Sarah Maldoror, a poesia da imagem resistente

1 a 8 setembro 2021


Esta é uma retrospetiva praticamente integral da obra de Sarah Maldoror (1929-2020), realizadora conhecida sobretudo pela dimensão mais militante do seu cinema associada às lutas contra o colonialismo, e autora de uma obra multifacetada determinante para a afirmação de uma cultura negra, que, permanecendo em grande parte invisível, assume particular relevância no contexto português pela sua ligação ao nosso passado colonial.

Filha de pai guadalupense e de mãe francesa, Sarah Ducados nasceu no Sul de França e cedo adotou o pseudónimo Maldoror em homenagem a Lautréamont, o autor de Os Cantos de Maldoror. Antes de se dedicar ao cinema, cofundou em 1956 Les Griots, a primeira companhia teatral parisiense composta unicamente por atores negros, e foi no círculo da revista Présence Africaine que conheceu Mário Pinto de Andrade, poeta angolano e fundador do MPLA, com quem casaria, e o escritor Aimé Césaire, que seria determinante na sua obra.

Incentivada por Chris Marker, Maldoror estudou cinema em Moscovo no início dos anos sessenta, de onde rumou para Argel, grande palco dos movimentos de libertação em África, e aí começou a trabalhar em cinema, experimentando a assistência de realização em alguns dos títulos fundamentais de um cinema anticolonial, como LA BATTAGLIA DI ALGERI (1965), de Gillo Pontecorvo, FESTIVAL PANAFRICAN D’ALGER (1969), de William Klein (1969). Mais tarde colaboraria com Chris Marker em SANS SOLEIL (1983) e em L’HÉRITAGE DE LA CHOUETTE (1989).

Realizou duas das suas primeiras e mais conhecidas ficções no final dos anos sessenta. Adaptando obras do escritor angolano José Luandino Vieira, MONANGAMBÉE (1969) e SAMBIZANGA (1973, que apresentaremos numa cópia recém-restaurada) retratam os inícios das lutas pela libertação em Angola e denunciam abertamente a violência do sistema colonial português com uma sensibilidade invulgar. Entre elas realizou DES FUSILS POUR BANTA (1970), longa-metragem ficcional patrocinada e confiscada pelo governo revolucionário argelino, que continua desaparecida até hoje. No final da década de setenta Maldoror filmou em Cabo Verde e na Guiné-Bissau três importantes documentários que, ao retratarem um conjunto de festas e manifestações populares em que assume particular relevância o Carnaval, exploram o significado de uma identidade africana, completando assim um ciclo.

Muito próxima do poeta Aimé Césaire, a voz, a escrita e a presença de Césaire atravessam toda a obra cinematográfica de Maldoror, retratando-o em vários filmes que realizou ao longo da sua vida, a par de outros documentários que dedica a poetas (e políticos) próximos de Césaire, como Léopold Sédar Senghor e Léon G. Damas, também eles determinantes para a afirmação da Negritude, movimento político e social que desde cedo promoveu uma cultura negra associada ao anticolonialismo e ao pan- africanismo, em que o surrealismo tem um papel essencial, a que a realizadora dará expressão através do seu cinema. A artista colombiana Ana Mercedes Hoyos remata a extensa galeria de artistas das mais variadas áreas que retratou ao longo de várias décadas, como René Depestre, Wifredo Lam, Alain Séraphine, Miró ou Louis Aragon.

Dos primeiros filmes, aos muitos retratos de artistas, ou às reportagens e ficções que realizou para a televisão, deparamos com uma grande coerência de temas e de formas, uma poética política que desfaz configurações culturais cristalizadas em prol de uma liberdade de inspiração surrealista, em que critica o racismo e interroga a história da escravatura e do colonialismo, o papel das mulheres, ou as possibilidades da arte. Um cinema praticado como meio de investigação poética, que se materializa numa obra de vocação transnacional e num contínuo trabalho de resistência cultural.

A extrema raridade de vários dos filmes de Sarah Maldoror, alguns deles inéditos cujo paradeiro foi recentemente descoberto, e a nossa vontade de realizar uma retrospetiva o mais completa possível, faz com que em alguns dos casos o desejo de mostrar tais filmes secundarize a qualidade das cópias, que são as únicas existentes. Mas a importância demostrar a sua obra de uma forma integrada justifica-o. No capítulo “Colaborações/Apropriações”, que dedicamos aos filmes em que colaborou ou que partem da sua obra, entreos títulos que queríamos mostrar e não o podemos fazer em virtude da não autorização dos detentores de direitos está o já referido LA BATTAGLIA DI ALGERI. A sua importância justifica esta nota. Com exceção de LE CIMETIÈRE DU PÈRE LACHAISE todos os filmes são exibidos em cópias digitais.

Annouchka de Andrade, filha de Sarah Maldoror, cujo contributo foi inestimável para este programa, que será o mais completo até à data alguma vez realizado, estará em Lisboa para acompanhar os primeiros dias da retrospetiva e para participar no encontro em que se discutirá a sua obra.

Quarta-feira [01] 19:00 | Sala M. Félix Ribeiro - com a presença de Annouchka de Andrade

Quarta-feira [08] 19:00 | Sala M. Félix Ribeiro

SAMBIZANGA de Sarah Maldoror

com Domingos de Oliveira, Elisa Andrade, Jean M’Vondo, Adelino Nelumba, Benoît Moutsila Angola, França, 1973 – 102 min / legendado em inglês | M/12

Adaptação de A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, obra literária do poeta angolano José Luandino Vieira, SAMBIZANGA é a primeira longa-metragem conhecida de Sarah Maldoror. Se o livro se centra na figura de Domingos Xavier, operário envolvido nos movimentos de resistência anticolonial, preso e torturado até à morte em 1961 pela polícia política portuguesa, o filme é narrado do ponto de vista da sua mulher, Maria, que parte em busca do seu marido, viajando até Luanda. Como escreveu Annouchka de Andrade, filha de Maldoror e de Mário Pinto de Andrade “SAMBIZANGA tem uma estética sensual, transmitida através de cenas do quotidiano: o casal Maria e Domingos, as longas viagens de Maria a pé por caminhos poeirentos, e a relação de Maria com o filho que carrega nas costas (…)”. Esta é uma das primeiras apresentações da cópia restaurada do filme, que teve a sua primeira exibição no último Festival Il Cinema Ritrovato.

 

Quarta-feira [01] 21:30 | Sala M. Félix Ribeiro - com a presença de Annouchka de Andrade

Quarta-feira [08] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro - com a presença de Augusta Conchiglia

SARAH MALDOROR OU LA NOSTALGIE DE L’UTOPIE 

 de Anne-Laure Folly

 com Sarah Maldoror, Greg Germain, Maurice Pons, Suzanne Lipinska

 França, Togo, 1998 – 26 min / legendado em inglês e eletronicamente em português

 

ET LES CHIENS SE TAISAIENT

 de Vincent Blanchet, Bernard Favre, Sarah Maldoror

 com Gabriel Glissant e Sarah Maldoror

 França, 1978 – 13 min

 

MONANGAMBÉE

de Sarah Maldoror

com Carlos Pestana, Noureddine Dreis, Mohammed Zinet, Athmane Sabi, Elisa Pestana. Argélia, 1969 – 17 min / legendado em inglês e eletronicamente em português
 

LE CIMETIÈRE DU PÈRE LACHAISE

de Sarah Maldoror

França, 1978 – 7 min
duração total da projeção: 63 min / legendados eletronicamente em português | M/12

Um programa pensado como uma introdução às várias vertentes do cinema de Sarah Maldoror, das lutas da libertação, à importância da literatura e ao seu papel na afirmação do movimento da Negritude. No documentário de Anne-Laure Folly, contamos com a presença da realizadora a par de depoimentos de alguns dos seus amigos e colaboradores próximos. ET LES CHIENS SE TAISAIENT adapta uma peça de Aimé Césaire com o mesmo nome, protagonizada por Gabriel Glissant e Sarah Maldoror, que a representam nas reservas do Musée de l’Homme, em Paris, consagradas à África Negra.

Encena-se o longo poema doloroso e um grito de revolta de um homem contra a escravização do seu povo, pontuado por máscaras e por paisagens martinicanas. MONANGAMBÉE, primeira adaptação de uma obra de Luandino Vieira (O Fato Completo de Lucas Matesso), recorre ao jazz do Art Ensemble of Chicago e revela-se como um “canto” sobre a liberdade e contra os abusos e os crimes cometidos em Angola pela polícia portuguesa. As fotografias do genérico final são de Augusta Conchiglia. LE CIMETIÈRE DU PÈRE LACHAISE sublinha a profunda relação da obra de Maldoror com a poesia dos surrealistas, destacando-se Paul Éluard e o seu mais famoso poema, Liberté. Como diz Maldoror no filme que abre a sessão, “Sempre amei as coisas belas. (…) Amo filmar os poetas”. Com exceção de MONANGAMBÉE, todos os restantes filmes são primeiras exibições na Cinemateca.

Quinta-feira [02] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro

AIMÉ CÉSAIRE, UN HOMME UNE TERRE

Martinica, 1976 – 57 min

LOUIS ARAGON, UN MASQUE À PARIS 

França, 1978 – 20 min

L’ENFANT CINÉMA
França, 1996 – 23 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 100 min / legendados eletronicamente em português | M/12

AIMÉ CÉSAIRE, UN HOMME UNE TERRE, também conhecido como AU BOUT DU PETIT MATIN, revela-nos um mundo evocado por Aimé Césaire, poeta e político que foi um dos fundadores da Negritude, a que Sarah Maldoror deu expressão cinematográfica. Originário da Martinica, Césaire fala-nos do seu povo nesta que será a sua primeira aparição de muitas na obra de Maldoror.

Os dois filmes seguintes traçam explicitamente a ponte entre Negritude e uma sensibilidade surrealista. Muito admirado pelos poetas da Negritude, Louis Aragon tem no filme de Maldoror uma aparição fascinante quando entrevistado em sua casa no meio dos seus painéis com múltiplas montagens fotográficas. Um pequeno filme que aborda explicitamente como o surrealismo francês tratou a questão do outro. Versando sobre o cinema, muito particularmente o dos irmãos Lumière, L’ENFANT CINÉMA, é dedicado a Toto Bissainthe, a cantora haitiana que foi com Maldoror uma das cofundadoras da companhia Les Griots. O último dos filmes é uma raridade recém-encontrada.Primeiras exibições na Cinemateca.

 

Quinta-feira [02] 21:30 | Esplanada

À BISSAU, LE CARNAVAL

Guiné-Bissau, 1980 – 18 min

CAP-VERT, UN CARNAVAL DANS LE SAHEL

Cabo Verde, 1979 – 28 min

FOGO, L’ÎLE DE FEU

Cabo Verde, 1979 – 34 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 80 min / legendados eletronicamente em português | M/12

Três curtas-metragens filmadas em Cabo Verde e na Guiné-Bissau na transição para os anos oitenta, em que a Sarah Maldoror explora o significado de uma identidade africana, a sua história e cultura através das festas e manifestações populares, conferindo grande destaque ao Carnaval. Como no primeiro destes filmes afirma Luís Cabral, “foi a capacidade de resistência cultural do nosso povo que nos deu a força necessária para conduzir a resistência política e militar”. O papel essencial da cultura é assim revelado pela força e beleza das máscaras e pela música e dança que as acompanham, como o será em toda a posterior obra de Sarah Maldoror, numa afirmação da originalidade de uma história da cultura negra nas lutas contra o colonialismo e o racismo.

 

Sexta-feira [03] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro

UN DESSERT POUR CONSTANCE

com Cheik Doukouré, Sidiki Bakaba, Elias Sherif, Benjamin Simon, Albert Delpy

França, 1980 – 61 min

SCALA MILAN A.C.

com Archie Shepp, Les têtes de piafs

França, Itália, 2003 – 17 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 78 min / legendados eletronicamente em português | M/12

Duas ficções musicais produzidas para televisão que procuram combater o racismo com bastante humor, abordando simultaneamente o racismo no quotidiano e o desenraizamento sentido pelos imigrantes africanos ou a exclusão dos que habitam os bairros periféricos de Paris. UN DESSERT POUR CONSTANCE baseia-se numa adaptação por Maurice Pons de uma novela do escritor francês Daniel Boulanger centrada sobre o quotidiano de dois cantoneiros de origem africana que encontram um antigo livro de cozinha francês e que com ele ganham um concurso televisivo, enquanto procuram reunir fundos para que um amigo doente possa regressar a casa. Em SCALA MILAN A.C. um grupo de jovens que habitam os subúrbios parisienses encontram o músico Archie Shepp e com ele compõem um rap em que abordam as suas vivências, que, ganhando outro concurso, os transporta para o famoso teatro de ópera La Scala, em Milão. Dois filmes que como outros de Maldoror se transformam rapidamente na interpretação colectiva de uma canção. Primeiras exibições na Cinemateca.

 

Sexta-feira [3] 18:00 | Esplanada

MESA-REDONDA - O CINEMA DE SARAH MALDOROR 

Mesa-Redonda em que se discutirão as várias vertentes da obra cinematográfica de Sarah Maldoror que contará com a participação de Annouchka de Andrade, Maria do Carmo Piçarra, Marta Lança, Raquel Schefer e Joana Ascensão. [ em português ]

A Fundação Mário Soares e Maria Barroso organizará uma outra mesa-redonda intitulada “Negritude, identidades e direitos humanos” (dia 2 de Setembro às 17:00).

Sexta-feira [3] 21:30 | Esplanada

L’HÔPITAL DE LÉNINGRAD

com Roger Blin, Rüdiger Vogler, Anne Wiazemsky

França, 1982 – 59 min

VLADY

França, México,1989 – 24 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 83 min / legendados eletronicamente em português | M/12

L’HÔPITAL DE LÉNINGRAD adapta um conto do escritor russo Victor Serge, que tem muito de biográfico, e centra-se num hospital psiquiátrico onde se colocavam presos políticos do regime estalinista. Rüdiger Vogler, que desempenha o papel do escritor, visita o hospital por causa da doença da sua mulher (Anne Wiazemsky) e aí encontra o escritor Nestor Petrovich (Roger Blin), que disserta sobre o medo. “O medo é uma neurose coletiva, mas curável”, conclui.

A sessão termina com um retrato do pintor Vladimir Kibalchich Rusakov, que acompanhou o seu pai, o escritor Victor Serge, no exílio mexicano. Vlady evoca os frescos que pintou durante oito anos nas paredes da Capela San Felipe Neri, no México, que convocam a história de várias revoluções e que dedica a todos os bolcheviques condenados pelo estalinismo. Uma sessão consagrada a outras revoluções. Primeiras exibições na Cinemateca.

 

Sábado [4] 19:00 | Sala M. Félix Ribeiro

AIMÉ CÉSAIRE, LE MASQUE DES MOTS

Martinica, Estados Unidos, 1987 – 47 min

REGARDS DE MÉMOIRE

Haiti, Martinica, 2003 – 24 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 71 min | legendados eletronicamente em português | M/12

Dez anos depois de ter realizado um primeiro documentário sobre Aimé Césaire (AIMÉ CÉSAIRE, UN HOMME UNE TERRE), Sarah Maldoror volta a filmá-lo por ocasião de uma homenagem que lhe é prestada nos Estados Unidos durante um colóquio sobre a Negritude em Miami. Aqui Césaire, o poeta para quem a escrita é um acto de liberdade, questiona o futuro da Martinica assim como a persistência do racismo no mundo, ao mesmo tempo que lê excertos da sua última obra. REGARDS DE MÉMOIRE enquadra-se numa série televisiva denominada “La Route de L’Esclave” e convoca as vozes dos poetas Édouard Glissant ou Aimé Césaire, o primeiro dos quais evoca Toussaint Louverture, o importante combatente anticolonialista negro que levou a cabo a libertação do Haiti e um dos grandes actores trágicos da história. Um filme que se constrói entre uma crítica à escravatura e a poesia da agitação permanente de Aimé Césaire, que o próprio associa a um desenraizamento primordial e à necessidade de uma viagem ao interior de nós mesmos. Primeiras exibições na Cinemateca.

 

Sábado [04] 21:30 | Esplanada

LE PASSAGER DU TASSILI

de Sarah Maldoror
com Lounès Tazairt, Smaïn, Anne Caudry, Anne Lipinska.
França, Argélia – 1986 – 88 min / legendado eletronicamente em português | M/12

LE PASSAGER DU TASSILI parte do romance de Akli Tadjer, Les A.N.I du Tassili / “Os Argelinos não identificados do Tassili”. Omar é o seu protagonista, filho de pais argelinos que cresceu em França e que parte para umas férias na Argélia a bordo do Tassili. A questão que se coloca é mais uma vez a do desenraizamento, pois Omar visita um país que não conhece, nem conhece a sua língua. De regresso a França e na iminência de não conseguir desembarcar devido a um extravio do passaporte acusam-no de um “racismo e colonialismo ao contrário”, ao mesmo tempo que se discutem as condições dos argelinos na periferia parisiense. Uma ficção que prolonga questões centrais do cinema de Sarah Maldoror. Primeira exibição na Cinemateca.

 

Segunda [06] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro

UN SENÉGALAIS EN NORMANDIE

França, 1986 – 13 min / legendado em inglês e eletronicamente em português

LÉON G. DAMAS

França, Guiana Francesa, 1994 – 25 min

EIA POUR CÉSAIRE

França, Martinica, 2009 – 58 min

de Sarah Maldoror 

duração total da projeção: 96 min / legendados eletronicamente em português | M/12

Cruzam-se neste programa os três grandes poetas da Negritude: Aimé Césaire, Léopold Sédar Senghor e Léon G. Damas. Em UN SENÉGALAIS EN NORMANDIE, o poeta senegalês Léopold Sédar Senghor é evocado através dos testemunhos dos que o conheceram, dos seus poemas e das suas palavras sobre a vida e obra. LÉON G. DAMAS é um documentário sobre o escritor que, segundo o poeta e antigo presidente da República do Senegal, Léopold Sédar Senghor, foi o primeiro a “viver a Negritude”. Ou como tão bem caracteriza Césaire, “Não era um teórico, não olhava a Negritude de um ponto de vista etnográfico” (…) Ele vivia a Negritude.”

Maldoror realiza uma excelente introdução à sua poesia ao aproximá-la da poesia afro-americana, muito influenciada pelo jazz e pelo blues, uma poesia espontânea feita de ritmos e repetições. Realizado já depois da morte de Aimé Césaire, em EIA POUR CÉSAIRE Maldoror visita os sítios onde viveu e regressa aos filmes anteriores sobre o escritor, que usa como arquivos para lhe realizar uma justa homenagem. Às imagens recuperadas de filmes anteriores juntam-se ainda outras imagens de arquivo e muito particularmente a música “Eia pour Césaire” de Denise Ducart. Primeiras exibições na Cinemateca.

Segunda [06] 21:30 | Esplanada

ANA MERCEDES HOYOS

França, Colômbia, 2008 – 13 min

LA TRIBU DU BOIS DE L’É

Reunião, 1997 – 12 min

MIRÓ

França, 1979 – 5 min

WIFREDO LAM

França, 1980 – 4 min

ALBERTO CARLISKY

França, 1980 – 4 min

VLADY

França, México, 1989 – 24 min

de Sarah Maldoror

duração total da projeção: 62 min | legendados eletronicamente em português | M/12

Uma sessão dedicada aos vários retratos de artistas plásticos que Sarah Maldoror produziu ao longo da sua vida para diferentes contextos que, vistos no seu conjunto, revelam inúmeras afinidades. ANA MERCEDES HOYOS, um dos últimos filmes realizados por Maldoror, aborda as raízes africanas da cultura colombiana na sua relação com a escravatura, questões que estão bem expressas na obra da artista. Em LA TRIBU DU BOIS DE L’É, uma exposição de Alain Séraphine, na sua alusão à exploração e escravatura associada à cultura da cana do açúcar, dá o mote a um documentário que nos revela as rotas e os caminhos dos escravos, em contraste com o poema sobre a liberdade que dá o título ao filme.

MIRÓ, WIFREDO LAM e ALBERTO CARLISKY são três curtas reportagens realizadas para a série “Aujourd’hui en France” a propósito da obra destes artistas. A primeira reporta a uma exposição de Joan Miró na Fundação Maeght, no sul de França, a segunda parte de uma exposição de Lam em Paris e revela como o pintor e escultor deu a conhecer a cultura afro-cubana na Europa, envolvendo a terceira uma entrevista com o escultor argentino Alberto Carlisky. A sessão termina com um retrato do pintor Vladimir Kibalchich Rusakov, que acompanhou o seu pai, o escritor Victor Serge, no exílio mexicano. Vlady evoca os frescos que pintou durante oito anos nas paredes da Capela San Felipe Neri, no México, que convocam a história de várias revoluções e que dedica a todos os bolcheviques condenados pelo estalinismo. Primeiras exibições na Cinemateca.

 

Terça [07] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro

LE CIMETIÈRE DU PÈRE LACHAISE

França, 1978 – 7 min

ABBAYE ROYALE DE ST. DENIS

França, 1977 – 7 min

L’ARCHITECTURE D’INSPIRATION ÉTRANGÈRE À PARIS

França, 1979 – 3 min

«WIELOPOLE» MISE EN SCÈNE DU POLONAIS KANTOR

França, 1980 – 3 min

OUVERTURE DU THÉÂTRE NOIR À PARIS

França, 1980 – 6 min

RENÉ DEPESTRE, POÈTE HAÏTIEN

França,1981 – 5 min

EMANUEL UNGARO

França, 1982 – 4 min

CLAUDEL À REIMS

França, 1984 – 5 min

TOTO BISSAINTHE

França, 1984 – 4 min

CHRISTIANE DIOP

França, 1985 – 6 min

PORTRAIT D’UNE FEMME AFRICAINE

França, 1985 – 6 min

ÉCRIVAIN PUBLIC

França, 1985 – 3 min

LA LITTÉRATURE TUNISIENNE À LA BIBLIOTHÈQUE NATIONALE

França, 1986 – 3 min

“POINT VIRGULE”

França, 1986 – 4 min

PREMIÈRE RENCONTRE INTERNATIONALE DES FEMMES NOIRES

França, 1986 – 2 min

ASSIA DJEBAR

França, 1987 – 7 min

LES OISEAUX MAINS

França, 2005 – 1 min

duração total da projeção: 76 min / legendados eletronicamente em português | M/12

Uma sessão inteiramente constituída por reportagens muito curtas realizadas por Sarah Maldoror entre 1977 e 1987 para séries como “Chroniques de France”, “Aujourd’hui en France” e “Le magazine de Mosaique”, a que se acrescenta um curtíssimo trabalho institucional mais recente, concebido para uma organização dedicada a combater a pobreza e a discriminação.

Encontramos aqui retratos de mulheres importantes na vida e na obra de Maldoror, como Toto Bissainthe, Christiane Diop, ou Assia Djebar, ou de outras mulheres comuns como a retratada em PORTRAIT D’UNE FEMME AFRICAINE, ou o registo do PREMIÈRE RENCONTRE INTERNATIONALE DES FEMMES NOIRES, revelando o conjunto o papel que o cinema de Maldoror atribui às mulheres. A par destes retratos, a arquitetura (ABBAYE ROYALE DE ST. DENIS, L’ARCHITECTURE D’INSPIRATION ÉTRANGÈRE À PARIS), o teatro (“WIELOPOLE” MISE EN SCÈNE DU POLONAIS KANTOR, OUVERTURE DU THÉÂTRE NOIR À PARIS, CLAUDEL À REIMS), e a literatura (LE CIMETIÈRE DU PÈRE LACHAISE, RENÉ DEPESTRE, POÈTE HAÏTIEN, LA LITTÉRATURE TUNISIENNE À LA BIBLIOTHÈQUE NATIONALE) ocupam um papel central nestes “mosaicos” e revelam as questões centrais que atravessam a obra de Sarah Maldoror. Primeiras exibições na Cinemateca.

COLABORAÇÕES/APROPRIAÇÕES

Quinta-feira [02] 19:00 | Sala M. Félix Ribeiro

Sábado [04] 15:30 | Sala M. Félix Ribeiro

FESTIVAL PANAFRICAIN D’ALGER

de William Klein

Argélia, França, Alemanha, 1969 – 112 min / legendado eletronicamente em português | M/12

O realizador e fotógrafo William Klein documentou o 1o Festival Cultural Panafricano, que decorreu em Julho de 1969 na Argélia, registando o caloroso ambiente do festival, a energia dos movimentos revolucionários e o seu papel na luta pela liberdade das nações africanas. As imagens do festival, em que Archie Shepp improvisa ao lado de músicos argelinos, são intercaladas com imagens de arquivo e com entrevistas com escritores e activistas. Um filme importantíssimo no contexto dos movimentos anticoloniais que contou com a participação de Sarah Maldoror como assistente de realização. Uns anos antes Maldoror havia colaborado também como assistente em LA BATTAGLIA DI ALGERI (1965), de Gillo Pontecorvo, dois títulos que são determinantes para os seus primeiros passos na realização. Primeira exibição na Cinemateca.

ELLES

de Ahmed Lallem

Argélia, França, 1966 – 22 min

L’HÉRITAGE DE LA CHOUETTE, ÉPISODE 7: LOGOMACHIE OU LES MOTS DE LA TRIBU
de Chris Marker
França, 1989 – 26 min

PRÉFACE À DES FUSILS POUR BANTA

de Mathieu Kleyebe Abonnenc

Guiana Francesa, 2011 – 28 min / legendado em inglês e eletronicamente em português

duração total da projeção: 76 min / legendados eletronicamente em português | M/12

ELLES é mais um filme em que Sarah Maldoror participou como assistente de realização. Dirigida pelo argelino Ahmed Lallem, versa sobre a condição feminina quatro anos depois da independência da Argélia. Raparigas do liceu falam sobre as suas vidas e sobre o futuro do seu país. O filme de Chris Marker faz parte de uma série de treze episódios sobre o legado da Grécia antiga no mundo e contou com a colaboração de Maldoror, que com ele havia já trabalhado em SANS SOLEIL. Este episódio, que também tem imagens filmadas em Cabo Verde, é dedicado ao logos e à transmissão do conhecimento. Se os dois primeiros filmes da sessão pertencem ao domínio das “colaborações”, PRÉFACE À DES FUSILS POUR BANTA reporta ao das “apropriações”, anunciando o muito trabalho que foi e está a ser feito em torno da obra da cineasta. Mathieu Kleyebe Abonnenc interroga aqui DES FUSILS POUR BANTA, filme realizado por Maldoror em 1970 e dado como perdido, partindo de alguns dos seus materiais como as fotografias da autoria de Suzanne Lipinska. Primeiras exibições na Cinemateca.

por Joana Ascensão
Afroscreen | 18 Agosto 2021 | arte, cinema, cinemateca, colonialismo, cultura, filmes, indielisboa, luta contra o colonialismo, poesia, Sarah Maldoror, sessão de cinema