Os lugares da juventude no contexto urbano de Cabo Verde

Como resultado de uma pesquisa etnográfica em curso sobre os percursos de vida de jovens das periferias pobres da cidade do Mindelo[ii] (a segunda maior no país, 70.500 hab.[iii]), neste artigo pretendo descrever e refletir sobre a juventude em Cabo Verde numa dupla mas complementar abordagem: 1) como metáfora social num contexto político, cultural e económico singular e em rápida transformação; 2) como grupo de actores sociais que, na sua diversidade, reconstroem as formas da cidadania. Com base em dados recolhidos em fontes documentais e académicas, entrevistas a jovens e adultos, assim como pela observação direta e participante e através de um inquérito por questionário realizado a 197 jovens (entre 16 e 35 anos de idade, frequentadores de várias instituições educativas e juvenis da cidade[iv]), tentarei descrever e analisar a forma como a juventude se tornou uma categoria social e simbólica importante no país. Partindo dos lugares ambíguos – sociais e físicos – ocupados pelos jovens, pretendo também descrever e interpretar a forma como estes (re)constroem as suas identidades face às recentes “crises” e transformações nas tradicionais vias de transição para o mundo adulto e para a cidadania. Corpo, consumo, sexualidade, expressividade, festividade, colectividade, informalidade e ilegalidade serão assim analisados como os lugares centrais dos novos desafios, negociações, inovações e afirmações dos jovens contemporâneos de Cabo Verde, das suas formas de estar no mundo.

Juventude em Cabo Verde

A maior empresa de autocarros urbanos da cidade de Mindelo apresenta um quadro interessante sobre a juventude através de seu conjunto de categorias de preços para o passe mensal: a categoria menos cara é “estudante”, para as pessoas entre os 6 e os 18 anos de idade, a segunda menos cara é “terceira idade”, para as pessoas com 65 ou mais anos de idade, a terceira é a “jovens”, relativo a pessoas entre 19 e 25 anos e a quarta e mais cara é “funcionário”, para pessoas acima de 25 anos. Embora estas categorias remetam para estatutos sociais como a juventude, estudante ou funcionário, curiosamente o critério adotado para atribuição do passe é simplesmente a idade, independentemente da correspondência ou não entre as faixas etárias e os estatutos sociais que lhes são associados. Isto significa que pessoas com menos de 18 anos podem obter um passe de “estudante”, mesmo não estudando. E também significa que um estudante com mais de 18 anos tem apenas acesso a um passe de “jovem” ou mesmo de “funcionário” se tiver mais de 25 anos, estando ou não empregado. Isto é algo que irrita um número crescente de jovens da cidade que continua (ou reinicia) os seus estudos após a idade de 18 ou mesmo 25, sendo que uma grande a maioria deles não consegue encontrar qualquer fonte de rendimento que possa contribuir para suprir as suas despesas escolares (propinas, material escolar, alimentação, vestuário, passe de autocarro, habitação ou mesmo apoio aos filhos). É sobre estes desencontros entre idade e estatuto, entre lugares sociais e identidades, que incidirá esta análise da juventude cabo-verdiana urbana contemporânea.

Em Cabo Verde, bem como genericamente em todo o mundo, a categoria “juventude” vem ganhando importância e extensão, tanto a nível demográfico, como social, económico, político e simbólico. Uma extensão no entanto marcada pela ambiguidade do seu conteúdo e dos seus limites – que são os jovens? quando acaba a juventude? – refletindo ao mesmo tempo as ambiguidades das paisagens sociais contemporâneas. Assim, como afirma a antropóloga Durham Debora a juventude, como uma categoria social historicamente construída, como um conceito relacional, e como um grupo de atores, forma de uma lente especialmente nítida através do qual as forças sociais são concentrados na África, tal como em grande parte do mundo (2000:114, tradução livre). Como os construtores ou destruidores sociais (De Boeck e Honwana, 2005), como uma geração perdida ou uma fonte inovadora de poder político (O’Brien, 1996), a juventude está a gerar novas realidades sociais e novas perspectivas para a análise social em África. Marcada pela exclusão política, pela exploração, pela guerra e violência, pela falta de acesso à educação e a oportunidades de emprego, pela emigração, pela influência da globalização e pela ocidentalização da cultura local, a juventude contemporânea em África responde a estes constrangimentos de formas diversas e inovadores, reconstruindo as dimensões simbólicas da individualidade e da agencialidade (Durham, 2000:114). E fá-lo com os recursos que tem à sua disposição, seja pela informalidade ou ilegalidade, pela violência e pela criminalidade, pela intimidade e pela sexualidade, ou através de inovadoras expressões culturais e práticas sociais, forjando assim novas dimensões e usos do espaço público e da cidadania (De Boeck e Honwana, 2005; Argenti, 2002; Diouf, 2003; Comaroff e Comaroff, 2005).

Cabo Verde, no entanto, não se enquadra nas imagens pessimistas mais frequentemente veiculadas sobre os países africanos, representados como económica, política e culturalmente instáveis. Após a sua independência de Portugal em 1975 e depois de um período sob um regime de partido único até 1991, o país regista nas últimas décadas uma notável evolução nos sectores da economia, da educação, da política democrática, dos serviços públicos e da sociedade civil[v], inclusivamente atingindo em 2008 o padrão da ONU de País de Desenvolvimento Médio. Desde a independência Cabo Verde tem beneficiado de estabilidade política, permitindo à ajuda internacional gerar resultados bastante positivos na redução da pobreza extrema e na criação de infra-estruturas. No entanto, especialmente após 1991 a orientação económica neo-liberal do país tem também levado ao aumento da dependência externa e do custo de vida, à urbanização rápida e descontrolada e consequentemente ao crescimento das desigualdades sociais (Laurent e Furtado, 2008). Como corolário o desemprego, a pobreza urbana, o trabalho e as condições de vida precárias, assim como o alcoolismo, a criminalidade violenta e o narcotráfico têm registado significativos aumentos. Face a estes fenómenos, a tradicionalmente homogénea e harmoniosa sociedade cabo-verdiana tem desenvolvido nos últimos anos um forte sentimento de crise social e pânico moral.

É neste contexto que os jovens aparecem como um grupo social e simbólico significativo, tomados ao mesmo tempo como sintomas e como agentes da crise social. Os adultos tendem a ver jovens contemporâneos como indolentes, irresponsáveis, sem objectivos, ociosos e incapazes de realizar esforços e assumir compromissos, interessados apenas em festas e no consumo. Por vezes são mesmo retratados como imorais, desviantes, perigosos e criminosos. Os adultos de hoje frequentemente comparam a juventude atual com a sua própria geração, os jovens do período pós-independência, idealizando-se a si próprios nessa época como uma geração plena de objectivos sociais e culturais, com um compromisso nacional, orgulho e sentido de responsabilidade e esforçando-se para alcançar desenvolvimento pessoal e social. Diante das transformações recentes ocorridas nos padrões tradicionais (muitas vezes idealizados) de relacionamentos íntimos e públicos, de trabalho e lazer, de consumo e poupança, de expressão e respeito, estas representações pessimistas da juventude actual parecem acima de tudo uma metáfora social para os desejos e projetos não realizados dessa geração de jovens do período pós-independência, os adultos do presente.

Antigos lugares

Mas qual o lugar dos jovens no Cabo Verde contemporâneo? Tendo em conta os lugares tradicionais e estruturais de socialização e de integração social da juventude – trabalho, educação e família – o que se destaca no presente são as suas fragmentações e contradições. Constituindo um grupo demográfico extremamente significativo (54,4% dos cabo-verdianos tem menos de 25 anos de idade e 70,4% tem menos de 35[vi]) a juventude é, no entanto, o grupo que regista maior uma exclusão do campo de trabalho formal. Os jovens são os mais afectados pelo desemprego (a taxa de desemprego é de 41,8% na população entre 15 e 24 anos[vii]) e os mais expostos à pobreza e à exploração laboral, recorrendo frequentemente ao trabalho informal e precário para subsistir economicamente. Com efeito, quando questionados sobre os maiores obstáculos que têm de enfrentar para atingir seus objetivos de vida, o desemprego (75,5%)* e a pobreza (67,2%)* são aqueles que os jovens mais referem.

Embora no sector da educação formal este nível de exclusão não se verifique, este campo também não está livre de contradições. Nas últimas três décadas o país conseguiu promover o acesso universal à educação primária e incrementou exponencialmente as oportunidades de educação secundária e superior, aumentando assim junto dos jovens e das suas famílias as aspirações para conseguir um diploma universitário e, dessa forma, melhorar as suas condições de vida. Mas por outro lado, uma generalizada baixa qualidade da oferta educativa e de recursos, assim como a inadequação da oferta educativa ao mercado de trabalho local, têm como consequência a falta de oportunidades de emprego, mesmo para muitos jovens que obtiveram graus secundários ou superiores. Este fenómeno é algo completamente novo na sociedade cabo-verdiana, onde, para alguém da geração anterior, a obtenção de um grau secundário ou superior tornaria muito fácil conseguir um emprego, especialmente no sector da administração pública. Os cabo-verdianos jovens e as suas famílias estão agora a tomar consciência destas contradições e começam a desenvolver uma perspectiva crítica e uma desconfiança genérica sobre a Educação.

Finalmente, a família constitui também um campo estrutural e historicamente contraditório na sociedade cabo-verdiana. A família cabo-verdiana tem sido caracterizado pela tensão entre o ideal do amor romântico e da família monogâmica nuclear, e a realidade das redes de família extensa, muitas vezes transnacionais, a poligamia de facto e as famílias monoparentais (frequentemente lideradas por mulheres) (Giuffrè, 2005; Rodrigues, 2002, 2005). Para os jovens cabo-verdianos da actualidade, a família destaca-se também como um lugar ambíguo. Ao mesmo tempo que cresce a distância intergeracional entre os valores e estilos de vida de jovens e adultos, a dependência económica dos jovens em relação aos seus familiares adultos é prolongada no tempo. Quando questionados sobre as dimensões mais importantes das suas vidas, os jovens claramente colocam a família em primeiro lugar*. No entanto, quando lhes é perguntado sobre as suas expectativas para o futuro, o casamento não é referido como uma prioridade e o número de filhos esperado (2 filhos) espelha a drástica redução da taxa de fecundidade nacional das últimas décadas[viii]. Assim, se os jovens valorizam muito a família como ideal, através das suas aspirações revelam também a sua insegurança e retração.

Transições

No Cabo Verde contemporâneo, o estatuto de jovem parece ser muito mais amplo do que no passado em termos de idade e de posições sociais. Isto deve-se principalmente a uma maior dificuldade em aceder ao estatuto de adulto através das vias tradicionais: conseguir um emprego estável, estabelecer um agregado familiar independente ou assumir uma relação conjugal estável (mesmo que o casamento formal sempre tenha sido um ideal raramente posto em prática na sociedade cabo-verdiana). Contudo, embora a maioria dos jovens ainda afirme o seu desejo de alcançar estas metas (um emprego, um lar, uma família e até mesmo um casamento)*, ser adulto também é muitas vezes uma categoria identitária pouco valorizada, associada à perda de atributos juvenis como a intensidade, a espontaneidade, a alegria e a liberdade. Como um muito espontâneo rapaz de 18 anos me disse: tu tornas-te adulto quando começas a prender a camisa por dentro das calças. A maioria dos jovens expressa claramente o desejo de ser eternamente jovem, e a idade média que apontam para marcar a transição para a idade adulta é de 50 anos*.

Além disto, na sociedade cabo-verdiana as características da juventude e os seus símbolos parecem expandir-se e ganhar relevância social para além dos contextos exclusivamente juvenis. Parece revelador que no centro da pequena cidade do Mindelo seja possível encontrar uma farmácia, uma barbearia e uma escola de condução, todas com o nome “Jovem”. Além disso, é possível assistir a uma tendência geral para a “juvenilização”de diferentes dimensões da vida social urbana, pois, como é observável e confirmado por muitos dos adultos entrevistados, há uma crescente informalidade na maneira como as pessoas – jovens e não tão jovens – hoje em dia falam, se vestem, se movem e se relacionam, mesmo em contextos laborais, religiosos, educacionais ou outros meios tradicionalmente formais.

Parece existir uma forte ambiguidade entre o estatuto de jovem e de adulto na contemporaneidade urbana de Cabo Verde. Tanto os adultos como os jovens entrevistados afirmam que os jovens de hoje fazem “coisas que os adultos” muito cedo, tais como sair à noite, experimentar álcool e drogas, ter relações sexuais, ou mesmo ter filhos. Mas ao mesmo tempo estes jovens têm muito pouco acesso às prerrogativas do estatuto de adulto, tais como a habitação própria, o trabalho e a possibilidade de assegurar responsabilidades familiares. Assim, a transição para idade adulta parece confusa e até mesmo sem sentido, com os jovens frequentemente afirmando serem jovens e adultos ao mesmo tempo. Uma vez que ser adulto se baseia na responsabilidade e maturidade e ser jovem se baseia num “espírito jovem”, dinâmico, intenso e alegre*, não parece haver contradição em ser ambos.

A responsabilidade destaca-se como a dimensão fundamental desta ambiguidade. Por um lado, os adultos tendem a ver a juventude como irresponsável e os jovens frequentemente estão de acordo com esta representação, alguns reivindicando mesmo um certo grau de irresponsabilidade. Por outro lado, os jovens não se vêem a si mesmos, pessoalmente, como irresponsáveis e – internalizando o discurso moral dos adultos sobre a juventude – consideram a responsabilidade uma característica importante de ser jovem: responsável junto da sua família, na escola, na comunidade, nas atividades de lazer e nas relações sexuais. Esta responsabilidade ambígua parece assim revelar – ou dissimular – um lugar subalterno para a juventude, as limitações e as frustrações dos para sempre jovens, para sempre desempregados ou precariamente empregados, para sempre dependentes das suas famílias e para sempre envolvidos em relacionamentos íntimos e parentais descomprometidos e superficiais.

Novos lugares

Em dois centros juvenis de áreas periféricas do sudeste da cidade eu pude conhecer diversos jovens que me ajudaram a construir uma perspectiva mais complexa e relativa sobre este estatuto ambíguo e subalterno da juventude. Pude entrar em contato com grupos de jovens empenhados e activos, comprometidos com o desenvolvimento de suas comunidades e com uma perspicaz sensibilidade para as desigualdades sociais. Ao discutir com eles questões como a exclusão social e a cidadania, muitos revelaram uma forte identificação e solidariedade para com os mais pobres e excluídos, exclusão essa que eles haviam já sentido ou assistido de perto nas suas comunidades. Mostraram também uma grande motivação para participar em actividades de voluntariado, tais como campanhas de limpeza, distribuição de alimentos ou de pintura de casas de famílias carenciadas, aulas gratuitas de inglês ou de capoeira e atividades de consciencialização sobre doenças sexualmente transmissíveis e abuso de álcool ou drogas. Alguns manifestaram a sua motivação para se envolver nessas atividades  utilizando termos como “necessidade de pertencer e de auto-realização”, “integração na sociedade”, “expressar minhas ideias”, “mostrar minhas capacidades” ou “mostrar que eu sou útil à sociedade”, revelando uma ligação muito concreta e pessoal para com o voluntariado, quase como uma fonte de empoderamento.

Na verdade, uma parte significativa dos jovens da cidade (55,5%) * participa em algum tipo de grupo ou associação, principalmente grupos informais chamados “maltas”, com base na área de residência na cidade, ou “zona”. Esses grupos informais podem desenvolver diversas actividades desportivas, culturais e comunitárias, tais como o voluntariado e actividades de caridade, jogos de futebol e outros jogos, mostras danças tradicionais, teatro e espectáculos de música tradicional ou hip-hop. Alguns desses grupos promovem também concursos e torneios que envolveu várias “maltas” de diferentes “zonas” da cidade ou mesmo de outras ilhas do país, promovendo ao mesmo tempo um sentimento de orgulho local e oportunidades de mobilidade geográfica. Isto é algo muito valorizado por muitos jovens da periferia da cidade, desempregados e fora da escola, com poucas oportunidades económicas ou profissionais para se deslocarem dentro da cidade ou do país e conhecer novas pessoas. Esses grupos também promovem frequentemente atividades performativas públicas como “tardes de chá”, com música e dança tradicionais, concursos de beleza ou festas de dança, como forma de arrecadar fundos para as suas actividades (especialmente relacionados com a mobilidade ou de caridade local). Estas apresentações públicas frequentemente envolvem importantes recursos humanos e materiais da comunidade e, ao mesmo tempo, conseguem dar visibilidade e reconhecimento social aos jovens.

Tanto a nível local como nacional, o setor associativo formal da juventude é fracamente desenvolvido e, muitas vezes, conotado com os interesses dos partidos políticos. Mesmo participando em grupos juvenis, um grande número de jovens não se vê representado pelo sector formal da juventude nem vê a necessidade de constituir associações formais. Por outro lado, muitos dos grupos informais de jovens funcionam internamente com baixos níveis de liderança democrática e de participação e às vezes até com práticas muito rígidas, claramente imitadas dos modelos educativos e políticos tradicionais. E se a capacidade desses grupos para promover atividades é notável, também é impossível ignorar a sua incapacidade geral para elaborar diagnósticos sociais de forma crítica e desenvolver projetos e estratégias de intervenção de longo prazo.

A nível regional as estruturas formais de juventude estão recentemente a tentar promover a “formalização” destes grupos informais de jovens e reforçar a sua capacidade para promover lideranças democráticas e o desenvolvimento de projetos. A nível nacional, a política de juventude tem-se desenvolvido significativamente nos últimos anos, tentando coordenar e reforçar as ofertas sociais aos jovens: formação profissional e técnica, formação e apoio ao empreendedorismo, informação sobre microcrédito, orientação profissional e apoio psicológico, a criação de um cartão-jovem com descontos em material escolar e desportivo, comunicações e viagens, informação e formação sobre controle de natalidade, doenças sexualmente transmissíveis e consumo de álcool e drogas, acesso à Internet, promoção das artes e do desporto, das estruturas associativas da juventude e de actividades de tempos livres e de voluntariado.

No entanto, mesmo se estes esforços podem ter um impacto importante, ao nível do acesso à informação e formação, junto de muitos jovens do Mindelo, tais apoios ainda são oferecidos de forma dispersa e descoordenada. Além disso ainda falham em chegar ou em motivar um grande número de jovens que vivem longe do centro da cidade e afastados dos setores formais da educação, serviços e administração pública. Para além disto, a maioria dos jovens está ciente da instrumentalização política subjacente às políticas de juventude e às atividades e programas promovidos pelo Estado (de voluntariado, desporto, artes, saúde) e entendem claramente que os jovens representam um público muito cobiçado pelos partidos políticos, especialmente durante as campanhas eleitorais.

Mas se os jovens sabem que são alvos políticos, eles também sabem como taticamente tirar proveito disso. Ao explorar o apoio financeiro ou material de um qualquer programa governamental ou partido político, na maioria das vezes independentemente da sua natureza ou ideologia política, os jovens facilmente conseguem captar recursos importantes para suas vidas pessoais ou profissionais e para as suas actividades colectivas. Assim, os períodos de campanha eleitoral enchem a cidade com jovens desfilando e distribuindo camisetas e chapéus dos partidos políticos em troca de dinheiro, bem como com eventos juvenis como espetáculos de danças ou música, concursos de beleza, jogos de futebol ou grandes pic-nics financiados por partidos políticos. Assim, se algum grupo de jovens pretende organizar um concerto de música ou gravar um CD, promover um acampamento regional ou torneio de futebol, sabe que se utilizar de alguma forma o termo “SIDA” terá fortes possibilidade de obter financiamento do Programa Nacional contra a SIDA. Assim, todo jovem sabe que para encontrar um emprego mais facilmente ou assegurar o seu trabalho quando mudar o governo, o melhor é inscrever-se no partido que esteja no poder, seja ele qual for.

Embora não tão massivas e influentes como as organizações juvenis do período de partido único, as organizações de juventude partidária actuais ainda mantêm alguma capacidade de atrair e mobilizar os jovens, mas, como alguns claramente afirmam, principalmente porque estas organizações representam oportunidades para reunir recursos e estabelecer contactos pessoais e influências que podem conduzir a posições de prestígio. No entanto, mesmo que esta estratégia possa ser usada por alguns jovens, ela não representa o principal posicionamento dos jovens face à política. A política partidária é algo que tendem a subestimar e evitar, justamente porque sentem que os responsáveis ​​políticos nacionais e locais são geralmente voláteis, oportunistas e pouco confiáveis.

Neste contexto cresce, especialmente entre os jovens com maiores qualificações, uma consciência de que a ação política e social pode ser realizada fora das estruturas dos partidos políticos. Embora frágeis e não totalmente livres da influência partidária, algumas ONGs locais ou nacionais – como a Cruz Vermelha, desenvolvendo-se principalmente em torno de professores do ensino básico e secundário – são capazes de reunir muitos jovens em torno de projetos sociais, ambientais ou culturais, ganhando assim grande expressão e valor social entre os jovens. Também os escuteiros e outros grupos de jovens religiosos continuam a ter uma presença importante, principalmente no âmbito da Igreja Católica, mas também dentro de uma minoria crescente de igrejas protestantes e pentecostais. Se hoje a Igreja Católica está claramente a perder a sua autoridade moral e ritual entre os jovens, não se pode porém ignorar a sua contínua influência social, cultural e até política, uma vez que tem sido, desde os tempos coloniais até à actualidade, um importante contexto da educação da juventude, de convívio, expressão e intervenção social juvenil.

O teatro amador também tem ganho grande relevância na cidade, atraindo cada vez mais jovens que se envolvem em longas e exigentes acções de formação e preparação e, através de cada vez mais grupos amadores, produzem peças teatrais regulares que são apresentadas em espaços públicos com grande aceitação e visibilidade. Um dos principais responsáveis ​​pelo desenvolvimento do teatro amador na cidade do Mindelo, assim como muitos jovens envolvidos nestes grupos, confirmam que esta demanda crescente dos jovens pelo teatro tem como principal motivação, não razões políticas ou sociais, mas antes uma busca pessoal de desenvolvimento e uma oportunidade de expressão. Há também um crescente interesse e reconhecimento das artes do espectáculo e expressivas (teatro, dança, pintura, música) em Cabo Verde, e embora o mercado local seja ainda incapaz de permitir a profissionalização dos artistas (com exceção dos músicos), os jovens começam a ver as artes como verdadeiras oportunidades de carreira futura.

Se conseguir uma casa própria é cada vez mais difícil e a casa da família torna-se um lugar estreito para se viver, o seu espaço de oposição – a rua – torna-se um lugar importante para a maioria dos jovens do Mindelo. É frequente ouvir adultos dizer que os jovens hoje em dia só querem “paródia”, e mesmo os próprios jovens identificam a “festividade” como a principal característica da juventude cabo-verdiana (58,1%)*. Com efeito não é possível deixar de notar a presença de jovens na praça central do Mindelo – Praça Nova – e ruas adjacentes, especialmente à noite. Perpetuando o tradicional ritual mindelense de dar um passeio à noite na praça, os jovens agora ostensivamente preenchem este espaço simbólico até de madrugada, principalmente nos fins de semana, com suas expressões juvenis: rodas de capoeira, manobras de skate ou carros e motos acelerando, consumo ostensivo de bebidas alcoólicas, exibição de roupas sensuais ou estilo gangster rap, de telefones celulares de última geração e leitores de MP3, rindo ou gritando, seduzindo-se ou e intimidando-se entre si ou a alguém que passa. Pode ser zouk, funaná ou hip-hop cabo-verdianos, funk ou canções românticas brasileiras, ou ainda algum êxito de hip-hop ou R&B norte-americano, mas a música da juventude é audível por toda a cidade, quer vinda de um carro que passa lentamente na Praça Nova, ou de um autocarro numa rua central, saindo pela porta de uma mercearia-bar numa zona periférica, ou de um concerto num clube noturno ou num campo desportivo, ou ainda de uma festa de dança num telhado…

Os adultos tendem a ver este uso ostensivo do espaço público como algo exagerado e perigoso. Esta excessiva festividade contemporânea é encarada como uma liberdade excessiva, falta de limites e ausência de espírito de sacrifício, potencialmente – e às vezes efectivamente – levando a comportamentos de risco, tais como faltar às aulas, gastar excessivamente, abusar do álcool ou drogas, manter relações sexuais desprotegidas, ou ainda envolver-se em furtos ou violência inter-grupos. Entre adultos destacam-se dois tipos de justificações para este excesso. Por um lado, alguns tendem a encontrar a raiz do problema em si mesmos; assumem que foram eles que, depois de ter lutado tanto – através dos estudos – para escapar às dificuldades do trabalho na família rural, conscientemente libertaram seus filhos dessas responsabilidades e, inconscientemente, promoveram uma geração para quem o trabalho e o sacrifício já não são valores estruturais. Por outro lado, muitos adultos também tendem a pensar que a raiz do problema está nas influências externas da globalização: como se as novelas brasileiras, os filmes e o hip-hop americanos, a Internet e todos os tipos de bens de consumo eletrónico e de moda pudessem levar a juventude deste país periférico a adotar modelos estrangeiros sem qualquer adaptação ou crítica. Desta forma, aos olhos de alguns adultos, os comportamentos excessivos e perigosos dos jovens parecem pouco mais que uma imitação ingénua do mundo exterior.

É claro que essas duas justificativas locais para o “problema da juventude” são claramente limitadas, e os adultos também sabem que isto é apenas parte da história. Como um artista e ativista social local me disse, a globalização só pode ser negativa quando não há mediação entre o jovem e as informações. No entanto, o aspecto revelador das justificações adultas é o fato de ambas realçarem a mudança social – seja de uma geração para outra, seja da tradição para modernidade ou do global para o local – e ambas colocarem a juventude como o seu mediador central. Quando perguntei a alguns adultos sobre o que eles consideravam importante investigar sobre a juventude obtive resposta como “tudo”, ou “o que está acontecendo em suas mentes”, ou “o que eles querem”, “o que eles têm a dizer”, “quais são seus valores”,”como eles vêem a escola e o trabalho”, “como eles vêem o seu futuro”.

A fim de tentar compreender as mentes dos jovens, proponho que se comece por olhar para os seus corpos. Como enfatizam vários autores (Diouf, 2003; De Boeck e Honwana, 2005; Pais, 2005), o corpo juvenil é o lugar privilegiado de mediação entre a individualidade e as forças sociais, o lugar tanto de expressão e de subversão da juventude como do pânico moral e do controlo social. E o contexto urbano de Cabo Verde não é uma exceção a este respeito. É muitas vezes através de seus corpos que rapazes e raparigas expressam os seus sentimentos, os seus desejos e as suas afinidades, que conseguem negociar os seus estatutos sociais e mesmo encontrar recursos – materiais e humanos – para continuar vivendo da forma que querem viver. E é também através dos seus corpos que a moralidade e o controlo social são, por vezes desafiados, por vezes incorporados.

Existe, com efeito, uma clara tendência na maioria dos jovens cabo-verdianos contemporânea, para exacerbar e sensualizar as suas figuras corporais. Contudo rapazes e raparigas fazem-no de formas diferentes.

O corpo feminino em Cabo Verde, desde os tempos coloniais até à actualidade, tem sido o lugar onde sinais e ideais de raça, classe social e da beleza se interconetam para dar forma a configurações subalternas ou emancipatórias (Rodrigues, 2002). Muitas raparigas e mulheres jovens que se encontram afastadas dos percursos escolar e laboral formais, estrategicamente manipulam estes sinais através do modo como se vestem, da maneira como se movem ou das formas como usam seus corpos (pelas relações sexuais, pela reprodução ou pelo trabalho informal) para reconfigurar sua feminilidade subalterna num contexto machista e negociar os seus papeis de género, num equilíbrio instável em que tentam ao mesmo tempo ficar sexualmente desejáveis​​, emocionalmente ligadas e economicamente independentes em relação aos homens (Massart, 2005; Grassi, 2003; Anjos, 2005). Por outro lado, é também sobre o corpo feminino, que se projetam os maiores medos sociais e os discursos morais correspondentes, associando saúde, sexualidade, maternidade e responsabilidade. Sendo a sexualidade masculina encarada como “naturalmente ” incontrolável ​​(Guiffrè, 2005), é “natural” em Cabo Verde apontar os principais desvios morais e males sociais às raparigas, exigindo delas todas as responsabilidades referentes ao evitamento do assédio sexual, à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, ao uso de anticoncepcionais, à prevenção da gravidez na adolescência e à parentalidade, e, consequentemente, centrar-se sobre eles as principais campanhas de saúde e educativas, programas ou leis sobre estas questões. Tal é o caso de uma polémica disposição de 2001 do Ministério da Educação que permite aos conselhos dos liceus suspender temporariamente as estudantes grávidas, alegando que este período de ausência permite que estas assumam plenamente as suas funções de maternidade. Mas nem toda a sociedade cabo-verdiana, incluindo muitos jovens, parece pensar na maternidade em termos tão “naturais” e, desde a sua implementação, é intenso o debate sobre este e outros temas relacionados com os direitos das mulheres e da juventude e com a moralidade.

Os corpos masculinos são também locais de identidade, de expressão e medo social. No entanto, se para as raparigas a principal característica exacerbada é a sensualidade, para os rapazes parece ser mais o desempenho corporal. Muitos jovens rapazes arredados do setor formal de educação e trabalho – mas não exclusivamente esses – cultivam ostensivamente seus corpos frequentando um número crescente de ginásios ou mesmo na praia da cidade. Estes corpos altamente desenvolvidos são, depois, apresentados em espaços públicos, clubes desportivos e noturnos, procurando provocar ao mesmo tempo o medo – através de posturas e comportamentos agressivos ou mesmo violentos – e a atracção – através de movimentos e posturas sexualizadas. No entanto, os sinais públicos de afeto ou de intimidade para com as raparigas raramente são vistos. Como se esses rapazes, através da sua força do corpo, se esforçassem por manter algum do tradicional poder masculino, atualmente posto em causa pelo desemprego, pela dependência e pela marginalidade que experienciam, assim como pela própria emancipação social feminina (Massart, 2005; Anjos, 2005). Para os rapazes o corpo é claramente um lugar de expressão de angústia e raiva e uma maneira de conquistar, pela força, novos (ou antigos) lugares sociais.

Face a uma aparente escalada da violência e da criminalidade juvenil urbana – uma representação altamente ampliada pelos meios de comunicação e nitidamente contrastante com a noção imaginária e a retórica de um país pacífico – não é surpreendente, portanto, que os militares, a polícia e a segurança privada constituam crescentes oportunidades de trabalho para os rapazes. Exigindo baixas qualificações escolares e oferecendo um mercado em expansão, o crescimento destes setores à custa da juventude – como agressora e como defensora – parece refletir uma imagem de espelho de uma sociedade com pouco a oferecer aos seus jovens senão colocá-los a lutar entre si, a fim de dissimular uma crescente crise social.

Juventude como cidadania

Vários autores (Giddens, 1997; Muggleton, 2000) apontam para o fato de que, diante da fragmentação e da incerteza da sociedade contemporânea, os debates e as demandas em torno da cidadania tendem a transitar para o nível pessoal dos estilos de vida, das relações íntimas e da expressão das identidades. Outros autores (Cole e Durham, 2007; Yanagisako e Collier, 1991) demonstram que as relações íntimas espelham sempre estruturas e forças macro-sociais, tanto moldando como sendo moldadas por elas. Assim, é possível argumentar que as expressões pessoais configuram atos de cidadania, não só porque são atos públicos, mas também porque revelam forças e tensões sociais mais amplas, mesmo que de forma não plenamente consciente ou compreendida. Como o coloca José Machado Pais, a expressão é uma forma de libertação: uma pressão que se exterioriza (2005: 62).

Como referido acima, quer pelo desemprego prolongado, quer pela incapacidade de estabelecer núcleos familiares independentes e relações íntimas estáveis​​, quer por insuficientes ou desadequadas oportunidades educativas ou ainda por sub-representação ou desfiliação política, nas áreas urbanas de Cabo Verde uma parte importante dos jovens é amplamente excluída dos tradicionais locais de pertença e de acção social – o trabalho, a família, a educação e a participação política formal. Fora desses lugares, tanto de adultez como de cidadania formal, os jovens são compelidos para espaços marginais onde tentam exigir direitos e exercer deveres, pertencer – ou a desejar pertencer – a grupos ou comunidades e agir sobre os seus contextos sociais.

Através das artes performativas e da performatividade dos corpos, através do trabalho informal e dos grupos informais, através de acções de solidariedade e de momentos festivos, através de relações sexuais e de comportamentos violentos, através da instrumentalização tática da política e da religião, em espaços centrais e nas “zonas” periféricas da cidade, os jovens constroem novos lugares e signos – uma cultura? – que, mais do que de resistência, são a reivindicação de uma existência nem sempre objecto de reconhecimento social (cf. Honneth, 1997, cit. in Pais, 2005). É nestes lugares e com estes signos que a juventude cabo-verdiana contemporânea manifesta as suas pressões, os seus desejos, as suas frustrações e as suas alternativas imaginadas, e assim medeia entre a exclusão e a inclusão, o passado e o futuro, a tradição e a modernidade, o local e o global, as desigualdades sociais e as aspirações pessoais. São estas as formas pelas quais os jovens buscam experiências de reconhecimento pessoal e de acção social e, assim fazendo, constroem novos lugares para suas subjetividades e para a sua agencialidade, para os seus modos de ser e estar no mundo.

Assim, a exclusão da juventude da linguagem abstrata e “adultocêntrica” dos direitos civis, económicos e sociais de cidadania formal (cf. Castro, 2001, cit. in Pais, 2005), leva-os a criar novas formas de expressão que exigem novos signos e novos lugares. Estes são frequentemente encarados pelos adultos – e até mesmo pelos próprios jovens – como simplesmente “jovens”, e são subvalorizadas por isso. Mas, como também tentei mostrar, estes signos e lugares da juventude estão em expansão na sociedade cabo-verdiana contemporânea, tanto por diferentes faixas etárias como por diferentes campos sociais.

As linguagens da juventude – de intensidade, liberdade, informalidade, festividade, irresponsabilidade, sensualidade e violência – estão a penetrar não apenas nos espaços públicos e tempos de lazer, mas também em setores formais como o trabalho, a família, a educação, a religião e a política. Mesmo que a juventude, como um grupo de atores sociais, seja económica e politicamente marginal, a juventude como uma metáfora social, como um símbolo, está a conquistar espaço social nos meios urbanos de Cabo Verde.

Desta forma, dada a indefinição dos limites entre a juventude e a idade adulta e a generalização social dos signos juvenis, parece que toda a gente pode ser jovem em Cabo Verde na atualidade. E dada a redução dos espaços formais da cidadania e a crescente exclusão social, parece também que uma significativa parte dos cabo-verdianos – jovens ou não tão jovens – quer tornar-se um. Não porque seja melhor ser jovem, mas porque sê-lo parece ser uma das poucas maneiras de encontrar um novo lugar de “expressão”. Assim a juventude, para além de uma fase da vida, torna-se um novo léxico de pertença, de exigência e de acção, um modo em expansão para se tornar cidadão. Não o único, claro, mas talvez um dos mais apelativos no Cabo Verde contemporâneo.

 

Referências bibliográficas

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[i] Doutorando em Antropologia no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa; Investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia e no Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (Portugal); filipemartins79@gmail.com

 

[ii] Uma primeira versão deste texto foi apresentada no simpósio do CODESRIA sobre Género e Cidadania na Era da Globalização, de 8 a 10 de Outubro de 2008 no Cairo, Egipto. Posteriormente foi publicado em língua inglesa nas Actas do VI Congresso Internacional de Investigação e Desenvolvimento Socio-cultural, AGIR; Melide, Espanha, 23 a 25 de Outubro de 2008.

 

[iii] Fonte: Resultados preliminares do Recenseamento Geral da População e Habitação 2010, INE, 2010.

 

[iv] Foi tomada como referência para a juventude a faixa etária entre os 15 e os 35 anos de idade, em linha com aquela apontada pelo Governo de Cabo Verde no documento Sessão do Conselho de Ministros Dedicada à Juventude: Documento Estratégico, Praia, 2002.

 

[v] Para uma visão geral da evolução destes indicadores ver perfil de Cabo Verde do Bano Mundial (http://data.worldbank.org/country/cape-verde?display=graph acesso a 09 Novembro  2010) e do African Development Bank Group http://www.afdb.org/en/countries/west-africa/cape-verde/ acesso a 09 Novembro 2010).

 

[vi] Fonte: Resultados preliminares do Recenseamento Geral da População e Habitação 2010, INE, 2010.

 

[vii] Fonte: Questionário Unificado de Indicadores de Bem Estar, INE, 2007.

 

[viii] 7 filhos/mulher em 1974, 3,7 filhos/mulher em 2000 e 2,7 filhos/mulher em 2009. Fonte: Bano Mundial (http://data.worldbank.org/indicator/SP.DYN.TFRT.IN/countries/1W-CV?display=graph acesso a 09 Novembro 2010)

 

* Resultados do inquérito por questionário.

 

por Filipe Martins
A ler | 30 Abril 2011 | Cabo Verde, gerações, jovem, juventude