Poemas do livro “Fragmentos de um Crepúsculo Ferido”
O espaço são apenas fendas
A palavra cheira a enxofre
O movimento não passa de um bailado cruel
Espécie de pornografia metafísica
O nada infinito do pensamento
Expurga de minha pele qualquer sentimento
Para saciar minha sede de algo diverso
Meu inconsciente se faz dissidente
Quem era?
Quem é esse homem deitado?
Quem dorme naquele caixão?
Irmão noivo amante?
O apocalipse antecipa
O inferno consegue ganhar uma posição
O dia estava leve
A noite tem o peso do sangue injusto
O sol fica mais duro sobre nossas cabeças
Fiz um pacto de sangue com sua trajetória
A miséria reaviva minhas chagas morais
Minhas pálpebras destilam despeito
Os cacos de palavras obsoletas juncam o chão
As esgarçaduras do tempo ferem minha juventude
Mas minha recusa será o fermento que faz crescer a massa
E de repente o ar se esboroa
A sombra de seu cheiro vibra a meus pés
Minha terra é apenas uma ilha de areia perdida
E minha pele um alvo escuro
Um tecido rígido de lamentos
Quem imaginaria uma mãe capaz de algo diferente do amor
A víbora dissimulou seu veneno
Num gramado cheio de sol
Entrincheirada em sua vaidade
Ela dialoga com as próprias ilusões
Enquanto aguarda a absolvição
Diante da alvura de sua certeza
Diante do fulgor de sua felicidade serena
Chega-se a esquecer que o vento tem manchas de hemoglobina
Glasgow ou Edimburgo?
Não. Pretória.
O olho voyeur do outro
Que palpita em seu ódio
O olho vítreo que semeia o turbilhão
E faz das cinzas o meu patamar de existência
Nas escarpas do espírito de granito
Minha cidadela interior resiste.
A seus fantasmas,
Oponho a dor passiva
De meu sorriso vulnerável
Pois sei que o tempo se apressa
No cavo de suas órbitas
Prévia: poemas do livro “Fragmentos de um Crepúsculo Ferido”, de Célestin Monga 12.03.11
Traduzidos por Estela Abreu dos Santos, o livro será lançado em co-edição pela Editora Contraponto (Rio de Janeiro) e Editora Realejo (Santos-São Paulo) no dia 29 de Abril após a sessão de abertura do seminário, com a presença do autor e da tradutora.
Fonte: Terceira Metade