitos brasileiros que viveram seu exílio no Chile entre 1964 e 1973”, escreveu Marcela Gajardo no seu livro Paulo Freire: Crónica de sus años en Chile (2019). A autora sublinhou aquilo que, em geral, restou despercebido: foi depois de sua estadia no Chile e escrita dos seus livros mais conhecidos, que o educador cultivou a barba que lhe era característica[38].
A Crónica reúne memórias do período, como também reproduz muitos desses documentos, acompanhados da pesquisa e da análise que Marcela Gajardo realizou durante largos anos. Dessa obra foi retirado o artigo Paulo Freire e os anos do exílio no Chile, que agora se publica em português. Assim como, desse acervo digitalizado e publicizado por Gajardo, foi traduzido o texto Círculos de Cultura, escrito de Paulo Freire para o trabalho no Instituto de Desenvolvimento Agropecuário (INDAP) com camponeses e pescadores chilenos, em 1968, incluído nesta edição. Na análise e na pesquisa, o artigo de Marcela Gajardo situa marcos para introduzir ao pensamento de Paulo Freire, e aprofunda a compreensão das transformações mútuas operadas entre Paulo Freire e o Chile.
Tempos entrelaçados
Na primavera chilena de 1991, Paulo Freire se reencontrou com alguns dos amigos com quem conviveu e visitou lugares onde viveu e trabalhou em Santiago. Nesse retorno, após o fim da ditadura no Chile, realizou a conferência “Sou Projeto” no Centro El Canelo de Nos[39]. O mundo parecia outro em duas décadas, num momento pós-guerra do Golfo e queda do muro de Berlim. E o educador, sabendo em minguante os sentidos da utopia como projeto, refutava as teses correntes no âmbito ultra-liberal sobre as classes sociais e o fim da História e, esperançoso e firme, insistia: mais que nunca é preciso afirmar o sentido da Utopia.
Mas os tempos se entrelaçam. No retorno ao Chile, Paulo Freire se propõe defender, “com a mesma força que o fiz quando estive aqui” no exílio, linhas condutoras de um pensamento em ação, não como um teórico a apresentar um método, mas um “quase chileno” que se propõe refletir sobre questões de uma trajetória, desde aquela chegada em 1964, passando pela atrocidade do golpe de 1973, que o atinge em Genebra, ou ainda a experiência desafiadora como Secretário de Educação na cidade de São Paulo (1989-1991). Marcos de uma memória no plural, não como uma “escrita de si”, posto que encontra sentido no seu pensamento em aprendizado mútuo e nas experiências em escuta recíproca.
Nesse contexto, segue-se para a leitura do documento “Círculos de Cultura”, em que conceitos como participação e democracia são apresentados como desafios a serem vividos em comunidade, num exercício em ação. A proposta de reuniões sem tutores ou “conferencistas de ares doutorais” a conduzir, para discussão de temas de interesse da comunidade, oferece um testemunho do processo de um pensador que conjuga teoria e ação prática num trabalho de base que se recria em cada conjuntura[40].
Também é isso que Paulo Freire destaca ao referir ao trabalho desenvolvido em países africanos que passaram por enfrentamentos anticoloniais, como Guiné-Bissau, São Tomé e Angola. Na contramão de posturas ainda hoje correntes de exportação de um saber “pronto para usar” em toda a parte, o educador defendeu um processo que se inicia com a busca comum de conhecimento, em que estavam juntos para aprender a ver e ler dada realidade. Fazer o contrário, “seria uma postura neocolonial, colonialista, que nós rejeitamos totalmente”. Ao mesmo tempo, saber que o conhecimento a ser construído nunca será neutro, simplesmente “porque isso não existe”. Segundo Paulo Freire: “foi sem máscaras e sem luvas que nós descemos em África para trabalhar com africanos que também não usam máscaras e luvas, e que jamais se consideram neutros enquanto ministros da Educação” (Entrevista a O Jornal da Educação)[41].
Nesses textos, estão ideias que Paulo Freire retoma em outros dos seus escritos, articulando diversas dimensões do pensamento que intervém e transforma. “Recriar uma sociedade é um esforço político, ético e artístico, é um ato de conhecimento. Trabalho pacientemente impaciente, como diria Amílcar Cabral”, assinalado no livro Por uma pedagogia da pergunta (1985). Nessa seara, a admiração pelo pensador e líder revolucionário é destacada na entrevista de 1977, em Portugal, e Paulo Freire publica no mesmo ano Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em Processo, com edição portuguesa no ano seguinte (Lisboa: Moraes, 1978). O livro traz como dedicatória: “A Amílcar Cabral, educador-educando de seu povo”. E acrescentaria, em Cabral, denúncia e anúncio, como amálgama de sua práxis revolucionária: “a palavra em Cabral era sempre a unidade dialética entre ação e reflexão, prática e teoria”[42].
Um exilado brasileiro em terras portuguesas
O problema histórico do anticolonialismo é uma chave relevante para se chegar à relação de Paulo Freire com Portugal. Ele próprio chama a atenção, ainda em 1974, para o processo de derrubada da ditadura portuguesa que culminou no 25 de Abril, concretizado após 48 anos de massacre e 13 anos de guerra colonial. “Foi a guerra colonial que fez isso, sim senhor”, disse Paulo Freire no debate com Militantes da Base - Frente Unitária de Trabalhadores (Base - FUT)[43]. A questão é também abordadano livro de cariz autobiográfico Pedagogia da esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992), onde o educador se afirma como um dos atingidos pela repressão do Estado Novo português, que o impediu de entrar no país, bem como a não autorização de circulação de Pedagogia do Oprimido.
Não sabemos se Paulo Freire teve acesso ao seu dossiê nos arquivos da polícia política portuguesa, PIDE-DGS, hoje disponível no Aquivo Nacional Torre do Tombo. Mas, no contexto da recusa de visto para sua entrada em Portugal, em 1971, um documento anexado na sua pasta na PIDE esclarece os meandros da investigação policial sobre o alcance do seu pensamento, como também iluminam as causas para seu interdito. Trata-se da cópia de um ofício do Serviço de Extensão Cultural, da Universidade do Recife, em 21 de junho de 1963, do qual Paulo Freire era diretor. Em questão, o envio de “material necessário a compreensão do Método Paulo Freire de Alfabetização de Adultos” solicitado por um dos fundadores do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Lúcio Lara (1929 – 2016), que estava no Congo. Do muito que ainda está para ser conhecido sobre a recepção de Paulo Freire em Portugal, essa é uma das pistas que se buscou realçar no texto “Paulo Freire em Portugal. A história de um encontro e de uma edição”.
Em Portugal, a acolhida ao pensamento do educador, desde os anos 1960, se associa a iniciativas de educação à margem das políticas de Estado e da universidade. A partir de estudos realizados e da memória de leitores e leitoras, pode-se pensar em três momentos para essa receção. Primeiro, durante a vigência do Estado Novo português, quando ocorre, por exemplo, a experiência do Movimento Graal nas cidades de Coimbra e Portalegre[44]. Já sob o período marcelista, é quando “silenciosamente” as edições Afrontamento (Porto) publicam Pedagogia do Oprimido, em 1972, edição que os leitores da chamada “oposição” liam e discutiam “avidamente”, influenciando inciativas várias de alfabetização e educação popular, como destacou Luiza Cortesão[45].
Uma segunda conjuntura se abre nos anos seguintes ao 25 de Abril, com destaque para as duas campanhas nacionais de alfabetização realizadas por grupos de esquerda entre 1974-1976[46] no país. Aqui deve-se realçar a repercussão internacional da Revolução dos Cravos, como é o caso do projeto de alfabetização e letramento baseado no pensamento freireano realizado pela Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) e parceiros em Timor-Leste, a partir de 1974[47]. Um terceiro momento é apontado a partir da década de 1990, com a acolhidado pensamento do educador em currículos de universidades portuguesas.
“De facto, a ausência de algumas das suas obras nas bibliotecas e a falta de referências ao seu pensamento nos cursos de Educação apenas se viram compensadas em finais da década de [19]90”, comentou Béatrice Perez Lages Ribas, em comunicação sobre o projeto “A recepção da obra de Paulo Freire em Portugal”[48]. Há de referir, entre os marcos dessa recepção, a criação de um curso semestral, oferecido anualmente na Universidade do Minho, a partir de 1998-1999[49] e a criação do Instituto Paulo Freire de Portugal, nos anos 2000.
Seguindo a memória de leitores e leitoras, encontra-se um terreno fértil para que as ideias de Paulo Freire fossem apropriadas em diferentes contextos, por caminhos não institucionais, muitas vezes sem conhecimento entre si, como visto, por exemplo, no testemunho de António Cardoso Ferreira, voluntário no projeto de alfabetização do Graal em 1968 em Portalegre[50] ou no relato de Licínio C. Lima sobre sua descoberta da obra de Paulo Freire em 1976[51]. Assim testemunharam as leitoras ao redor de Paulo Freire em 1974, no debate com a Base FUT aqui reproduzido, ou as educadoras que o entrevistaram para O Jornal da Educação, em 1977. Também aqui encontramos o impacto da obra de um educador militante“consciente de dificuldades a enfrentar na batalha que procurava travar para que a Educação de instrumento de discriminação e dominação, passasse a ser instrumento de possível conscientização”, como afirmou Luiza Cortesão a propósito da terceira edição portuguesa de Pedagogia do Oprimido[52].
Paulo Freire Centenário
Paulo Freire é homenageado nas mais diferentes latitudes no ano de 2021, como é o caso deste livro que estende sua homenagem à Nita, Ana Maria Araújo Freire. Nita nasceu em 1933 e casou com Paulo Freire em 1988. Educadora e reconhecida pesquisadora, é imensurável sua dedicação ao legado de Paulo Freire o que se traduz na organização, tradução e publicação de inéditos, e principalmente ativando a memória social em torno do pensamento do educador e de “sua compreensão libertária, problematizadora de educação.[53] De sua escrita amorosa temos Nita e Paulo: crônicas de amor e Paulo Freire: uma história de vida[54]. E segue em sua faina, publicando livros, alguns que “Paulo não teve tempo de terminar” - Pedagogia da Indignação, Pedagogia dos Sonhos Possíveis, Pedagogia da Tolerância.[55] E outros livros estão projetados.
E muito freierena Nita afirma: “Paulo é muito estudado na academia (…) mas ele é muito mais bem visto, mais bem quisto, mais querido e mais estudado nos movimentos populares. Ele é o que dá sustentação aos movimentos populares, à educação popular”.
Este é o mote sensível de Nita Freire para chegarmos ao Ano Centenário de Paulo Freire. Aqui destacamos as experiências de educação quilombola, de educação indígena e com ênfase às práticas pedagógicas do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) no Brasil, em seus vínculos com a pedagogia freireana, experimentada nos territórios da Reforma Agrária Popular e incorporada em seu itinerário internacionalista. A partir da década de 1990, o MST iniciou ações pedagógicas contra o analfabetismo. Um marco histórico é a visita do educador Paulo Freire ao Assentamento Conquista da Fronteira, Hulha Negra, no Rio Grande do Sul, em 25 de maio de 1991, no lançamento do primeiro Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos do MST, almejando territórios livres do analfabetismo. Em perspectiva internacionalista, em 2021, vemos a Brigada Internacionalista Samora Machel atuando na Campanha de Alfabetização e Agroecologia Fred M’membe, na Zambia. No mesmo ano, recupera a experiência de Timor-Leste, destacando na Pedagogia Maubere, a construção da soberania de um povo por meio da educação popular, rememorando os idos de 2004, quandocontribui no processo de formação de formadores da educação popular no Timor Leste e encontra ali uma forte referência de Paulo Freire.
Nas Escolas do Campo, os livros do “educador da esperança” se destacam nos modos de leitura coletiva, como é o caso do História do Menino que lia o mundo, escrito sensível de Carlos Rodrigues Brandão sobre um “homem que não deixou de ver o mundo com os olhos esperançosos de um menino”, propondo aos leitores uma caminhada pelos passos que unem “o menino de Recife ao homem de longas e brancas barbas, que declarou, em sua última entrevista, ter o desejo de “ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a terra, a água, a vida”!
No Brasil, as comemorações ocorreram também nas trincheiras, numa batalha pública contra um fascismo verde amarelo com verniz neoliberal, que descende em linha direta dos mesmos que o atacaram em vida. O pensamento de Paulo Freire nunca saiu da mira detratora dos agrupamentos de extração conservadora, agora intensificados pelos herdeiros confessos da ditadura de 1964. Têm correspondência com aqueles que urdiram o golpe de 1973 no Chile, visando destruir um sonho de justiça social. Como os que impediram Paulo Freire de entrar em Portugal, antes do 25 de Abril de 1974. Ontem, como hoje, Paulo Freire é para esses uma ameaça: seus escritos que se multiplicam de mão em mão mesmo quando sob censura, pela potência das suas ideias entre os que lutam por um mundo justo, fraterno e igualitário. O Instituto Paulo Freire no Brasil – a quem agradecemos a cessão de algumas das imagens publicadas neste livro – e os Institutos congéneres da Argentina, África do Sul, Cabo Verde, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Portugal e Itália mobilizaram vozes ao redor do mundo. Movimentos Sociais e Coletivos de Luta ativaram a resistência. Intelectuais públicos, estudantes e pesquisadores hastearam as bandeiras de Paulo Freire por uma Educação Democrática, a quem estendemos nossa homenagem.
Imagens: Círculo de Cultura de Gama (DF), setembro de 1963, com operários que estavam construindo Brasília. Término da experiência piloto que o presidente João Goulart exigiu de Paulo Freire para validar o seu método. Informações concedidas por Lutgardes Freire. Imagens cedidas pelo Instituto Paulo Freire.
[1] Sobre a prisão, ver o denso relato de Clodomir Santos de Morais, seu companheiro de cárcere, no livro SANTOS DE MORAIS, Clodomir. Cenários da Libertação: Paulo Freire na prisão, no exílio e na universidade. Prefácio de Sérgio Haddad. Cenário Zero: um guisado de Prefácio de Sérgio Guimarães. São Paulo: Expressão Popular, 2021 [primeira edição: Porto Velho, Editora da Universidade Federal de Rondônia), 2009].
[2]A memória do exílio na Bolívia pode ser visto em MAZZA, Débora. “Paulo Freire na Bolívia: reminiscências”. Revista do Nesef, vol.10, nº2, jul-dez, 2021, pp.32-38. Dossiê Centenário Paulo Freire disponível em: https://revistas.ufpr.br/nesef/article/view/83196
[3] Paulo Freire em “Sou Projeto”, p.69 deste livro.
[4] LIMA, Venício A. de Lima. Paulo Freire, a prática da liberdade para além da alfabetização. Prefácio de Juarez Guimarães. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2021. Nesse livro, Lima prossegue seus estudos desde a metade dos anos 1970 e alguns dados à estampa em Comunicação e cultura – as ideias de Paulo Freire (1981). O estudoaponta uma questão de relevo: a obra de Freire “carece ainda de uma edição crítica definitiva, que possa cotejar textos em diferentes idiomas nos quais foram originalmente escritos e publicados”. Além disto, chama a atenção, face aos “originais e traduções, as discrepâncias, omissões de algumas passagens no Pedagogia do Oprimido, como é o caso daquelas que tratam do conceito de cultura do silêncio que constam do texto manuscrito original; também “nas sucessivas edições brasileiras de Pedagogia do Oprimido, nunca se publicou – e nunca se ofereceu qualquer explicação sobre o fato – um quadro comparativo entre as teorias da “ação revolucionária” e da “ação repressora” que, nos manuscritos originais, aparece como nota de rodapé na parte introdutória do capítulo 4º (p. 15), correspondente à nota de rodapé número 98, na 65ª edição em português (FREIRE, 2018). Este quadro foi publicado na 1ª edição em inglês, como parte da nota de rodapé número 10, do capítulo 4º (FREIRE, 1970, p. 130-131). Outra omissão importante se refere à “Introduction” que Freire escreveu, em 1969, para a edição em inglês das duas partes de seu longo ensaio sobre Ação Cultural para Liberdade.
[5] Um panorama da recepção de Pedagogia do Oprimido pode ser visto em Moacir Gadotti (Org.). Paulo Freire. Uma biobibliografia. São Paulo: Cortez Editora/Instituto Paulo Freire, 1996. Pela originalidade e pesquisa, indicamos ainda: Brugaletta, Federico. La edición de Paulo Freire en la historiareciente de América Latina: Religión, política y mercado en la circulación de una pedagogía para la liberación (1969-1977). Tesis de postgrado (Doctor en Ciencias de la Educación). Universidad Nacional de La Plata. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación, 2020.
[6] Ilse Schimpf-Herken conheceu Paulo Freire aos 24 anos, em 1971, em evento sobre Educação da América Latina. Nesse testemunho ao Jornal Brasil de Fato, no Ano Centenário, ela destaca que o educador brasileiro foi escolhido como um dos 10 pedagogos mais importantes do mundo pela Associação Alemã de Educação: https://www.facebook.com/watch/?v=395379534690236.
[7] “Paulo Freire e a integração de refugiados à Alemanha”. https://www.dw.com/pt-br/m%C3%A9todo-paulo-freire-%C3%A9-utilizado-para-integra%C3%A7%C3%A3o-de-refugiados-na-alemanha/a-48484879.
[8] Marcela Gajardo em “Paulo Freire e os anos de ex+ilio do Chile”, p.42 deste livro.
[9] hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Martins Fontes. 2013, p.68.
[10] SILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, v, 32, 2021, p.3. Outras reflexões de Freire acerca de seu trabalho em África podem ser lidas em: FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985; e FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de Janeiro: PazeTerra/Record, 1987.
[11] FREIRE, Paulo; FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 8a. ed., 2017.
[12] hooks, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2013, p. 66-67.
[13] Hope, A.; Timmel, S.. Training for transformation in practice. Rugby: PracticalActialPublishing, 2014 apud SILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, v, 32, 2021.
[14] Hope, Anne. Building a convivial society: Insights fromNyerereand Freire [Artigoapresentado]. IV. AnnualJuliusNyerere Memorial Lecture, Cidade do Cabo, África do Sul, 2007. http://www.theglassishalffull.co.uk/building-a-convivial-society-insights-fromnyerere-and-freire-a-speech-by-anne-hope. SILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, v, 32, 2021.
[15] Hope, A.; Timmel, S. Training for transformation: A handbook for community workers. Mambo Press, 1984.
[16] Hadfield, L. “Liberation and development black consciousness community programs in South Africa”.Tese de doutorado não publicada. Michigan State University Press, 2016, p. 45 apud SILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, vol. 32, 2021, p.11.
[17] GUIMARÃES, Juarez. “Prefácio”. In LIMA, Venício A. de., Paulo Freire A Prática da Liberdade para além da alfabetização. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2021, p. 19.
[18] LIMA, Venício A. de Paulo Freire A Prática da Liberdade para além da alfabetização. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2021.
[19] SILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, vol. 32, 2021, p. 17.
[20] Thusi, Z., & Harley, A. (2020). “Political literacy” in South Africa. European Journal for Researchon the Education and Learning of Adults, 11(1), 77-90 apudSILVEIRA, Paulo Fernandes. “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, vol. 32, 2021, p. 17.
[21] McLAREN, Peter. Cienaños de Paulo Freire. Revista Jacobin - America Latina, set. 2021.
[22] Lima, Luiz Costa. “A propósito de Paulo Freire”. In A Terra é redonda, 16/7/2021, disponível em https://aterraeredonda.com.br/a-proposito-de-paulo-freire/?utm_term=2021-07-16&doing_wp_cron=1626458965.2829480171203613281250).
[23] FREIRE, Paulo. Cartas a cristina. Reflexões sobre minha vida e minha práxis. Organização e Notas Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Editora Unesp, 2003 [Série Paulo Freire].
[24] FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. Reflexões sobre minha vida e minha prática. Série Paulo Freire. Direção, Organização e Notas, Ana Maria Araújo Freire, 2ª edição revista. SãoPaulo:Editora UNESP, 2003, p.111.
[25] FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. Reflexões sobre minha vida e minha prática. Série Paulo Freire. Direção, Organização e Notas, Ana Maria Araújo Freire, 2ª edição revista SãoPaulo: Editora UNESP, 2003, p.112.
[26] SILVEIRA, Paulo Fernandes . “A presença de Paulo Freire na filosofia da práxis de Steve Biko”. Revista Pro-posições, v, 32, 2021, p.4.
[27] FREIRE, Ana Maria. “Notas”. In FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. Reflexões sobre minha vida e minha prática. Série Paulo Freire. Direção, Organização e Notas, Ana Maria Araújo Freire, 2ª edição revista. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p.301.
[28] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo Freire. Tantos anos depois. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2021, p.28.
[29] FREIRE, Elza. Setembro de 1977. In: COSTA, Albertina de O. et. ali. (Orgs.). Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 200-206.
[30]FREIRE, Elza. Setembro de 1977. In: COSTA, Albertina de O. et. ali. (Orgs.). Memórias das mulheres do exílio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 200-206.
[31] Paulo Freire em “Não há Educação neutra”, entrevista a O Jornal da Educação na p. 147 deste livro.
[32] FREIRE, Paulo. “Intervención. Fe y Pueblo. Pablo Freire en Bolivia”. Revista ecuménica de reflexión teológica. Ano IV, nºs. 16-17, outubro, 1987, pp. 1-64.
[33]Como indicação de leitura, apontamos os estudos de Nima Imaculada Spigolon: Pedagogia da convivência: Elza Freire - uma vida que faz educação. Jundiaí: Paco editorial, 2016. “As noites da ditadura e os dias de utopia – o exílio, a educação e os percursos de Elza Freire nos anos de 1964 a 1979”. Tese (Doutorado emCiências Sociais na Educação). Programa de Pós-Graduação, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 2014. “Escritos íntimos” e escrita de si: por entre as páginas e a vida de Elza Freire. In Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 01, n. 02, p. 254-268, maio/ago. 2016. MAZZA, Débora; SPIGOLON, Nima I. Educação, exilio e revolução: o camarada Paulo Freire. In Revista Brasileira de Pesquisa (Auto) Biográfica. Vol. 3, no. 7, jan/abr2018.
[34] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “A Pessoa de Paulo. Memórias, depoimentos”. Revista Sección Dossier Algarrobo-MEL, vol. 9. Marzo 2020-Marzo 2021, pp.1-41, p.3.
[35] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “A Pessoa de Paulo. Memórias, depoimentos”. Revista Sección Dossier Algarrobo-MEL, vol. 9. Marzo 2020-Marzo 2021, pp.1-41, p.5.Ver ainda do mesmo autor: Sentados ao redor de um círculo escritos sobre a cultura e a educação. Campina Grande: Eduepb, 2021.
[36] FIORI, José Luís. “Dialéctica Y Libertad”, relembrando Paulo Freire, in Sul 21, 20/9/2021 [disponível em https://sul21.com.br/opiniao/2021/09/dialectica-y-libertad-relembrando-paulo-freire-por-jose-luis-fiori/]
[37] GAJARDO, Marcela. Paulo Freire: Crónica de sus añosen Chile. Santiago: Flacso, 2019. Com acesso livre na plataforma academia.edu.
[38] Moacir Gadotti acrescenta que o motivo de cultivar a barba não foi ideológico, mas em razão do frio, durante os dez meses em que esteve na Universidade de Harvard (EUA). GADOTTI, Moacir (org). Paulo Freire: uma biobibliografia. São Paulo: Cortez / Instituto Paulo Freire, 1996.
[39]A conferência “Sou Projeto”, agora traduzida e publicada em português, integrou, em 2018, a obra Freire entre nos. A 50 años de Pedagogía del Oprimido (Jorge Osorio ed. La Serena: Nueva Mirada Ediciones).
[40] Paulo Freire em “Círculos de Cultura”, p.85 deste livro.
[41] Paulo Freire em “Não há Educação neutra”, entrevista a O Jornal da Educação na p. 148 deste livro.
[42] FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em Processo.2ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 18.
[43] Ver na página 125 deste livro.
[44] Como visto em ALCOFORADO, Luís; Ferreira, Sónia Mairos (orgs.). Paulo Freire na Universidade de Coimbra: memórias e significações de um tempo de fé e ação. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2017. Cf. CAVALCANTI, Mabel Solange de Figuerêdo. Educação e Cidadania Paulo Freire, o Movimento Graal e as Políticas Sociais em Portugal (1970/1974). Dissertação para obtenção de grau de Mestre em Política Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, 2017.
[45] CORTESÃO, Luiza. “Alerta de lucidez política”, in GADOTTI, Moacir; ABRÃO, Paulo (Orgs.). Paulo Freire, anistiado político brasileiro. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire/Brasília: Comissão de Anistia, Ministério da Justiça, 2012, p. 121.
[46] Como em STOER, S.& DALE, R. “Apropriações políticas de Paulo Freire: um exemplo da revolução portuguesa”, in Educação, Sociedade & Culturas, nº 11, 1999, pp.67-81.
[47] Estudo de Samuel Urban e Juliana Santiago articula aspectos da pedagogia freireana na luta de libertação nacional no Timor-Leste, com foco na língua Tétum, com vistas a conquista da Independência contra os invasores indonésios. Destacam a utilização dos temas geradores propostos por Freire durante a guerrilha de libertação, assim como a reflexão sobre os significados do 25 de Abril em Portugal e a necessidade da independência. URBAN, S. P.; SANTIAGO, J. P. . “O pensamento freiriano e o ensino da língua tétum durante a resistência timorense”. Filosofia e Educação, Campinas, SP, v. 13, n. 2, p. 2323–2337, 2022.
[48] O texto da comunicação de Béatrice Perez Lages Ribas é disponibilizado pelo Instituto Paulo Freire em: http://www.acervo.paulofreire.org/handle/7891/3909. Em contato com a autora, a mesma indicou que a pesquisa se alterou durante o processo para “Políticas de educação de adultos e o ensino/aprendizagem das línguas estrangeiras”. Dissertação apresentada no Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, Braga, 2004.
[49] LIMA, Licínio C. “Política e politicidade da Educação”: uma disciplina sobre Paulo Freire lecionada em Portugal. Movimento-Revista de Educação, Niterói, ano 4, n.7, p.377-407, jul./dez. 2017.
[50] FERREIRA, António Cardoso. “Abrindo caminhos de conscientização e práxis sob o olhar de Paulo Freire”. In CORTESÃO, Luiza; Amorim, José Pedro (orgs.). Novos contributos para a leitura da obra de Paulo Freire. Novos Tributos a Paulo Freire. Porto: Afrontamento, 2021.
[51] LIMA, Licínio C. “Estudar Paulo Freire”. In Revista E-Curriculum, v. 1, n. 2, junho de 2006.
[52] CORTESÃO, Luiza. “Prefácio à 3 edição portuguesa da Pedagogia do oprimido da editora Afrontamento”. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.16, n.4, p. 1349 – 1357, out./dez., 2018, p. 1352.
[53] Palestra “Vida e obra de Paulo Freire”, proferida por sua esposa, Ana Maria Araújo Freire, no I Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos – ENEJA, em 25 de abril de 1998, no Recife/PE).
[54] FREIRE, Ana Maria Araújo, Nita e Paulo: crônicas de amor, São Paulo, Editora Olho d‘Água, 1998; FREIRE, Ana Maria Araújo, Paulo Freire: uma história de vida (Indaiatuba: Villa das Letras, 2006). Ver também FREIRE, Ana Maria Araújo, Paulo Freire: sua vida, sua obra, Educação em Revista. V. 2 N. 1 UNESP/Marília, 2001; FREIRE, Ana Maria Araújo. Processo de escrita de Paulo Freire. A voz da esposa. In: Paulo Freire: uma biobibliografia. Organização: Moacir Gadotti. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF: UNESCO, 1996, p. 58 -64.; CRUZ, Ana L. Paulo e Nita Freire: Compartilhamento de Vida, de Amor e de Intelectualidade. Introdução. International Journal of Critical Pedagogy, vol. 5. no. 1, pp. 11-16. 2013 Edição Especial
[55] Os três títulos são dados à estampa na Série Paulo Freire, da Editora Unesp, sendo o Pedagogia da Tolerância agraciado em 2006 com o Prêmio Jabuti de Educação, dedicado a Paulo e Nita Freire. Cf. FREIRE, Ana Maria Araújo. Entrevista. Contrapontos, volume 7 - n. 3 - p. 671-687 - Itajaí, set/dez 2007.