Mindelo: entre a Ficção e a Realidade
Descoberta em 1462 por Diogo Gomes, S.Vicente manteve-se praticamente deserta até princípios do séc. XIX, apesar de várias tentativas de colonização, realizadas durante o séc. XVIII. Tentativas frustradas pelas secas que, numa ilha tão escassa em água potável, tornavam a sobrevivência praticamente impossível. Assim é que, em 1813, a população de S. Vicente, estava reduzida a um punhado de “aventureiros, pastores de rebanhos alheios, prostitutas e degregados” 1. As autoridades apesar de tudo não desistem e recrutam camponeses pobres e sem terras, de Stº Antão, para aqui se fixarem. Em 1821 haveria nesta baía uma pequena povoação com 289 habitantes, composta por choupanas, uma igreja, algumas casas de alfândega e a residência do capitão-mor (todas assoalhadas e cobertas de madeira)2 que tem o nome de Leopoldina, depois de ter sido chamada Nª Srª da Luz e Dom Rodrigo.
Provavelmente assim continuaria se, nos finais de 1837, os ingleses não manifestassem o seu interesse pelo Porto Grande de S. Vicente, aqui criando os primeiros depósitos de carvão. O então Governador de Cabo Verde, o liberal Joaquim Pereira Marinho, percebendo a importância estratégica deste porto entusiasma-se com a ideia de desenvolvimento de Cabo Verde à volta do Porto Grande do Mindelo e consegue que em 11 de Junho de 1838, por decreto ministerial e portaria régia, seja autorizada a mudança da capital da Praia para S. Vicente. A decisão foi fundamentada nas condições do Porto Grande, no melhor clima e em informações erradas sobre a disponibilidade de água potável. São disponibilizados meios para a construção da futura capital que é baptizada com o nome de Mindelo, em homenagem ao desembarque das tropas liberais que, alguns anos antes, tinha sido feito na praia do mesmo nome em Portugal e que abriu caminho à vitória dos liberais.
Esta medida não encontra apoio entre os criadores de gado das ilhas de Barlavento, habituados a usar S. Vicente como se seu terreno de pasto se tratasse, nem naturalmente por parte das elites da Praia, cidade que acaba por ser beneficiada pela medida pois que, de acordo com Senna Barcelos, não concordando os governadores com tal transferência, trataram de introduzir os indispensáveis melhoramentos na Praia…3, pelo que depois dum entusiasmo inicial grande, a mudança da capital parece estagnar. Entretanto, o desenvolvimento da navegação a vapor e mudanças mundiais a nível político e económico, conduzem a um aumento do tráfego de mercadorias e passageiros para os novos estados da América do Sul, pelo que se reacende o interesse britânico pelo Porto Grande.
As Companhias Inglesas
Em 1839 a Companhia das Índias Inglesas, através do Sr. Jonh Lewis, já tinha obtido licença para estabelecer um depósito flutuante de carvão e a partir de 1840 foi aumentando o número de navios entrados no Porto Grande. Em 1850 é a vez do cônsul inglês John Rendall pedir permissão para criar um depósito que pudesse servir a navegação a vapor entre a Inglaterra e o Brasil. Daí até fim do século, instalam-se em Mindelo várias companhias inglesas de carvão. Apesar disso nunca houve um verdadeiro clima de concorrência e, fosse por acordos ou por fusões entre essas companhias, sempre conseguiram impôr o preço do carvão retirando assim competitividade a este porto relativamente aos portos das Canárias. Apesar do monopólio inglês, agravado ainda por uma administração colonial rotineira, burocrática e desinteressada, em 1875, o Porto Grande já era o maior porto carvoeiro no Atlântico Médio, sendo que, de 199 vapores de longo curso entrados em 1875, se passou para 1865 no ano de 1889, tendo a partir dessa data começado a diminuir o número de vapores entrados.
Também em termos de comunicações, Mindelo acompanha a evolução tecnológica com a inauguração em 1874, da primeira estação telegráfica por cabo submarino do arquipélago. Nos anos seguintes vão-se estabelecendo ligações com África, Grã-Bretanha, Brasil e Argentina. A Western Telegragh Company foi uma das empresas mais importantes de S. Vicente.
O crescimento da cidade
Um porto carvoeiro obriga à construção de armazéns, cais de embarque e desembarque, guindastes, lanchas, carris e vagonetas para transporte, carga e descarga do carvão. A presença permanente de militares torna-se necessária e por isso a construção em 1852 de um forte sobranceiro à baía, o Fortim d’El-Rei. Em 1855 um visitante americano diz que Mindelo não passa ainda de uma “colecção de pequenas cabanas de pedra circundada de colinas e ribeiras que são os próprios símbolos da pobreza”4, mas por Decreto Régio de 29 de Abril de 1858 foi elevada à categoria de vila. Nessa altura tinha 1400 habitantes e era constituída por 4 ruas, 4 travessas, 2 largos e 170 habitações que, de acordo com Travassos Valdez eram “na máxima parte abarracados, construídos de adobes e cobertos de telhas de pau ou de palha” sem “as condições de segurança e salubridade indispensáveis.”5
A partir de então começam a ser construídos os edifícios mais importantes ligados à administração, como a Alfândega, o novo quartel, o Palácio do Governo e os Paços do Concelho. A Igreja, cuja construção tinha começado no fim da década de quarenta com a construção da capela-mor, só termina em 1863.
Em 1879 já com uma praça, 5 largos, 27 ruas, 11 travessas, 1 beco e dois pátios, iluminados por 100 candeeiros de petróleo, Mindelo com 3717 habitantes é elevada à categoria de cidade. O Decreto Régio de 14 de Abril refere como motivos para tal, os melhoramentos realizados, o desenvolvimento do comércio, o aumento da população e a importante posição geográfica que provoca grande movimento de navios no porto. O comércio tinha-se de facto desenvolvido. Havia três importantes lojas de fazendas, mercearias e bebidas e cerca de 30 lojas de venda a retalho, para além de um número significativo de tabernas e botequins. Em termos sanitários a situação também melhorara devido à construção de uma ponte-cais de madeira para fazer despejos, despejos esses, até então, feitos de qualquer maneira, na praia frente ao centro da cidade.
Contudo as habitações dos trabalhadores braçais, eram insalubres e a população mais pobre tinha pouco acesso a água potável, além de que havia zonas da cidade, como a zona de Salina, favorável ao desenvolvimento do paludismo. Até final do séc. XIX, para além da tuberculose e da sífilis as gastero-enterites, diarreias, epidemias (principalmente varíola) e febres palustres ou de mau carácter como se dizia na época, eram uma constante. No início do século XX foram introduzidas medidas relativamente à construção de edifícios, criação e venda de animais, construção de aterros e desvio de águas em zonas húmidas ou pantanosas, construção de lazareto e novo hospital e captação de águas.
O abastecimento de água à população e aos navios, foi sempre um dos maiores problemas de Mindelo, pois os poços próximos da cidade tinham pouca água ou água salobra. A população abastecia-se também de água vinda de Stº Antão ou comprada às companhias inglesas que a filtravam e destilavam. De acordo com o Relatório de Joaquim Vieira Botelho da Costa “Os habitantes mais abastados, e destes nem todos, usam para beber da água do Lameirão e da Areia Branca, ou da destilada dos depósitos das casas Millers & Nephew e Cory Brothers & Company. A água para os navios é fornecida por esses mesmos depósitos, e por uma cisterna e um poço que a primeira casa possui”6. A situação só melhorou em 1886 com a canalização da água de duas nascentes próximas da cidade, mas continuou a ser necessário trazer água de Stº Antão. Só muito mais tarde, em 1969, com a construção de uma central de dessalinização da água e de uma rede de distribuição, foi possível atenuar este velho problema.
Apesar do enorme movimento de navios, construção de edifícios públicos e outros melhoramentos, em 1905, o Governador Barjona de Freitas afirma que Mindelo não é uma cidade atraente para os passageiros em trânsito, que aqui passam algumas horas, pois “nem botes limpos, bem pintados e com toldos que abriguem do sol, nem um bom restaurante na cidade, nem passeios organizados: nada”7. Alguns anos depois, em conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa, Alfredo da Costa e Andrade reforça esta impressão dizendo que, se os visitantes que por aqui passam em trânsito não desembarcam, é por absoluta falta de comodidades.
Mas a cidade cresce, deixa de ser contabilizada pelo número de ruas e moderniza-se. Na década de 20 dá-se início à instalação de telefones em edifícios e casas particulares e começa a circular um número significativo de automóveis que obriga à regulação do seu movimento e à proibição de circulação a velocidade superior a 12 km/hora. No final da década é inaugurada a luz eléctrica. É o progresso que chega em alta velocidade.
Do início dos anos vinte a finais da década de trinta é construída a Capitania, o quartel é modificado para albergar o Liceu, e o Palácio do Governo e Mercado da Rua de Lisboa são remodelados e ganham um 1º piso. É construída a nova ponte-cais da Alfândega e começam as obras da estrada marginal. O centro da cidade terá então adquirido o aspecto que tem actualmente.
Apesar de todo este crescimento, em Boletim Sanitário de 1926, afirma-se que Mindelo “está sendo uma cidade com população a mais, vivendo miseravelmente Dia a dia para ali converge gente ida das outras ilhas, sem recursos, à procura de trabalho que não encontra e que só serve para complicar ainda mais a péssima situação geral sanitária e higiénica”8.
Dois anos depois, um artigo escrito pelo antigo cônsul dos EUA, num jornal de New Bedford, provoca fortes reacções em Mindelo, tendo até a Câmara deliberado enviar uma carta de reclamação, pois nesse artigo, as referências negativas à beleza e condições sanitárias da cidade de Mindelo, foram consideradas exageradas e pouco verdadeiras. Contudo os viajantes não levam uma boa imagem da cidade. O francês J. Boisse de Black que por aqui passou neste período, mostra-se impressionado com a paisagem estéril e desolada da ilha e depois de um desembarque feito no meio de enorme barafunda, com os passageiros atormentados por uma chusma de mulatos, pedindo dinheiro ou oferecendo-se como guias, faz uma descrição pouco entusiasta da cidade: “Un soleil pesant accable la ville, tous volets des banques et magasins fermés de douze à catorze heures. Des docks de charbon bordent le rivage… À quelques centaines de mètres du rivage cette ville de 12 000 habitants arrête ses dernières maisons et tout de suite est le roc nu, le sable qu’arrache le vent pour le jeter cinglant sur les murailles, tandis que les passants tombent le corps pour ne pas être renversés.”9
A formação da sociedade mindelense
Não obstante as epidemias, as doenças, a falta de água e de habitações, na segunda metade do séc. XIX, Mindelo torna-se um pólo de atracção para camponeses sem terra, que fogem da fome e da miséria, para famílias de importantes proprietários agrícolas ou comerciantes que aqui encontram melhores oportunidades de negócio e também para aqueles que, por serem mais escolarizados, podem encontrar bons empregos na Administração e Serviços. Vêm principalmente das ilhas de Stº Antão e S. Nicolau, mas ao longo dos tempos é todo o arquipélago que aqui se cruza. No dizer de Onésimo Silveira, S. Vicente é a única ilha povoada por cabo-verdianos.
Mindelo era com certeza uma cidade suja e pouco atraente, mas para quem chega de um mundo rural parado, em permanente susto pela falta de chuvas, o movimento de gentes nas ruas, os estrangeiros, os vapores e os seus apitos, os sinos das companhias inglesas a avisar da chegada de vapores, o barulho das vagonetas e guindastes, as lojas, os bares, tudo isso deveria ser motivo de espanto e encantamento.
Como todas as cidades-porto é socialmente heterogénea, aberta e cosmopolita. Em 1899, Eugénio Tavares escrevia que em Mindelo estava “o extraordinário movimento da navegação inter-oceânica, a estonteadora actividade de uma robusta vida comercial, o espectáculo verdadeiramente original duma população flutuante que os grandes transatlânticos despejam ali, e que, desembarcando de manhã e partindo à noite, fazem daquilo uma enorme feira cosmopolita, um acampamento de multidões que passam para a América e que regressam à Europa e Ásia”.10
É esta abissal diferença entre o mundo rural cabo-verdiano, parado e perdido no tempo e a modernidade trepidante da cidade-porto que explica a diferença de olhares sobre S. Vicente. Se para os estrangeiros chegados das capitais europeias esta urbe não passa de um “Monte de Pó”, como os ingleses lhe chamavam, para Mariano, personagem de Manuel Lopes em Chuva-Braba, “Pois, S. Vicente é terra sabe, vais ver. Tem gente pra cima e pra baixo, como nos campos do Norte no dia de St. André, ou Porto Novo na véspera de S. João. Tem automóveis, lojas sem destino, botes em penca na ourela dos cais. Mete Porto Novo mais de dez vezes dentro.”11
Claro que o desenvolvimento do Porto arrasta um lado menos positivo. A prostituição, as doenças, a precaridade do trabalho, a dependência de factores externos. Para além da sífilis, doença habitual nas cidades-porto, o facto de ser um porto carvoeiro arrasta a propagação de uma outra doença: a tuberculose.Mas para o imaginário do Chiquinho, de Baltasar Lopes, “S. Vicente era … a terra em que a civilização do mundo passa em desfile. Estava farto de ouvir falar no Porto Grande, no seu movimento, nos vapores de trânsito, nas imagens da Europa que passeiam pela cidade.” “Soldados e marinheiros de vapores-de-guerra, apitos trágicos de rebocadores, teatro, cinema, tudo fazia parada em S. Vicente. Mindelo era a estação necessária para o conhecimento mais directo do mundo.”12
Em Mindelo vive também a mais importante comunidade estrangeira do arquipélago, sem esquecer os milhares de passageiros em trânsito que por aqui passavam. Nos anos sessenta do séc. XIX eram em média 50.000 passageiros por ano, mas em 1888 foram 169.440 passageiros. O Porto Grande estava ligado, por carreiras marítimas regulares, às grandes metrópoles portuárias da Europa e América do Sul. As bandas das esquadras estrangeiras tocavam, no coreto da Praça, as novidades musicais. Chegavam hábitos e notícias do mundo. De acordo com Friedlaender que em 1912 visitou Mindelo (na altura com cerca de 12 000 habitantes), a comunidade estrangeira era assim constituída: “Nos serviços da estação telegráfica ocupam-se uns 100 empregados europeus, na maioria ingleses. Os diversos estabelecimentos de carvão contam ao todo um pouco mais de 30 empregados ingleses. A estes brancos adicionaremos os que compõem a pequena guarnição portuguesa, as autoridades deste país, o cônsul inglês, dois padres ingleses, o cônsul francês e um escasso número de outros colonos europeus que, na sua maioria são comerciantes.”13
Apesar do reduzido número de estrangeiros, a vida desta cidade será fortemente marcada por essas influências externas com especial realce para o papel que teve a comunidade inglesa na vida desportiva e social da cidade. Introduziram o golfe o críquete, o futebol e o ténis, mas também novas bebidas e hábitos alimentares, cigarros e novos hábitos de trabalho, enfim uma forma de viver mais moderna, com casas mais confortáveis e higiénicas. Segundo uma personagem do romance Capitão de Mar e Terra de Teixeira de Sousa era tal a mania que os mindelenses tinham de imitar os ingleses que “Até se caga à inglesa, em latas com areia no fundo e areia ao lado”. O médico João Augusto Martins, apesar de criticar as excessivas facilidades dadas pela administração portuguesa às companhias carvoeiras, reconhece que com os ingleses surgiu uma nova forma de estar, influenciada pela “fleuma inglesa e pela febre de trabalho e do comércio”14. Talvez isto explique que, de acordo com Correia e Silva, a passagem da condição de camponês à de operário portuário se tenha feito com relativa facilidade apesar de algumas desadequações ao modelo que os ingleses preconizavam. Segundo João de Sousa Machado, que em 1891 escreveu um estudo sobre o comércio do carvão em S. Vicente, os trabalhadores “causam transtorno ao serviço quando perdem o seu tempo com festas e danças em que despendem quanto ganham”.15 Não seria aliás tão pouco tempo como se poderá pensar, pois de acordo com Joaquim Vieira Botelho da Costa, que durante largos anos foi administrador da ilha de S. Vicente e mais tarde governador, “Este povo, como o de toda a província, é muito amante de festas e folgares, para o que aproveitam todo e qualquer pretexto. As festas de certa ordem duram sempre três dias e mais: regra geral festa onde haja banquete só acaba em se acabando comida e bebida à mesma destinada.” e refere ainda que “não há boda que valha que dure menos de oito dias”16.
O direito a folgar e a ser livre
Se, de uma maneira geral, o povo cabo-verdiano é um povo alegre que gosta de festas e se entrega à dança com paixão, em Mindelo adquiriu este povo alma de cigarra que não cuida da chegada do inverno nem precisa de lições de moral das formigas laboriosas e previdentes pois assume inteiramente que “Nôs vida é ganhá, gastá / Sem pensá na dia de amanhã”. Albert Picquié, que ao serviço da marinha francesa aportou a estas ilhas por volta de 1881, escreveu que “os cabo-verdianos são indolentes, doces, pacíficos, sem preocupações, vivendo sob o lema: “Para hoje há, para amanhã Deus dará” e acrescentou que “esta preguiça optimista é o seu estado predilecto.”17
Em Virgens Loucas de António Aurélio Gonçalves o comerciante Léla de Memente invectiva as jovens que vão comprar petróleo a desoras com a desculpa de que o dinheiro era pouco. “toda a gente sabe que coisa é essa de dinheirinho que é pouco. Mas quando é para um piquenique na Matiota ou para um bailinho no Morrinho-de-Cavalo… ele é pouco, mas ele sempre aparece. Domingas, como das outras vezes, foi a mais pronta a advogar a sua causa:
- A gente tem de fugir à tristeza da vida. Você compreende nhô Léla . Você quer que a gente morra mais depressa, sempre metida com as preocupações? Hom’! Uma vivente há-de tomar uma coisinha de ar de quando em quando. Uma pessoa há-de folgar.”18
É ainda António Aurélio Gonçalves que, em Pródiga, ilustra bem este apelo profundo pela vida de cigarra, descuidada, e alegre. Xandinha entre a miséria de um quartinho de terra batida, coberto de telha de madeira esburacada mas com uma “Vida de pândega, de mornas ao violão, de fome,…mas também,… deliberdade.” e a casa da mãe, com uma “vida de humildade, de obediência” garantia dos poucos tostões de cada dia, sabe que mais tarde ou mais cedo terá que ceder ao apelo da liberdade 19.
O povo, constituído por carregadores, catraeiros, serventes, pequenos artífices, cicerones, prostitutas, etc. não vivia na cidade mas sim em pequenos povoados periféricos que com o tempo se transformaram em bairros de Mindelo. Com as companhias carvoeiras, tinham os trabalhadores braçais um vínculo laboral precário, pelo que era com muita dificuldade, que conseguiam garantir a única refeição quente diária, o jantar. Quem de facto lhes garantia o sustento eram os vapores que chegavam ao porto. Do estado nunca receberam nada e as companhias para as quais trabalhavam, às vezes durante anos e anos, viravam-lhes as costas em tempos de crise. A sobrevivência sempre lhes veio de fora, do imprevisível curso da história e da chegada dos navios. Escreve Manuel Lopes em Galo Cantou na Baía: “… é o porto e não o Governo quem sustenta a pobreza desta ilha” 20.
Há, talvez por isso, neste povo, uma saudável e altiva insubmissão relativamente ao poder, sem agressividade, mas com humor e ironia. E não resisto a ilustrar esta afirmação com um episódio do livro de Teixeira de Sousa, Capitão de Mar e Terra. Conta ele que na sequência de um levantamento popular numa das muitas crises que esta cidade viveu, foi decretado o estado de sítio e proibida a circulação de pessoas a partir das nove da noite com excepção de funcionários e trabalhadores do porto e das mulheres que, de latas à cabeça, iam fazer despejos no caisinho, pois ainda não havia rede de esgotos. Todos eles teriam que ter um salvo-conduto. “Houve apenas um incidente, ocorrido com Nhá Constançona. Ela não trazia salvo-conduto mas trazia uma lata à cabeça. Foi interceptada por um guarda da Segurança Pública, que lhe exigiu o papel.
- Qual papel?
- Papel para andar na rua a estas horas.
- Desde quando é preciso passaporte para carregar merda?
O agente acompanhou-a ao caisinho para despejar o conteúdo da lata… e levou-a para a esquadra.”21
De acordo com Germano Almeida “este povo, mais inconsciente que conscientemente, aprendeu à sua custa que o amanhã ou não lhe pertence ou pode ser bem pior que o hoje … é esse desencanto na esperança de uma vida de felicidade que faz do homem de S. Vicente um ser livre quase até à soberba, que aprendeu a viver de expedientes diversos, quer seja do jogo, quer seja do empréstimo, quer das pequenas trapaças que lhe vão garantindo o dia-a-dia.”22
O valor da cultura e do ensino
Apesar da fome e da insegurança que nunca deixaram de acompanhar a vida destas gentes, sempre valorizaram de forma extraordinária a escola e a instrução o que é uma característica que, vinda do séc. XIX, atravessa todo o séc. XX e chega aos nossos dias. É evidente que tal se deve ao facto de ser através dos estudos que se consegue um emprego capaz de garantir a subsistência a cada final de mês e a promoção na escala social. Mas também é verdade que não se trata apenas de atingir o bem-estar económico e social, pois o enriquecimento através do comércio ou da emigração, sendo um caminho possível, habitual e muito apetecido pelos filhos das ilhas, não é tão valorizado como o caminho da instrução. Há algo mais, que Mesquitela Lima, num estudo sobre Sérgio Frusoni realça: “A maior parte do mindelense, mesmo o menos dotado, tem o culto da cultura, conhece os seus poetas e escritores, cita os seus nomes, possivelmente sem os ter lido. As salas de conferências enchem-se e nelas vê-se muito pé-descalço. Nos bailes nacionais de Bia de Djacó ou de João Tolentino, há indivíduos que fazem discursos com pretensões eruditas, o mesmo sucedendo em certos clubes populares como o Castilho, o Derby e Amarante”23.
Desde os últimos anos do séc. XIX que, nesta cidade, se criaram associações recreativas e culturais onde as elites conseguiam acesso a livros e revistas mas também organizavam récitas, espectáculos teatrais e musicais, bailes e festas. O povo, embora tivesse as suas festas populares, trazidas de todo o arquipélago, não estava completamente afastado da vida cultural da cidade. Pires Laranjeira refere que os muitos jornais e revistas culturais cabo-verdianos que com grande irregularidade circularam em Mindelo no séc. XIX e XX, não eram com certeza lidos por toda a população, mas o eco das lutas políticas e culturais que os atravessaram chegou sem dúvida a todos os cantos desta pequena cidade, e os cidadãos e intelectuais que neles mais colaboraram eram de todos conhecidos. O facto de aqui se encontrarem as maiores empresas e casas comerciais do arquipélago, bem como importantes serviços administrativos e o Liceu, atraiu a esta ilha um número significativo de quadros que naturalmente propiciaram uma vida cultural excepcionalmente rica.
Sem dúvida que primeiro o Seminário-Liceu de S. Nicolau e, a partir de 1917, o Liceu de Mindelo, contribuíram para reforçar esta extraordinária apetência pelo estudo e pela cultura. Ao abrirem as suas portas a filhos de famílias modestas, sem posses para custearem estudos em Portugal, e a mestiços, (o que só veio a acontecer nas outras colónias muito mais tarde, pois os liceus destinavam-se aos filhos dos colonos) permitiram que um grande número de naturais destas ilhas estudasse e ocupasse postos importantes na administração e no comércio, conduzindo assim a uma certa democratização da sociedade.
Nos anos 20 e 30 do século passado, dão-se em Cabo Verde profundas mudanças sociais e económicas. A crise interna na agricultura, a grande crise económica mundial dos anos trinta e a consequente diminuição de movimento no Porto Grande faz com que as famílias brancas mais ricas percam poder económico e acabem por emigrar para a metrópole, procurando empregos compatíveis com a sua situação social. De acordo com as estatísticas oficiais da época, o número de brancos em Cabo Verde aumenta de 1900 até finais da década de trinta, tendo atingido então o número máximo de 5.580, e a partir daí começa a decrescer ao contrário do que acontece com o número de mestiços que aumentam regularmente24. Como já tínhamos visto, a instalação do liceu em Mindelo, em 1917, permitiu que os filhos e filhas de gente modesta e de poucas posses, independentemente da cor da pele, pudessem fazer estudos secundários. Este facto, aliado à saída das famílias brancas, permitiu uma ascenção dos mulatos tanto no campo económico, como cultural e social e se os preconceitos sociais não deixaram de existir, pelo menos os preconceitos raciais atenuaram-se substancialmente.
Mesquitela Lima caracteriza assim a sociedade mindelense da primeira metade do séc. XX: uma elite formada por médicos, advogados, comerciantes e proprietários abastados, funcionários e quadros superiores, ingleses e oficiais do Exército português que eram membros do Grémio, o clube mais importante e exclusivo da cidade. Havia depois um grupo mais modesto formado por pequenos comerciantes, mestres artífices, empregados de boas firmas, pequenos funcionários que frequentavam o Rádio-Club e finalmente havia o povo. O espaço urbano que estas classes podiam ocupar estava perfeitamente delimitado e definido só se misturando em ocasiões ou festas especiais. Aparentemente, e segundo o mesmo autor, esta separação era perfeitamente aceite, pelo menos sem contestações visíveis. Emblemático desta situação era o passeio na Praça Nova em que a elite se sentava nos bancos ou no quiosque, a classe modesta passeava na parte superior da praça e o povo limitava-se a circular no passeio que a circundava.
No pós-guerra acentua-se o declínio do Porto Grande. Aumenta o recrutamento de mão-de-obra para S. Tomé e Príncipe. A emigração será a solução para o desemprego e diminuição da actividade agrícola, provocada por ciclos de seca cada vez mais prolongados. Calcula-se que só entre 1940 e início dos anos setenta, tenham emigrado mais de 200.000 cabo-verdianos. Em 1958 as companhias carvoeiras abandonam definitivamente S. Vicente, deixando um grande número de funcionários administrativos no desemprego. A telegrafia sem fios faz diminuir o interesse por S. Vicente e, em consequência, as actividades do telégrafo inglês começam a diminuir até ao encerramento definitivo em 1973-74.
Apesar das companhias inglesas terem tentado acompanhar a evolução tecnológica em termos de navegação, tendo a Miller & Cory , logo em 1919, e de seguida a Shell, instalado depósitos de óleos o facto é que a inexistência de um cais acostável, que só veio a ser inaugurado em 1961, foi determinante na perda de competitividade com os outros portos da região. Se estes e outros investimentos, feitos já depois da independência, impediram o descalabro total do Porto Grande não conseguiram restituir-lhe a importância de outros tempos.
A nostalgia do Mindelo dourado
É este Mindelo em profunda crise, que sonha com o regresso de um passado de bem-estar e riqueza, que encontramos em muitas mornas e coladeiras e em praticamente toda a literatura cabo-verdiana. De acordo com Manuel Lopes, em 1936, com a revista Claridade, nasceu uma “literatura de expressão ou motivos caboverdianos …que exprime a sensibilidade e a idiossincrasia do povo deste arquipélago”25 pelo que, essa literatura naturalmente espelha a profunda decadência do Porto Grande. O que causa alguma estranheza é a persistente e recorrente reminiscência dum passado de grande bem-estar, riqueza e até luxo.
Baltasar Lopes em Chiquinho, refere o tempo dos ingleses quando as libras corriam e a província vivia dos rendimentos do Porto Grande. Manuel Lopes em Galo Cantou na Baía pela boca de Jul’ Antone diz que “Não compreendia, achava esquisito, este porto sem nenhum vapor. Para que serviam os portos se não era para terem vapores dentro? Já houve tempo que não faltava dinheiro aos que viviam na ourela da baía. Tinha tanta maneira, antigamente, de um vivente viver folgado.”26
Aurélio Gonçalves passeia numa ruela que lhe traz “à lembrança cenas de um Mindelo de há muitos anos, com um porto animado de um movimento tumultuoso, insuflando vida a uma população atarefada e variada de trabalhadores da baía, delirando em bailes a pau-e-corda, oferecendo ligações fáceis, consumindo vidas…” 27.
Em O Meu Poeta, Germano Almeida, pela boca do secretário-narrador fala da necessidade de “perpetuar para as gerações futuras esta cidade grandiosa por onde muito dinheiro e muito luxo já correu”28.
Teixeira de Sousa conta que “antigamente as vagonetas não paravam, nas vinte e quatro horas do dia, em qualquer das companhias abastecedoras. Bons tempos esses, que até os gatos de Manel Jon eram engordados com gemada, segundo brejeiramente se cantava.”29. Somos aqui remetidos para o texto mais emblemático e popular desta saudade dos tempos dourados de Mindelo, a morna Tempe de Caniquinha, em que Sérgio Frusoni fala da alegria e abundância em que a cidade vivia, com o porto cheio de vapores, as ruas cheias de estrangeiros e o gato de Manel Jon a ser alimentado com gemadas.
Seriam inúmeras as citações possíveis mas curioso é que, se formos à procura desta época dourada de Mindelo, dificilmente a encontramos. Deparamo-nos sim, com uma sucessiva, e quase ininterrupta, série de crises.
Crises, epidemias, fomes e desemprego
Como já foi referido, é a partir de 1840 que começa a ser significativo o número de vapores entrados, mas só em 1850 se instala um segundo depósito de carvão. Contudo, logo em 1851, há falta de trabalho devido a excesso de trabalhadores vindos das outras ilhas, o que provoca desordens e a necessidade de enviar arroz para ser distribuído entre a população. A situação foi agravada com o aparecimento de febres epidémicas e palustres que, por falta de médico e de medicamentos eram tratadas com chás, essência de terebentina, tintura de mostarda e hóstias.30
Em 1855 houve a primeira greve em Mindelo. “os trabalhadores se recusavam ao trabalho porque não aceitavam o salário todo a dinheiro, exigindo parte em mantimentos visto que com o dinheiro os não podiam obter.”31
Em 1856 a ilha é atingida pela epidemia de cólera que desde o ano anterior grassava no arquipélago. Cerca de metade da população morreu, pois dos 1400 habitantes restaram 705 almas. Nos anos seguintes a cidade progrediu e cresceu mas em 1864, uma grave crise alimentícia, trava de novo o seu crescimento. Em 1869 com a abertura do canal de Suez muitos barcos deixaram de cruzar estas águas.
Entre 1875 e o fim do século, o Porto Grande viveu aquele que é considerado o seu período áureo, mas mesmo assim com grandes irregularidades no movimento de navios entrados, o que estava relacionado com as frequentes quarentenas declaradas, devido a epidemias, (só em 1888, houve por exemplo três surtos de varíola) mas sobretudo devido ao facto do preço do carvão ser mais elevado que o praticado nos portos das Canárias e Dakar. O já citado Albert Picquié, que por aqui passou cerca de 1881, considera que se o Porto Grande não se desenvolve é devido à rotina e desinteresse da administração portuguesa, pouco dada a adoptar modelos espanhóis, pelo que se tem recusado a transformá-lo em porto franco, como a Espanha fez com as Canárias em 1852.
Em 1890 cerca de 2000 trabalhadores são despedidos pelas carvoeiras o que aliado à humilhação causada pelo ultimato inglês, que exigia a retirada imediata de uma expedição militar portuguesa de uma zona da África Oriental protegida pelos britânicos, aumenta a hostilidade e desconfiança relativamente às companhias inglesas. A situação foi agravada pela presença, durante alguns dias, do couraçado inglês Australia no Porto Grande de S. Vicente, até o governo português ter aceite o referido ultimato, facto que, felizmente, não provocou “alterações no sossego público, que apesar do descontentamento geral, pôde ser mantido”32. A crise instala-se e um ano depois, em Abril de 1891 há uma manifestação de mais de duas mil pessoas que invadem os Paços do Conselho, reclamando medidas para acabar com a fome. São abertos trabalhos públicos que consistem fundamentalmente no calcetamento de ruas. Em 1892, uma nova política de impostos e taxas e a autorização para se instalar uma companhia nacional de carvão, fazem baixar o preço deste e revertem a situação.
Se a segunda metade do século XIX é feita de altos e baixos, a partir de 1900, ano em que há um novo pico de movimento devido à guerra com os Boers no Transval, o movimento de navios no Porto Grande entra em gradual e definitivo decréscimo. As referências a fome e crises de falta de trabalho, nas Actas da Câmara Municipal, são cada vez mais frequentes. Entre 1900-1904 há uma das piores fomes em Cabo Verde. A população reduziu-se outra vez só tendo atingido os valores de 1900 em 1909. Em 1908 aparece na Câmara, um grande número de trabalhadores do carvão a pedir trabalho. Em 1912 mais de 4000 trabalhadores ocuparam o edifício da Câmara e a Praça, devido à seca e à falta de trabalho no Porto. Em 1913 há fome. A proibição nesse ano, de entrada na América a emigrantes analfabetos, é também um duro golpe para desempregados e camponeses sem terras. Em 1914, a crise que Cabo Verde e Mindelo atravessam, é novamente objecto de debate na Câmara.
Em Março de 1917 volta a referir-se a falta de trabalho na ilha e no mês seguinte a Câmara reúne-se em sessão extraordinária para avaliar a situação de fome. De 1920 a 24 grassa, mais uma vez, a fome em Cabo Verde. Em 1921 há nova sessão na Câmara, que praticamente é invadida pelo povo que clama fome e falta de trabalho. Em 1924 há uma greve dos trabalhadores do carvão.
1926 é um ano de grande instabilidade social pois há população a mais em Mindelo, tanto no que se refere a emprego como no que se refere a falta de habitações e de água potável. A Associação de Socorros Mútuos dos Operários de Cabo Verde, criada em 1921, teve as suas actividades fiscalizadas e censuradas pelo facto de tentar interferir na administração das companhias de carvão e pelo facto de suprimir parte do nome apresentando-se como Associação Operária Caboverdeana.
Em 1927 volta a aparecer nas Actas da Câmara referência a nova crise económica e financeira que a cidade atravessa. A grande depressão económica nos EUA em 1929-30, teve um impacto negativo em S. Vicente tanto pela diminuição de navios entrados, como pela diminuição de remessas dos emigrantes. Em 24 e 25 de Janeiro de 1929 houve manifestações e protestos de que resultaram alguns feridos. A Associação Operária foi considerada responsável e, em consequência, dissolvida.
Em 1931-33 há novo período de seca em Cabo Verde. Se em Mindelo não houve falta de géneros houve sim falta de dinheiro devido ao desemprego. Abrem-se trabalhos públicos em 1934, mas são insuficientes e mal pagos. Em 7 de Junho de 1934 estala a revolta nas ruas de Mindelo. Um grupo de operários sai de Monte Sossego e vai buscar o carpinteiro Ambrósio para chefiar a manifestação. Quando chegam ao centro da cidade já são um enorme grupo e arrombam a Alfândega e diversas casas comerciais que são saqueadas. Há um morto e vários feridos e só depois de António Augusto Martins, Baltasar Lopes da Silva e Augusto Miranda, terem usado da palavra, comprometendo-se a fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para defender a causa do povo trabalhador, a manifestação se desfaz.
Depois de 1935 a situação melhorou, pois a conjuntura de pré-guerra que então se vivia, provocou um aumento de movimentação de navios mas, na década de quarenta, o bloqueio dos aliados e as fomes de 41/43 e 47/48 criaram grandes dificuldades. Em Mindelo as consequências destas fomes foram amortecidas pelo facto de aqui se ter vindo instalar, entre 1940-45, a Força Expedicionária Portuguesa pois o aumento do movimento de navios e o impacto, em termos de emprego, provocado pela vinda de milhares de homens, salvaram muita gente desta ilha de morrer à fome.
O mito
Apesar desta impressionante sucessão de crises, não só a cidade de Mindelo sobreviveu e cresceu, como ainda foi, durante muitos anos, a principal fonte de receitas e sustento do arquipélago. Este facto, aliado à extraordinária pobreza das outras ilhas, ilhas agrícolas onde as secas provocavam fomes terrivelmente devastadoras e mortíferas, como nunca aconteceram nesta cidade, poderá explicar por que motivo para os cabo-verdianos a cidade de Mindelo era vista como um símbolo de riqueza e de oportunidades, “a terra em que a civilização do mundo passa em desfile”, como a imaginava o Chiquinho de Baltasar Lopes. Esta discrepância entre o Mindelo da ficção e o Mindelo real coloca-nos, não apenas perante uma cidade ficcionada, de longe a mais ficcionada na literatura cabo-verdiana, mas perante uma cidade mitificada, ou, talvez seja melhor dizer, mitificada em resultado do encantamento que sobre nós exerce a re-criação literária.
Germano Almeida é de opinião que: “Nas nossas ilhas criámos e vivemos o nostálgico mito de um passado de abundância e fartura que sonhamos sempre ver reproduzidas num qualquer tempo futuro, nosso ou dos nossos descendentes. Em S. Vicente esse mito foi eternizado através de uma das mais belas mornas de repertório nacional: Tempo de Canequinha da autoria do poeta popular Sérgio Frusoni”,33 já acima referido. Mas se estamos perante um mito, estamos perante aquilo que Fernando Pessoa dizia “que é o nada e que é tudo” e que é afinal o lugar para a memória, a imaginação e o sonho dos homens. Mindelo tem sido esse lugar e talvez seja aí que reside o misterioso fascínio desta cidade, capaz de seduzir e adoptar poetas, escritores, artistas e todos, enfim, os que a ela aportam.
Mindelo, Janeiro de 2003
publicado nos n.ºs 1 e 2 da Revista Soncent da Cãmara Municipal de SV, 2005
- 1. António L. Correia e Silva, Nos tempos do Porto Grande do Mindelo. Praia, C.C. Português, 2000, p. 48
- 2. ob. cit., p. 51
- 3. Cristiano de Sena Barcelos, O Arquipélago de Cabo Verde, “Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa”, Lisboa,1908, 27ª série, nº3 – Março. p. 73
- 4. Linhas Gerais da História do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo, Praia, ed. do F.D.N. – Min. da Economia e Finanças, 1984, p.25
- 5. Francisco Travassos Valdez, África Ocidental, Lisboa, Imprensa Nacional, 1864, p. 120
- 6. Joaquim Vieira Botelho da Costa, A Ilha de S. Vicente de Cabo Verde, “Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa”, 1882, 3ª série, nº 2.
- 7. Barjona de Freitas, Conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, 1904. apud G. Almeida in Viagem pela História das Ilhas, Mindelo, Ilhéu Editora, 2003, p.
- 8. Linhas Gerais da História do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo, Praia, ed. do F.D.N. – Min. da Economia e Finanças, 1984, p.85
- 9. J. Boisse de Black, Voyage aux Îles du Cap Vert, “ La Géographie ”, Paris,1924, tomo 42, nº1, pp.38-56
- 10. Eugénio Tavares, Pelos Jornais, Praia, ICL, 1997, p. 43
- 11. Manuel Lopes, Chuva Braba, 2ªed., Lisboa, Ed. Ulisseia, 1965, p.
- 12. Baltasar Lopes, Chiquinho, 7ª ed., Lisboa, Ed. ALAC, 1993, pp. 116 e 247
- 13. Immanuel Friedlaender, Subsídios para o conhecimento das ilhas de Cabo Verde, ed. da Soc. de Geografia de Lisboa, 1914, in jornal O Cidadão de 5/11/99
- 14. João Augusto Martins, Madeira, Cabo Verde e Guiné, Lisboa, 1891, in Linhas Gerais da História do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo, Praia, ed. do F.D.N. – Min. da Economia e Finanças, 1984, p. 62
- 15. João de Sousa Machado, Estudo sobre o Commercio do Carvão no Porto Grande da ilha de S. Vicente (archipelago de Cabo Verde) e no Porto da Luz em Gran Canaria (archipelago das Canárias), Lisboa, Imprensa Nacional, 1891, in António L. Correia e Silva, Nos tempos do Porto Grande do Mindelo, Praia, C.C. Português, 2000, p. 124
- 16. Joaquim Vieira Botelho da Costa, A Ilha de S. Vicente de Cabo Verde, “Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa”,1882, 3ª série, nº 3.
- 17. Albert Picquié, Îes du Cap Vert et Colonisation Portugaise, “Revue Maritime et Coloniale », Paris, 1881, tomo 71
- 18. António Aurélio Gonçalves, Noite de Vento, 2ª ed., Praia, ICLD, 1989, p. 122
- 19. ob. cit., p. 79-80
- 20. Manuel Lopes, Galo Cantou na Baía, 2ª ed., Lisboa Ed. Caminho, 1998, p. 30
- 21. Teixeira de Sousa, Capitão de Mar e Terra, Publ. Europa-América, 1984, p. 268
- 22. Germano Almeida, A longa agonia do Porto Grande in jornal A Semana de 6/7/01
- 23. Mesquitela Lima, A Poética de Sérgio Frusoni, Lisboa, ed. ICALP, 1992, p. 37
- 24. João Nobre de Oliveira, A Imprensa Cabo-Verdiana.1820-1975, Macau, Ed. da Fundação Macau, 1998, p. 392
- 25. Marie-Christine Hanras, Manuel Lopes Um Itinerário Iniciático, Praia, ICLD, 1995, p. 268
- 26. Manuel Lopes, Galo Cantou na Baía, 2ª ed., Caminho, 1998, p. 29
- 27. António Aurélio Gonçalves, idem, ibidem, p. 117
- 28. Germano Almeida, O Meu Poeta, Mindelo, Ilhéu Editora, 1990, p. 208
- 29. Teixeira de Sousa, idem, ibidem, p. 380
- 30. Manuel Bonaparte Figueira, Subsídios para o Estudo Evolutivo da Cidade de Mindelo de S. Vicente de Cabo Verde, tese de licenciatura, Lisboa, 1978
- 31. BO 193/1856, Parte Não Oficial in Linhas Gerais da História do Desenvolvimento Urbano da Cidade do Mindelo, Praia, ed. do F.D.N. – Min. da Economia e Finanças, 1984, p. 20
- 32. Joaquim Vieira Botelho da Costa, A Ilha de S. Vicente de Cabo Verde. 1886 a 1891. “Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa”, Lisboa, 1882, 3ª série, nº 2
- 33. Germano Almeida, A longa agonia do Porto Grande in jornal A Semana de 6/7/01