Três Poemas
A cátedra é dor
Tempo! Em que Monstro
Retalhas a chicote o meu corpo e os sonhos?
Para que diabólica risada
Arrastas o meu riso outrora deslumbrado pela vida?
Fito a infância nos olhos –
E logo viro a cara horrorizado.
Volto as páginas todas aos meus dias
Acho-as quebradiças, amareladas, negras.
E onde a paixão escreveu apaixonadamente
Nada! Só um corpo esmagado de barata.
Notas para Hamlet
Agora ou nunca está aí outra vez. Será preciso eu
Encarar a outra face da lua?
O momento exige decisão. Toda a minha
História é avessa a isso – Deixem-me estar!
Assim, de novo adio e tremo. Talvez
O impaciente problema desanime face às minhas
Exímias vacilações.
Um farrapo de identidade
Quando é que esta lua se descasca dos meus poemas?!
Esta zona de penumbra que vai da escola inglesa
À minha voz de barata?
A formiga empoleirada no grão de areia
Pouco se apercebe do meu titânico dilema de artista
E só tem olhos para o pé que ergo.
A abelha na sua errância doce peganhenta, se me avista
Dispara uma tangente zumbindo o seu escárnio.
A madrugadora andorinha, no seu voo seco,
Mal dispensa um olhar instantâneo às minhas penas.
O varredor dá de ombros, atira o fardo concreto
Para o camião dos salários e dos preços em alta;
O aprendiz da fábrica fecha o macacão
E aguarda o Chamamento – sirene da fábrica;
O carteiro pedala a sua ronda; o soldado
Beija a namorada e corre a cumprir ordens.
Todos parecem conhecer seus eus
Mas eu como um louco insisto em decifrar
As marcas num farrapo de papel em branco
As marcas que vão ser o poema atrás deste poema.