Para além da idade das luzes: mudanças sísmicas, imagética urbana

31 OUT 2018 QUA 10:30–18:00 Pequeno Auditório Entrada gratuita*

Um simpósio de um dia para abordar a relação ativa entre a prática fotográfica e a forma como a história das cidades se exprime no seu urbanismo, que culmina com a apresentação do artista curdo-iraquiano Hiwa K ao fim do dia. Tendo como referência a cidade de Lisboa e as reverberações culturais e sociais que, ainda hoje, ecoam do terramoto de 1 de novembro de 1755 – um acontecimento que despertou a imaginação de filósofos, pensadores e artistas por toda a Europa – conta com a participação de fotógrafos, artistas e pensadores ligados à geografia, à história e a outras ciências sociais. Identidade, pós-colonialismo, circulação de imagens, pessoas e culturas, a visibilidade e invisibilidade das populações imigrantes no urbanismo e o quotidiano da cidade são os temas em debate. 

Este simpósio integra o programa Cities of Light organizado pela Urban Photographers Association (UPA) que se realiza em 2018 em várias cidades europeias.

PARTICIPANTES

Hiwa K, Victor Jeleniewski Seidler, Ana Cristina Araújo, Paul Halliday, David Kendall, Kiluanji Kia Henda, António Brito Guterres, Stefano Carnelli, Álvaro Domingues, Mónica de Miranda, Liliana Coutinho, Susana S. Martins, Carla de Utra Mendes, Ana Balona de Oliveira, Susana de Sousa Dias

Sinopses e Biografias Para Além da Idade das Luzes

O TERRAMOTO DE 1755 NO HORIZONTE DAS LUZES: VER E PENSAR A CATÁSTROFE

A experiência real e imaginária do 1 de novembro de 1755 desencadeou um conjunto vastíssimo de reações em toda Europa. À distância, o grande terramoto de Lisboa foi representado em séries de gravuras feitas por artistas que nunca tinham estado na capital portuguesa. Num espaço urbanístico estranho, a deformação e a ruína aprisionam o olhar do espectador. Nas gravuras que circularam na Europa das Luzes, as casas em ruínas não retratam as de Lisboa, mas as dos países de origem dos gravadores. Apresentam traves de madeira frontais e telhados inclinados à maneira germânica; as ruas em que se amontoam os escombros recriam algures irreais; as construções monumentais em ruínas reportam locais existentes com traços de invenção; os sítios de refúgio, recriam cenas, ora feéricas, ora trágicas, envolvendo turbas de sobreviventes que deambulam esfarrapados ou com trajes fantásticos por entre tendas.
No campo visual da catástrofe, a deformação reconduz o homem à fragilidade do seu espaço próprio na cidade. No domínio filosófico, a incerteza instaura uma brecha profunda na confiança racional do homem. Voltaire escreve o Poème sur le désastrede Lisbonne (1756) e publica a famosa novela Candide, ou l’Optimisme (1759).  A polémica em que se envolveu com Rousseau não deixou indiferentes filósofos e naturalistas. O barão de Holbach assina os artigos  “vulcões” e “terramotos” na Encyclopédie de Diderot e d’Alembert. Ribeiro Sanches recusa qualquer tipo de juízo providencialista e astrológico para explicar os enigmas da terra. E Immanuel Kant isola a natura naturans do poder fundador de Deus e transforma um acidente natural, grandioso e devastador, num indício da falência da conceção leibniziana de teodiceia.

Ana Cristina Araújo
CHSC – Centro de História da Sociedade e da Cultura, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Professora Associada com Agregação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Investigadora principal no Centro de História da Sociedade e da Cultura – Unidade de Investigação FCT. Consultora do Programa Internacional de Parcerias de Pesquisa  na CNPq-Brasil. Publicou 148 estudos, entre monografias, capítulos em livros, artigos e entradas de dicionário. Oradora em diversas conferências e encontros científicos de relevância por todo o mundo, incluindo Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, Suíça, Estados Unidos da América, Hungria e República Checa. Recebeu 2 prémios e distinções. Investiga e publica principalmente nas áreas da História das Ideias e da História da Cultura.

LISBOA CIDADE DE LUZ, À LUZ DO TERRAMOTO DE LISBOA.
ABALAR AS FUNDAÇÕES E OS FUTUROS INVISÍVEIS: ILUMINISMOS CRÍTICOS E A REIMAGINAÇÃO DA EUROPA 

Com o advento do Terramoto de Lisboa, foi como se este marcasse o fim do mundo tal qual o conhecíamos. Ele destruiu não apenas as estruturas físicas de  Lisboa mas igualmente os edifícios teológicos e filosóficos que haviam legitimado o domínio colonial Europeu no “Novo Mundo”, por onde os instrumentos de terror da Inquisição se difundiram. Mas, se a destruição de Lisboa não foi responsabilidade de Deus, o nacionalismo católico que apoiou a Reconquista, e que levou à expulsão dos judeus e muçulmanos, viria a dar lugar a novas formas de Modernidade Europeia, organizadas em torno da ideia de Estado-Nação. Com o desenvolvimento da ciência, associada ao crescimento e ao domínio da natureza, o poder colonial branco foi legitimado através de uma masculinidade branca europeia que tomava o poder da racionalidade por garantido. Voltaire e Kant, por exemplo, foram ambos desafiados pela destruição sísmica de Lisboa a pensar diferentemente. Perante a evidente vulnerabilidade das cidades e existência de uma natureza vingadora, surgiram uma série de futuros incertos e de forças invisíveis que a prática fotográfica teria ajudado a visualizar. Num mundo pós-moderno, no qual a Europa deixou de estar no centro, é preciso ouvir e aprender com quem é tradicionalmente silenciado, enquanto tentamos imaginar, através de diferentes práticas visuais, futuros alternativos e formas de estarmos juntos. Com o Brexit enfrentamos um futuro cada vez mais incerto que tem muito a aprender com as histórias coloniais britânicas e portuguesas.

Victor Jeleniewski Seidler
Professor Emeritus Goldsmiths, University of London e Urban Photographers Association Writing Fellow

Professor Emérito do departamento de Sociologia na Goldsmiths, Universidade de Londres. A seus interesses de pesquisa incluem Teoria e Filosofia Social; Marxismo e Teoria Crítica; Teoria Moral; Masculinidade e Políticas da Sexualidade. Tem publicado sobre teoria social, ética e género, nomeadamente na área das masculinidades. Mais recentemente, a sua investigação inclui a memória cultural de eventos particulares, incluido o 11 de setembro (9/11) e o 7 de julho (7/7), e a  maneira como eles podem desafiar as linguagens sociais e culturais mais tradicionais. O seu livro mais recente, Making Sense of Brexit: Democracy, Europe and Uncertain Futures, foi publicado pela Polity Press em 2018.
www.gold.ac.uk/sociology/staff/seidler

FORDLÂNDIA MALADIE: A CIDADE COMO ARQUIVO 

Em 1928, Henry Ford fundou uma “company town” na Amazónia: Fordlândia. O seu objectivo: produzir látex, escapando ao domínio das potências coloniais europeias no comércio desta matéria-prima indispensável ao fabrico dos seus automóveis. Todo um sistema (desenho urbanístico, arquitectura, costumes) foi transladado para a selva amazónica, num processo de desmesuradas dimensões. Mas o empreendimento duraria menos de vinte anos. Hoje, os terrenos e suas edificações revelam as cicatrizes de uma conjuntura insólita, violenta e feroz, da imposição do capitalismo à geografia. Frequentemente intitulada de cidade-fantasma, Fordlândia é uma localidade paradoxal. Entre a letargia e a determinação, os seus habitantes procuram reescrever a sua própria história, em contra-corrente ao imaginário alimentado pela disseminação em larga escala das fotografias das ruínas de uma cidade aparentemente desabitada.  O projecto Fordlândia Maladie (filme/instalação) investiga os não-ditos e não-vistos de uma história de 90 anos cujas raízes se abrigam nos mitos indígenas.

Susana de Sousa Dias 
CIEBA – Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa

Susana de Sousa Dias (Lisboa) tem um Doutoramento em Belas-Artes , Audiovisuais (UL), um mestrado em Estética e Filosofia de Arte (UL), e uma licenciatura em Pintura. Concluiu o curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema e estudou música no Conservatório Nacional, em Lisboa.
Entre os seus filmes contam-se contam-se Natureza Morta, 48 (Grand Prix Cinéma du Réel, Prémio FIPRESCI DocLeipzig, etc.) e Natureza Morta|Stilleben (instalação em 3 canais) e Luz Obscura. 
O seu trabalho tem sido mostrado internacionalmente em festivais de cinema, espaços e exposições de arte tais como Documenta 14, PhotoEspaña, Viennale, Sarajevo IFF, Torino IFF, Visions du Réel, Centro Pompidou, Pacific Film Archive, Harvard Film Archive, Arsenal Institut für Film und Videokunst, Berlim, Tabakalera, San Sebastian, Instituto de Arte Contemporânea de Londres, Museu de Arte Contemporânea do Ceará, MNAC, MNAA,etc.
Foi artista convidada no Robert Flaherty Film Seminar (Nova Iorque, 2012) e visiting artist na Universidade da Califórnia (Santa Cruz,  2018). Foi co-directora do Doclisboa, Festival Internacional de Cinema por duas edições consecutivas (2012 e 2013), abrindo novas categorias como Cinema de Urgência e Passagens (documentário e arte contemporânea).
É professora na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa.
Susana de Sousa Dias

DESAPARECER PELA NOITE

Desaparecer pela Noite explora uma série de transformações em infraestruturas: o modo como se gera e se consome energia luminosa em Doha (Qatar) dá origem a atmosferas visuais e acústicas que estão presentes em espaços arquitetônicos que assim se modificam estruturalmente. Estas condições-limite, em constante transformação, criam um terreno fértil no qual o imaginário urbano surge a partir do Antropoceno. Consequentemente, as minhas experimentações percetivas exploram a forma como espectro eletromagnético, captado tanto pelo olho humano como por sensores de imagens, se funde com um fluxo radiante, com uma energia luminosa que não se vê, mas que que é emitida e recebida pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. Serão aqui explorados desdobramentos entre “luz” e “escuridão” e utilizar-se-ão sombras para produzir imagens acústicas e paisagens sonoras fotográficas. Consequentemente, o ato de ouvir torna-se assim num modo de ver, que se revela importante para sentir diferenças e mudanças sociais e ambientais. Finalmente, as minhas instalações experienciais têm como objetivo modificar a consciência sónica e investigar as ligações geográficas que se desenrolam na urbe, tanto no passado e no presente, como entre as pessoas, a arquitetura e a infraestrutura digital.

David Kendall
Visiting Fellow, CUCR – Centre for Urban Community Research, Goldsmiths, University of London e Urban Photographers Association

Visiting Fellow do Centre for Urban and Community Research, Departamento de Sociologia da Goldsmiths, Universidade de Londres no Reino Unido, e diretor fundador da Urban Photographers Association (UPA). A sua prática artística explora a forma como as questões espaciais, económicas e de design, juntamente com as práticas participativas, se combinam nas cidades motivando tanto interligações sociais e espaciais como territórios de dissonância. As suas fotografias, bem como a sua investigação em termos de espaço e os seus projetos colaborativos têm sido apresentados e expostos em festivais, museus, instituições académicas e culturais incluindo: British Library, Reino Unido; Jüdisches Museum de Berlim, Alemanha; Centro Cultural Manuel Gómez Morín, Santiago de Queretaro, México; documenta 14, Alemanha; Tate Britain, Instituto Francês de Londres e Universidade de Oxford, Reino Unido.
www.gold.ac.uk/cucr/researchers/kendall-david/
David Kendall
Urban Photographers

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE OS PROJETOS A CITY CALLED MIRAGE CONCRETE AFFECTION – ZOPO LADY

O deserto é, simultaneamente, um lugar sem centro, sem história, e uma página em branco aberta às possibilidades de uma nova civilização. A cidade, por outro lado, é um palimpsesto da história civilizacional. Uma agitação interminável de construções lucrativas equivale a um enorme deserto de cimento feito de casas e de bairros vazios. Os dois projetos A City Called Mirage e Concrete Affection relacionam-se no seu interesse em processos paralelos de desertificação, uns movidos por motivações políticas, outros por pretextos económicos. Luanda, capital de Angola, foi abandonada em 1975 pelos colonizadores, desencadeando a desertificação de um espaço urbano fortemente habitado. No Dubai, a inflação e especulação imobiliária conduziram a uma enorme expansão de estruturas que acabaram por nunca ser habitadas. Apesar desse falhanço, a cidade serve de ponto de referência para o planeamento urbano de Luanda no pós-independência. Ironicamente, esse ciclo infinito de permanente construção e expansão da cidade resulta na criação de um deserto. Com um vazio equivalente a dois espelhos que mutuamente se refletem, as linhas de fronteira que separam duas regiões geográficas e espirituais distintas tornam-se aqui indistintas.

Kiluanji Kia Henda
Artista. O interesse de Kia Henda pelas artes visuais surge por ter crescido num meio de entusiastas da fotografia. A ligação com a música e o teatro de vanguarda, fizeram parte da sua formação conceptual, tal como a colaboração com coletivos de artistas em Luanda. Participou em vários programas de residências em cidades como Veneza, Cidade do Cabo, Paris, Amman e Sharjah, entre outras. Kia Henda participou também nas seguintes exposições selecionadas: 1a Trienal de Luanda, 2007; Check List Luanda Pop, Pavilhão Africano, Bienal de Veneza, 2007; Farewell to Post- Colonialism, Trienal de Guangzhou, 2008; There is always a cup of sea to sail in, 29a Bienal de São Paulo, 2010; Tomorrow Was Already Here, Museu Tamayo, Cidade do México, 2012; Les Prairies – Les Ateliers de Rennes,
2012; Monday Begins on Saturday, 1a Trienal de Bergen, 2013; The Shadows Took Shape, The Studio Museum of Harlem, Nova Iorque, 2013; Producing the Common, Dakar Biennale, Dakar, 2014; The Divine Comedy, Museum für Moderne Kunst, Frankfurt and Smithsonian Institute, Washington, 2014; Surround the Audience, New Museum Triennial, New York, 2015; Museum (Science) Fictions – MUSEUM ON/OFF, Centre George Pompidou, Paris, 2016; TATE Liverpool, Constellations, 2016. Em 2012, Kia Henda ganhou o Prémio Nacional da Cultura e Artes, outorgado pelo Ministério da Cultura de Angola e, em 2017 venceu o Frieze Artist Award em Londres.

ERASURES (RASURAS)

Este projeto começou, inicialmente, como uma colaboração com Nai Wen, uma fotógrafa-artista, baseada em Taiwan, e que implicou a feitura de uma série de fotografias Polaroid de várias pessoas em várias partes de Londres. O foco principal deste trabalho anda à volta da temática da rasura e dos efeitos da “hipergentrificação”- ou aquilo que anteriormente descrevi como o efeito de  “Hoxtonization”* nas comunidades residenciais londrinas.
Realizei retratos de pessoas locais em espaços que lhes eram familiares: onde fazem compras, onde passam o seu tempo, por onde se movem… para  depois “apagá-las” com corretor líquido branco. O efeito é deveras estranho, até porque estas imagens são referência direta ao impacto das forças económicas que criam condições onde as continuidades geográficas – o que os sociólogos urbanos descrevem como espaços de “convivialidade” – mudam os bairros e comunidades para espaços de investimento proprietário e especulação imobiliária.  
Estamos a assistir uma crise em Londres enquanto partes da chamada “zona interior” são redesenhadas para regimes de desenvolvimento que constantemente ignoram as vozes dos residentes locais, considerados frequentemente como um incómodo e excedente das necessidades do planeamento e design urbano orientado para o mercado. Consequentemente, comunidades inteiras estão a ser rasuradas. Este projeto, usando a fotografia instantânea como meio, tem como objetivo indagar acerca da natureza da presença e da ausência dentro dos espaços neoliberais contemporâneos.
* Hoxton é uma área situada a leste de Londres gravemente afetada pela gentrificação.

Paul Halliday
CUCR – Centre for Urban and Community Research, Goldsmiths, University of London e Urban Photographers Association

Paul Halliday é o coordenador do curso de Mestrado em Fotografia e Culturas Urbanas (MA Photography and Urban Cultures) na Goldsmiths, Universidade de Londres. Ele é o Diretor Criativo da UrbanPhotoFest e diretor da UPA – Urban Photographers Association. Depois de inicialmente estudar sociologia e lei, prosseguiu com os estudos em fotojornalismo e cinema de artista na LCC e na Central Saint Martins, seguido de estudos em antropologia social, arqueologia e história da arte nas Universidades de Londres, Oxford e Cambridge.
Paul serviu previamente como media advisor para o British Refugee Council assim como diretor de filmes documentais para o Canal 4 TV (Reino Unido). Está atualmente a trabalhar no seu extenso arquivo fotográfico para uma série de publicações e projetos para filme.
Urban Photographers
Urban Photofest

APRESENTAÇÃO DO VÍDEO ESTRADA MILITAR, 2009
VÍDEO HD, COR, SOM, 20´

Military Road é um vídeo sobre uma viagem que traça, como que numa busca arqueológica, a paisagem da antiga Estrada Militar de Lisboa, construída em torno da cidade. No passado, era usada para proteger Lisboa contra as invasões francesas e inglesas. Atualmente, parte desta estrada desapareceu, mas naquilo que são os seus restos, ela prolonga-se por 45 km à volta da cidade e é ocupada por bairros sociais e guetos. A estrada, nos nossos dias, continua de certo modo a ser uma espécie de fronteira que “protege” a cidade contra invasões estrangeiras; sustém um significativo número de imigrantes de popular a cidade, obrigando-os a permanecerem na periferia de Lisboa, no seu limite, no limbo da vida na cidade.
Este trabalho foi realizado a partir de uma colaboração com associações de caráter social, residentes desses bairros e amigos e familiares da autora. O trabalho é em si mesmo uma viagem realizada pela artista e por alguns desses elementos, explorando assim o duplo significado e a ironia das antigas invasões territoriais, e dos atuais conflitos urbanos, próprios de alguns desses lugares. O principal foco deste trabalho é o modo como a cidade progride e se transforma, e o impacto que estas transformações têm tanto na cultura local como na nacional.
Military Road pretende tornar visível a população imigrante que vive na periferia de Lisboa, fora da denominada Estrada Militar construída para defender a cidade das invasões no princípio do séc. XIX.
* Este descritivo foi retirado do website do antigo Transforma

Mónica de Miranda  
Artista, CEC – Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Mónica de Miranda é uma artista e investigadora nascida no Porto (Portugal), com origens Angolanas. O seu trabalho baseia-se em temas de arqueologia urbana e geografias pessoais. Mónica é licenciada em Artes Visuais pela Camberwell College of Arts (Londres, 1998), possui um mestrado em Arte e Educação do Institute of Education (Londres, 2000), e é doutorada em Artes Visuais pela University of Middlesex (Londres, 2014). Recebeu apoio da FCT-Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Desenvolve atualmente o projeto de investigação Post-Archive no CEC-Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. 
Mónica é uma das fundadoras do projeto de residências artísticas Triangle Network em Portugal, tendo também fundado em 2014 o Projeto Hangar – Centro de Investigação Artística, em Lisboa. Foi nomeada em 2016 para o Prémio Novo Banco Photo, altura em que expôs no Museu Berardo (Lisboa). Mónica foi também nomeada para o Prix Pictet Photo Award nesse mesmo ano. A sua obra tem sido exposta em diferentes ocasiões: Photo Paris (Paris, 2013), Arco (Madrid, 2013), Arco Lisboa (Lisboa, 2016), 1.54 (Londres e Nova Iorque, 2016), ArtBo (Bogotá, 2017), Artissima (Milão, 2017).

TERRITÓRIOS INFORMAIS. ESTUDOS DE CASO: LISBOA E MILÃO

Numa era em que o conceito de espaço urbano se orienta para territórios cada vez menos definidos e contidos, o fenómeno da informalidade urbana ganha um papel fundamental na decifração da complexidade das cidades globais contemporâneas.
Os projetos etno-fotográficos Cova do Vapor e Transumanza apresentam formas alternativas e inesperadas de habitar territórios urbanos aparentemente estruturados, como os das áreas metropolitanas de Lisboa e Milão. Em Portugal, o povoado informal da Cova do Vapor revela-nos um contexto vulnerável e marginal, ameaçado por projetos industriais e explorações turísticas.
Com Transumanza, a viagem sazonal dos últimos pastores transumantes que atravessam o hiperurbanizado norte da Itália, torna-se paradigma de um cenário em fluxo, onde o choque entre o local e o global, a tradição e a inovação, sugere um mapeamento alternativo do complexo ambiente social e urbano.

Stefano Carnelli
Urban Photographers Association e Urbiquity

Fotógrafo, curador e investigador com formação em arquitetura e planeamento urbano. O seu trabalho explora a forma como as cidades se moldam, num processo contínuo de transformação e reconfiguração, que afeta profundamente conceitos como identidade, pertença e sentido de comunidade. Stefano é diretor da Urban Photographers Association (UPA) e fundou, em 2014, o coletivo de pesquisa urbana Urbiquity.
O seu projeto de longa duração “Transumanza” foi recentemente publicado em livro pela editora Peperoni books (2017).
www.stefanocarnelli.com
Urban Photographers
Urbiquity

QUE COISA É A URBANIZAÇÃO?

Por excesso de sentidos e representações, por demasiada elasticidade e contradição, a palavra cidade transformou-se num conceito caótico. Ao mesmo tempo lugar e sociedade, cultura ou economia, estilos de vida ou arquitetura, cinema ou que quer que seja, deixamos de saber de que é que falamos quando falamos de cidade, pensando até que poderia ser universal essa suposta categoria. O engano atingiu uma tal dimensão que se tornou invisível.
Fotografe-se então a multiplicidade do processo de urbanização e volte-se a colocar a questão. Registar-se-á que como processo que é, a urbanização toma forma e lugar nas mais diversas e surpreendentes metamorfoses, desde a miséria mais desumana, à vertigem da opulência e dos seus cenários ficcionais.
As palavras suicidam-se quando as coisas que designam se escapam pela sua infinita condição.

Álvaro Domingues
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto

Álvaro Domingues (Melgaço, 1959), é Geógrafo, doutorado em Geografia Humana pela FLUP e Professor Associado e Investigador da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Colaborações nos últimos quinze anos: Porto 2001, Capital Europeia da Cultura; Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Ciência e Tecnologia, Escola Técnica Superior de Arquitetura da Coruña, Erasmus University of Rotterdam-EURICUR, Club Ville Aménagement – Paris; CCCB, Barcelona; Universidade Tècnica de Barcelona-Arquitetura; Universidade de Granada; École Polytechnique Fédérale de Lausanne, EPFL-ENAC; Universidade Federal de S. Paulo e do Rio de Janeiro; ArchDailly; Jornal da UP; Jornal Público; Fundação de Serralves. Alguns livros recentes: 2017 – Volta a Portugal, ed. Bertrand, Lisboa; 2015 – Território Casa Comum, FAUP, Porto (com N. Travasso); 2012 - Vida no Campo, Ed. Dafne, Porto; 2010 - A Rua da Estrada, Ed. Dafne, Porto; 2015 - “La Calle de la Carretera”, in RAMOS, Angel M. (ed.), La Calle Moderna en 30 Autores Contemporaneos y un pioneiro, Ed. Universidad Tecnica da Cataluña, Barcelona; 2011 - Políticas Urbanas II, F. C. Gulbenkian, Lisboa (com N. Portas e J. Cabral).

PARA ALÉM DA FICÇÃO: UMA NARRATIVA POSSÍVEL DE LISBOA.

Por aqui, a fotografia não é arte. É recurso, instrumento, mediação. A arte foi sabermos estar juntos e misturados quando ninguém esperava e a partir daí sempre que se esperou. Deixou de ser exótico sem nunca o ter sido.
Nesse processo, a câmara rodou, de mão em mão, descrevendo: contextos, pessoas e locais; desvendado um pouco da cidade, dos interstícios aparentes à forma com que se filia às pessoas, das histórias que ficaram por contar.

António Brito Guterres
Dinâmia’Cet - Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa

É doutorando em Estudos Urbanos e investigador no Dinâmia’Cet - ISCTE/IUL. Tem desenvolvido trabalho com várias organizações locais nos bairros da Área Metropolitana de Lisboa (AML). É colaborador da Fundação Aga Khan Portugal, que promove a qualidade de vida num desígnio plural e cosmopolita. O seu trabalho local e de investigação aborda o commons, a governação urbana, jovens, cultura e arte. Foi coordenador do Centro de Experimentação Artistica do Vale da Amoreira, consultor da recente estratégia para a cultura de Lisboa, fez parte do projeto URB: uma série de televisão sobre um conjunto de ficções da diversidade da AML e é coautor com o Vhils do processo 6 de maio exposto no Museu Nacional de Arte Antiga.

“… FROM THAT MOMENT ON, I STARTED AN AFFAIR WITH REALITY”* 

O artista curdo-iraquiano Hiwa K experiencia o mundo através de uma constante e total reinvenção: dele próprio e da realidade. É um malabarista que procura jogar com o equilíbrio do real, algures entre o facto e a ficção. Nas criações Pre-Image (Blind as My Mother Tongue) e View from Above,  para a Documenta14 em 2017, assume-se como um transeunte, um contador de estórias, um viajante, literal e mentalmente. No seu trabalho a memória transforma-se num material artístico capaz de ancorar a narrativa, tanto no lugar físico da cidade como no domínio imaterial do inconsciente. 
Hiwa K convida-nos para uma viagem que começa com o seu próprio posicionamento artístico, através do qual procura desconstruir o mundo que o rodeia, questionando a pesada sobrecarga dos modelos ocidentais sobre outras configurações culturais.
*Hiwa K Pre-Image (Blind as The Mother Tongue), 2017

Hiwa K

Nasceu no Curdistão Iraquiano em 1975. Na sua cidade natal de Sulaymaniyah, desenvolveu estudos informais sobre literatura e filosofia Europeia, que aprendeu através dos livros disponíveis traduzidos em Árabe. Depois de se mudar para Europa em 2002, Hiwa K estudou música enquanto aprendiz do mestre de Flamenco Paco Peña em Roterdão e, subsequentemente, sediou-se na Alemanha. As suas obras escapam a uma estética normativa mas oferecem novas possibilidades às formas vernaculares, às histórias orais (Chicago boys, 2010), aos modos de encontro (Cooking with Mama, 2006) e às situações políticas (This lemon tastes of apple, 2011). Este seu repositório de referências constitui-se de histórias contadas por familiares e amigos, de situações inusitadas, de formas quotidianas que resultam ao mesmo tempo do pragmatismo e da necessidade. Tem sido uma voz permanentemente crítica dos sistemas de educação e profissionalização da prática artística, resistindo igualmente ao mito do artista individual. Muitos dos seus trabalhos propõe uma forte dimensão coletiva e participative, concretizando a ideia de que o conhecimento se consolida mais pela experiência quotidiana do que pela doutrina. Hiwa K participou em várias exposições coletivas, designadamente: Manifesta 7 em Trentino (2008), La Triennale, Intense Proximity em Paris (2012), “Edgware Road Project” na Serpentine Gallery, Londres (2012), Bienal de Veneza(2015) e  documenta14, em Kassel/Athens (2017). Em 2016 recebeu o Prémio Arnold Bode e o Schering Stiftung Art Award e teve uma exposição individual na KW, Berlin (2017). O seu projeto “Chicago Boys” tem sido continuamente apresentado em diversas instituições internacionais.
www.hiwak.net
Kow Berlin

Susana S. Martins 

É atualmente investigadora no Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa (PT) e no Institute of Cultural Studies, Katholieke Universiteit Leuven (BE). Doutorada em fotografia e estudos culturais pela Katholieke Universiteit Leuven, a sua investigação concentra-se principalmente no campo da teoria e história da fotografia, e na interseção da fotografia com as áreas das exposições, das culturas de impressão, e das identidades nacionais. Autora de diversos artigos sobre estes temas, integra atualmente um projeto de investigação sobre propaganda e fotografia impressa. Editou, com Anne Reverseau, o livro Paper Cities. Urban Portraits in Photographic Books (LUP, 2016). Professora convidada na Universidade Nova de Lisboa, tem lecionado no âmbito da fotografia, da cultura visual do século XIX e da história da arte contemporânea.
Susana S. Martins

Carla de Utra Mendes

Writting Fellow da Urban Photographers Association (UPA), baseada em Londres. É também uma afiliada do Lau China Institute, King’s College, Londres, Reino Unido. Doutorada pela Universidade de São José em Macau RAEM, China, foi bolseira de doutoramento da Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal. Licenciada em História da Arte, desde o seu Mestrado, ambos realizados na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, tem-se focado em Estudos Asiáticos. Na área da arte contemporânea e da museologia, exerceu funções como curadora, cocoordenadora de serviço educativo, educadora de museus e crítica de arte independente, tendo colaborado com instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Cultural de Belém (Lisboa, Portugal), entre muitas outras.

Ana Balona de Oliveira

Investigadora de Pós-doutoramento (FCT) no Instituto de História de Arte da Universidade Nova de Lisboa (IHA-FCSH-NOVA) e no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa (CEC-FLUL). Tem lecionado em várias instituições no Reino Unido e em Portugal, com destaque para o Courtauld Institute of Art, University of London, onde se doutorou em História de Arte (Moderna e Contemporânea), com a tese Fort/Da: Unhomely and Hybrid Displacements in the Work of Ângela Ferreira, c. 1980-2008, 2012. A sua investigação atual centra-se em narrativas de império, anti- e pós-colonialismo, migração e globalização na arte contemporânea de países ‘lusófonos’ e outros. Após ter coordenado o projeto ‘Cultura Visual, Migração, Globalização e Descolonização’ (CITCOM-CEC-FLUL) de 2013 a 2017, cocoordena agora a linha de investigação ‘Transnational Perspetives on Contemporary Art: Identities and Representation’ (CASt-IHA-FCSH-NOVA). Publicou artigos na Nka: Journal of Contemporary African Art (EUA), Third Text(Reino Unido), Mute (Reino Unido), /seconds (Reino Unido), Fillip (Canadá), África(s) (Brasil), Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento (Portugal), Revista de História de Arte(Portugal), Revista Comunicação e Sociedade (Portugal), entre outras. Contribuíu com ensaios e entrevistas para catálogos de exposições (Recent Histories: Contemporary African Photography and Video Art, Walther Collection & Steidl, 2017; Ângela Ferreira: Underground Cinemas & Towering Radios, EGEAC-Galerias Municipais, 2016; Novo Banco Photo 2015, Museu Coleção Berardo, 2015, etc.) e outras publicações ((Re)Imagining African Independence: Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire, Peter Lang, 2017; Red Africa: Affective Communities and the Cold War, Black Dog Publishing, 2016; Edson Chagas: Found Not Taken, Kehrer Verlag, 2015, etc.). Comissariou as exposições individuais Ângela Ferreira: Underground Cinemas & Towering Radios (Galeria Av. da Índia, Lisboa, 2016) e Ângela Ferreira: Monuments in Reverse (Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura, Guimarães, 2015), e cocomissariou a exposição coletiva Ruy Duarte de Carvalho: Uma Delicada Zona de Compromisso (Galeria Quadrum, Lisboa, 2015-2016), entre outras.

CURADORAS DO PROGRAMA DO SIMPÓSIO

Carla de Utra Mendes (Urban Photographers Association), Susana S. Martins (Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa)

ORGANIZADORES E COMITÉ CIENTÍFICO

Carla de Utra Mendes (UPA Writing Fellow), Victor Jeleniewski Seidler (Goldsmiths/UPA Writing Fellow), Stefano Carnelli (UPA Director of Exhibitions), Susana S. Martins (IHA/FCSH-NOVA), Raquel Henriques da Silva (IHA/FCSH-NOVA) 

29.10.2018 | por martalanca | simpósio, urbanização