Yon Gato artístico - intervenção de arte pública em S.Tomé

A praça Yon Gato, na cidade de S.Tomé, situada em frente ao gabinete do primeiro-ministro, transformou-se, nestes dias da 6.ª Bienal Internacional de Arte e Cultura, ao acolher a exposição URB.STP, num palco para as artes plásticas. O evento está na rua, próximo dos cidadãos comuns, e procura interagir com as centenas de pessoas que cruzam diariamente o local nos seus afazeres.

As instalações com os painéis de alguns artistas evidenciam estilos distintos nas formas e cores. E com mensagens e abordagens diferentes. Porém, há um denominador comum: todos manifestam preocupações com problemas ou desafios do nosso tempo, tanto no plano interno, como no global.

Senao vejamos, a temática relacionada com o desenvolvimento sustentado de que muito se fala, é retratada na fruta-pão de Estanislau Neto e nos lagartos e borboletas de Eduardo Malé, dois artistas saotomenses que já tem tradição de trabalhar com materiais locais.                         

Neste momento, mais de 7 mil milhões de pessoas habitam o nosso planeta e um dos questionamentos é garantir a segurança alimentar sem pôr em causa o equilíbrio ambiental. A fruta-pão é importante na dieta alimentar dos são-tomenses e as suas possibilidades na gastronomia ainda não estão a ser completamente aproveitadas. Pode-se consumir assada ou cozida. Serve para engrossar outros pratos. Pode ser transformada em farinha e é possível enriquecer a doçaria são-tomense com o pudim de fruta-pão. Alguns entendidos garantem que o chá das folhas da fruteira ajuda no controlo da tensão arterial e da diabete.

Toneladas de fruta-pão perdem se no mato e gasta-se muito dinheiro com a importação de farinha de trigo que o país não produz para fabricar-se pão. Ou não seria o pão sinónimo de alimentação básica.

O artista René Tavares, por sua vez, com o retrato que faz lembrar o famoso beijo trocado entre o ex-presidente soviético Brejnev e o seu homólogo da desaparecida Alemanha Democrática, Honecker, inscreve “Schengen Dream” (O Sonho de Schengen), acordo de livre circulação de pessoas e bens em determinados Estados europeus. Naturalmente a ideia era criar facilidades para a construção europeia, agora a braços com uma crise profunda, por razões exógenas e endógenas.

São Tomé e Príncipe, apesar do seu relativo isolamento não está totalmente protegido dos choques e caos económico e financeiro de outras latitudes. A nossa dobra está ancorada ao euro. E é neste sentido que entendo os traços, as cores e as inscrições de Waldemar Dória levem à reflexão: “STP Futurista”, “Que Futuro?”

O Yon Gato que dá o nome à praça foi um dos primeiros líderes da resistência anticolonial. Este desafio foi vencido em Julho de 1975. Contudo, sugiram novos reptos.

Que futuro? A pergunta convida todos os são-tomenses a reflectir e a agir. No fundo, a abordagem desta edição da Bienal vinca estes dois propósitos e contribuir para tornar São Tomé e Príncipe numa capital de arte e cultura internacionalmente reconhecida.

 

por Juvenal Rodrigues
Vou lá visitar | 7 Novembro 2011 | arte pública, bienal de s.tomé, René Tavares, s.tomé e príncipe