Danço-Congo na IX Bienal de São Tomé e Princípe
No segundo dia da IX Bienal de São Tomé e Princípe assistimos ao Danço Congo, realizado na praça central da vila de São João dos Angolares. Como explica Magdalena Bialoborska no Mapa Cultural de São Tomé e Princípe, a dança dramática representada em São Tomé e Príncipe tem uma origem e surgimento desconhecidos – “é provável que, ao contrário de várias outras manifestações culturais santomenses, não tenha sido trazida de fora ou visivelmente influenciada pelas outras culturas, mas sim, criada pelos ilhéus.” Com o seu caráter original e “foco nos movimentos e falas, nas piadas de bobos, no ritmo dos tambores”, no Danço Congo “a história como um todo, assim contada pelas pessoas mais idosas, diluiu-se e deixou de ter importância.” Todos os participantes vestem-se a rigor, com destaque para os “capacetes feitos de banças de palmeira decoradas com coloridos pedacinhos de plástico.”
Situada no distrito de Caué, São João dos Angolares é conhecida pela sua história de resistência no país – em 1595, lideradas pelo Rei Amador, várias pessoas escravizadas protagonizaram “uma das maiores revoltas de escravos de toda a história atlântica” (Seibert, 2011).
Até aos dias de hoje, Amador é um símbolo nacional. Escreveu o santomense Fernando Macedo um poema em sua honra:
Corria Amador em Branca Montada
Falava em teu olhar
o invento desejado,
mãos negras asseguravam
um querer bem sublinhado.
Veio assim tua voz
das bandas do mar
neste todo imaginário
que era teu cantar.
«Corria Amador
em branca montada
cobras pretas fugindo
a seu louco galopar.
«Dos picos desciam negros
sem temor da alforria,
dos engenhos vinham escravos
em hora de liberdade,
dos mares chegavam dongos
acudindo a chamamento,
das casas alevantadas
saltavam filhos e mães
heroicamente gritando:
- nosso Rei da Praia Grande
à cidade vai chegar!
«Seguia Amador
por óbó, montes e vales,
em seu forte tropejar,
por todo o lado era gente
num alegre festejar.
«Quem diz que nosso Rei
foi achado
em lora de pau-sangue
quem diz que foi traído
e num lenho pendurado,
é cego, surdo,
de língua podre na boca,
Déscio, por não saber
como Amador era amado!
«Lutando em sua montada
em combate pereceu,
e o povo, que o aclamava,
não ficou escravo, venceu»!
Fotografias autoria do autor