África diversidade comum
Exposição coletiva apresentada no âmbito do programa paralelo da Arco Lisboa 2019 no espaço NOT A MUSEUM – Palais Castilho.
Estabelecer um diálogo entre artistas de um mesmo espaço cultural e geográfico, representa em si um desafio, daí que nos propusemos a um duplo desafio alicerçado em um espaço maioritariamente de povos bantu onde também se fala o português como língua oficial com todas as “contaminações” históricas subjacentes aos movimentos migratórios, dinâmicas sociais, políticas, económicas e culturais. A estas se juntam as transformações e construções da tradição que desembocam na existência de um pensamento contemporâneo africano, expresso e produzido nas suas diversas e múltiplas dimensões linguísticas. Mas que no mundo se efectivam em línguas ocidentais, mas em ruptura clara com a ideia hierárquica de cultura superior versus inferior, que é ainda a presente e “dominante” percepção do mundo ocidental face ao “outro” igual e diferente quando no uso de técnicas, métodos, teorias, praxis e ciências universais, mas maioritariamente apropriadas numa perspectiva ocidental, ocidentalizante e ocidentalizada.
A arte contemporânea produzida por artistas destes países, como é esperado, representa uma emanação das mudanças extraordinárias e únicas que o continente africano vive. Fruto das alterações demográficas que o tornam no espaço mais jovem do planeta, a que se junta uma revolução meteórica facilitada pelas TIC’s, que representam um elo entre os que permanecem no continente e as suas diásporas. Ao que podemos e devemos somar o aumento da escolarização e formação com qualidade obtida interna e externamente que garante a existência de novas elites, que buscam rupturas com a subalternidade que as lideranças e velhas elites insistem em manter com o mundo ocidental, os impérios chinês, russo e dos gigantes árabes do médio oriente.
Obviamente a arte contemporânea africana tem sido um veículo privilegiado para convocar velhas utopias, viajar pela história, analisar contextos, reavivar sonhos, criar esperança, educar para o futuro, convocando para o debate a maioria dos cidadãos destes espaços nacionais que são os jovens. Construindo pontes nas quais a equidade e a dignidade dos seres humanos, não se cinja a um valor “supremo” e desvalorize todo o conjunto de valores que nos permitam vermos no Outro, nós mesmos.
Esse diálogo entre todos tem obviamente um passado e um conjunto de artistas que lançaram as suas bases e continuam a influenciar directa e indirectamente as formas de produção desta arte e o pensamento subjacente a ela que, sem uma citação explícita, só é possível de ser feita por estudiosos ou conhecedores deste passado. A diversidade comum nele existente, é uma homenagem a estes Mestres (Malangatana Valente Nengwenya, Victor Teixeira VITEIX, Eleutério Sanches, Kiki Lima, Paulo Kapela, etc.). E tudo acontece com NOT A MUSEUM Project – Palais Castilho, iniciativa cultural privada de utilidade pública que, no quadro da quarta edição da ARCO LISBOA (África Em Foco), tomou a responsabilidade de realizar uma Exposição Colectiva que homenageia o continente: “ÁFRICA DIVERSIDADE COMUM (Artistas de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe)”, com base num conjunto de obras de arte provenientes do espólio de Artistas, Coleccionadores e Galerias de Arte.
Assim, celebrar o continente-mãe por via de uma exposição de arte contemporânea de artistas desta África onde também se fala português, tem como fundamento e razão a localização dos que estão sediados em Lisboa. A diversidade dos autores em termos de género, geografia, idade e geração encontra um elo comum na diferença de estilos, materiais e técnicas. O objectivo é revelar dimensões mais abrangentes que ultrapassam a vertente puramente estética e cromática das obras, o que pressupõe uma dimensão ética e filosófica do pensamento contemporâneo africano que é marcadamente não alinhado, rico de poesia silenciosa, que constitui a maior dádiva do seu discurso. Com a conjugação de trabalho, talento e qualidade sustentado na produção de pensamento próprio e emancipado, esses autores angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e são-tomenses mostram como celebram todos os dias esta coisa verdadeira que todos nós temos em comum que é a diversidade.
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NOT A MUSEUM é um projeto/espaço cultural independente que, no contexto do programa paralelo da ArCo Lisboa 2019, apresenta duas exposições: “ÁFRICA DIVERSIDADE COMUM” - Exposição coletiva, com curadoria de Manuel Dias dos Santos, com obras de artistas de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe; e “FRONTEIRAS INVISÍVEIS” - Exposição individual de Francisco Vidal, com curadoria NAM. Com inauguração prevista para o dia 16 de maio, estas duas mostras de artes visuais convidam a uma incursão por uma seleção de obras de artistas de África e da sua Diáspora, que falam português. As exposições podem ser visitadas até 25 de maio, das 14h00 às 18h30.