Culturas de discoteca alemã e africana: corrente de energia punky
A música liga: esta é uma das mais antigas sabedorias. Há já muito tempo que também os ritmos africanos marcam posição nas discotecas da Europa. Com o projeto Ten Cities, dezenas de DJs, músicos e produtores querem agora aproximar ainda mais as culturas de discoteca de ambos os continentes.
Baixos tonitruantes e canto duro falado escapam-se do improvisado estúdio de som: Lá dentro, MC Sacer.(dot) está a rappar sobre as injustiças sociais no seu musseque Sambizanga, Andi Teichmann de Berlim, Marco Messina e Lucio Aquilina de Nápoles contribuem com os efeitos eletrónicos. O motorista estendeu para si próprio um colchão de espuma por trás da consola de mistura, porque por estes tempos as noites tornam-se longas no Goethe-Institut de Angola.
Ten Cities é o nome do projeto que nos dois próximos anos irá aproximar as culturas da club music de África e da Europa. Dezenas de DJs, produtores e músicos de Berlim, Bristol, Joanesburgo, Cairo, Kiev, Lagos, Lisboa, Luanda, Nairobi e Nápoles irão produzir em conjunto nova música eletrónica para dançar, tentando assim agitar a cena das discotecas nas respetivas cidades. O programa começa por Angola. O seu kuduro, essa mistura dinâmica de kazukuta e afro house, hip hop, rap e techno desenvolveu-se há 20 anos nos bairros pobres de Luanda.
Primeiro era um estilo de dança, mas com o tempo o ritmo irresistível do kuduro veio a influenciar os DJs de toda a Europa e dos EUA. Eles sempre se voltaram para África em busca de renovação, explica Andi Teichmann. “Pessoalmente, o que me fascina no Kuduro é que ele transporta uma energia áspera, quase punky”, explica o produtor e DJ. “É uma música muito rítmica, muito rápida. Porque quase não entram harmonias, tem um poder incrível.”
Visita a MC Sacer.(dot) na sua pequena casa em Sambizanga, casa que partilha com a mãe, quatro irmãs, dois irmãos e muitas crianças. No primeiro andar, trepando por uma estreita escada de ferro, situa-se o seu estúdio de som e refúgio, com vista para os telhados de zinco ondulado de Sambizanga. O local de trabalho do kudurista inclui um computador portátil, boxes e um microfone. É aqui que se reúnem, ouvem as faixas dos colegas e discutem a continuação do trabalho no projeto.
Viajar é uma questão existencial
Respeito e simpatia recíprocos. Não é só o entendimento musical que funciona neste arranque de Ten Cities. É nestes termos que também Marco Messina faz um primeiro balanço quase incondicionalmente positivo: “Para mim, é uma experiência fabulosa trabalhar com os músicos angolanos”, conta o napolitano. “Viajar e viver o intercâmbio cultural é importante para toda a gente, mas para os artistas é uma questão existencial.”
No contributo de Angola para Ten Cities, os músicos lançam mão dos ritmos tradicionais. Os sons produzidos em conjunto são enriquecidos por um grupo de tambores de semba, que também atua no concerto de abertura no Teatro Elinga, na Baixa de Luanda.
Tocadores de tambor e dançarinas tradicionais, MC Sacer.(dot) ao microfone, Andi, Marco e Lucio nas consolas de mistura, em conjunto com os DJs de kuduro e afro house, Satelite e Djeff de Luanda: esta fusão de África e Europa, que aqui se inicia, fica a bombar até às primeiras horas da manhã.
Em Janeiro, a operação continua em Lagos. Seguir-se-ão Joanesburgo, Cairo e Nairobi. A concluir o projeto, as novas faixas que dele resultaram estarão disponíveis em CD, pela primeira vez um livro irá contar a história da club music nas dez cidades e todos se voltarão a encontrar em Berlim para o concerto final conjunto de Ten Cities.