Ver como um lobo

Ver como um lobo é uma investigação plástica em torno ao uso de partes do corpo dos lobos na medicina popular. Procurando formas contemporâneas de reprodução de material biológico, Ver como um lobo consiste na produção de uma série de objetos baseados em algumas destas partes de corpo do lobo (olhos, traqueias), uma instalação sonora produzida a partir de sons recolhidos nas serras onde estes animais se abrigam e uma composição construída em colaboração com Laura Marques e a Academia das Artes de Chaves. Será também uma publicação resumo do processo, com fotografias de Odair Monteiro, algumas que aqui partilhamos.

A oposição entre as comunidades serranas de Trás-os-Montes, Minho e Beira Interior e a população lupina deriva da partilha de recursos, os animais de pasto (sobretudo em pasto livre como é tradição em algumas serras). O lobo ocupa o lugar simbólico da escassez, para além de predar carneiros nas histórias infantis, ameaça tomar as almas dos últimos filhos de famílias numerosas, obrigando a ritualização de certas relações para uma contenção da miséria. Esta oposição deve-se a uma certa horizontalidade interespecífica entre ocupantes das serras, num panorama de escassez de recursos.

Esta relação histórica encontra-se num ponto de charneira, tanto pela alteração profunda na demografia e economia regional, permitindo aos lobos ganharem terreno sem grande oposição, como pela emergência da conservação enquanto programa estatal para estes territórios. Esta conjuntura levou a relação a verticalizar-se, a população de lobos é gerida a partir de instrumentos cibernéticos, modelos matemáticos e instrumentos de localização e contagem, a partir dos grandes centros urbanos. Entre as populações locais existe ainda uma inimizade vestigial, também ela em transformação por via do crescimento uma economia em torno do turismo de natureza, a partir do qual a presença do lobo se pode transformar em recurso. 

Ver como um lobo trata de procurar paralelos possíveis entre os corpos destas duas espécies, cruzando-os com uma visão territorial construída a partir dos instrumentos da investigação científica. Cresce a partir de uma procura subjacente por uma precariedade discursiva, pelas explicações incompletas, pelas contradições, alimentada por um entendimento da confusão como lugar vital, uma vitalidade para a qual importa abrir espaço.

 

Depois de ter passado por Montemor-o-Novo e pelo Porto, haverá mais três apresentações do projeto, duas ainda este ano, em Chaves e na Parede, e, em fevereiro de 2025, a última apresentação, em Montalegre. O projeto culmina com a publicação de uma edição, a ser lançada no início de 2025.


25 e 26 outubro 2024 - Academia das Artes de Chaves, Chaves

15 de novembro - Sociedade Musical União Paredense, Parede.

8 de fevereiro a 13 de abril 2025 - Ecomuseu do Barroso, Montalegre.

 

Instalação

Conceção e coordenação: Bruno Caracol 

Fotografia: Odair Monteiro

Composição de peça sonora: Laura Marques e Bruno Caracol

Sopros: Quinteto Transmontana Brass

Assobios, vozes, sons: Aurízia Dias, Carles Mas e Maria Carvalho

Comunicação: Marta Rema

Produção e gestão financeira: Ricardo Batista

Acompanhamento: Margarida Mendes

Parceiros: Academia das Artes de Chaves, Buala, Brass - Fundição Artística, Câmara Municipal de Montalegre, CIBIO, coffeepaste, Ecomuseu do Barroso, Oficinas do Convento, Redsky

Organização: efabula

Financiamento: DGArtes - República Portuguesa, Câmara Municipal de Montalegre

Publicação

Ensaio visual: Odair Monteiro

Fotografias de arquivo: Francisco Álvares

Imagens processo: Bruno Caracol 

Textos: Francisco Álvares, Godofredo Enes, Margarida Mendes

Design: Pedro Nora

Agradecimentos: Francisco Álvares, João Cardoso, Marcelo Almeida, Otelo Rodrigues, Luísa Queirós, Tânia Pereira, Aurízia Dias, Maria Carvalho

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