TEM GRAÇA – Festival Internacional de Mulheres Palhaças | Entrevista a Susana Cecílio
A propósito da segunda edição do TEM GRAÇA – Festival Internacional de Mulheres Palhaças, que vai decorrer de março a julho de 2022 em diversos pontos das regiões do Alentejo e de Lisboa, conversámos com Susana Cecílio, diretora da Algures – Colectivo de Criação e programadora deste festival.
Começando pelo princípio, o que é a Algures? Qual é a razão da sua existência e qual é a sua missão?
A Algures é uma associação cultural há muito vocacionada para a criação dos espetáculos, programação cultural dentro da arte do clown e também da narração oral. O nosso objetivo é articular estes dois pontos, estas duas linhas de atuação com a formação de públicos. O tipo de programação que fazemos também é adequada a cada cidade e é muito dialogada com as cidades e com os seus serviços culturais para conseguirmos fazer este caminho até ao público.
E o histórico? Em termos históricos, como é que surgiu? Como é que chegou aos dias hoje?
Inicialmente a Algures era um colectivo de vários artistas, de várias áreas: cantores, artistas plásticos, atores, palhaços, palhaças… E ao longo do tempo, foi-se afunilando. Essas pessoas continuam a colaborar regularmente com os projetos de criação da Algures, mas foi-se afunilando para um trabalho de criação focado no trabalho de comicidade. (É importante fazer aqui uma ressalva que não é a comicidade da “tarte de natas na cara”, é outra lógica). E do teatro, que nós apelidamos de teatro narrativo. Não é um teatro que se baseia no trabalho de personagem, de criação de personagens. Os espetáculos que fazemos são dialogantes com a narração oral, apesar de serem espetáculos de teatro, e nesse sentido, temos convidado vários dramaturgos e dramaturgas para escreverem os textos.
E aí é que todos os intervenientes da Algures colaboram. Colaboram no apoio vocal, colaboram na parte da cenografia, enfim. E desde há três anos começámos a sonhar com este festival de mulheres palhaças, onde nos interessava explorar o espaço feminino dentro da comédia, inicialmente numa colaboração com a Câmara Municipal de Évora.
O clown faz parte do nosso ADN. Todas temos formação como palhaças, somos todas palhaças. Mas somos palhaças por loucura, investigamos uma comicidade a partir da nossa própria biografia, da exposição ridícula e escancarada dos problemas que todos imaginamos nas nossas cabeças e a comicidade parte daí.
Depois, claro, este trabalho de programação de contos desenvolve-se aqui, no espaço onde estamos instaladas, onde é a nossa sede, no Lumiar. É um trabalho de proximidade, muito mais ligado à comunidade. É um trabalho de utilização de espaços não tão evidentes para apresentações performáticas, como um jardim, um lavadouro, lugares que são património da freguesia. Chamamos os públicos, os vizinhos, as associações, para participarem e para serem público. A narração oral tem esta proximidade, porque é um trabalho sem quarta parede, de olhos nos olhos, de tentar que o público seja testemunha daquilo que está a acontecer, um aqui e agora.
E há outra característica na associação: é só de mulheres…
Sim, sim, é uma associação só de mulheres. Em determinado momento da minha vida pessoal, com a maternidade, apercebi-me que uma série de colegas actrizes, palhaças, cantoras, etc., têm uma mudança no seu foco de trabalho a partir do momento em que são mães. E isso levou-me a pensar que, de facto, há aqui um ajustamento das formas de produção que não são equilibradas com um mundo ainda dominado por homens, patriarcal, também capitalista, claro. Fazemos este esforço (que não é um esforço, é um prazer na verdade), mas requer alguns ajustamentos de horários. Por exemplo, quando estamos a ensaiar, temos que ter em conta os horários de ir buscar os filhos à escola. E isso são pequenos detalhes que também referimos: são estes tais micro- machismos que quase não notamos porque é assim. É a naturalização desta violência subtil que nos faz tentar encontrar uma forma para ser possível continuar a fazer trabalhos dedicados, com profundidade, com tempo e ao longo do tempo.
Por exemplo, o próximo espectáculo da Algures, começamos a trabalhá-lo em Novembro do ano passado, justamente para contrariar esta relação vertiginosa com o tempo e de, ao mesmo tempo, comunicar com um tempo que nos parece um bocadinho mais feminino, mais cíclico, mais do cuidado.
E sim, somos só mulheres. Não temos nada contra os homens. Atenção, é muito importante dizer. Nós gostamos e queremos ter homens a trabalhar connosco, sendo que, de facto, uma das coisas que temos como objetivo é encontrar soluções para que seja possível trabalharmos com outra lógica que não seja a da produtividade.
Tu és a directora da Algures. Quem és tu Susana? Qual é o teu percurso profissional? Sabemos que és mãe, conta-nos.
É uma pergunta difícil. Costumo fazer essa pergunta no Dou a minha palavra, o nosso podcast e ela é muito desconcertante.
Eu ainda acho que sou uma artista de variedades, sabes? Artista de variedades, ou seja, interessa- me este lugar que comunica com vários mundos. Que comunica com o clown. Poder ser um clown que conta uma história, uma história contada da forma mais tradicional pode ir buscar recursos ao clown… Esta mistura de ir buscar a vários campos é, também, a origem da Algures. Ir buscar às várias valências das pessoas que a compõem, um objeto artístico que é plural. Acho que ainda não chegamos lá, é um caminho, mas…
Queremos que as pessoas se perguntem: Eh pá! Mas isto é a narração? Eh pá! Não. Mas é teatro narrativo? Não, não, isto é clown! Qual é este lugar? É o lugar de uma certa indefinição que acho que também é um reflexo da complexidade humana, que é a complexidade do mundo em que vivemos. Nesse sentido, acho que às vezes sou assim uma artista de variedades. O termo é muito ligado ao teatro popular e tem uma carga negativa na alta cultura. Mas, para mim, sustenta uma coisa que é fundamental nos nossos trabalhos: a relação com o público. E isso é fundamental em qualquer tipo de espectáculo que nós façamos, essa relação é o primordial. O teatro popular, o teatro de máscaras, o clown, que é a menor máscara do mundo, as marionetas, a Commedia dell’Arte, toda esta tradição europeia e mundial de um teatro que é mais próximo das pessoas e que joga com isto.
O público é um jogador, é uma testemunha, como já disse, é uma pessoa que está a criar aquilo no aqui, agora, connosco. E, por isso, digo a brincar que sou uma artista de variedades, mas é uma provocação para este lugar da alta cultura por oposição à baixa cultura – se é que isso existe – que temos e com o qual nós, artistas de estruturas pequeninas, temos que lidar diariamente com isso.
Agora vamos falar do TEM GRAÇA – Festival Internacional de Mulheres Palhaças. Susana, conta-nos a sua história e como surgiu esta ideia.
Acho que em 1999, eu estava a estudar teatro pela primeira vez e surgiu a oportunidade de fazer um curso de clown, com um espanhol, Pepe Nuñez que foi arrebatador. Foi arrebatador, mas eu na altura tinha vinte anos, por aí, e disse: “Não, eu preciso de viver, de ganhar experiência!”, porque uma das referências para nós, dentro desta linguagem muito específica que perseguimos, é uma canadiana, a Sue Morrison. Ela diz que o palhaço ou a palhaça é ‘a inocência com experiência’. O Pepe também era desta linha de clown. Então eu decidi: “Não. Daqui a dez anos volto ao clown!” E isso, estava mais ou menos, num plano inconsciente.
Até que depois de um processo de dar aulas de Corpo e Movimento a alunos de teatro durante muito tempo — porque a minha formação de base é em Psicomotricidade –, fiz o Curso de Estudos do Teatro, na Faculdade de Letras e fiz uma tese sobre Dramaturgia do Corpo. Esse era o meu caminho, a minha linha de pesquisa: o que é o corpo em cena, independentemente da linguagem. Depois de durante muitos anos ter trabalhado a dar aulas, decidi parar e voltar a fazer uma imersão no estudo do clown. Fui para Ibiza onde na altura havia a escola (que agora está em Menorca), do Eric de Bont (agora está em Menorca) que é uma escola que propõe uma abordagem teatral do clown, um clown absurdo, ridículo, poético e que conta histórias.
Encontrei ali um filão. Uma coisa em que eu me reconhecia mesmo como linha estética. Fiz esse curso de 3 meses. É muito intenso. Todas as semanas tínhamos que apresentar cenas. A escola é muito estruturada na linha, na metodologia. Depois disso fizemos um espetáculo de fim de curso. Por acaso, estava a partilhar isso hoje com as companheiras, a minha mãe tem essa bitola. “Adorei o teu espetáculo, mas Ibiza foi outra coisa!” A bitola é sempre Ibiza, porque de facto foi um trabalho muito potente. Nesse ano, eu com um dos companheiros, com quem fiz o espectáculo final de curso, começámos a explorar e a trabalhar num espectáculo. Fizemos o Ilusa Ilusión. Ele era espanhol e vivia em Espanha. Prático, era super prático, [rsrsrs] mas acho que nós estávamos tão imbuídos nessa ilusão de que poderíamos criar daquela forma. Então foi muito bonito. Fizemos um espetáculo incrível mas, claro, não era muito prático.
No ano seguinte, decidi fazer um solo. Demorou um ano a fazer. Um solo de clown, normalmente é como uma tese de mestrado, demora nunca menos de seis meses, nunca mais de um ano e meio. É igual. E fiz o Com Amor, Papel, Manteiga e Marcador. Estreou em 2014, numa primeira versão, em 2015, uma segunda versão e no ano passado fiz uma terceira versão.
Claro que quem vê não entende exatamente quais são as versões, mas para mim, realmente faz muita diferença. Ao mesmo tempo continuo a contar histórias e a programar serões de narração oral para adultos e para crianças também, mas é importante pensarmos que a narração oral é um trabalho vocacionado para adultos.
E há três anos, portanto, em 2019, vinda desta ilusão de ter estado no Festival Bolina, que é um festival de mulheres palhaças que começou nos Açores com a Maria Simões, e olhando para o panorama europeu percebi que realmente não havia nenhuma resposta, não havia nenhum lugar no qual as mulheres palhaças portuguesas se pudessem alimentar e retroalimentar, ou seja, estar num festival onde conhecessem outras palhaças dentro desta lógica de uma dramaturgia própria, de um trabalho mais poético, absurdo e exclusivo para mulheres.
Isto começou em 2019. Em 2020 tivemos a pandemia e em 2021, apesar de antes fazermos coisas online, foi o ano em que realmente começamos a fazer coisas presenciais em várias cidades, e isso é uma das características do TEM GRAÇA, e da Algures, é pensar na descentralização, numa oferta cultural que é descentralizada e, por isso, temos vários parceiros, principalmente no Alentejo.
E mesmo aqui em Lisboa, nós estamos no limite da cidade, ou seja, somos um bocadinho os outsiders da cidade, onde há pouca oferta, pouca resposta cultural.
O Festival TEM GRAÇA decorre de março (pré-festival), tendo os primeiros espectáculos públicos em maio e prolonga-se até setembro de 2022, em diversos pontos do país, com espetáculos internacionais e nacionais, formações no território, uma bolsa de investigação, tertúlias e conversas após espectáculos entre as artistas, artistas locais e público. Fala-nos das linhas mestras da programação do festival?
Posso fazer aqui um histórico também. No primeiro ano, o festival estava pensado para fazer uma mostra. Para apresentar todos os estilos de clown que existem; clown social, que é aquele trabalho mais ligado à população sénior e aos hospitais; clown que trabalha no teatro e onde existe uma preocupação com a dramaturgia; clown de rua, que trabalha com uma lógica histriónica. Esta era a nossa ideia para abrir, mostrar tudo o que há.
No segundo ano, tentando incluir também um bocadinho desta ideia, focámo-nos mais no teatro e na rua. Por questões óbvias (covid) e também porque tínhamos uma parceria com um outro festival, o Bolina, que acontece em Castelo de Vide – e continuamos a ter uma relação com elas que incide no trabalho de carácter social –, então em conjunto achámos, que seria mais potente em termos de Palhaças 2020 Portugal ter estas duas ofertas muito diferentes.
E foi isso. Este ano estamos mais preocupadas com o trabalho intergeracional. Nesse sentido, as palhaças que convidámos são palhaças que foram pioneiras. Começaram o seu trabalho e a sua carreira a furar este mundo da comicidade muito dominado por homens há 30 anos. E, ao mesmo tempo, abrir espaço para pessoas que estão a começar agora e com as quais possa haver essa comunicação, por exemplo, através das formações. Vamos ter duas formações, com grandes mestras da palhaçaria mundial, para profissionais, uma em Lisboa com Elisa Rossin (Máscaras Silenciosas) e outra em Castelo de Vide com Gardi Hutter (Teatro Físico – Teatro Clown).
E outras vezes através do espaço. Outras vezes, mesmo através do espaço para a pessoa apresentar os seus espectáculos na programação.
Mas ainda há uma terceira coisa que é o pôr as pessoas a conversar e descobrir pontes de encontro. A encontrar discórdias que são fundamentais para crescermos sobre o pensamento do que é isto. Isto por um lado, depois nós temos outra preocupação que tem a ver com isto da alta cultura e da baixa cultura, que é incluir parceiros académicos nesta programação. Assim, temos uma parceria com o Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras, que acontece desde o ano passado e que está a ser incrível. Eles fazem o acompanhamento de uma bolseira, uma investigadora, ou um investigador que acompanha a programação toda do festival e que vai escrever um artigo. As candidaturas para a bolsa abriram a 8 de março e fecharam a 26. Recebemos 32 candidaturas! Pessoas muito qualificadas, e cheias de vontade de pensar e escrever sobre a comicidade feminina em Portugal. Mulheres, pessoas queers, homens, seres humanos extraordinários que gastaram o seu tempo para dizer o que lhes interessa num festival como o TEM GRAÇA e como este festival pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico-artístico em Portugal. Isso é muito importante para nós, organizadoras. Oferece-nos caminho e aponta direcções. A cada ano percebemos o quanto esta acção é importante para quem trabalha com a linguagem clown e já estamos a pensar formas de fazê-la crescer e ganhar mais espaço no TEM GRAÇA.
A história conta que coube aos homens o papel de palhaço. Durante séculos eles representaram as personagens femininas, o palco estava proibido às mulheres. Os anos passaram e as mulheres chegaram ao palco. Contudo, o caminho ainda vai a meio. Particularmente em Portugal. Neste contexto, qual é a importância de um festival como o TEM GRAÇA – Festival Internacional de Mulheres Palhaças?
Temos aqui duas coisas muito importantes que são: o lugar é aquilo que os nossos compatriotas brasileiros dizem, conceptualizaram que o palco é um lugar de fala. O palco é um lugar de poder. E nós temos que dar este palco às mulheres, mas também temos que dar este palco àquilo que nós já estamos a elaborar para o próximo ano, a corpos que são corpos dissidentes, que são corpos que não têm espaço, que não têm lugar de fala. E isso, ter este espaço faz também com que a produção, o borbulhar artístico entre estas pessoas que conversam entre si, que fazem formações juntas, que convidam artistas de vários países e de Portugal para se formarem, vai fazer também com que este movimento se fortaleça.
Não é à toa que desde Dezembro de 2019, criámos um coletivo informal que se chama União de Palhaças em Portugal, que conta com cinquenta e tal palhaças. Um número que não suspeitávamos que haveria. E, de repente, isto tudo faz com que as pessoas tenham motivos para criar, porque há um espaço. E pronto, isto é um dos objetivos: criar cada vez mais espetáculos, mais profundos e mais instigantes.
Em Portugal, a luta pelo sufrágio feminino durou mais de 70 anos, iniciada na I República, a lei que proclama a igualdade de direitos entre homens e mulheres é de 1968. Conta-nos a história da afirmação das mulheres palhaças no nosso país.
Então, nós temos realmente esta história e queremos muito referir no nosso projeto que 68 foi ontem. Amigas, foi ontem! Também gostava de referir que nós nos debatemos com algumas dificuldades de compreensão de qual é a necessidade do festival. Em alguns meios, com algumas pessoas específicas, não há esta leitura imediata. Não há. Então quisemos referir isto: 68 foi ontem! E há muito caminho para fazer. Este é o nosso contributo que é mínimo.
Há tanto para fazer. Nós temos as mulheres palhaças em Portugal, ligadas à tradição do circo. Como a Tété ou a Aida Cardinali, entre outras, que durante as suas carreiras tiveram este este diálogo que eu acho muito interessante.
Anteriormente, quem fazia era um homem, um palhaço que fazia de palhaça, entretanto, há uma mulher que faz o que o homem fazia, mas ela é uma mulher a fazer de palhaço.
Ainda estamos a evoluir, estamos mesmo a criar discurso sobre quem somos.
Depois há a Tété que, além de ter feito um trabalho no circo, gere o Chapitô que tem um trabalho incrível com os jovens. Temos a companhia do Chapitô, que apesar de não ter esta preocupação com a participação das mulheres, acho eu, apresenta uma abordagem cómica.
Temos o primeiro Ciclo de Mulheres Palhaças no Chapitô em Maio que já vai na 15a edição.
Este festival também é sobre a história. Traz mulheres de outras gerações para percebermos estas pontes. Em 68 as mulheres começaram a votar. Eh pá! Se calhar temos que trazer mulheres que em 68 (ou que nasceram em 68) estão a começar a dar os primeiros passos, para percebermos este movimento. Porque de facto, não muda assim tanto. Eu acho que fica mais escondido, é mais subtil, mas nós temos este caminho ainda para fazer e por isso queremos aprender com essas palhaças que já têm trinta anos de experiência.
Em traços largos, qual é a programação e onde é que decorre o festival este ano de 2022?
Fazer um festival de mulheres palhaças numa semana ia ser fácil. Então decidimos: não, vamos fazer durante seis meses. É esta loucura que nos alimenta. Tem a ver com a ideia da descentralização, de oferecer a outros lugares trabalhos em que nós acreditamos que fazemos bem. Por isso nós temos cidades parceiras. Vamos ter a atividades em Setúbal, em Castelo de Vide numa parceria com o festival Bolina, em Lisboa, em Évora e em Mértola onde vamos participar no festival Arte Non Stop.
Para que públicos é o TEM GRAÇA?
Temos espetáculos para públicos muito diferentes e isso tem a ver com a nossa forma de trabalhar. Por exemplo, temos uma parceria com Setúbal e nessa parceria percebemos que eles estão a trabalhar neste momento com o público infanto-juvenil, um público familiar. Portanto, nós adequamos a nossa proposta àquilo que os municípios estão a trabalhar em termos de formação de públicos. Em Setúbal vamos ter um espetáculo da Jay Toor. Vão ser duas apresentações, no sábado à tarde na Praça de Bocage, justamente para viver o património material e um património imaterial que é trabalhar assim com a performance.
Expressa um desejo para as Artes Performativas? Em particular relativamente às artes que te dizem respeito.
Tenho muitos desejos, posso expressar já assim dois, de repente. Só um? Oh bolas!
Acho que talvez este lugar que as artes e que nós conseguíssemos encontrar uma forma de fazer na qual não nos levássemos tanto a sério… Para desenvolvermos a capacidade de rirmos de nós próprios, de nos relativizarmos. Nós não somos assim tão importantes. E isso dá uma grande liberdade criativa. É tipo objetivo que está lá ao fundo. É um caminho.
Se tivesses que escolher uma música para ilustrar este festival, qual escolherias? Porquê?
Olha escolheria duas. Podem ser duas? Escolheria A Garota Não, que é uma cantautora portuguesa que tem um trabalho de que gosto muito, e a música seria Que Mulher é Essa?
Onde elas nos conta que: a preta não entra, a baixa não entra, a gorda, só entra se for para fazer piadas. O clown é a reflexão desse lugar em que nós não cabemos porque ou somos altas demais, baixas demais, gordas. É disso, dessa humanidade, dessa vulnerabilidade exposta em cena, que estamos a falar.
E depois escolheria a canção Presta Atenção de uma artista brasileira que se chama Julia Branco. Ela faz uma música muito agradável de se ouvir e depois, quando vais ouvir a letra reparas que está a falar de micro-machismos, mens planning, de agressão a mulheres, boicotes vários… De tudo aquilo que temos que combater no dia a dia. É uma reivindicação do espaço quotidiano da mulher, onde a mulher pode ser. Acho que seriam essas duas.