Herbário da Barquinha (dados orgânicos)
A partir deste herbário, tento registar e evidenciar uma ligação mnemônica com as plantas. Metáfora de um modo de relacionamento com o mundo, em extinção? Ou, antes pelo contrário, ao qual voltaremos por opção (ou sem opção), num cenário pós-apocalíptico?
Em setembro e outubro de 2021, em residência artística em Vila Nova da Barquinha no Centro de Estudos de Arte Contemporânea (Ceac), constituí um herbário a partir de folhas de plantas ou árvores. Solicitei essas folhas na Associação Barquinha Saudosa (grupo de cantares), no Ceac e num dos quatro polos da Universidade Sénior do concelho, gerida pela Associação Essência da Partilha e dinamizada por voluntários. A cada pessoa destas três instituições, ali presente no momento, foi apresentado o projecto e entregue uma ficha para completar, onde se podia ler:
“Escolher uma ou várias folhas de plantas com, em complemento, se assim o desejar, um texto ou uma imagem ou desenho, algo mais que explique onde, quando e o porquê (uma memória, uma situação ou simples predileção) da escolha desta(s) folha(s) específica(s)”.
Pedia nessa mesma ficha os seguintes dados: nome, contacto, data e local da colheita e, ainda, autorização para publicar em modo anónimo ou não.
Desta forma, recolhi 30 generosas respostas distintas. Completei o herbário com outras colheitas minhas. Sequei as folhas numa prensa improvisada e organizei a informação. Apresentam-se aqui somente as folhas que me foram oferecidas numa selecção (entre as 22 fichas que concediam autorização inequívoca) que teve em conta umas vezes a história contada, outras, as qualidades da folha ou da minha montagem da página.
No lugar de observações científicas, neste herbário lêem-se testemunhos de relações com o mundo vegetal, empíricas, afectivas ou utilitárias. Registam-se testemunhos e desenha-se um retrato regional de (no mínimo) uma relação com as plantas, de uma geração. Porque não alargar este “herbário subjectivo” a outras regiões do país e mais além?
Agradecimentos:
Em primeiro e em especial a todos os “colectores” cujos testemunhos são preciosos; à Associação Barquinha Saudosa (Tina Forbes), ao Ceac (Carlos Vicente, Nelson e João), Universidade Sénior (Vânia Moura) e à Associação Essência da Partilha. Agradeço ainda ao João Pinharanda pelo convite a fazer a residência, à Chixa e à figueira em frente ao meu alojamento, à Raquel Pedro e ao Julius Brejon (apoio design).