La Patria no se Vende

24/01 Paro geral Argentina 


Pela primeira vez na história da Argentina deu-se uma greve geral no primeiro mês de um governo novo. Na manhã de 24 de janeiro, Javier Milei foi confrontado com mobilizações de milhares de pessoas por todo o país, exigindo o fim da Lei Omnibus1 e do pacote de Decreto Nacional de Urgência (DNU)2 que anda a propor em massa desde o início do seu mandato. As ruas centrais de Buenos Aires encheram-se de forma organizada através de blocos de diferentes sindicatos e de grupos laborais.

Da Praça de Maio ao Congresso são dez quarteirões, e era impossível andar, de tal modo as pessoas estavam concentradas, encavalitadas, gritando e empunhando cartazes contra o novo presidente. Ainda assim, a marcha foi pacífica e desmobilizou rapidamente a partir das 15h, como combinado previamente entre os sindicatos. As pessoas tinham de voltar às suas casas antes das 19h porque, a partir dessa hora, os transportes públicos paravam.  

A ministra da segurança assegurara de antemão que ia atuar com força perante confrontos. Por toda a cidade, as frentes policias estavam organizadas. Percebi depois que as linhas policias se formaram em pontes com peso histórico (desde o tempo do Péron), não deixando entrar grupos de manifestantes que vinham dos subúrbios e bairros periféricos para a manifestação no centro, considerados os mais desestabilizadores em manifestações. 

Os representantes governamentais afirmaram publicamente que a mobilização de Buenos Aires contou com 40 mil manifestantes, jornais dominantes pegaram no número e reproduziram-no. As mentiras absurdas deste governo só aumentam a necessidade dos argentinos irem para a rua e perderem a tranquilidade. Qualquer pessoa que esteve presente na marcha da manhã de 24/01 sabe que eles estão a tirar um 0 ao número real de manifestantes. Buenos Aires é uma cidade muito grande e, da minha perspetiva estrangeira, percebi a força da população unida. Milei de certeza que também a percebeu. 

  • 1. O projeto da Lei “Ómnibus” é um pacote que abarca temas múltiplos e muito diversos, desde privatização de empresas estatais a temas de política de segurança a uma centralização do poder nas mãos de Milei.
  • 2. Com o Decreto Nacional de Urgência (DNU), que tem 366 artigos, o governo faz uma ampla desregulamentação e retirada do Estado da economia, eliminando, por exemplo, leis sobre controle de preços e que regulam os aluguéis. Várias dessas leis formam um entulho regulatório acumulado no país ao longo de décadas e que inibe a atividade econômica. É o caso, por exemplo, da necessidade de registro prévio de operações de exportação e importação. Mas entrou um pouco de tudo. Um dos artigos do decreto revoga a obrigatoriedade de empacotar a erva-mate na região produtora de origem.

por Francisca Duarte
Vou lá visitar | 1 Fevereiro 2024 | Argentina, greve, Javier Milei, Lei Omnibus, manifestação