“Tocar a palavra com a língua,” refere a agência da linguagem como evento sensorial, gesto, poder narrativo e espontaneidade linguística. A língua, experiência corporal e orgânica de um impulso suave e viscoso, torna-se voz, ecos de viagens e relatos do indizível, e assim, potencialmente, em espaços de permeabilidade linguística com novas línguas e (des)arquivos da ausência que, por sua vez, se condensam em iconografias de um novo tempo: o dos vocabulários utópicos. Essas experiências de relação entre o exterior e o interior criam espaços transitivos nos signos, ideogramas, variados sistemas de escrita e no movimento dos lábios. Usar a palavra como agência de transformação crítica leva-nos a questionar a força do relato, o destinatário, o contexto e os atos de pertença e posse.
Através do ensaio fílmico Wechselseiten [Page Changes] de Deborah Uhde, da instalação multimédia Apocalypses de Marta Sala e Cheong Kin Man, e do documentário autoetnográfico Uma ficção inútil: a-resposta deste duo, percorremos a interseção de movimentos linguísticos, linguagens (visuais, sonoras, corporais) e as geo-formações do passado e do futuro utópico. Tocar a palavra com a língua traça conexões entre cartografias instáveis, práticas culturais, idiomas inventados e experiências têxteis e textuais em um campo crítico de trânsitos globais desde o início do século XX, como ocupações, relatos coloniais, toponímias e administrações territoriais pós-marítimas. Referimo-nos a vários momentos da história na encruzilhada entre países da Europa e áreas específicas da China, como a zona anteriormente conhecida em alemão como “Kiautschou”, ou ainda, Macau como um território aduaneiro independente.
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A dupla de artistas polaco-macaense, Marta Stanisława Sala e Cheong Kin Man, sediada em Berlim, combina têxteis e linguagem para criar línguas construídas como abordagem decolonial. As suas autoetnografias experimentais foram apresentadas no Festival Begehungen (Alemanha), na Fundação Fernando Leite Couto (Moçambique), na Bienal de Macau, entre outros.
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Deborah Uhde (Alemanha) é cineasta e artista independente, com um foco especial em filmes experimentais e documentários, bem como em formatos situacionais, como instalações e performances. Também se dedica à redação de críticas, à condução de workshops e formações, e à curadoria de programas de cinema.
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Faremos, enquanto dupla juntamente com a Deborah Uhde, um happening com o mesmo título como da exposição: “Tocar a palavra com a língua.”
O Jornal Tribuna de Macau reportou o seguinte, no dia 17 de Outubro de 2024:
[…] Com o fim de promover a igualdade linguística na capital alemã, o duo de Macau e da Polónia expôs a sua nova publicação artística, “Ein halbfiktionaler Crashkurs zur Orakelschrift” (em português, “Um Curso Intensivo Semi-Fictício sobre a Escrita Oracular”), com 24 posturas humanas ilustradas directamente inspiradas na antiga escrita chinesa.
“Beleza é relação de poder”, “o homem (o rato) é a Natureza” ou ainda “o homem (o rato) é o mundo que este pode imaginar” são algumas das declarações artísticas de Cheong e Sala que acomodaram os antiquíssimos ideogramas chineses “belo”, “homem” e “céu”.
Usado para incentivar o público comunicar com o corpo, o trabalho foi originalmente concebido para o mais recente “happening” artístico de línguas fictícias da dupla no seio do “Festival para o Bem-Estar Urbano… em redor do Bunker dos Ratos” em Setembro na capital alemã, tendo o apoio do Senado de Berlim. A mesma iniciativa terá lugar no Atelier Artéria de Lisboa, em 22 de Novembro, a convite e com a curadoria de Lorena Tabares Salamanca.
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